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2 PARLAMENTARISMO REVOLUCIONÁRIO: UMA TRADIÇÃO HISTÓRICA

2.4 O Parlamentarismo Revolucionário na Alemanha

Neste tópico mencionamos quatroexemplos de Parlamentarismo Revolucionário encontrados na Alemanha desde a época da Primeira Guerra Mundial: Karl Liebknecht, Otto Rühle, Clara Zetkin, e Franz Mehring, entendemos que as partes estão desproporcionais devido a carência de bibliografia sobre a atuação parlamentar tanto do Otto Rühle quanto da Clara Zetkin, mas consideramos importante registrá-los na dissertação.

Na sessão do Reistag do dia 04 de agosto de 1914, o conjunto dos deputados socialdemocratas, inclusive aqueles que eram contra a guerra, pela disciplina partidária, votaram favoráveis aos créditos militares para esta por unanimidade. Existia ainda certa ideia de que se existe só uma classe operária, deveria existir apenas um partido da classe operária.

No entanto, em setembro de 1914, tanto Rosa Luxemburg como Karl Liebknetch enviam uma carta aos jornais difundindo sua posição política contra a guerra, entre centenas de solicitações de adesão encaminhadas, apenas Clara Zetkin e Franz Mehring decidem assinar e divulgar esta posição.

a. O inflexível Karl Liebknecht

Este acúmulo político nos permite apresentar o que pode ser considerado o caso mais emblemático de parlamentarismo revolucionário, aconteceu na Alemanha, foi o caso do deputado socialista internacionalista alemão Karl Liebknecht na sessão do Reistag do dia 02 de dezembro de 191447, com seu voto contra os novos créditos de guerra que a classe dominante alemã precisava para a I Guerra Mundial.

47 Na primeira votação dos créditos de guerra o bloco socialdemocrata, no seu debate interno, decidiu em

favor destes por 98 votos contra 14, entre os contrários o de Karl Liebknetch e Hugo Hasse, segundo presidente do partido que depois foi quem defendeu a posição maioritária no Reistag.

O revolucionário alemão Karl Liebknecht, nascido na cidade de Leipzig, nesse momento Reino da Saxônia, em 13 de agosto de 1871, era filho de Wilheim Liebknetch, um dos fundadores do Partido Socialdemocrata da Alemanha (Sozialdemokratische

Partei Deutschlands - SPD), este último interlocutor de Karl Marx e Friedrich Engels.

Liebknetch militou na juventude do partido e em 1907, escreve Militarismo y

antimilitarismo, famoso livro de denúncia do imperialismo e militarismo alemão, razão

pela qual foi preso um ano e meio, sendo eleito deputado no Parlamento regional da Prússia em 1908, e em 1912 para o Reichstag, o Parlamento Alemão.

Mesmo sendo parlamentar, Liebknetch é mobilizado para a guerra no dia 07 de fevereiro de 1915, era obrigado a cavar trincheiras e tinha permissão só para participar das sessões no Reistag, e simultaneamente Rosa Luxemburg é encarcerada por continuar com sua propaganda antimilitarista.

Encontramos cinco escritos de Karl Liebknecht importantes sobre o tema, um primeiro que é o Fundamento do voto contra a aprovação dos créditos de guerra na sessão parlamentar do dia 02 de dezembro de 1914 na Alemanha; um segundo intitulado

O inimigo principal está no próprio país, duas cartas: uma dirigida a redação do Labour Leader da Inglaterra e outra dirigida desde a prisão à Conferência de Zimmerwald, assim

como um livro intitulado Acerca da justiça de classe, mas este último não analisaremos neste balanço da bibliografia por não abordar o objeto específico do Paralamentarismo Revolucionário.

No fundamento de seu voto caracteriza de forma adequada a Primeira Guerra Mundial como uma guerra interimperialista, pela dominação capitalista do mercado mundial e pela dominação política de importantes regiões para instalar capital industrial e bancário. Também um empreendimento bonapartista buscando desmoralizar e destruir a ascensão do movimento operário internacional. Vota contra a guerra e explica sua posição. Liebknecht acatou a deliberação do VIII Congresso da Internacional Socialista realizado em 1910 na cidade de Copenhagen na Dinamarca, que estabeleceu que em caso que fosse pautado nos Parlamentos os créditos de guerra, os deputados socialistas deveriam votar contra estes, contrariando a deliberação do seu partido, o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD).

Esta posição política de Karl Liebknetch tem três importantes antecedentes que foram mencionados, mas podemos sintetizar: o primeiro no II Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) realizado na Suíça, em 1867, em segundo lugar, os socialistas de Eisenach, partidários de Marx, se abstém de votar os créditos para guerra

franco-prusiana e, em terceiro lugar, os socialistas alemães que se declaram partidários de uma paz justa com a França e contra a anexação de Alsacia-Lorena, em solidariedade com os trabalhadores franceses.

Em maio de 1915 Karl Liebknecht publica O inimigo principal está no próprio

país e continua aprofundando argumentos contra a guerra inter-imperialista. Sendo que

as classes dominantes partem do suposto que o povo esquece rápido e especulam com a paciência das massas, o revolucionário alemão levanta como palavras de ordem: “Tudo a aprender, Nada a esquecer!”.

Além disso, destaca a luta heroica dos socialistas internacionalista italianos e a importância de ter como orientação política geral a luta de classe proletária contra a matança imperialista internacional para reafirmar que o inimigo principal de cada povo está no próprio país, e exorta ao fim do genocídio apelando a unidade do proletariado numa luta de classes internacional, contra a diplomacia secreta e por uma paz socialista.

Destacamos a importância das Cartas, uma dirigida a redação do Labour Leader da Inglaterra, desde Berlin (Alemanha) em dezembro de 1914, pelo fato de que dirige suas palavras de fraternidade internacionalista aos trabalhadores socialistas ingleses desde o socialismo alemão, em momentos em que as classes dominantes desses países estão em guerra. Depois da confusão causada pelo abandono dos princípios socialistas por parte da maioria dos partidos da II Internacional, esta iniciativa política tem ainda mais relevância e já enxerga a necessidade de construção de uma nova internacional. Entende que cada socialista internacionalista deve ser um anunciador da fraternidade internacional, favoráveis a paz. Tanto os trabalhadores socialistas internacionalistas ingleses, assim como os russos e os sérvios são tomados como exemplos de luta contra a guerra e pela paz. Antecipa a tese de que cada Partido Socialista tem o inimigo no seu próprio país e é a ele que se deve combater, assim que, frente a todos os discursos demagógicos da burguesia, a libertação de cada povo será obra dele próprio. Na sua perspectiva não tem dúvidas que a prosperidade dos povos está indissociavelmente ligada a luta de classes do proletariado e esta não pode se dar senão numa base internacional. Conclui com a frase do manifesto do Partido Comunista: Proletários de todos os países uni-vos! e acrescenta Guerra à Guerra !!!

Outra é a Carta a Conferência de Zimmerwald, enviada desde Berlin, na prisão, também em 1915. Na perspectiva de Liebknecht a Conferência tem duas tarefas centrais: a primeira é um acerto de contas com os desertores da Internacional e o apoio político aqueles que estão resolutos em não recuar um só passo diante do imperialismo

internacional. Deve-se ter clareza da posição dos socialistas internacionalistas com relação a guerra mundial e tirar as conclusões táticas de princípios sem relativizar por países. Impulsionando a luta de classes internacional pela paz e a revolução socialista contra a unidade nacional e harmonia que querem impor as burguesias. O parlamentar revolucionário tem a perspectiva também da necessidade de construção de uma nova Internacional sobre bases mais sólidas sob a ruína da antiga.

Por sua vez John Reed agrupa textos do revolucionário alemão num livro intitulado Contra a guerra Karl Liebknecht. No artigo Declaração no Reichstag em 02

de dezembro de 1914, conta a trajetória de Karl Liebknecht, com foco no dia 02 de

dezembro de 1914, na segunda sessão pela aprovação de créditos de guerra, na qual foi o único deputado que votou contra a concessão de novos créditos de guerra, inclusive contra as orientações do próprio partido, fato que dividiu a social democracia entre os reformistas dirigidos por Karl Kautsky e os revolucionários dirigidos por Liebknecht e Rosa Luxemburg, que mais tarde formaram a Liga Spartaquista, base do futuro Partido Comunista da Alemanha (KPD).

Em 20 de agosto de 1915, 29 deputados socialdemocratas abandonam a sala no momento de votar os novos créditos de guerra, em 21 de dezembro desse ano já são dezenove os deputados que votam contra os créditos militares.

Liebknetch será expulso do grupo social-democrata em 12 de janeiro de 1916, posteriormente são expulsos um grupo heterogêneo de outros dezoito deputados.

No dia 01 de maio de 1916, Karl Liebknetch é preso depois de uma manifestação contra a guerra em Berlin, sendo no 28 de junho condenado a 30 meses de prisão. Frente a acusação de ter traído a pátria expressa:

La traición a la patria es un concepto que carece de todo ‘sentido para un socialista internacional (…) Derribar todas las potencias imperialistas al mismo tiempo, en interacción internacional con los socialistas de otros países, es la quintaesencia del esfuerzo de este. (Citado por NOLTE; 1994, p.74).

Em 27 de janeiro de 1916 aparece a primeira Carta assinada por Spartacus, Rosa Luxemburg, Karl Liebknetch, Clara Zetkin e Franz Mehring, menos Luxembrug, os demais em algum momento foram parlamentares revolucionários.

Durante os dias 06 e 09 de abril de 1917 funda-se o Partido Socialdemocrata Independente (USPD), na cidade de Gotha.

Em 07 de outubro de 1918 realiza-se a Conferência Nacional da Liga Spartaquista (LS). É relevante destacar que Hinderburg, generalíssimo e Ludendorff que secunda ele, mas tem uma influência política real no dia 14 de agosto de 1918.

Durante 1918-1919 se abre um processo revolucionário na Alemanha48no marco do final da primeira Guerra Mundial. Em 09 de novembro o socialdemocrata Fredrich Ebert assume o governo com a abdicação do Kaiser Guilherme II e a decretação da República.

Entre os dias 29 de dezembro de 1918 e 01 de janeiro de 1919, realiza-se o Congresso que funda o Partido Comunista da Alemanha (KPD).

No dia 06 de janeiro produzem-se os primeiros combates em Berlin e em 10 de janeiro se proclama uma República de Conselhos Operários em Bremen, que se mantém durante 26 dias até o dia 04 de fevereiro de 1919. Importante destacar que também existiu por um curto espaço de tempo, uma república de conselhos em Munich após os assassinatos de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg e o papel de Eugene Levine.

Na noite do dia 09 para 10 de janeiro, a redação do jornal Rohte Fame, (Bandeira Vermelha) é invadida por soldados com o objetivo preciso de assassinar a Karl Liebnektch. O jornal havia sido criado por Rosa Luxemburg e Karl Liebknetch, e foi publicado diariamente, sendo os editoriais redigidos por eles mesmos. No dia 15 de janeiro publicam suas últimas matérias no jornal, Luxemburg A ordem reina em Berlin, e Liebknetch Apesar de tudo, que conclui da seguinte forma:

No dia 11 de janeiro o socialdemocrata Gustav Noske entra em Berlin dirigindo os freikorps (corpos francos, na sua tradução), grupos paramilitares de luta anticomunista alemã, Ernest Meyer e George Ladebour, destacados dirigentes comunistas, são presos.

Em 15 de janeiro de 1919, os freikorps, assassinam Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg durante o governo de Ebert e sob responsabilidade de Gustav Noske, socialdemocrata que era Ministro do Interior do governo. Em homenagem, Trotsky redige um belo texto sobre Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht intitulado O inflexível Karl

Liebknecht, publicado em 16 de janeiro de 1919, o qual fazemos alusão no título deste

tópico (TROTSKY, 2018).

48 Sobre a Revolução Alemã indicamos as obras: Daniel Araão Reis Filho A Revolução Alemã. Mitos &

Versões (AARAO REIS Filho,1984), A revolução alemã (1918-1923) de Isabel Loureiro (LOUREIRO,

2005) e de Sebastian Haffner A revolução Aemã 1918-1919 (HAFFNER, 2018) e La Revolución en

Segundo o historiador da Revolução Alemã, o liberal, Sebatian Haffner, estes assassinatos já estavam sendo planejados, no mínimo, desde dezembro de 1918, pois havia em toda Berlin cartazes com o seguinte conteúdo:

Trabalhadores burgueses, a pátria está diante da ruína. Salvem-na! Ela recebe ameaças de dentro e de fora: da Liga Spartaquista. Matem seus líderes! Matem Liebknecht! Então terão paz, trabalho e pão! Os soldados do front. (HAFFNER, 2018, p. 207).

Liebknecht escreve:

Os derrotados de hoje serão os vencedores de amanhã (...) e se nós ainda viver-nos, chegado o momento, viveremos o nosso programa: a humanidade redimida vai governar o mundo. (HAFFNER, 2018, p. 210).

Gustav Noske, socialdemocrata, Comandante em Chefe sob o governo socialdemocrata de Friedrich Ebert, foi quem pessoalmente deu a ordem a Friedrich Wilhelm von Oertzen, de realizar escutas telefônicas constantes de Karl Liebknetch nos dias prévios ao assassinato e informar todos os movimentos dos revolucionários, hora por hora ao capitão Pabst, o chefe do comando assassino, como Haffner no mencionado livro (HAFFNER, 2018, p. 208).

b. O deputado alemão Otto Rühle

Otto Rühle, nasce na cidade de Freiberg, Saxe, Alemanha e foi eleito deputado pelo Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) para o Reichstag, o parlamento alemão, em 1912.

Em março de 1915, foi o segundo deputado, depois de Karl Liebknecht, a votar contra os novos créditos de guerra para a I Guerra Mundial, pela mesma razão que o primeiro, entendia que se tratava de uma guerra interimperialista.

Era simpatizante da ala esquerda da SPD. Participou da fundação da Liga Spartacus, juntamente com Rosa Luxemburg e Liebknecht, bem como participou da fundação do Partido Comunista Alemão (KPD). Na Revolução de novembro de 1918 desempenha um papel relevante como membro do Conselho operário e militar de Dresde, mas em 1919 é expulso do partido.

Em 25 de outubro de 1918, como deputado, profere um discurso no Reichstag, um discurso com bastante força e por isso várias vezes interrompido pelo presidente da sessão.

No marco da Guerra e pela eminente aliança de paz, também no marco do

processo revolucionário alemão, inicia sua intervenção, falando em nome dos operários e soldados socialdemocratas que não estão no partido dos socialistas governamentais nem dos socialdemocratas independentes e que não tem como se fazerem ouvir do alto da tribuna parlamentar sobre este tema, dessa forma, sente-se no dever de fazê-lo.

Encontramos elementos de tribuno de povo nesta práxis, o que é usado também pelo PTS.

Rühle entende que qualquer aliança de paz, no imperialismo, só servirá aos burgueses-capitalistas e não aos interesses da classe operária, que esta aliança “não será mais que uma coligação de potencias hostis aos trabalhadores e inimigos da liberdade, será uma santa aliança constituída para afastar e sufocar a revolução social que cresce cada vez mais” (RÜHLE, 1977, p. 98), dessa forma, entende que só aprofundará a relação capital-trabalho. E, remetendo a Karl Liebknecht, expõe:

Sim, é verdade que o inimigo principal, o inimigo mortal da classe proletária está (para cada proletário) no seu próprio país, compreende- se que o proletariado não pode estar de acordo quando estes inimigos mortais se apoiam e se aliam em todo o mundo à custa do proletariado e contra seus interesses vitais. (RÜHLE, 1977, p. 97).

Faz uma denúncia da democracia burguesa, do seu parlamentarismo e do militarismo como a base mais sólida de dominação burguesa. E conclui: “(...) apelo para toda a classe operária e, em particular, para a classe operária alemã, que se esforce por conquistar o socialismo pela revolução”. (RÜHLE, 1977, p. 99).

Em abril de 1920 participou da fundação do Partido Comunista Operário da Alemanha (KAPD), sendo delegado por este no II Congresso da IC, se recusa a assistir, e por esta razão é expulso do partido em outubro de 1920, por exigência de Moscou.

A partir de 1920 torna-se o principal teórico da Aligemeine Arbeiter Union-

Enheitsorganization (A.A.U.-E.), a União Geral dos Trabalhadores – Organização

Unitária (UGT-OU), na Alemanha.

Podemos destacar quatro textos dele, A Revolução não é uma tarefa de partido publicado em 1920 (RÜHLE, 2005 a), Linhas de orientação para a AAU-E de junho de 1921 (RÜHLE, 2005 b) e outro de setembro de 1939 intitulado: A luta contra o fascismo

começa pela luta contra o bolchevismo, onde confunde stalinismo e bolchevismo, mesmo

que sua crítica amargurada seja mais geral (RÜHLE, 2005 c). Por fim, na área de psicologia política seu livro mais importante é A alma da criança proletária (RÜHLE, 1964). Morre no México em 1943.

c. A deputada feminista Clara Zetkin

Clara Zetkin, reconhecida mundialmente por sua atuação na luta feminista, socialista e anticapitalista, foi uma importante dirigente do Partido Socialdemocrata da Alemanha (SPD), compartilha da mesma posição de Karl Liebknecht e Rosa Luxembrurg frente à I Guerra Mundial.

Destacamos que foi justamente no II Encontro Internacional de Mulheres Socialistas, realizado em Copenhague, 1910, que Clara Zetkin propõe um dia em homenagem às mulheres operárias que deram suas vidas na luta por melhores condições de trabalho, o 08 de março, neste encontro participaram mais de cem delegadas de dezessete países.

Em 1915 organiza o III Encontro Internacional de Mulheres Socialistas, na cidade de Berna, Suíça, para tratar do tema, utilizando a consigna “Guerra à guerra”. Participaram do encontro setenta mulheres de oito países europeus. No dia 29 de julho de 1915, por sua luta contra a guerra, Clara Zetkin é presa até o dia 12 de outubro do mesmo ano.

Neste mesmo ano, rompe definitivamente com o SPD, o qual se alinhou a burguesia alemã ao votar favorável no parlamento alemão pelos créditos de guerra que a burguesia alemã precisava. Somando-se ao Karl Liebknecht e Rosa Luxembrurg na Liga Spartacus, embrião do Partido Comunista Alemão, representando este partido no parlamento durante doze anos, de 1920 à 1932.

Em 1918, Clara já tinha se tornando membra do Comitê Central do nascente Partido Comunista, representando-o no parlamento de 1920 à 1932, aproveitando sua última intervenção para fazer um chamado à unidade das fileiras proletárias contra o avanço do nacional-socialismo. Quando o nazismo alcançou o poder em 1933, se exilou na União Soviética, onde morreu pouco tempo depois. Clara não chegou a se deparar com os aberrantes ziguezagues políticos de Stálin, que terminou pactuando com a Alemanha nazista em 1939. Também não conheceu as purgas e os assassinatos de centenas de milhares de oposicionistas ao regime burocrático, acusados de “trotskistas” e “agentes do

imperialismo”, presos nos campos de trabalho forçado da ex-União Soviética. (D’ATRI, A; ASSUNÇÃO, D; 2018, p. 71).

O período como deputada corresponde justo a República de Weimar na Alemanha, depois da derrota da revolução e o assassinato de Rosa Luxemburg e Karl Liebknetch.

Em 1932, nas eleições para o Reichstag alemão, Trotsky analisa sobre o crescimento dos fascistas no parlamento frente ao Partido Comunista:

El Partido Comunista obtuvo alrededor de 4.600.000 votos, frente a los 3.3000.000 de 1928. Desde el punto de vista de la mecánica parlamentaria “normal”, la ganancia de 1.300.000 votos es importante, incluso si tomamos em cuenta el aumento del número de electores. Pero las ganancias del Partido Comunista palidecen por completo comparadas con el salto de los fascistas, que pasan de 800.000 votos a 6.400.000. (TROTSKY, 2013, p. 31)

Uma característica central do Parlamentarismo Revolucionário, retomado pelo PTS, é justamente nunca acreditar que a mecânica parlamentar normal, mesmo que permita durante um tempo um crescimento contínuo como é o caso da PTS na FIT na Argentina, será evolutiva e permanente. O partido revolucionário deve preparar-se nos momentos “normais” para os momentos de fortes mudanças, aproveitando todo espaço legal e de mormalidade e estabilidade, intervindo na luta de classes e se prepararando para os momentos de crise e possibilidade de rupturas.

Passada as eleições, em discurso na abertura do parlamento, onde a maioria dos parlamentares eleitos eram fascistas, mesmo já bastante debilitada, Clara Zetkin esclarece a ascensão do partido nazista e os perigos que isto significa, conclui propondo uma frente única dos trabalhadores e trabalhadoras contra o fascismo49, a tática da FUO do III Congresso da III Internacional como expressamos no capítulo anterior.

d. Franz Mehring

Franz Mehring, nasce na Pomerania, uma província da Prúsia em 1846 e tem uma curiosa trajetória política.

Do ponto de vista político, paradoxalmente doutora-se na Universidade de Liepzig pela suas teses anti-socialistas no ano de 1882, e vai desenvolvendo desde ideias liberais

49 Completamente diferente da aliança antifascista impulsionada por Stalin em 1939, que foi uma aliança

e democrata radicais até os 45 anos, quando ingressa, já maduro, no Partido Operário Social-democrata da Alemanha (POSDAl.). No ano de1891, incorpora-se à redação da revista teórica da socialdemocracia alemã Die Neue Zeit e escreve em 1892 A lenda de

Lessing, um livro que o coloca definitivamente no debate teórico do marxismo.

Suas posições políticas vão-se para a esquerda e quando explode a Primeira Guerra Mundial localiza-se totalmente no campo dos revolucionários, sendo um dirigente destacado da ala esquerda da socialdemocracia. Funda no ano de 1915 Die Internacionale junto com Rosa Luxemburg, que era o jornal dos socialistas internacionalistas

No ano de 1916, sendo um destacado propagandista, é preso com a própria Rosa