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Aqui há de se abrir um parêntese para falar da motivação (ou mesmo das motivações propriamente ditas) que levou a esta problemática. Não é possível discorrer sobre meu tema de pesquisa, dissociada de minha trajetória pessoal12. Com formação

11 VERTOVEC, 2007, define superdiversidade a partir da mudança do cenário da imigração na Inglaterra, nas últimas décadas. Em geral, a população era convencionalmente classificada de acordo com o grupo étnico de que advinha. Para o autor, o fenômeno da imigração no advento da globalização e dos novos meios de comunicação é muito mais complexo que isso, essa interação dinâmica de variáveis descritas pelo autor, entre elas religião, língua, país de origem, status de imigração, bairros de fixação, etc., geram uma multiplicidade produtiva, convergindo constantemente e aumentando ainda mais essa multiplicidade, que, segundo o autor, trata-se de uma perspectiva multidimensional do termo diversidade para além do étnico (VERTOVEC, 2007, p. 1025).

12 Justifico a escolha do uso da primeira pessoa nesta seção, uma opção não convencional para trabalhos científico-acadêmicos. Esta pesquisa existe por um problema levantando desde minha trajetória pessoal, assim, não me parece coerente dirigir-me a mim de forma impessoal. Contudo, refletindo sobre o processo de pesquisa, observei que a pesquisa não se construiu apenas a partir de minha trajetória pessoal, mas por meio das variadas leituras feitas; dos debates com minha orientadora; das contribuições da banca de qualificação; dos encontros do projeto de extensão: “Programa de Ensino-aprendizagem Português como Língua de Acolhimento”, fruto direto desta

em Letras, Língua Portuguesa e Literaturas correspondentes, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), acabei me aproximando do mercado de trabalho em ensino de Português como Língua Estrangeira (PLE), em que atuei principalmente em Florianópolis, com alunos de diversas nacionalidades em contextos distintos de ensino e, posteriormente, lecionei PLE na Argentina e Alemanha.

Antes de prosseguir, cabe uma observação ao uso do termo Português Língua Estrangeira ou Português como Língua Estrangeira (PLE). Minha opção pelo uso do termo PLE se trata de uma eleição apenas para a fluidez do texto, respeitando uma tradição no emprego da terminologia no Brasil, como expõe Silveira & Xhafaj (2017):

Inicialmente, utilizava-se o termo português como língua estrangeira (PLE) para se referir ao ensino de português a falantes de outras línguas, de maneira generalizada. Por isso, observaremos o uso do termo PLE em grandes marcos da área, tais como o Celpe-Bras, ou mesmo no nome da associação que representa os profissionais da área: Sociedade Internacional de Português Língua Estrangeira (SIPLE). Atualmente, porém, outras terminologias têm sido utilizadas e uma discussão das diferentes nuances desses termos pode ser encontrada em autores como Ançã (2003), Schlatter e Garcez (2009), Cabete (2010) e Flores e Melo-Pfeifer (2014), com destaque para os termos Português como Segunda Língua, Português como Língua Adicional, Português como Língua de Herança e Português como Língua de dissertação; e mais ainda, apoiada em minhas escolhas epistemológicas e nos agentes desta pesquisa que ouvi. Parece-me coerente, então, a opção pela primeira pessoa do plural, uma vez, que esta trajetória é de minha responsabilidade e esforço, não obstante, as reflexões são carregadas de todas essas vozes que colaboram na construção desta narrativa.

Acolhimento. Todos esses termos especificam os contextos de ensino, o público-alvo ou até mesmo os objetivos do ensino de português para falantes de outras línguas (SILVEIRA e XHAFAJ, 2017).

Por conseguinte, sempre que aludir à terminologia PLE, nesta pesquisa, englobará a compreensão em um único termo do aglomerado dos vários status que o português possa possuir. Justamente por compreender e valorar todas as distinções que cada uma dessas categorizações possa ter em seu uso, seu processo de ensino-aprendizagem e sua carga política, acredito que discutir suas distinções mereça um debruçar-se extensivo, como já vem sendo feito por outros teóricos da especialidade, como referido anteriormente e, ainda, por entender que as demais diferenciações não interfiram no propósito desta pesquisa, uma vez que meu objeto de estudo engloba a especificidade Português como Língua de Acolhimento (PLA), devido ao contexto do estudo, o qual aclararei na discussão do capítulo 3.0 (Arcabouço Teórico) e o motivo por optar por esse conceito.

Como disse, no percurso desta pesquisadora, houve variados fatores que colaboraram com formação, entre estudo, pesquisa, a própria vivência em sala de aula, a reflexão e troca com colegas, professores e pesquisadores. No entanto, a partir dessa vivência, acarretaram-se diversas inquietações pessoais não solucionadas em torno das práticas de ensino de PLE e também da promoção e planificação da língua portuguesa como língua de acolhimento. Sempre presente ao longo dos anos, o desejo de esclarecimento de algumas das provações que se acumulam, foi o combustível propulsor para a busca de uma formação acadêmica aliada à experiência profissional, despertando a necessidade de iniciar o processo de formar-me pesquisadora nesse tema. Esse acercamento ao ensino de PLE direcionou o meu olhar ao contexto de ensino de português na cidade em que vivo atualmente, Criciúma, SC, e me fez perceber o não aclaramento das políticas linguísticas na região e lançar um olhar à situação dos imigrantes estabelecidos na região, observando a necessidade de ação na promoção do ensino- aprendizagem de português como língua estrangeira, no contexto desses imigrantes, como status de língua de acolhimento e política pública.

Diante disso, das questões colocadas, quer me parecer que a consequência necessária (talvez óbvia) foi a inserção no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) com a intencionalidade de, por meio de uma pesquisa acadêmica, possibilitar a reflexão sobre questões que ora se sistematizam: i) quem são esses imigrantes, afinal?; ii) existem políticas linguísticas públicas para o ensino de português para esses imigrantes?; iii) a quem compete a responsabilidade dessas políticas?; iv) qual o papel da Unesc como maior instituição de formação na região da AMREC?; v) quais possíveis ações político-linguísticas podem ser planificadas e executadas?; vi) como a política linguística e a especialidade de PLA podem contribuir?

Uma vez inserida no programa, definir o objeto de estudo e meu recorte versou sobre um processo de reelaboração a todo instante, principalmente pelo meu novo contexto de formação acadêmica em que fui inserida: o campo epistemológico da educação, uma vez que minha formação inicial, do ponto de vista acadêmico, foi de cunho especificamente linguístico, sobre o qual já se somam uma gama de inquietudes e possibilidades de temáticas acumuladas ao longo desta trajetória.

Desde o meu primeiro contato com a área, em 2006, até agora, houve uma profusão de estudos sob o título de PLE (dentre seus diversos status linguísticos), observável pelo aumento do número de trabalhos publicados13, eventos14, núcleos de pesquisas

13 Utilizei-me da busca no Catálogo de Teses e Dissertações do Portal Capes, realizando uma busca por “assunto”, com o uso do termo: “português como língua estrangeira” obtive 668 resultados.

14 Eventos recentes: Simpósio SIPLE 2017, da Sociedade Internacional de Português Língua Estrangeira; Encontro de Português Língua Estrangeira em sua 12ª edição, 3º Congresso de Português como Língua Internacional (PUC-RJ, UFF, UERJ, UFRJ); “III Encontro de Português para Falantes de Outras Línguas (III EPFOL) da UTFPR; 8º Congresso Internacional do Ensino de Português como Língua Estrangeira, UNAM (México); 17º Congresso Brasileiro Língua Portuguesa, PUC-SP; 6 SENALLP Seminário Nacional de Linguística e Ensino de Língua Portuguesa, FURG; I Encontro Nacional de Português Língua de Acolhimento, UNB; VI EMEP - Encontro Mundial sobre o Ensino de Português, Florida International University (Estados Unidos da América); II SINEPLA – Simpósio Internacional sobre o Ensino de Português

e grupos de trabalhos15 e a difusão de associações de professores de PLE16, em meio ao aumento exponencial de candidatos ao Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros – CELPE-BRAS (único certificado reconhecido oficialmente pelo governo brasileiro), desde o seu lançamento, em 1998, quando teve sua primeira aplicação, e contou com 27 instituições participantes (14 no Brasil e 13 no exterior) e com 127 inscritos; e em 2016, já contava com 12.695 candidatos inscritos (com mais de 80 postos aplicadores credenciados em países dos continentes americano, africano, europeu e asiático) 17. Outros como Língua Adicional King’s College London, (Inglaterra); VII EMEP - Encontro Mundial sobre o Ensino de Português University of Pittsburgh (Estados Unidos da América); I Congresso Mundial de Bilinguismo e Línguas de Herança e o I Congresso Brasileiro de Português Como Língua De Herança, UNB; X Congresso Nacional e V Internacional de Professores de Português, Universidade Nacional de Córdoba – Faculdade de Línguas (Argentina), etc.

15 Núcleos de Pesquisas e grupos de trabalhos como: Grupo de Pesquisa de PFOL (registrado no CNPQ) e um Grupo de Trabalho em funcionamento na UTFPR; Grupo de Pesquisa Português/Língua Adicional (registrado no CNPQ), UFRG; Núcleo de Pesquisa e Ensino de Português Língua Estrangeira / Segunda Língua, UERJ; Núcleo de Ensino e Pesquisa em Português para Estrangeiros (NEPPE), UNB; Núcleo de Pesquisa e Ensino de Português – Língua Estrangeira (NUPLE), UFSC.

16 Associação dos Professores de Português Língua Estrangeira do Estado do Rio de Janeiro; American Organization of Teachers of Portuguese; Sociedade Internacional de Professores de Português como Língua; Estrangeira; Associação Mineira dos Professores de Português como Língua Estrangeira; Asociación de Profesores de Portugués como Lengua Extranjera en Perú; Asociación del Profesorado de Portugués en Extremadura (Espanha); Asociación de Profesores Nativos de Portugués, Madrid (Espanha); Asociación Americana de Profesores de Español y Portugués , Nova York (Estados Unidos da América); Associação de Professores e Investigadores de Língua Portuguesa no Reino Unido (Reino Unido); Associação de Docentes Galezes (Galiza).

17 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP. Celpe-Bras. Ministério da Educação - MEC. Brasil, 2018. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/acoes-internacionais/celpe-bras. Acesso em: 25 de janeiro de 2018.

fatores, como o crescimento econômico do Brasil, Jogos Olímpicos, Copa do Mundo, investimento em publicidade positiva sobre o Brasil no exterior, acabaram colocando a Língua Portuguesa em evidência e despertando o interesse de alunos, professores, pesquisadores e universidades por meio de seus cursos de Letras, apesar de já praticarmos o ensino de português como língua estrangeira desde o período colonial. Como afirma Almeida Filho (2012), nossa percepção para essa área como especialidade acadêmico-científica iniciou há menos de 20 anos e ainda estamos longe de ser a ideal:

Um problema [...] é o da falta de consciência do valor estratégico da especialidade de PLE. Essa ignorância impede a introdução de disciplinas, bloqueia a contratação de professores em postos de carreira, adia a institucionalização de disciplinas no currículo que abririam portas de formação

para atuação posterior

de egressos de cursos de Letras como professor(a) de PLE no Brasil e em outros países. A valorização da Língua Portuguesa na perspectiva de uma língua estrangeira, ao contrário, carrearia vantagens em escala para os indivíduos, para as instituições e para o país em âmbitos diversos, como o das publicações especializadas, dos exames de

proficiência e de

materiais didáticos, por exemplo. (ALMEIDA FILHO, 2012, p.728). Deste modo, guiada por meu interesse pessoal e por anos de dedicação à área, este estudo pretende colaborar e fortalecer a emergência da literatura na área de estudo de PLE, sobretudo na condição de língua de acolhimento sob o viés da política linguística e ensino. Comungo da ideia de que este estudo possa exercer sua função e romper as barreiras do mundo acadêmico. Assim como, os desejos desta pesquisadora adentram a academia e de que de uma forma qualificada possa estabelecer propostas de

planejamentos linguísticos que sirvam para realizar melhorias na realidade estudada.

1.3 OBJETIVO PRINCIPAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS