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A participação dos discentes é de suma importância para o presente trabalho, uma vez que atentar às experiências vivenciadas por eles consiste em compreender as condições de trabalho postas pelas políticas educacionais e, em especial, pelas avaliações externas, como o Enem. Nunes (2011, p. 56) assegura que, para entender a escola e as ações desencadeadas nela, precisa-se destacar os alunos em seus “[...] desejos, necessidades e diferenças, reconhecendo-os como sujeitos que possuem uma trajetória de vida, muitas vezes com valores, sentimentos, emoções, comportamentos, motivações, interesses e projetos de vida [...]”.

Contempla-se o perfil dos estudantes em questões relativas a sexo, idade, aprovação, reprovação e evasão escolar, acompanhamento dos veículos de informação e das ferramentas de estudo, como é apresentado no Quadro 3. Desse modo, percebe-se que a maioria dos concluintes do Ensino Médio de Uberlândia é do sexo feminino, 59%, enquanto que 41% são masculinos. Esses dois dados estão em consonância com a realidade brasileira em que a presença de mulheres no Ensino Médio representa uma superioridade numérica, de 54%, em relação aos homens, de 46% (BRASIL, 2017g). Em termos populacionais, os números do Censo Demográfico de 2017, apontam que a população de mulheres, na faixa etária de 15 a 19 anos, em Uberlândia, é de 53% e os de homens 47%. Enfim, os dados dessa pesquisa levam a constatação que a

predominância de mulheres no EM da rede estadual de Uberlândia, com uma variação a maior, ratifica a realidade escolar do país e populacional da cidade.

A presente pesquisa expõe que 84% dos concluintes do Ensino Médio regular da rede estadual em Uberlândia têm 17 anos, isso significa que, segundo a LDB de 1996, estão na idade adequada para concluírem a educação básica. O referido índice é superior à média na região Sudeste do país, 76,4%, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2017. De modo geral, sem observar a conjuntura social, 16%54

dos estudantes de Uberlândia estão em atraso escolar, estando abaixo da taxa brasileira, que é de 20%. Por meio desses números, constata-se que a Meta 3 do PNE de 2014, cujo intento é que 85% da população de 15 a 17 anos esteja matriculada no Ensino Médio (BRASIL, 2014a) está próxima de ser atingida em Uberlândia.

No que tange a aprovação, reprovação e abandono durante a vida escolar, os dados dessa pesquisa destacam que 89% dos alunos foram aprovados em todos os anos da educação básica até o último do Ensino Médio. Esse dado é superior, segundo o Censo Escolar de 2018, a taxa brasileira, que é de 81,5%. Os números mostram também que 11% dos estudantes já foram reprovados uma ou mais vezes durante a trajetória estudantil, o que é abaixo da média de reprovação do Ensino Médio nacional, 11,9%. A taxa de abandono apreendida é de 6%, um valor menor que o brasileiro, 6,6%. Em suma, os dados obtidos mostram que a maioria dos discentes de Uberlândia conclui o EM sem nenhuma retenção ou abandono, todavia, salienta-se que a aprovação automática na educação básica se situa, quando descontextualizada do aparato social e pessoal do estudante, como uma estratégia quantitativa de se atingir metas nacionais e internacionais, assim, muitas aprovações ignoram a defasagem de aprendizado do aluno.

O acesso aos veículos de comunicação pode ser um hábito de inserção do cidadão à sociedade e ao processo educacional, diante disso, vê-se que 88% dos estudantes apontaram que a internet é a principal fonte de comunicação usada por eles, suplantando o acesso a televisão, em segundo lugar com 10%, e os outros meios de comunicação (jornal, revista e rádio), os quais tiveram juntos 1% de menção. Esses dados são reveladores, pois, contrariam a média nacional que, conforme dados da

54 Silva (2013), em pesquisa realizada na rede estadual em Uberlândia, encontrou dados menores aos dessa pesquisa no tocante a média de idade de 17 anos dos concluintes do EM regular, 83,3%, e superior acerca do atraso escolar, 14,6%.

Pesquisa Brasileira de Mídia, vinculada à Secretaria de Comunicação Social da União, em 2017, 63% dos brasileiros têm a TV como principal forma de informação e a internet é o segundo meio preferido, com 26%. Deve-se ressaltar que a pesquisa nacional abordou diversos perfis estudantis e etários em território nacional, ao contrário desse trabalho, o qual foi centrado especialmente no público jovem, de uma única etapa de ensino e da mesma cidade. Diante desses dados, percebe-se um enraizamento do mundo tecnológico, com ênfase a rede mundial de computadores, nos afazeres dos estudantes respondentes.

Em termos de estudos, a ferramenta mais usada pelos estudantes é a internet, 68%, porém, no campo da contradição, nas escolas visitadas não há acesso livre com fins pedagógicos à internet. O segundo material de estudo usado é o livro didático, 12%, salientando que a rede estadual cede os livros, ao longo do ano, como suporte aos estudos. O uso de apostilas foi mencionado por 4%, sendo a quarta resposta mais pontuada, todavia, é pertinente expor que na rede pública, de modo oficial, não se doa ou empresta apostilas ao alunado, logo, atenta-se ao fato delas serem obtidas em cursos preparatórios para o Enem ou repassadas, a fim de complementação de estudos, pelos próprios professores e ou gestores da rede estadual.

Quadro 3– Sexo, idade, reprovação, abandono, meio de comunicação e ferramenta de estudo dos alunos.

Variáveis Porcentagem Sexo Feminino 59% Masculino 41% Idade55 Entre 17 e 18 anos 84% 19 anos 13% Mais de 20 3% Reprovação Sim 11% Não 89% Abandono Sim 6% Não 94%

55 No quesito idade, foram expressos os alunos do ensino regular, os matriculados na EJA não foram expostos para, assim, facilitar a comparação já que nesse quesito, a priori, são dois grupos com perfis etários distintos.

Meio de comunicação mais usado Internet 88% Televisão 10% Não usam 1% Impresso – jornal - de 1% Impresso – revista - de1% Rádio - de 1% Ferramenta mais usada para estudar Internet 68% Livros 12% Anotações e materiais extras 8% Não tem o hábito

de estudar

7% Apostilas 4% Não responderam 1%

Fonte: Dados da pesquisa (2017). Org. O autor (2017).

Ao associar a dualidade jornada de estudo e trabalho, observa-se, por meio do Gráfico 12, que 58,9% dos estudantes do Ensino Médio público de Uberlândia trabalham ou já trabalharam, um dado acima da média nacional, 44,7% (BRASIL, 2018a). Em relação a essa questão, percebe-se a existência de quatro grupos de respostas:

1º- afirma que não trabalhou durante o Ensino Médio, 41,1%. Tal número contemplativo de Uberlândia é muito próximo da média nacional em que “41,3% dos jovens brasileiros se dedicam exclusivamente aos estudos” (BRASIL, 2018a)

2º- 26% trabalham formalmente56, conforme observação do pesquisador, a

maioria dos estudantes fazem parte do programa municipal “Jovem Aprendiz”57;

56 Foi considerado trabalho formal aquele em que a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) está assinada – ressalta-se que de acordo com a CLT, a carteira pode ser assinada a partir de 16 anos – ou quando existe um contrato – de prestação de serviço – regendo a relação. Já o informal é entendido como aquele em que não há nenhuma determinante trabalhista, ou seja, condiciona-se como um “bico”. 57 Em Uberlândia, o Jovem Aprendiz é organizado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), respeitando o Decreto Lei número 5.598, de 2005, e tem o intuito de ofertar um vínculo de trabalho e de capacitação para adolescentes de baixa renda e apoiar o empresário no cumprimento da Lei do Aprendiz. Somente jovens entre 15 e 18 anos, cursando ou com o Ensino Médio encerrado, podem participar.

3º- 22,1% já desempenharam uma atividade empregatícia, porém, atualmente estão desempregados e mediante uma oportunidade podem regressar ao mercado de trabalho;

4º- 6,1% trabalham informalmente em atividades familiares ou de amigos, sem a obrigação de respeitar uma carga horária, recebendo somente pela tarefa desempenhada.

Ao analisar a questão do trabalho e do valor da renda por turno, percebe-se que os alunos do período vespertino58 são os que mais têm tempo para se dedicarem aos

estudos, pois 50% ainda não trabalharam durante o Ensino Médio. Verifica-se que 31,3% dos estudantes do noturno não trabalharam durante o Ensino Médio, porém, foi aferido pelo pesquisador que muitos desses alunos alocam o tempo em outras atividades na própria residência, como limpeza, preparação de refeição, cuidar de crianças e idosos, o que são tarefas que consomem dedicação.

Gráfico 12 – Proporção de alunos que trabalham ou já trabalharam (formalmente ou informalmente) durante o Ensino Médio e, caso tenham trabalhado, o valor da remuneração obtida.

Fonte: Dados da pesquisa (2017). Org. O autor (2017).

58 Ressalta-se que em Uberlândia há apenas duas escolas que ofertam o terceiro ano do EM no período da tarde, uma sala em cada instituição, ao todo há 67 alunos matriculados, o que representa uma parcela muito pequena do universo de mais de 6.000 concluintes, em 2017, do Ensino Médio. Expõe-se também que o ranqueamento do Enem não divide as notas por turno, logo, não há como observar se mais tempo de estudo é realmente revertido em bom desempenho na avaliação.

Ao relacionar conjuntamente os três turnos, os estudantes que declararam que trabalham formalmente ou informalmente, 31,2%, recebem um salário mínimo ou menos. Mais de 5% disseram que ganham entre um e três salários e 0,3% obtém mais de três salários. Os alunos do noturno são os que mais estão empregados e os que possuem uma renda média maior. Esses dois motivos podem ser justificados pelo fato desses estudantes poderem cumprir uma carga horária de trabalho maior que aqueles que trabalham em apenas um turno. Entende-se, então, que o poder financeiro da maioria dos discentes é baixo, logo, corrobora a ideia que o Estado deve garantir a escola pública para que, assim, as famílias das camadas carentes da população possam ter acesso à educação escolar.

Pelo Gráfico 13, constata-se que a renda média per capita, aquela que divide o total de renda familiar pelo número de moradores de uma residência, para 39% das famílias dos alunos que estudam em Uberlândia está “entre 938 reais e três (2.811 reais) salários mínimos59”, o que tende a compreender a renda média nacional e estadual, uma

vez que, em 2017, o ganho médio das famílias brasileiras foi de R$1.268,00 e o das mineiras superou o valor de R$1.224,00 (IBGE, 2017). Observa-se que a renda familiar se relaciona de forma direta com o acesso e a permanência do aluno na escola pública, pois, a baixa renda impulsiona o jovem a buscar um emprego e, diante desse cenário, a secundarizar os estudos. As consequências são a repetência, evasão, um aprendizado acrítico e a falta de perspectiva pessoal e profissional. Para Dias (2013, p. 51) “[...] mais tarde [a secundarização dos estudos] acaba por dificultar, ao extremo, a entrada dessas pessoas no mercado de trabalho”, caso ele busque vagas de emprego que exigem um nível maior de estudo. A questão financeira ainda influencia na participação em avaliações para o ingresso ao Ensino Superior, como Enem, porque o alunado que não tem condição financeira de investir em materiais didáticos, cursos extracurriculares e inscrições de provas sai em desvantagem em relação aquele que tem poder econômico.

59 Na presente pesquisa, conclui-se que 58,9% das famílias recebem uma renda de até seis salários. Números próximos ao encontrado por Silva (2013), que expôs que mais de 60% das famílias dos alunos do Ensino Médio público de Uberlândia possuem renda de até seis salários.

Gráfico 13 – A renda total da família dos alunos.

Fonte: Dados da pesquisa (2017). Org. O autor (2017).

Uma vez conhecido os egressos do Ensino Médio, parte-se, agora, para observação do perfil dos professores das escolas de Ensino Médio da rede estadual, contemplando sexo, idade, tempo de atuação docente e regime de trabalho.