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5. PROCESSO INDIVIDUAL E PROCESSO COLETIVO

5.4 O processo coletivo no Brasil

5.4.6 O processo coletivo no novo CPC/2015

5.4.6.1 A elaboração do novo CPC/2015

Segundo um ditado popular, “remende o pano para que dure mais um ano e quando o ano acabar, torne a remendar”. Mas a passagem bíblica, ao revés, aconselha que se ponham

remendos novos em panos novos, para que o tecido não se rompa e não se perca. A propósito, como está no Relatório do Senador Valter Pereira, que apresentou o Projeto do novo CPC quando de sua remessa à Câmara dos Deputados, esta foi uma das causas determinantes da elaboração de um outro Código de Processo Civil: a busca de uma melhor sistematização.

Para a elaboração desse novo Código de Processo Civil, foi organizada, pelo Senado da República, uma comissão de juristas, sob a presidência do Ministro Luiz Fux (à época, Ministro do Superior Tribunal de Justiça, hoje, sabidamente, do Supremo Tribunal Federal). Em menos de um ano, depois de percorrer o território nacional e de obter sugestões dos operadores do direito, inclusive com a realização de audiências públicas, a Comissão elaborou um anteprojeto, que foi entregue ao Senado e lá transformado no Projeto de Lei do Senado - PLS 166/2010, que veio a ser também rapidamente aprovado.

Em face do sistema bicameral vigente no Brasil, o PLS 166/2010 foi remetido à Câmara dos Deputados, onde foi identificado como Projeto de Lei 8.046 (PL 8.046/2010), aglutinado a outros projetos sobre o mesmo tema. Na Câmara, o PL 8046 esteve, primeiro, sob a relatoria do Deputado Sérgio Barradas Carneiro, da Bahia, que se viu afastado do Parlamento porque, suplente, o titular reassumiu o respectivo mandato. Novo relator, foi nomeado o Deputado paulista Paulo Teixeira. Na Câmara, o Projeto tramitou por cerca de quatro anos, até que foi finalmente aprovado, no final do primeiro semestre do 2014. Dadas as 133Idem, p. 21.

inúmeras modificações feitas no trabalho do Senado, para lá foi ele de novo remetido, tendo sido finalmente aprovado no final do ano de 2014 e só no início de 2015, depois de revisto, foi enviado à sanção presidencial, que se deu no dia 16.03.2015, para entrar em vigor um ano após a sua promulgação, portanto, a partir de 16.03.2016, eis que nele previsto como de um ano vacatio legis.

Este novo CPC insistiu na uniformização de jurisprudência, conclamando os tribunais a que a mantenham estável, íntegra e coerente”, devendo editar enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante, impondo respeito aos precedentes judiciais, dispondo sobre incidentes de resolução de demandas repetitivas, para atenuar, sobretudo, o serviço do STJ e do STF.

5.4.6.2 Os art. 139, X e 333 do novo CPC/2015

O novo CPC/2015, no seu art. 333, previu a possibilidade da conversão da ação individual em ação coletiva, fazendo-o, porém, de forma tímida, no dizer do Ministro Teori Zavascki, que alertou:

Não acredito que a simples mudança na lei processual possa representar uma mudança significativa em termos de duração do processo. O que precisa ocorrer é uma redução no número de litígios, criar mecanismos judiciais que tornem desnecessário repetir tantas vezes o mesmo julgamento. Isso sim reduz o tempo da prestação jurisdicional e inibe a judicialização demasiada que ocorre hoje”. Segundo ele, embora o projeto atenda em parte essa necessidade de

redução dos litígios, seria necessário avançar mais: “não dá para pensar em processo atualmente sem considerar as ações coletivas”,

concluiu.134

O novo CPC/2015, promulgado em 16.03.2015, tratou da matéria processo coletivo, no artigo 333 e parágrafos, aqui literalmente transcritos:

Art. 333. Atendidos os pressupostos da relevância social e da dificuldade de formação do litisconsórcio, o juiz, a requerimento do Ministério Público ou da Defensoria pública, ouvido o autor, poderá converter em coletiva a ação individual que veicule pedido que: I– tenha alcance coletivo, em razão da tutela de bem jurídico difuso ou coletivo, assim entendidos aqueles definidos pelo art. 81, parágrafo único, incisos I e II, da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e cuja ofensa afete, a um só tempo, as esferas jurídicas do indivíduo e da coletividade;

II – tenha por objetivo a solução de conflito de interesse relativo a uma mesma relação jurídica plurilateral, cuja solução, pela sua

natureza ou por disposição de lei, deva ser necessariamente uniforme, assegurando-se tratamento isonômico para todos os membros do grupo.

§ 1º O requerimento de conversão poderá ser formulado por outro legitimado a que se referem os arts. 5º da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, e 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.

§ 2º A conversão não pode implicar a formação de processo coletivo para a tutela de direitos individuais homogêneos.

§ 3º Não se admite a conversão, ainda, se:

I – já iniciada, no processo individual, a audiência de instrução e julgamento; ou

II– houver processo coletivo pendente com o mesmo objeto; ou III– o juízo não tiver competência para o processo coletivo que seria formado.

§ 4º Determinada a conversão, o juiz intimará o autor do requerimento para que, no prazo fixado, adite ou emende a petição inicial, para adaptá-la à tutela coletiva.

§ 5º Havendo aditamento ou emenda da petição inicial, o juiz determinará a intimação do réu para, querendo, manifestar-se no prazo de quinze dias.

§ 6º O autor originário da ação individual atuará na condição de litisconsorte unitário do legitimado para condução do processo coletivo.

§ 7º O autor originário não é responsável por qualquer despesa processual decorrente da conversão do processo individual em coletivo.

§ 8º Após a conversão, observar-se-ão as regras do processo coletivo. § 9º A conversão poderá ocorrer mesmo que o autor tenha cumulado pedido de natureza estritamente individual, hipótese em que o processamento desse pedido dar-se-á em autos apartados.

§ 10. O Ministério Público deverá ser ouvido sobre o requerimento previsto no caput, salvo quando ele próprio o houver formulado.

Verifica-se, pois, que o novo CPC/2015 cuidou do instituto da conversão da ação individual em ação coletiva, no afã, aqui já destacado, de reduzir o número de demandas a cargo do Judiciário. Como lembra Humberto Dalla Bernardina Pinho, este instituto não constava da redação original do Anteprojeto e nem no Substitutivo ao PLS 166/10, aprovado no Senado.135O que existia, desde a primeira versão e continua mantido no texto que aguarda

sanção, é a norma constante do inciso X do art. 139, onde elencados os poderes e deveres do juiz, no processo, verbis:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

[...]

X– quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem os arts. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, e 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro

135PINHO, Humberto Dalla Bernardina. Incidente de Conversão da Ação Individual em Ação Coletiva no CPC Projetado: Exame Crítico do Instituto. Disponível emhttps://www.processoscoletivos.net/.../1459-incidente-de- conversao-, p. 1-11.

de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva

respectiva”.

A respeito do art. 333 do CPC/2015, o deputado Paulo Teixeira136, autor do relatório do PL 8.046, na Câmara, que criou esse mecanismo de conversão da ação individual em coletiva, exemplificou: se uma pessoa ajuizar uma ação reclamando do nível de poluição, barulho ou danos ambientais, essa ação pode se transformar em ação coletiva. “Aquela poluição não atinge uma pessoa só, mas toda a coletividade, portanto, essa ação poderá ser

convertida em ação coletiva”.

5.4.6.3 O veto ao art. 333 do CPC/2015

No entanto, a Presidência da República vetou137o art. 333 do CPC/2015, pelo que não será possível, pela nova lei, a conversão de ações individuais em ação coletiva, embora tivesse sido mantida a regra posta no inciso X do art. 139 do CPC/2015, pela qual o juiz, quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem os arts. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, e 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.