• Nenhum resultado encontrado

O político como estatuto humano essencialmente conflitivo

II. AMIGO E INIMIGO, UNIDADE POLÍTICA E ORDEM CONCRETA EM CARL SCHMITT

1. O político e o conflito

1.5. O político como estatuto humano essencialmente conflitivo

A crítica de Agamben visa o pensamento de Schmitt na medida em que traça um paralelo entre as figuras de seu excluído pela decisão biopolítica – isto é, o homo sacer e o

bandido – e o inimigo eleito pela decisão soberana. A despeito de Agamben afirmar que a

relação do ―homo sacer, matável e insacrificável, indica a relação política originária, mais

original que a oposição schmittiana entre amigo e inimigo, entre concidadão e estrangeiro

215

, o que ocorre em verdade é que o homo sacer é apenas uma configuração histórica da mesma oposição amigo-inimigo conceituada em termos gerais por Schmitt mas que em Agamben recebe o acento biopolítico, que passa a ser o critério determinante da cisão. Além disso, na medida em que o inimigo de Schmitt, em suas obras posteriores, se materializou no critério racial, a identidade entre o inimigo e o homo sacer passa a ser total, pois nos coloca diante da mesma decisão fundamental que inclui a vida do amigo/cidadão na ordem estatal a partir de um critério biológico – biopolítico, então. Contudo, caso se adote aquela posição primeira do Schmitt de O conceito do político e se comprove solução de continuidade entre ela e as ulteriores concepções influenciadas pela sua adesão ao nacional-socialismo, poderemos verificar que a crítica de Agamben perde muito de seu vigor, pois, desde um

212

AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 170.

213

BENJAMIN, Walter. Para uma crítica da violência. In Escritos sobre mito e linguagem. Trad.: Susana Kampff Lages e Ernani Chaves. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2011, p. 121-156.

214

AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. Trad. Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004, p. 133.

215

AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte:

Editora UFMG, 2010, p. 109. E em outro trecho: ―A dupla categorial fundamental da política ocidental não é aquela amigo-inimigo, mas vida nua-existência política, zoé-bios, exclusão-inclusão.‖ (AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. Trad. Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004, p. 18.)

critério essencialmente indeterminado a constituir o conflito político, a cidadania não necessitaria se fundar exclusivamente no critério biológico do nascimento, como acredita Agamben.

É nítido, então, que a aproximação de Schmitt com o nazismo veio a alterar profundamente em seus textos a partir daí sua concepção do político em relação à formulação contida em O conceito do político, publicado originalmente em 1927 e republicado e incrementado em 1932. Tal mudança de rumo se dá quando ele começa a se afastar da definição relacional do político para se fixar em critérios substanciais de definição da unidade política. Com efeito, atesta Bernardo Ferreira que

as tensões e ambigüidades sobre as quais havia se construído o seu pensamento na República de Weimar foram substituídos, entre 1933 e 1937, por uma tentativa de firmar a ordem jurídico-política sobre uma base racial. Schmitt buscou na comunidade racial homogênea o fundamento que até então o seu pensamento reconhecera a impossibilidade de encontrar e, até mesmo, se dedicara a criticar. Isto implica uma clara ruptura teórica com a sua reflexão anterior.216

Ora, o político deixaria assim de constituir uma atividade da consciência, um quadro dinâmico, vivo, como quando ele repousava no conflito, para se mostrar apenas como o momento estático da afirmação arbitrária de uma unidade lastreada por algum critério imediato qualquer mediante a eleição do inimigo correlato.

As críticas a essa concepção de unidade política são fáceis, e por isso mesmo fartas, tanto na análise de suas premissas quanto no juízo sobre suas conseqüências. Albergamo-las, aqui, para fins de análise, sob o pensamento de Agamben, um autor atual, que tem exercido grande influência nos meios acadêmicos, e que, sobretudo, incorpora em sua crítica as contribuições de autores centrais nessa investida contra a ordem jurídico-estatal, tais como Foucault, Walter Benjamin, etc. Além disso, sua crítica é assaz vigorosa e radical, porque ele enxerga nesse processo não uma degeneração ou uma deturpação do rumo histórico da política ocidental, mas sim o reflexo atual de uma relação muito anterior na qual tanto os regimes totalitários quanto as democracias liberais estão fundados. Ambos estariam historicamente ligados tanto pela permanência da relação de bando quanto pelo tronco comum das declarações de direitos, que fundam a soberania nacional no novo contexto do Estado-nação e que têm no campo, então, mais que uma decorrência inevitável, mas sua realidade fundamental. Combateremos, então, na obra de Agamben, que a radicaliza, toda a

216

FERREIRA, Bernardo. O risco do político: crítica ao liberalismo e teoria política no pensamento de Carl

crítica que tem sido feita ao modelo político-jurídico ocidental no que concerne aos seus fundamentos aqui elencados.

Vimos que a tese de Schmitt acerca do político como o contexto de uma relação polarizada e conflituosa com o grau de intensidade marcado pela distinção entre amigo e inimigo e cuja tensão deveria, então, ser permanente – para que a existência política pudesse também ser permanente – foi por ele mesmo desnaturada de modo a petrificar a unidade em um critério substancial racial. E é esse critério racial/biológico que Agamben adota como o mote de sua crítica à política ocidental – apresentada na modernidade na figura do campo –, por conceber esse critério como uma estrutura permanente de inclusão e de exclusão da vida nua no Estado. Segundo Agamben:

O vínculo [político] tem ele mesmo originariamente a forma de uma dissolução ou de uma exceção, na qual o que é capturado é, ao mesmo tempo, excluído, e a vida humana se politiza somente através do abandono a um poder incondicionado de morte. Mais originário que o vínculo da norma positiva ou do pacto social é o vínculo soberano, que é, porém, na verdade somente uma dissolução; e aquilo que esta dissolução implica e produz – a vida nua, que habita a terra de ninguém entre a casa e a cidade – é, do ponto de vista da soberania, o elemento político originário.217

Oswaldo Giacoia explica:

A crise estrutural do modelo jurídico-político exibe o modo de funcionamento implacável da lógica do bando, como paradigma do político. A sacralidade da vida significa que o poder soberano, como biopoder, tomou a seu cargo a gestão política da vida biológica, que se tornou o campo de incidência das tecnologias sócio- políticas das disciplinas e da regulamentação. A modernidade é, portanto, em sua essência, biopolítica, o que implica em identificar a sacralidade jurídica da vida com sua inclusão sem resíduos no âmbito de poder da decisão soberana.218

É sem dúvida que esse modelo inexoravelmente – e constitutivamente – produz exclusão, uma exclusão inclusiva que possui a mesma natureza que a relação inimigo/amigo de Schmitt. Entretanto, a tese central de Agamben só se sustenta na medida em que o conceito do político de Schmitt só se consagre em sua formulação degenerada, com a colocação do conflito amigo/inimigo mediante termos biológicos. Em outras palavras, somente quando os termos dessa relação se petrificam em uma substancialidade biológica (sangue, nacionalidade,

217

AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 91.

218

GIACOIA JR., Oswaldo. Sobre direitos humanos na era bio-política. In: KRITERION, Belo Horizonte, nº 118, Dez./2008, p. 295.

raça) é que essa implicação assume o acento biopolítico postulado por Agamben como fundante da nossa experiência jurídica. De maneira enfática, ele não vacila em atestar:

A nossa política não conhece hoje outro valor (e, consequentemente, outro desvalor) que a vida, e até que as contradições que isto implica não forem solucionadas, nazismo e fascismo, que haviam feito da decisão sobre a vida nua o critério político supremo, permanecerão desgraçadamente atuais.219

A questão que emerge, então, é: será que o critério biológico de inscrição da vida nua no ordenamento realmente é o único critério político que o Ocidente concebeu? E mais, esse critério realmente é o critério político supremo, isto é, ele de fato possui o inexpurgável caráter fundante que Agamben lhe atribui?

Se a resposta a estas questões for afirmativa, não resta dúvida de que as conseqüências que Agamben daí extrai são verdadeiras, sobretudo a solução apontada por ele para se quebrar o ciclo de violência do direito em sua relação com a vida e a correlata permanência do paradigma do campo, qual seja, a destruição completa de todo o aparato jurídico-estatal. É por isso que, para ele:

Um dia, a humanidade brincará com o direito, como as crianças brincam com os objetos fora de uso, não para devolve-los a seu uso canônico e, sim, para libertá-los definitivamente dele. O que se encontra depois do direito não é um valor de uso mais próprio e original e que precederia o direito, mas um novo uso, que só nasce depois dele. Também o uso, que se contaminou com o direito, deve ser libertado de seu próprio valor. Essa libertação é a tarefa do estudo, ou do jogo. E esse jogo estudioso é a passagem que permite ter acesso àquela justiça que um fragmento póstumo de Benjamin define como um estado do mundo em que este aparece como um bem absolutamente não passível de ser apropriado ou submetido à ordem jurídica.220

Contudo, tanto por repudiarmos tal resultado, quanto por não partilharmos da premissa, resta a tentativa de identificação de algum outro critério político supremo que não o engessado e limitado critério biológico. Desta sorte, retrocederemos à formulação inicial do conceito do político e da natureza da homogeneidade democrática de Schmitt para aí recuperarmos a essência do político, pois, conforme acreditamos, é impossível emergir de maneira peremptória um critério político supremo dessa formulação, sem que, por isso mesmo, ela reste automaticamente desnaturada. Com, efeito ensina Bernardo Ferreira:

219

AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 17.

220

Uma vez que um certo conteúdo se transforma na substância da igualdade política, ele assume um papel determinante: será ele a definir a natureza da homogeneidade de um povo. Assim, apesar do seu lugar central na elaboração de uma imagem substantiva e não apenas formal da ordem democrática, tanto o conceito de igualdade como de homogeneidade não são concebidos por Schmitt em termos de um conteúdo específico.221

E mais adiante:

Por maior que seja a sua atração por uma definição substancial da unidade política, o fato de que a substância da igualdade democrática seja pensada a partir do conceito do político exclui, a meu ver, a idéia do povo como uma entidade natural. Se é

verdade que a ‗possibilidade de uma diferenciação‘ própria ao conteúdo da

igualdade não elimina, inclusive, a definição dessa última em termos naturalistas – nada impede que a homogeneidade de um povo esteja associada, por exemplo, a características étnicas comuns -, por outro lado, concebê-la apenas como algo naturalmente dado significaria ignorar a relação que Schmitt estabelece entre o seu conceito do político e o grau de intensidade dos antagonismos entre grupos humanos.222

Desta sorte, a definição do político como o grau de intensidade de associação tem por condão impedir a petrificação do conteúdo ocasionalmente elevado ao plano do conflito político neste âmbito, visto que, em um momento posterior, uma nova substância poderá vir à tona como aquela que polariza o agrupamento humano entre amigo e inimigo, de modo que, a partir desse momento, ela passará a constituir a substância que define a pauta política. Schmitt está plenamente consciente disso quando trata da homogeneidade democrática na Teoria da

Constituição como uma igualdade substancial mas cuja substância pode se revestir – assim

como o conflito político que a determina – dos mais diferentes conteúdos, ―de la sustancia de

los distintos sectores de la vida humana‖223, de modo que, assim, ―la sustancia de la igualdad

puede ser diferente en las distintas democracias y en las distintas épocas.‖224 Nessa

perspectiva,

pressupor que a igualdade democrática e a homogeneidade substancial de um povo

estejam enraizadas em algum substrato natural exigiria ignorar essa ‗inflexão‘ que

caracteriza o político, implicaria a subtração do seu significado especificamente existencial, ao mesmo tempo que lhes conferiria uma espécie de fundamento objetivo. Ainda que a dissociação entre amigos e inimigos envolva a mobilização de um conjunto de experiências e valores partilhados e de traços comuns, não me parece possível conceber igualdade democrática como o reconhecimento ou sequer de uma intensificação de uma substância objetiva previamente dada. O que está em

221

FERREIRA, Bernardo. O risco do político: crítica ao liberalismo e teoria política no pensamento de Carl

Schmitt. Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2004, p. 204. 222

FERREIRA, Bernardo. O risco do político: crítica ao liberalismo e teoria política no pensamento de Carl

Schmitt. Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2004, p. 205-206. 223

SCHMITT, Carl. Teoría de la Constitución. Trad. Francisco Ayala. Madrid: Alianza Editorial:1992, p. 356.

224

jogo é um processo subjetivo de construção existencial da identidade, que se dá pela participação no movimento simultâneo de associação/dissociação que caracteriza o político. O conflito político, na verdade, se dá quando aquilo que divide os homens, justamente porque os divide, perde toda evidência objetiva.225

Aqui entramos no ponto central: o de que a consideração do político desde esta perspectiva fluida e – diríamos – formal 226, permite que se possa abordá-lo em suas múltiplas manifestações históricas passadas e futuras sem que se tenha que determinar sua substância em definitivo. Isso implica que o político é um status essencial do ser humano, cujas manifestações podem abarcar os diversos conteúdos particulares suscetíveis de conformar concretamente uma unidade política mediante, segundo Schmitt, seu grau de intensidade. O político possui essa propriedade de ser conformado por qualquer substância, a depender do grau de intensidade pelo qual ela se manifesta. Por isso pode ele afirmar que,

si los antagonismos econômicos, culturales o religiosos llegan a poseer tanta fuerza que determinan por sí mismos la decisión en el caso limite, quiere decir que ellos son la nueva sustancia de la unidad política.227

Schmitt pretendia alijar do político a neutralidade que o liberalismo lhe queria atrelar, e, para tanto, estabelece o político como o espaço de luta por excelência, neutralizando dessa forma qualquer formulação do político a partir de uma essência substancial para instituir a possibilidade de se inserir em sua sede, mediante o conflito, qualquer conteúdo. É nesse sentido que Schmitt difere dentro do conceito de Constituição em sentido absoluto aquela significação utilizada pelos filósofos gregos para designar a situação concreta de uma unidade política, aquela de Constituição como forma de governo, ambas tratando de um status específico concretamente existente, de uma terceira significação, qual seja, da Constituição como

el principio del devenir dinámico de la unidad política, del fenômeno de la continuamente renovada formación y erección de esta unidad desde uma fuerza y energia subyacente operante em la base. Aquí se entiende el Estado, no como algo existente, en reposo estático, sino como algo en devenir, surgiendo siempre de

225

FERREIRA, Bernardo. O risco do político: crítica ao liberalismo e teoria política no pensamento de Carl

Schmitt. Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2004, p. 206-207. (Grifo nosso)

226―O seu ponto de partida é, nesse sentido, formal e tem como pressuposto teórico a possibilidade de extrema do conflito e da diferenciação entre amigo e inimigo, sem que esta possibilidade extrema possa ser definida em temos de um conteúdo específico ou deduzida de uma determinada esfera da experiência humana.

(FERREIRA, Bernardo. Democracia, relativismo e identidade política em Hans Kelsen e Schmitt. Em: Revista Filosófica de Coimbra, Coimbra, nº. 29, 2001, pp. 161-194, pp. 188-189.)

227

nuevo. De los distintos intereses contrapuestos, opiniones y tendencias, debe formar- se diariamente la unidad política.228

Admitindo a natureza essencialmente dinâmica do conflito político que constitui a unidade política, Schmitt reconhece como sua decorrência lógica a possibilidade de fazer do conteúdo conflitivo que confere a igualdade substancial do povo outros elementos dentre os

quais a nacionalidade figura como apenas mais um exemplo: ―puede ser uma homogeneidad

nacional, religiosa, de civilización, social, o de clase, o de cualquier otra especie.‖229 E cita o

exemplo da União Soviética: ―Un intento de sustituir la homogeneidad nacional por la homogeneidad de una clase, el proletariado, es el realizado por la política bolchevista de la

República soviética.‖230 Com efeito, o art. 20 da Declaração dos Direitos do Povo

Trabalhador e Explorado, de 1918, previa que:

Como decorrência da solidariedade dos trabalhadores de todas as nações, a República Socialista Federativa Soviética Russa concede todos os direitos políticos

da cidadania russa aos estrangeiros que vivem no território da República

Russa para exercício de ocupações profissionais e pertencem à classe trabalhadora ou que não se servem de trabalho camponês alheio. A República Socialista Federativa Soviética Russa reconhece, assim, o direito dos conselhos (sovietes) locais de outorgar a cidadania russa a tais estrangeiros, sem quaisquer formalidades complicadas.231

Ora, percebe-se claramente que o princípio da cidadania nacional dá lugar à ―cidadania

proletária‖, dado que, com o fato de o conflito político subjacente ao Estado soviético residir

doravante na luta de classes, a nova unidade política soviética residiria correlatamente no proletariado. E Schmitt observa, com sua acuidade habitual:

Incluso si ese intento pudiera lograrse, y el concepto del proletariado sustituyera la sustancia de la homogeneidad nacional por una homogeneidad de clase, surgiria aqui una nueva distinción, proletariado contra burguês, y la Democracia como concepto político seguiría invariable en su estructura. En lugar de las contraposiciones

228

SCHMITT, Carl. Teoria de la Constitución. Trad. Francisco Ayala. Madrid: Alianza Editorial, 1992, p. 31.

229

SCHMITT, Carl. Teoria de la Constitución. Trad. Francisco Ayala. Madrid: Alianza Editorial, 1992, p. 356.

Assim também: ―[A substância da igualdade] pode ser encontrada em determinadas qualidades físicas e morais, por exemplo, na capacidade dos cidadãos, a areth – na democracia clássica da virtus (vertu). Na democracia das seitas inglesas do século XVII, ela se funda na concordância das convicções religiosas. Desde o século XIX, ele consiste no pertencimento a uma determinada nação, na homogeneidade nacional.‖ (SCHMITT, Carl. Die

geistesgeschichtliche Lage des heutigen Parlamentarismus. Berlin, Duncker & Humblot, 1996, 8ª ed. (reimpressão da 2ª ed. De 1926), p. 14. Apud FERREIRA, Bernardo. Democracia, relativismo e identidade

política em Hans Kelsen e Schmitt. Em: Revista Filosófica de Coimbra, Coimbra, nº. 29, 2001, pp. 161-194, pp.

185-186.

230

SCHMITT, Carl. Teoria de la Constitución. Trad. Francisco Ayala. Madrid: Alianza Editorial, 1992, p. 230.

231

nacionales se introduciría la contraposicíon de Estados proletários y capitalistas, recibiendo así una nueva intensidad la agrupación de amigos y enemigos. 232

Desta sorte, quando Schmitt procede à determinação do político na substância objetiva da etnia não está fazendo nada mais que utilizar, conforme sua concepção anterior, seu próprio pensamento para tomar partido politicamente da nova substância que passava a determinar o conflito político na Alemanha: a raça. A aparente contradição se resolve na realidade se tomarmos o posicionamento de Schmitt nos textos onde ele defende a identidade étnica do povo alemão à conta de uma tomada de posição – absolutamente conseqüente com suas premissas conceituais – na luta política que se travava na Alemanha. Em outros termos, seguindo à risca, na prática, os termos de seu conceito do político, Schmitt acaba por se contradizer na teoria. E isso, ao contrário de desabonar, apenas robustece o caráter fundamentalmente indeterminado mas determinável do político para ele. Bernardo Ferreira observa:

Quando pensa a igualdade democrática no seu vínculo com o estabelecimento de