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O percurso metodológico de nossa pesquisa: um desenho a muitas mãos

3. A METODOLOGIA DA PESQUISA: pressupostos, técnicas e percurso

3.2. O percurso metodológico de nossa pesquisa: um desenho a muitas mãos

Com o objetivo de facilitar a compreensão de nossa pesquisa, buscaremos associar o pensamento esquemático a uma narrativa mais complexa, uma vez que nosso processo de pesquisar foi repleto de idas e vindas – do assentamento à universidade – e de redirecionamentos, dados em correspondência com nosso amadurecimento metodológico, com o prazo da pesquisa e com a busca por rigorosidade metódica.

Nesse sentido, explicamos que a investigação realizou-se em 4 fases: [1] aproximação da pesquisadora com as/os assentadas/os no período de pré-incubação, apresentação da pesquisa ao grupo incubado, definição dos sujeitos e acesso a fontes de dados secundárias; [2] convívio e diálogo com os sujeitos em seus lotes; [3] inserção da pesquisadora na prática da incubação, redefinição da questão de pesquisa com os sujeitos e coleta dos dados; [4] análise dos dados.

Fase 1: Aproximação da pesquisadora com o grupo de assentadas/os no período da pré- incubação, apresentação da pesquisa ao grupo incubado, definição dos sujeitos e acesso a fontes de dados secundárias

Nossos primeiros contatos com as/os assentadas/os ocorreu por meio da Incubadora de Cooperativas Populares da Unesp (Incop-Unesp), em janeiro de 2008. Neste período a incubadora trabalhava com um conselho assessor formado por assentadas/os, definindo os melhores caminhos para formar um grupo a ser incubado, o que entendemos como momento de pré-incubação. A nosso pedido, a incubadora apresentou-nos a um membro desse conselho, Vitor Luiz (HbEa), com o qual conversamos longamente sobre a incubação que partejavam e sobre nossas intenções como pesquisadora. Nesse sentido, pudemos explicitar os motivos que amparavam nossa intenção de pesquisar a prática educativa ampla da incubação, que preparavam, e que certamente ocorreria.

135 indicando que uma das principais preocupações era contribuir para a superação das desigualdades e, nesse sentido, o diálogo igualitário com os sujeitos era uma exigência desde o inicio da pesquisa. Sob tal perspectiva é que convidamos Vitor Luiz (HbEa) para atuar como nosso assessor da pesquisa, tendo de contribuir para que compreendêssemos a vida no assentamento e o projeto emergente e de conosco definir caminhos para a pesquisa. Vitor Luiz (HbEa) não apenas aceitou nosso convite, como reforçou a importância daquele tipo de investigação, uma vez que já estavam escaldados de participar de pesquisas que falavam sobre elas/es e não lhes traziam benefícios. Diante dessa colocação, argumentamos que as pesquisas se definem a partir da visão de mundo da/o pesquisadora/or e do referencial teórico adotado, os quais sempre estão contra alguém e a favor de outras pessoas. Segundo nossa opção e de acordo com a MCC que adotamos, apontamos estar a favor das/os oprimidos e de sua emancipação e contra as/os opressores e sua opressão. Sob tal perspectiva, compreendíamos que assentadas/os deveriam participar das pesquisas do momento da sua definição às suas análises, uma vez que têm capacidade de refletir profundamente sobre sua realidade, podendo potencializar processos de humanização na mesma a partir do diálogo com teorias superadoras de desigualdades, colocadas pelas/os pesquisadoras/es.

Acolhendo esta visão metodológica e já como nosso assessor, Vitor Luiz (HbEa) informou-nos que o conselho da incubação e a incubadora fariam um convite à diferentes pessoas do assentamento para participarem de uma reunião de sensibilização em economia solidária. O objetivo era compor um grupo a ser incubado, na perspectiva de formação de um empreendimento econômico solidário (EES) agroecológico. Vitor Luiz (HbEa) também sugeriu que estivéssemos presente na feitura dos convites e na sensibilização. Ao aceitar as propostas, acompanhamos as atividades inicias de formação do grupo da incubação, tomando sempre o cuidado de esclarecer nossa presença como pesquisadora. Logo em uma das primeiras reuniões também apresentamos a proposta da pesquisa que era conhecer os obstáculos e os fatores que facilitavam a prática da incubação que iniciavam, pedindo autorização do grupo para fazê-lo. Ainda esclareci que a pesquisa se realizaria no âmbito coletivo mais fortemente a partir de junho, uma vez que as práticas da incubação foram definidas para as quartas-feiras, coincidindo com uma atividade de extensão universitária que tínhamos em São Carlos.

Nesta fase inicial, em diálogos semanais com Vitor Luiz (HbEa), e inspirados na MCC, definimos outras 3 pessoas a serem convidadas para participar como sujeitos da pesquisa, seguindo dois critérios: a disposição para ao diálogo sobre a incubação e o

136 envolvimento com o projeto. Para a realização do convite, feito no final de janeiro, apresentamos a proposta da pesquisa, a metodologia, com destaque aos procedimentos e à função dos sujeitos e da pesquisadora, e indicamos que trabalharíamos seguindo os eixos dos obstáculos e fatores colocados na prática da incubação. Todas as pessoas aceitaram o convite e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)68, autorizando-nos a utilizar suas falas e imagens na presente pesquisa. Assim, passamos a trabalhar com Terezinha (Mbea) e com Domingos (HbEA) e Júlia (MneA). Como já havíamos compreendido melhor o assentamento e o projeto de incubação, convidamos Vitor Luiz (HbEa) para ser sujeito da pesquisa e não mais nosso assessor e ele aceitou o convite.

Em diálogo com tais sujeitos, e tendo em vista que a incubação nascia muito atrelada à produção familiar, definimos que realizaríamos algumas convivências69 nos seus lotes, às segundas-feiras, tendo variadas oportunidades de dialogar sobre a vida neste âmbito e sobre a incubação, gerando contribuições à pesquisa. Realizaríamos esta prática até junho, quando já não teríamos compromissos em São Carlos e poderíamos nos inserir mais diretamente nas atividades da incubação.

Nesta fase da pesquisa também buscamos levantar informações sobre o histórico das terras do Horto de Aimorés e sobre a formação do assentamento, com o apoio das/os assentadas/os. Com este propósito, nos emprestaram diferentes recortes de jornais que noticiavam as ocupações e a legalização do assentamento, o que complementamos pesquisando nos arquivos dos próprios jornais. Todas/os recomendaram leitura crítica das matérias, favorecendo que cumpríssemos nosso papel de pesquisadora que era esclarecer que tudo o que escrevêssemos sobre o histórico do assentamento revisaríamos com elas/es. Também indicaram que acessássemos o Diagnóstico Rápido Participativo e Emancipatório (DRPE) que a Incubadora havia realizado no assentamento. Em nossas pesquisas em centros de documentação histórica de Bauru também pudemos acessar um documentário que resgatava o histórico remoto do uso das terras do Horto de Aimorés. Ainda realizamos buscas

68 O TCLE está anexado ao processo (CAAE 3203.0.000.135-08) que registra nossa pesquisa junto ao Comitê de

Ética em Pesquisas em Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (CEP/UFSCar). O parecer favorável para que procedêssemos a presente investigação consta no parecer número 420/2008.

69 A professora Roseli Rodrigues de Mello, em banca de qualificação de Carolina Orquiza Cherfem – nível

mestrado (27/11/08), programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar –, gentilmente esclareceu que o convívio não faz necessariamente parte da metodologia comunicativa crítica. A MCC não supõe que a/o pesquisadora/or deve viver com para compreender a realidade do sujeito. Esta metodologia indica que a/o pesquisadora/or pode compreender a realidade do sujeito dialogando diretamente sobre o aspecto da realidade que juntas/os consensuaram ser importante de investigar. Não é necessário um convívio a priori, mas sim que pode favorecer o processo de investigação. Com isso, Mello indicou que a metodologia do convívio e a metodologia comunicativa crítica não são excludentes.

137 nas bases de dados (virtual e material) do Incra, levantando algumas informações. Essas foram as fontes que encontramos sobre a história do Terra Nossa. Após redigir o histórico do assentamento com base em tais fontes, revimos o texto com Vitor Luiz (HbEa).

Cabe aqui ressaltar que todas as interações desta primeira etapa da pesquisa (janeiro à fevereiro de 2008) foram registradas logo após sua ocorrência, em diário de campo. A fim de aprofundar nos dados do diário, buscamos organizá-los compondo um formulário de cabeçalho (onde anotávamos a atividade, o local, as pessoas participantes, o tempo de duração e o nome da pessoa responsável pelo diário) e estabelecendo duas perguntas para balizar a narrativa detalhada de nossas interações: “O que vi, ouvi e o que conversamos e analisamos?” e “O que penso sobre isso que vi, ouvi e conversamos e analisamos?”.

Fase 2: Convívio e diálogo com os sujeitos em seus lotes

Esta fase da pesquisa aconteceu de março a maio de 2008, sendo que o primeiro mês foi destinado aos convívios e os outros dois à realização de entrevistas de caracterização dos sujeitos e de levantamento de suas histórias de vida.

Os convívios ocorreram nos lotes de Terezinha (Mbea), Vitor Luiz (HbEa) e Júlia (MneA) e Domingos (HbEA), ao longo do dia ou com pernoite. Marcávamos as visitas previamente, relembrando a função das mesmas, e buscávamos cooperar com os trabalhos cotidianos que realizam nos lotes, como colheitas, plantios, debulhas de sementes, preparo do almoço etc. Durante estas atividades íamos conversando sobre as dificuldades e os elementos que favoreciam a vida no assentamento, sobre as formas de trabalhar e os conhecimentos necessários para cada atividade, sobre a criação de filhas/os. Nesse processo, sempre socializamos iniciativas que conhecíamos e que haviam contribuído para a melhoria da vida em assentamentos. Diante das dificuldades relacionadas ao projeto de construção das moradias, por exemplo, compartilhamos da experiência de um projeto de habitação social (InovaRural70) que conhecemos no assentamento Pirituba-SP, bem como da marcenaria

70

O InovaRural (Projeto de Habitação Rural com inovação no processo, gestão e produto através da utilização de recursos locais e renováveis) foi realizado no assentamento Pirituba II, de 2004 à 2007, mediante uma parceria entre a Incubadora Regional de Cooperativas Populares da Universidade Federal de São Carlos (Incoop/UFSCar) e o Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade da Escola de Engenharia de São Carlos EESC-USP (Habis). O objetivo do projeto foi a construção de 49 habitações sociais, feitas em sistema de mutirão e com acompanhamento técnico das universidades mencionadas. Mediante a opção das/os assentadas/os, uma das casas foi construída em adobe (tijolo de terra crua) e as demais foram feitas em sistema convencional. A fim de baratear os custos das construções e fomentar a economia solidária no assentamento, a Incoop/UFSCar incubou uma marcenaria coletiva autogestionária, a Madeirart, protagonizada por mulheres, a qual abasteceu todas as habitações com os componentes em madeira e continua funcionando até hoje.

138 coletiva autogestionária que dele nasceu.

Conforme íamos interagindo, contavam-me sobre suas histórias de vida, marcadas por muita desigualdade e luta, e eu ia fazendo perguntas para compreendê-la melhor. Não deixava de apontar as concepções teóricas que conhecia para tentarmos refletir sobre o dito e, assim, íamos conhecendo ainda, mutuamente, nossos jeitos de ver o mundo e de nele estar: nossos sonhos, desejos, jeitos de ser, gostos. Elas/es também queriam saber de meu mundo da vida e eu contava sobre minhas experiências em assentamentos, sobre meu dia-a-dia como estudante etc. Toda a riqueza de seus percursos e saberes se refletia em suas sintaxes, de formas tão próprias e profundas, mas, ao mesmo tempo, portadoras de uma condição universal: os desânimos e as desistências em dialética com a luta, a resistência e a criatividade, estas necessárias à superação das desigualdades sociais, culturais e educativas às quais estiveram e estão ainda submetidas/os. Não havia roteiro, tratava-se de um diálogo aberto, permeado pelo ouvir, perguntar e responder.

Durante esses convívios dialogados destacou-se o aumento de nossa compreensão a respeito das dificuldades enfrentadas por Domingos (HbEA) e Júlia (MneA) por não terem acesso facilitado à água. Esta limitação, que podemos sentir em nosso corpo consciente, nos era inimaginável segundo a ótica de quem vive na cidade e tem água abundante nas torneiras. Mas, para assentadas/os, era uma preocupação cotidiana, que exigia da família de Júlia (MneA) e Domingos (HbEA) o desenvolvimento de um estilo de vida extremamente racional, no sentido de aplicar o conhecimento para otimizar ao máximo o aproveitamento da água, conhecimento este que trocavam comunicativamente e dos quais pudemos compartilhar durante os convívios.

Após cada interação, confeccionávamos nossos diários de campo, da forma mencionada anteriormente, o que configurava um momento reflexivo pessoal da pesquisadora. Buscávamos compartilhar o conteúdo dos diários na visita seguinte, a fim de aumentar o caráter comunicativo da coleta. Desse modo, pudemos perceber, em alguns casos, que portávamos uma visão urbanocêntrica e preconceituosa com relação às/os assentadas/os, o que nos dava chance de rever tais posturas. Isso ocorreu, por exemplo, tendo em vista a problemática da caça. Em minha compreensão, dada em uma perspectiva ambientalista estrita, o fato de alguns sujeitos alimentarem-se desse tipo de carne configurava uma destruição da natureza. Ao dar-me conta disso, pude dialogar sobre o tema com Júlia (MneA) e Domingos (HbEA), que fizeram contribuições a partir do seu mundo da vida. Para essa interlocução recuperamos as teorizações de Whitaker e Fiamingues (2002) sobre os preconceitos que

139 obstaculizam a compreensão epistemológica das pessoas do rural. Assim, pudemos compreender que tinham plena consciência de que o melhor seria não consumir carne de caça, contudo, era uma questão de sobrevivência. A ética ambiental, neste caso, era garantir a alimentação da forma como fosse possível, o que incluía, de um lado, a caça esporádica e, de outro, cuidados ecológicos no ato de agricultar, ajudando a recompor faixa de terra degradada. Segundo a mirada sistêmica que lançamos com a assentada e o assentado para entender a realidade, pretendiam não mais caçar assim que saíssem daquela situação-limite da pobreza e pudessem criar seus próprios animais, obtendo autonomia em relação à carne.

As convivências e a disposição que tinham para comigo dialogar abertamente permitiram que fosse me educando e, no sentido de superar preconceitos, fosse mudando o meu olhar em relação a elas/es. Além disso, aprendi, por exemplo, a valorizar a água que utilizo cotidianamente e as sementes que retirava dos alimentos que consumia, assumindo novas atitudes. Nesse sentido, passei a guardar sementes para compartilhar com as/os assentadas/os além de com elas/es trocar mudas de diferentes plantas, eu acessando do sítio de meu pai e eles de seus lotes. Também pude me aproximar das crianças e descobrir leitoras/es vorazes, que não podiam saciar sua vontade de leitura na pequena biblioteca da escola tendo em vista a pequena quantidade de livros e o medo de sujar os livros e levar suspensão. Assim, também passamos a partilhar algumas obras clássicas da literatura com as crianças, que realizavam incursões profundas nas narrativas, as quais compartilhavam conosco durante os convívios71.

Fase 3: Inserção da pesquisadora na prática da incubação, redefinição da questão de pesquisa com os sujeitos, coleta dos dados

Esta fase da pesquisa deu-se de maio a outubro de 2008, iniciando-se pela realização de entrevistas qualitativas em profundidade, por meio das quais buscávamos compreender mais detidamente as experiências de vida das/os assentadas/os sujeitos da pesquisa, antes de chegarem ao Grupo Viverde de Agroecologia. Com base na retomada de nossos diários de campo, em que já tínhamos alguns dados referentes a este período, bem como seguindo as recomendações do Crea, (1995-8), elaboramos um roteiro flexível de questões. Abordamos especialmente as trajetórias profissionais dos sujeitos, suas condições de trabalho, seus percursos educativos formais e informais, suas relações familiares e suas vidas em

140 comunidade. Também buscamos abarcar as formas de pensamento e as soluções que os sujeitos foram construindo para enfrentar as dificuldades na vida cotidiana, bem como seus sonhos e suas aspirações.

O roteiro foi compartilhado anteriormente com cada um dos sujeitos e as entrevistas foram realizadas individualmente com todas/os as/os participantes da investigação (4 pessoas), salvo no caso de Júlia (MneA) e Domingos (HbEA), que formam um casal e preferiram fazer conjuntamente as entrevistas. O local de realização foram as casas das/os assentadas/os e os horários marcados de acordo com suas disponibilidades. Antes de cada entrevista recuperávamos o propósito da investigação, deixando as pessoas à vontade pra responder às questões que quisessem e relembrando que era muito importante analisarmos juntas/os as situações. No processo comunicativo da entrevista, recuperávamos as teorias da educação para interpretar conjuntamente e em maior profundidade as questões levantadas. As entrevistas foram gravadas, captando a riqueza da poética de suas falas e as forças de suas vidas. Em média, duraram 2 horas.

Depois, realizamos a transcrição e, em um segundo encontro, fizemos a revisão dos dados com cada um dos sujeitos, apontando outras análises teóricas e recuperando questões que precisavam ser aprofundadas. Esse momento também foi importante para que tivessem a chance de reelaborar algum aspecto ou demarcar que não aparecessem no trabalho. Com base nessa segunda entrevista, transcrita, elaboramos textos caracterizando cada sujeito e sua trajetória, buscando destacar as habilidades que já possuía antes de ingressar na incubação as quais favoreciam o trabalho neste contexto. Lemos estes textos individualmente com Terezinha (Mbea), Vitor Luiz (HbEa), Júlia (MneA) e Domingos (HbEA), as/os quais validaram o escrito.

Estes textos evidenciaram que as mulheres e os homens assentadas/os já possuíam muitos conhecimentos antes de se engajarem na prática de economia solidária do Grupo Viverde. De acordo com as dificuldades que enfrentaram e com a criatividade emergida de seus contextos interativos, apresentavam um rico e vasto repertório, que, mais tarde, viria a contribuir com as análises da incubação. Por isso, os dados das entrevistas foram divididos de modo que parte deles será apresentado neste capítulo, como descrição dos sujeitos, de suas trajetórias e do assentamento, e outra parte aparecerá no capítulo das análises, pois nos ajudaram a interpretar os fatores obstaculizadores e os transformadores para a incubação.

Cabe ressaltar, aqui, que nem todas as questões do roteiro foram feitas seguindo o tempo que estabelecemos anteriormente para as entrevistas, porque diante de uma pergunta já

141 apontavam respostas para várias questões. Combinamos que não responderiam o que não quisessem. As entrevistas encerraram-se em junho de 2008.

Paralelamente a esse processo, íamos ampliando nossa compreensão da metodologia comunicativa crítica no Niase, na medida em que a estudávamos coletivamente, o que nos permitiu perceber que estávamos conduzindo a pesquisa sem realizar uma das fases mais importantes da pesquisa, a de consensuar comunicativamente com o grupo de sujeitos a pergunta de pesquisa e focalizá-la segundo suas preocupações. Sem esse consenso os sujeitos não poderiam verdadeiramente participar do estudo como investigadoras/es e sem a focalização mencionada perderíamos a chance de visualizar formas de melhoria para a prática da incubação. Compartilhei essa argumentação com os sujeitos, explicando ainda que correspondia ao meu amadurecimento metodológico. Então, em junho de 2008 fizemos o

primeiro grupo comunicativo com a finalidade de levantar os objetivos que tinham com a

incubação e as principais preocupações educativas relacionadas à conquista desse objetivo, a fim de focalizar melhor e consensuar a questão de pesquisa. Além desse tema, o grupo serviria para buscar maiores esclarecimentos sobre o papel de cada uma/um delas/es, bem como o da pesquisadora na investigação. Ao partilharmos desse tema com antecedência, também definimos o local do grupo de discussão, a Casa Verde (local das atividades da incubação), e horário, tendo em vista que seria mais apropriado o fim da tarde, quando já teriam finalizado os trabalhos nos lotes. Também acordamos que a Incop não seria convidada a participar da pesquisa, uma vez que as/os assentadas/os poderiam fazer as interlocuções para a melhoria da incubação diretamente no âmbito coletivo do projeto. Esta decisão também considerou que as pessoas que não têm espaço de fala socialmente são assentadas/os e não as/os universitárias.

Para a condução do grupo, primeiramente retomamos como e porque seria realizado, relembrando que seria importante ouvir as contribuições de cada uma/um e, ressaltando que o diálogo igualitário era fundamental, acordamos em adotar um sistema de inscrição das falas, priorizando quem falou menos e, depois, quem vive mais exclusão socialmente.

Após perguntar qual era o objetivo do grupo com a incubação, para puxar o tema da