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7. PROBLEMATIZAÇÃO: CONFLITO DE “COISAS

7.7 Outros direitos e garantias fundamentais e sua imperativa

O Direito Processual Civil estabelece estreita relação com o direito constitucional, uma vez que a tutela jurisdicional é função soberana do Estado, sendo que a Constituição reúne os atributos e limites dessa função pública, além de determinar orientações e regras gerais de aplicação do direito processual.

[É previsto na Constituição, o] tratamento igualitário das partes do processo (art. 5º, inc. I), a que assegura a todos o direito de submeter toda e qualquer lesão de direitos à apreciação do Poder Judiciário (art. 5º, inc. XXXV), a que proíbe a prisão por dívidas (art. 5º, inc. LXVII), as que garantem o devido processo legal (art. 5º. Inc. LIV), o contraditório e ampla defesa (art. 5º. Inc. LV), a razoável duração do processo e os meios para assegurar a celeridade de sua tramitação (art. 5º, inc. LXXVIII, acrescido pela Emenda Constitucional nº. 45, de 08.12.2004) etc.164

O processo constitui-se em instrumento de realização da tutela jurisdicional pretendida, da efetivação dos princípios constitucionais e processuais, além de determinante essencial na efetivação do direito material.165

Em face desta aproximação da ciência processual com o direito material, a técnica processual deixa de ser vista como um fim em si mesma e passa a instrumentalizar as relações jurídicas substanciais. A realização do processo focado em seus resultados, consiste na função teleológica processual que se assenta nos princípios do instrumentalismo e da efetividade processual, garantindo um processo justo e célere, com respeito à segurança jurídica.

Instrumentalismo e efetividade são ideias que se completam na formação do ideário do processualismo moderno. Para ser efetivo no alcance das metas de direito substancial, o processo tem de assumir plenamente sua função de instrumento. Há de se encontrar na sua compreensão e no seu uso a técnica que se revele mais adequada para que o instrumento 164THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Teoria geral do direito processual civil e

processo de conhecimento. Vol. 1, 47ª edição atual. até a Lei nº 11.441, de 04 de janeiro de 2007. Rio de Janeiro: Forense: 2007, p. 7-8

produza sempre o resultado almejado: “a solução das crises verificadas no plano do direito material é a função do processo”, de sorte que quanto mais adequado for para proporcionar

tutela aos direitos subjetivos de natureza substancial, mais efetivo será o desempenho da prestação estatal operada por meio da técnica processual.166

A instrumentalidade do processo fundamenta-se nos princípios da economia processual e da efetividade da prestação jurisdicional, valorização de procedimentos orais e de alternativas de resolução de conflitos, com o objetivo de efetivar as garantias previstas constitucionalmente da prestação jurisdicional.167

O princípio da economia processual corresponde à economia de custos – valor de ingresso em juízo de uma causa, emolumentos, conciliação e uso da arbitragem, por exemplo

–, à economia de tempo – instituição de procedimentos visando a rápida prestação

jurisdicional, tais como a reunião de ações, a busca pela finalidade essencial, a antecipação da tutela jurisdicional, o julgamento antecipado na lide, atos presumidos decorrentes da revelia, o impulso do rito processual pelo juiz, dentre outros –, como também a economia dos atos – restringir os atos àqueles realmente necessários à prestação da tutela jurisdicional, ressalvadas as garantias processuais – e a eficácia da administração da justiça – esta consiste na busca pela otimização das atividades na estrutura do Poder Judiciário.

Outro ponto de realce dessa efetividade é a participação do juízo como condutor do

processo, ao influir no andamento do litígio, bem como “a fase conciliatória no procedimento

e a importância do juiz em contatar as partes para este mister e para aprofundar o

conhecimento da questão colocada sob jurisdição, [...]”.168

Insere-se também, no princípio da economia processual, o do aproveitamento dos atos processuais (art. 250, CPC/73 – de aplicação geral ao processo civil e penal), bem como a adoção de procedimentos sumários (ou sumaríssimos) em causas de pequeno valor.

O princípio da oralidade visa à redução das peças escritas ao essencialmente indispensável e a primazia de realização dos atos em viva voz. É caracterizado pela identidade

166THEODORO JÚNIOR. Humberto. op. cit., p. 20, grifo nosso.

167CF/88. Art. 5º, LXXVIII– “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração

do processo e os meios quegarantam a celeridade de sua tramitação”. A razoável duração do processo, incluída pela Emenda Constitucional nº. 45/04, provém da Convenção Americana de Direitos Humanos, Pacto de São José da Costa Rica, de 1992, aprovada pelo Decreto. Legislativo nº. 27/92 e promulgada pelo Decreto nº. 678/92:

“1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou

tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza”

168PISTORI, Gerson Lacerda. Dos Princípios do Processo. Os Princípios Orientadores. São Paulo: LTr, 2001, p.

da pessoa física do juiz (o mesmo juiz do início ao final), pela concentração (realização de audiências próximas para a produção das provas), pela irrecorribilidade das decisões interlocutórias (evitando a interrupção contínua pela interposição de agravos), compondo um conjunto de meios para imprimir maior celeridade processual.

Por fim, os direitos tutelados devem primar por uma economia processual na realização de seus procedimentos, atentando-se à razoável duração do processo, à instrumentalidade das formas e à realização efetiva do direito material em questão na lide.169

As reformas processuais do Poder Judiciário e a promulgação de leis ordinárias de criação de Juizados Especiais, além as de proteção da tutela coletiva, possibilitam a ampliação da legitimação de agir a diferentes coletividades e visam alterar a visão unilateral de partes em conflito jurisdicional para uma visão multipolar e de pacificação social.170

A contemporânea teoria processual objetiva a instrumentalização do processo e a pretensão de satisfação do direito material dos indivíduos. Essa pretensão é também buscada na ampliação de satisfação das tutelas coletivas, na Justiça do Trabalho e nos Juizados Especiais.

Por isso que não tem sentido, a nosso ver, manter essa possibilidade de andamento simultâneo das ações individuais e coletivas, com o mesmo objeto, o que só vem em afronta aos princípios aqui mencionados, cumulando o Judiciário de mais feitos, com o mesmo objeto, para apreciar ao mesmo tempo, com gastos desnecessários e com sobrecarga insuperável para os operadores do direito, como, infelizmente, tem acontecido, na prática, inviabilizando a realização da justiça.

Daí porque, como consequência da tese que aqui defendemos, propomos, ao final, a suspensão obrigatória das ações individuais, enquanto pendente a ação coletiva com o mesmo objeto, só se viabilizando seu eventual prosseguimento, em duas hipóteses: a) apenas para a liquidação dos danos a favor dos autores individuais, chamados de vítimas, na hipótese de ser exitosa a ação coletiva; ou b) na hipótese de improcedência do pedido formulado na ação coletiva, caso obtidas novas provas que não tenham sido objeto de apreciação no processo coletivo, a exemplo do que previsto no art. 103 e seus incisos do CDC pátrio.

169DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. Vol. II, 5ª edição

ver. E atual. de acordo com a Emenda Constitucional nº 45/04, o Código Civil e as Súmulas do STF e STJ, as Federais nº 11.925/09, 12.004/09, 12.016/09 e Resoluções do STF nº 381 e 388 de 1008 (Súmula Vinculante). Salvador. Juspodium, 2009, p. 68