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Ao se construir uma pesquisa que incide sobre a prática escolar, como a avaliação externa, é primordial destacar o papel dos docentes e levar em conta a sua autorreflexão e visão da organização escolar e de mundo perante o Enem. Antes, torna- se relevante dispor que dos 61 professores que participaram da pesquisa, como pode ser visto no Quadro 4, 60% são do sexo feminino e 40% do sexo masculino. Em relação ao nível nacional, 64,1% são mulheres, o que ultrapassa a porcentagem média de Uberlândia, e 35,9% são homens, indicando uma média menor que a local (BRASIL, 2017g). A predominância da inserção de mulheres no exercício do magistério é recorrente em distintos contextos, ao fazer uma incursão em conjunturas históricas anteriores, percebe-se que essa característica é estimulada, sobretudo, pelas intensas transformações econômicas, demográficas, sociais, culturais e políticas que ocorrem no Brasil (VIANNA, 2002). Em outra perspectiva, Marçal (2014) afirma que, mesmo com

as mudanças mercadológicas e educacionais ocorridas nas últimas décadas, a sociedade ainda associa a função do professor da educação básica às características geralmente consideradas femininas, como a “atenção” e a “delicadeza”, o que contribui para a associação das mulheres com a sala de aula.

Tendo como referência a divisão do Censo Escolar da Educação Básica de 2018, nesse trabalho, os professores foram distribuídos em quatro categorias de faixas etárias: até 24 anos, de 25 a 32, de 33 a 40, de 41 a 50 e mais de 51. Face a esses segmentos etários, a maioria dos sujeitos participantes dessa pesquisa encontram-se na faixa etária dos 33 aos 40 anos (43%), diferente da média brasileira e mineira em que a maioria dos docentes tem entre 41 e 50 anos, respectivamente com 28,8% e 32,4%. Nessa análise de dados também apreendeu que o grupo dos 25 aos 32 anos preenche 34% do corpo docente municipal, sendo a segunda faixa etária com o maior número de sujeitos, já acerca dos dados brasileiros e de Minas Gerais, o grupo dos 25 aos 32 anos correspondem a 26% e 24,9%, sendo a terceira maior faixa etária, atrás dos que têm de 33 aos 40 anos, 27,1% e 26,7%.

Em relação ao tempo de docência, o maior grupo tem entre seis e dez anos de atuação, 42,4%, sendo que 18,2% possuem entre 11 e 15 anos de sala de aula e o grupo entre 16 e 20 anos de profissão corresponde a 12,1%. Esses dados contemplam o objeto dessa pesquisa, pois, uma parcela significativa dos docentes, 72,7%, estava em efetivo exercício do magistério por acaso da implementação do “Novo Enem”, assim, diante da sua vivência laboral, têm condições de pontuarem sobre a disposição gradual do referido Exame no dia a dia escolar. Entre os docentes com cinco ou menos anos de carreira, há 27,3% dos professores, o segundo grupo com mais respostas. De acordo com Andrade (2004), historicamente, os docentes iniciam suas carreiras muito cedo e, muitas vezes, antes da própria formação profissional e em escolas públicas. Percebe-se que muitos jovens querem e precisam, cada vez mais cedo, de uma renda, logo, veem no magistério uma forma imediata de um provento financeiro.

A condição de pauperização salarial60 obriga a maioria dos professores a

trabalhar em mais de uma escola, em várias turmas e a ter concomitantemente outro(s)

60 Vários trabalhos, dentre eles de Lourencetti (2014), Oliveira (2003 e 2004), Piunti (2015) e Richter (2015), demarcam que os docentes passam por um “processo de proletarização” financeira. Nessa pesquisa foi aferido que 60,6% dos professores recebem entre R$938,00 a R$2.811,00. Ressalta-se que o valor do piso do magistério, em 2019, é R$2.557,73 (BRASIL, 2018a). Evidencia-se também que essa

emprego(s) (LOURENCETTI, 2014). Salienta-se que, em 2017, em Minas Gerais, o salário inicial pago a um professor com jornada de trabalho de 24h por semana foi de R$1982,54, acrescido de um abono de R$153,10. Dos respondentes, 66% disseram que não trabalham exclusivamente na rede pública, desse universo, 29% tem um duplo estabelecimento de trabalho na rede pública estadual e municipal, 21% trabalham concomitante na rede estadual e particular e, por fim, 16% dedicam ao mesmo tempo na estadual, municipal e privada, tendo um triplo ambiente profissional. Dos respondentes, ninguém mencionou que atua na esfera pública federal. Para ilustrar a necessidade de trabalhar em duas ou mais escolas, cita-se o caso dos conteúdos com uma aula (como Artes, Filosofia e Sociologia) em que o professor precisa de 16 turmas para um cargo completo. Ressalta-se que a jornada de trabalho semanal é de 24h, sendo 8h destinadas a atividades extraclasses, nas quais 4h são na escola e as outras 4h no ambiente de livre escolha do professor (MINAS GERAIS, 2017). Diante da necessidade de lecionar em várias turmas, há professores que buscam um segundo cargo na rede estadual ou mais aulas na rede municipal e privada. Zanchet (2003) cita que os diferentes locais em que os professores trabalham podem influenciar nas práticas das cobranças, visto que as escolas possuem peculiaridades e podem variar as exigências profissionais.

Acerca da dedicação à docência, 76% atuam integralmente como professores, já 24% possuem outra(s) profissão(ões). No Brasil, 41% dos docentes da rede pública complementam a renda seja na área educacional ou fora dela. Em Minas Gerais, esse público equivale a 51,1% (BRASIL, 2018a), assim, a média de dedicação integral em Uberlândia é maior que a estadual e nacional. A consequência de ter outros trabalhos, além da carreira docente, para Alves e Pinto (2011) é a baixa produtividade e o adoecimento. Para Silva (2013) esses profissionais também estão suscetíveis a distanciarem da realidade familiar, social, de entretenimento. Oliveira (2003) garante que ele perde a noção de integridade do processo e passa a apenas executar uma parte do trabalho, afastando-se da concepção global, o que reduz o professor a técnico executor.

No que se refere à forma de ingresso na rede estadual, a maioria está concursada, 46%, já 30% estão concomitantemente concursados e designados e 24% são designados.

remuneração dos docentes é ínfima frente a importância dele para a sociedade, a carga de trabalho exercida dentro e fora da sala de aula, a responsabilidade, as múltiplas funções assumidas.

O professor pode ocupar dois cargos concursados na rede pública estadual (MINAS GERAIS, 2017). As consequências de se ter uma maioria de docentes contratados temporariamente são: dificuldade do vínculo professor-aluno, descontinuidade dos planejamentos e dos projetos educacionais, sem contar que, muitas vezes, há perdas de aulas durante o processo de substituição (SILVA, 2013). O fato do docente ser concursado acarreta em direitos trabalhistas, previdenciários, remunerativos, o que pode motivá-lo e dar garantias no exercício da profissão.

Quadro 4 – Sexo, idade, tempo de profissão, forma de ingresso e regime de atuação dos professores na rede estadual. Variáveis Porcentagem Sexo Feminino 60% Masculino 40% Idade Até 24 anos 3,2% De 25 a 32 34% De 33 a 40 43% De 41 a 50 12,5% Mais de 50 7,3% Tempo de docência Menos de 5 anos 27,3% Entre 6 e 10 anos 42,4% Entre 11 e 15 anos 18,2% Acima de 16 anos 12,1% Atua exclusivamente na rede pública Sim 34% Não 66% Atua exclusivamente no magistério Sim 76% Não 24% Forma de ingresso na rede pública Designação 24% Concurso 46% Contrato 0% Concurso e Designação 30%

Constata-se que 54,9 dos professores brasileiros do Ensino Médio têm formação inicial superior na área que lecionam, no caso dos docentes mineiros a porcentagem é de 92,9% e em Uberlândia 95,9% (BRASIL, 2018a). Os dados dessa pesquisa apontam que 97% do professorado possuem uma titulação universitária, superando a média nacional, mineira e a local apresentada pelo MEC. A maioria, 33,5%, dos docentes possui uma graduação concluída, enquanto que 66,5% são pós-graduados, o que mostra uma constância qualificação por parte dos professores61 e que a meta 16 do PNE de 2014, no

Ensino Médio de Uberlândia, foi atingida já que ela implica que 50% dos professores da educação básica devam ter nível de pós-graduação. Vide Gráfico 14.

Gráfico 14 – Maior titulação do docente.

Fonte: Dados da pesquisa (2017). Org. O autor (2017).

Feita a referendação dos perfis dos participantes da pesquisa, o foco passa, a partir deste momento, a explicar os pares dialéticos expressos nesta seção. Dessarte, acredita-se que a educação contrai fundamentações, práticas e fins ora convergentes ora divergentes e essas ressignificações são resultantes do campo de disputas hegemônicas

61 Há dois fatos que justificam os números de professores (re)qualificados. O primeiro se refere a Secretaria de Estado da Educação despender a formação continuada (em respeito a CF de 1988 e a LDB de 1966) como meio de ascender na carreira profissional, não obstante, vê-se uma contradição, ou seja, um distanciamento entre o discurso da motivação e a real motivação, pois, o plano de carreira do servidor estadual desvaloriza a continuação dos estudos, já que, de acordo com a Resolução 67, de 2010, o professor do EM obtém aumento na remuneração se tiver cumprido o interstício de cinco anos de efetivo exercício no mesmo grau (essa contagem se inicia após a conclusão do período de estágio probatório, assim, podendo levar oito anos de efetivo exercício para obter a primeira promoção na carreira) e ter cinco avaliações periódicas de desempenho individual satisfatórias desde a sua promoção anterior, o que significa que a motivação, propiciada pelo governo estadual, é mínima. O segundo pela constante necessidade de aperfeiçoamento, pois, muitos docentes têm a concepção que a sociedade, o trabalho e o ensino e aprendizagem estão inerentes as múltiplas transformações (GERMANOS, 2016; MARÇAL, 2014).

de sujeitos e projetos sociais providos de historicidade e impregnados pelos condicionantes sócio-políticas-culturais, os quais se constituem e ressignificam. Dessa feita, como forma de organização da seção e por entender que os conceitos dialogam entres si, a argumentação foi disposta em categorização dos conteúdos por pares dialéticos, ou seja, em duplas temáticas tratadas de modo combinado, as quais sintetizam as similitudes e as contradições permeando uma constante relação e movimento.

Durante a análise do conteúdo dos dois questionários (alunos e professores) e das entrevistas (alunos e professores), o pesquisador atentou para os dados mais significativos em vistas aos objetivos propostos na presente pesquisa, em um exercício de tomadas e retomadas de conceitos, os excertos representativos foram distinguidos e passaram por análise de vínculo com o Enem e com os objetivos específicos. Após essa seleção, foi organizado em categorias de modo a apresentar os pares dialéticos, os quais foram se (re)constituindo e (re)ssignificando durante a análise de dados, à posteriori a coleta de dados.

Esses pares dialéticos compreendem que uma realidade é múltipla, mas, com vínculos orgânicos, está em movimento, em transformação e expõe, ao mesmo tempo, a convergência e o contraditório, logo, propiciam compreender não apenas por meio daquilo que é perceptível e homogêneo como também por aquilo que está implícito e contraposto. Diante dessa conjuntura, a linha da contradição é colocada em destaque, uma vez que descortina as ações do Estado na sociedade.

Os pares dialéticos estão diretamente relacionados entre em si e com a discussão esboçada nas seções anteriores, assim, constituíram-se em duas dimensões, que contribuem com o aprofundamento da problemática apresentada, as quais são: “Os indicadores da avaliação externa do Enem sob a influência da lógica mercantil no Ensino Médio” e “Vicissitudes e desafios para a materialização do Enem nas escolas públicas”.

5.3 Os indicadores da avaliação externa do Enem sob a influência da lógica