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Produções acadêmicas sobre o Enem e os aspectos de originalidade da presente

Uma das primeiras ações na organização desse estudo consistiu em averiguar, de modo sintético, os trabalhos já realizadas sobre o Enem no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Para tanto, as expressões “Enem”, “avaliação externa”, e “Ensino Médio” foram dispostas como palavras-chave na averiguação. A primeira busca foi realizada em 12 de dezembro de 2016, e, posteriormente, pela necessidade em se confirmar as informações obtidas no primeiro momento, foi realizado uma segunda averiguação em 11 de janeiro de 2017. Foi percebido que não há dissertações e teses abordando em conjunto esses três descritores, o que reforça o caráter de originalidade dessa pesquisa. Entretanto, como se vê na Tabela 1, nos dez primeiros anos de sua existência, entre 1998 e 2008, o Enem foi objeto de trabalho em 24 trabalhos de conclusão de pós-graduação (CAPES, 2017). Já a partir de 2009, quando o Enem passou a executar concomitantemente as sete funções oficiais atribuídas a ele, até 2016, o referido Exame foi tratado em 568 produções de Mestrado e Doutorado, o que ajuda evidenciar o seu valor dentro das políticas educacionais.

Tabela 1 – Inventário de Teses e Dissertações a partir do Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes)12.

Ano Dissertação Teses Total

1998 0 0 0 1999 0 0 0 2000 0 0 0 2001 2 0 2 2002 2 0 2 2003 0 3 3 2004 2 0 2 2005 1 3 4 2006 2 2 4 2007 4 0 4 2008 3 0 3 2009 10 1 11 2010 7 0 7 2011 11 2 13 2012 44 4 48 2013 73 15 88 2014 96 22 118 2015 116 18 134 2016 125 24 149 Total 498 94 592

Fonte: CAPES (2017). Org. O autor (2017).

A temática Enem foi abordada em diversas áreas do conhecimento, tais como: Administração, Biologia, Computação, Direito, Engenharia, Filosofia, Física, Geografia, História, Linguagem, Matemática, Química, Sociologia e Educação. Em torno de 250 trabalhos estão vinculados a área de educação mediante os seguintes temas: sistema de avaliação, avaliação institucional, estilo das questões, análise qualiquantitativa das questões, base comum curricular, forma de ingresso ao Ensino Superior, autoavaliação, correção pelo método da Teoria de Resposta ao Item (TRI)13,

12 A partir de 2012, além do Mestrado acadêmico e Doutorado, contabilizou-se também os trabalhos de Mestrado profissional e profissionalizante.

13 Trata-se de um conjunto de testes em que a probabilidade de respostas a um item é modelada como função da proficiência do aluno e de parâmetros do item, ou seja, quanto maior a proficiência, maior a probabilidade do aluno demonstrar habilidades e competências para elucidar a questão, sendo que as

comparação com outros exames internacionais. Exprime-se que, mesmo diante de muitas pesquisas já concluídas sobre o Enem, o presente tema ainda oferece, em diversas áreas do conhecimento, muitas possibilidades de abordagem.

Após a leitura na integra de dezenas de dissertações e teses que contemplaram os descritores “Enem”, “avaliação externa” e “Ensino Médio”, cinco teses foram utilizadas como referenciais básicos nessa pesquisa, uma vez que elas apresentam apontamentos pertinentes na construção teórica-conceitual das significações presentes nesse estudo, isto é, a correlação desses trabalhos converge para a estruturação cientifica da presente pesquisa. Nos parágrafos seguintes, as cinco teses e as vinculações delas com a presente pesquisa são expostas:

A primeira das cinco teses é “Pontos e contrapontos do ensino médio público de Uberlândia/MG”, de Wender Faleiro da Silva, de 2013, da UFU. Esse trabalho contribuiu, além da fundamentação teórica, com a análise dos números acerca do Enem, do Ensino Médio após a LDB e com o retrato dos estudantes, do professorado e dos gestores locais. No que concerne ao Enem, Silva (2013, p. 164) afirma que ele trouxe “à tona efeitos perversos, como a diferenciação e o estímulo à competitividade entre as escolas; o estabelecimento de rankings; segregação social; degradação da educação”, ou seja, por meio da nota por escola emerge um desagradável e segregador status de “baixo nível” à rede pública estadual, a qual obteve as menores notas no Enem, acentuando, então, a responsabilização docente. Sobre o Ensino Médio, Silva (2013, p. 167), assevera que o processo de ensino e aprendizagem atual é “desvinculado aos interesses dos estudantes, com condições físicas e pedagógicas precárias, descompromissada com suas finalidades e com a qualidade”. Por fim, um outro aprendizado obtido com a leitura dessa tese trata da “necessidade de a adoção de políticas públicas que visem reverter o quadro de desigualdades educacionais [...] de algo novo que permita a expansão das potencialidades humanas e a emancipação do coletivo” (SILVA, 2013, p. 166).

A tese “Enem: Limites e possibilidades do Exame Nacional do Ensino Médio enquanto indicador de qualidade escolar”, de Rodrigo Travitzki, de 2013, da Universidade de São Paulo (USP), elege o ranking do Enem como objeto de pesquisa, mencionando o Ideb, e promove uma análise ao uso desse ranqueamento como

repostas se estruturam da mais apropriada para a menos apropriada em relação ao comando do item (LOPES, 2007).

indicador de qualidade escolar. Destaca-se que Travitzki (2013) aponta várias propostas para o Enem aferir melhor o EM brasileiro, tais como: criação e aplicação de avaliações do Enem em caráter regional, além de fazer com que a União dívida as responsabilidades de gestão do Exame com outros ente federados, dispõe uma parcela das questões as particularidades regionais; diversificar as agências responsáveis pelo Exame tanto por motivos econômicos quanto políticos; implementação de duas provas ao longo do ano, gerando menos tensão e mais oportunidade para os alunos treinarem e buscarem um melhor desempenho. Alguns ensinamentos apreendidos com Travitzki (2013) que direcionaram algumas concepções na presente pesquisa foram: a consolidação de indicadores na atual sociedade, como o Enem e o Ideb, é atribuído ao seu caráter objetivo; a existência de teorias consistentes, como o TRI, para analisar os resultados; o ranqueamento escolar tende a ser nocivo; a importância de compreender melhor o que significa qualidade na educação, destituindo-a da variação neoliberal.

A tese “Enem e ensino de geografia: o entendimento dos professores e gestores da rede pública estadual, em relação ao Exame Nacional do Ensino Médio e a melhoria da educação básica”, de Maria da Penha Vieira Marçal, de 2014, da UFU, tem como objeto o Enem e visa pontuar as repercussões dele no ensino de Geografia, nas escolas da rede pública estadual mineira, com o recorte geográfico em Patos de Minas. Esse trabalho propicia uma reflexão acerca da avaliação sistêmica no Ensino Médio e, em especial, da sua implicação em sala de aula. A avaliação é concebida como instrumento de controle social, de regulação, atrelada às políticas públicas, nesse cenário, a autora estabelece o Enem como um perfil avaliativo regulador, mas, que é necessário no processo educacional. Marçal (2014) salienta que, como uma política de avaliação incidente no processo de ensino-aprendizagem, o Enem pode induzir ações de melhorias de qualidade da educação básica, especialmente, no ensino de Geografia, porém, ele não tem apresentado o impacto desejado pelo discurso oficial.

A quarta obra é “O Exame Nacional do Ensino Médio: uma política reconstruída por professores de uma escola pública paulista”, de Juliana Cristina Perlotti Piunti, de 2015, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O trabalho aborda as repercussões do Enem nas práticas profissionais docentes, tendo como lócus as escolas de EM da rede estadual paulista, na cidade de Sumaré. Como principal conclusão, Piunti (2015, p. 34) afirma que “mesmo reconhecendo todos os obstáculos que o ensino

médio público oferece para quem nele convive hoje no Brasil [...] mesmo reconhecendo que as políticas educacionais são confusas, demoram para trazer efeitos e não são constantes”, os docentes buscam, nesse contexto de adversidade, diversificadas práticas de ensino para construírem uma educação pública com qualidade (dentro daquilo que é cabível a eles) para ajudarem, em especial, os alunos concluintes do Ensino Médio a buscarem, via Enem, o acesso ao Ensino Superior.

A tese de Leonice Matilde Richter, intitulada “Trabalho docente, políticas de avaliação em larga escala e accountability14 no Brasil e em Portugal”, de 2015,

defendida na UFU, propiciou uma reflexão em relação a avaliação sistêmica (mesmo não tendo o Enem como cerne de estudo) na educação básica. Sobre a prática avaliativa, Richter (2015, p. 87), assim como Marçal (2014), acredita que ela é importante para “o sistema educacional, quando comprometida com uma educação emancipatória [...]” sendo “[...] um campo de mediação para tomadas de decisões e ações”, porém, a maneira como ela é disposta no neoliberalismo, acarreta, dentre várias consequências, na desresponsabilização do Estado das questões de sala de aula, imputação ao professor da responsabilidade pelos péssimos resultados, limitação da apropriação dos índices pelo próprio Estado e pelos profissionais da escola.

Em relação às teses mencionadas e aos demais acervos consultados, a presente pesquisa possui algumas perspectivas, que a distingue de outros trabalhos acadêmicos e, por consequência, contribui para a discussão da temática, quais sejam:

1°- Correlação do neoliberalismo e Reforma do Estado brasileiro com a incursão de um debate acerca de Estado Avaliador, da avaliação externa e do Enem.

2°- Apreensão dos dados relativos as recentes edições do Enem, bem como dos programas vinculantes a ele, assim, contribuindo para a atualização do debate sobre esse objeto de estudo.

3°- Vinculação analítica do Enem com o Ideb, bem como utilização das funções oficiais do Enem e dos programas vinculados a ele como objetos de estudos correlacionados a avaliação externa.

14 Explicita-se que não há um termo único no idioma português que defina essa palavra, que é originária da língua inglesa. No Merriam-Webster's collegiate dictionary (2003) o termo significa The quality or state of being accountable; an obligation or willingness to accept responsibility or to account for one's actions, ou seja, trata da responsabilização ética e pessoal pelos atos praticados e explicita a exigente prontidão para a prestação de contas, seja no âmbito público ou privado.

4°- Catalogação dos Termos de Adesão das instituições públicas participantes do Sisu (com número de cursos e vagas, em ampla concorrência e por ação afirmativa, disponibilizados), o que foi exposto no Apêndice F. Catalogação das 31 instituições portuguesas que usam a nota do Enem como critério de seleção para ingresso ao Ensino Superior e a data que elas aderiram ao Exame, como expresso no Apêndice G.

Enfatiza-se o uso do campo da contradição como referencial teórico e da valorização da percepção dos dois sujeitos protagonistas no campo educacional: estudantes e professores.

Enfim, após ter esclarecido as facetas do problema, as objetivações, a fundamentação teórica e a revisão das produções acadêmicas, torna-se oportuno demonstrar o enquadramento metodológico e procedimental do problema. Para tanto, é preciso apresentar isso na subseção seguinte, dos procedimentos metodológicos.