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O perfil da expressão gênica da micróglia humana apresenta

grande diferença do perfil murino e é caracterizado por genes de neuroproteção e manutenção da homeostase

De forma a obter resultados que mais se aproximassem das condições fisiológicas in vivo para a análise da expressão gênica da micróglia, indivíduos com patologias do SNC evidentes foram excluídos, além de extensa análise neuropatológica ter sido feita para garantir amostras “normais”. Além disso, apenas as células viáveis foram selecionadas por FACS sorting (negativas para marcação com DAPI) e apenas amostras com alta qualidade de RNA foram sequenciadas. Ainda assim, por tratar-se de amostras de autópsia, todos os doadores sofriam de doenças que por fim o levaram ao óbito, potencialmente

afetando a expressão gênica da micróglia. No entanto, consideramos esta amostragem de autópsia, com critérios restritos de inclusão como os mencionados, o mais próximo da normalidade plausível de se obter. Nós analisamos o efeito de diversos parâmetros no transcriptoma da micróglia, como gênero, idade e tempo post-mortem. Surpreendentemente, nossos dados indicaram que um tempo post-mortem variando de 4h-24h teve pouca influência na expressão gênica dessas células.

Nosso estudo revelou grande sobreposição nos genes expressos na micróglia de humanos e de camundongos, ainda que diferenças consideráveis também estivessem presentes. Muitos fatores podem ter contribuído para causar essas diferenças, como diferenças intrínsecas entre as espécies, diferenças no ambiente, condição médica e as regiões cerebrais analisadas. Para citar um exemplo, camundongos laboratoriais são mantidos em condições ambientais padronizadas, que diferem daquelas as quais estariam expostos na natureza e que impedem quaisquer contatos com eventuais patógenos. É uma diferença notável dos humanos, expostos a diversos fatores patogênicos ao longo da vida. Além disso, a micróglia dos camundongos foi extraída de animais saudáveis e sem tempo post-mortem de espera, enquanto que a micróglia humana foi obtida durante o procedimento de autópsia de corpo inteiro e de doadores que sofriam de uma gama diversa de patologias. Fora isso, os estudos murinos utilizados para comparação (102–104) incluíram micróglia do cérebro total, enquanto que nosso estudo utilizou apenas a micróglia isolada do lóbulo superior parietal; estudo recente em camundongos revelou diversidade na expressão gênica da micróglia isolada de diferentes regiões do cérebro (125). Uma alternativa para verificar quais os fatores, intrínsecos e extrínsecos, determinantes para as dissimilaridades encontradas na expressão gênica da micróglia de humanos e camundongos seria a análise de micróglia de primatas não-humanos, com um tempo post-mortem similar ao dos estudos com camundongos.

Um número abundante dos genes classificados como específicos da micróglia humana estão envolvidos em vias de sinalização imunes, podendo refletir características funcionais dessas células. Exemplos interessantes são os receptores do tipo Toll, TLR3, TLR5 e TLR10; o fator regulatório de intérferon

os fatores de transcrição reguladores das moléculas apresentadoras de antígenos CIITA e NLRC5.

Diversos genes expressos pela micróglia humana são receptores de superfície celular, ativados por padrões associados a patógenos ou dano. A ativação desses receptores leva à translocação de fatores de transcrição como os do tipo reguladores de intérferon (IRF). IRFs representam uma família de fatores de transcrição ligados a diversas cascatas de sinalização imunes. A ativação de IRFs resulta na transcrição de intérferons do tipo I, citocinas e quimiocinas pró-inflamatórias que coordenas a ativação de células imunes. Por exemplo, TLR3 sinaliza via IRF7 (126), e IRF7 é responsável pela troca do fenótipo pró- para anti-inflamatório em culturas primárias de micróglia e macrófagos de camundongos (127). A expressão de TLR3 e IRF7 poderia possivelmente estar envolvida na função de neuroproteção e manutenção da homeostase da micróglia humana.

SIGLECs exercem um papel importante na imunossupressão e na neuroproteção. Elas regulam os efeitos da ativação imune, fagocitose e formação de inflamossomo através de seu imunorreceptor ITIM (immunoreceptor tyrosine-based inhibition motif) (128). CD33 (SIGLEC3), um conhecido marcador de micróglia, está associado com o acúmulo de placas de beta amiloide em modelos animais (camundongos) de Doença de Alzheimer; isso se dá devido à capacidade de fagocitose diminuída das células microgliais desses camundongos, que apresentam altos níveis de CD133 (129). SIGLEC5, que encontra-se hiperexpresso em nossa casuística de micróglia humana durante o processo de envelhecimento, também foi associado à uma menor capacidade de fagocitose (130) e, como consequência, dificuldade na liberação de espécies reativas de oxigênio (ROS). Nossos achados de que a micróglia humana expressa, além das moléculas SIGLEC previamente associadas a esse tipo células, SIGLECs 8, 9 e 10, destacam a importância e a especialização da micróglia para a manutenção homeostática do microambiente cerebral.

NLRC5 e CIITA são os maiores fatores de transcrição responsáveis pela

regulação da expressão gênica dos fatores MHC I e II, respectivamente (131). Enquanto que a expressão de CIITA é restrita a células do tipo apresentadoras de antígenos (APCs), NLRC5 é constitutivamente expresso em diversos tecidos,

principalmente nos da linhagem hematopoiética (células T CD4+, células T CD8+,

células B CD19+, células natural killer (NK) e células T natural killer). A expressão

de NLRC5 em monócitos CD14+ e células mielóides CD11b+ de baço, no

entanto, mostrou ser intermediária (132). Sendo assim, é interessante notar que a micróglia apresenta altos níveis dos reguladores da transcrição de ambas as classes de MHC. Esses dados sugerem que a micróglia é uma célula apresentadora de antígenos mais potente do que a micróglia murina e pode interagir as populações de células T-helper CD4 e CD8.

5.4. Mudanças na expressão gênica da micróglia humana ao