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2.2 O Ensino da Ciência Contábil

2.2.1 O professor como agente propulsor do ensino

O professor surge no meio do anseio por minimizar os medos, desafetos e porque não dizer, desespero de alguns acadêmicos ao terem a primeira vista, a contabilidade como algo tão improvável de se entender quanto impossível de assimilar. Tal angustia, remete os acadêmicos à condição de possíveis desistentes, antes mesmo perceberem como o curso de ciências contábeis pode se tornar apaixonante. É aí que a excelência do magistério faz diferença e o docente bem preparado pode mudar a impressão que o aluno possa ter da profissão que escolheu.

Ilustrando o que foi dito anteriormente, é interessante observar um exemplo da relação professor aluno, no processo ensino-aprendizagem, descrito por

Chauí (1980 apud LAFFIN, 2001, p. 27):

O professor de natação não pode ensinar o aluno a nadar na areia fazendo- o imitar seus gestos, mas o leva a lançar-se na água em sua companhia para que aprenda a nadar lutando contra as ondas, fazendo seu corpo coexistir com o corpo ondulante que o acolhe e repele, revelando que o diálogo do aluno é com o pensamento, com a cultura corporificada nas obras e nas práticas sociais e transmitida pela linguagem e pelos gestos do professor, simples mediador.

O docente estabelece relação entre seu comprometimento com o ensinar, de tal modo a surgir uma relação de cumplicidade com a prática pedagógica. Desta maneira, ensinar não é somente dar as ferramentas para o aluno construir seus saberes, é caminhar com ele sabendo que logo à frente, quando estiver pronto, ele andará sozinho.

Cabe esclarecer que a realidade do aluno da ciência contábil é incomoda à medida que enfrenta normalmente em sua jornada de trabalho, oito horas diárias. Isto o traz a universidade já cansado e desgastado física e emocionalmente, dificultando ainda mais seu aprendizado.

Na questão que envolve o processo desenvolvido individualmente pelo aluno para aprender, Marion (2001) sugere duas maneiras de se ensinar uma classe de discentes em que existem realidades diferentes umas das outras. Uma destas apresentada pelo autor, reflete o ensinar para uma classe homogênea, porém leva em consideração que ali se encontram alunos que trabalham na área contábil, outros possuem formação técnica na área mas não exercem a profissão, há também aqueles que ainda não possuem nem formação técnica e nem trabalham na área. Este fato acaba por gerar conflitos de interesses entre os discentes que por vezes se indispõem uns com os outros por saberem mais ou menos sobre assuntos discutidos referente à disciplina em questão.

Outra maneira identificada pelo autor como instrução programada, seria a aula ministrada de acordo com o nível de entendimento de cada aluno, ou com sua

capacidade manifestada para a disciplina ou matéria. Neste caso, a seqüência de conteúdos dados, segue um caminho onde é possível que o próprio aluno perceba e avalie sua evolução no processo de aprendizagem. A trajetória é realizada paulatinamente mas que transmitem confiança ao aluno, pois jamais se passa para um conteúdo disciplinar novo sem antes estar provado que o anterior tenha sido assimilado. É o ritmo de cada um sendo respeitado.

É necessário que haja cumplicidade, fator importante na relação professor aluno, por intermédio da qual se coadunam características fundamentais na construção do entendimento entre ambas às partes, a fim de que o processo de ensino-aprendizagem se realize efetivamente. Assim, o aluno conseguirá confiar no professor e na sua metodologia de ensino, se sentindo seguro para aprender o que lhe é proposto como proposta de aprendizado.

Marion (2001, p. 28-29) indica o que acredita ser qualidades para um bom professor:

[...] – Sabe mostrar ao aluno a beleza e o poder das idéias;

[...] – Consegue que seus alunos participem ativamente da aula. Educação não se despeja goela a baixo. Aprender é um processo ativo, em que o aluno trabalha (intelectualmente) tanto quanto o professor;

[...] – Consegue que todos aprendam o que tem de aprender, que cada um aprenda quando está pronto para tal e que sejam felizes no aprender. Para ser um bom docente, não se deve somente repassar os conteúdos didáticos constantes de um programa pré-planejado, a fim de mostrar ao aluno quais possíveis problemas surgirão e que ele terá um número definido de maneiras de os resolver. Ensinar também é fazer com que os alunos entendam que podem criar suas alternativas e que essas por sua vez, podem satisfazer inúmeros outros profissionais da contabilidade.

Então, depois que sair do ambiente universitário, sua caminhada como aluno, como pesquisador, como sujeito ativo na sociedade continua, ou melhor dizendo, está

apenas começando e que inclusive, conceitos dados como imutáveis, podem ser mudados.

Sugere-se no quadro abaixo, algumas considerações a respeito professor a fim de zelar pela qualidade do ensino:

Quadro 3: Professor x Qualidade no Ensino Fonte: Adaptado de Franco (1992, p. 61-62)

Pode parecer forçoso falar principalmente do professor e jogá-lo, o que é perceptível, no papel de algoz da educação no Brasil. Pelo docente, todas as profissões são formadas e seria irresponsável vislumbrar um ensino de excelência, se não o trouxesse para a posição de agente transformador da realidade. É visível que as sugestões acima citadas por Franco, em 1992 são difíceis de serem realizadas. Primeiro porque faltam recursos financeiros tanto para os docentes, individualmente, quanto para as universidades a fim de subsidiarem o aperfeiçoamento pedagógico de seu corpo docente, segundo porque faltam cursos direcionados ao mestrado e doutorado na área contábil.

Os desafios que hoje surgem, dizem respeito às raízes e ranços presentes no modelo clássico de como ensinar baseado por meio de livros, ou de metodologias prontas e fechadas. Tais desafios persistem desde que a burguesia portuguesa preocupada tão somente em preparar a população para o mercado de trabalho, de modo a satisfazer suas necessidades econômicas, trouxe ao país um modelo de educação de disciplinas estanques, separadas, com docentes no papel de meros repassadores do conhecimento.

É preciso atentar as metodologias de ensino para que não se ensine por ensinar, tendo em vista um resultado lógico. Japiassu (1975, p. 152-153) acrescenta que o educador tem que

[...] despertar no educando o espírito de busca, a sede da descoberta, da imaginação criadora e da insatisfação fecunda no domínio do saber. O essencial é que o educando permaneça sempre em estado de apetite. Quando tudo lhe é explicado, não só a explicação é errônea, mas ele não deve ter entendido, porque, quem compreende, sempre tem dúvidas, está sempre insatisfeito e disposto a novamente interrogar. Se o educador tem algo a “ensinar” ao educando, creio que se trata de um “ensinamento” que o leve a compreender que é ele mesmo quem deve assumir sua própria educação; cabe a ele fazer dela sua obra fundamental e original, única e intransferível. Ninguém se educa, como ninguém cria, com idéias “ensinadas”. Ensinar a aprender, a se construir ou a se reconstruir: eis o papel do educador.

Pensar o ensino hoje é valorizar uma educação ligada diretamente ao desenvolvimento da inteligência. Cabe ao professor então, instigar o pensamento, a criação e a descoberta de novos conceitos transformando a idéia de aprender que o aluno tem. Dentro da literatura direcionada ao ensino da contabilidade, Marion (2001, p. 133), concorda com Japiassu quando lembra que

[...] o professor deverá sempre propiciar que “a chama da motivação” do aluno permaneça acesa. Há diversos educadores que defendem a idéia de que o professor não ensina, mas sim os alunos que tornam a iniciativa de aprender. As pessoas aprendem por si sós. O professor deve instigar, desafiar o aluno, entusiasmá-lo mostrando como seu mundo é maravilhoso, convidando-o a provar a sua “boa comida”.

Para tanto, é necessário repensar a formação de educador, transportando-se para a realidade do planejamento de suas aulas, deixando-as

abertas à participação do aluno, tornando-as conseqüentemente mais criativas em função da diversificação de idéias que surgirão e que poderão ser utilizadas na metodologia aplicada ao ensino naquele e em outros momentos. O docente deve se tornar um sistematizador de problemas a caminho da criação e recriação do conhecimento, participando ativamente na elaboração do que será ensinado de modo tão interativo quanto à possibilidade do aluno de experimentar novas possibilidades nesta criação.

Adentrando na formação didática deste professor, há que se considerar que esta é uma ferramenta fundamental a serviço da relação ensino-aprendizagem. Suas alternativas servem como meios de permear a prática dos conteúdos intrínsecos a cada disciplina. É importante levar em consideração dois aspectos didáticos na prática pedagógica que são o porquê agir de tal forma e como agir por meio dessa forma a fim de atingir o objetivo fundamental da relação ensino- aprendizagem. Pensar uma prática pedagógica efetiva, é pensar um planejamento ligado à ação em sala de aula. Nesta posição, ainda hoje o docente aparece muitas vezes, tão somente como detentor da ação planejada por profissionais que não tem contato com a realidade ou que não a executam.

Sobre isto, Luckesi (1986, p. 29-30) remonta à visão onde

[...] ação e reflexão compõem um todo inseparável, a menos que seja para uma compreensão lógica e didática do processo. Este esfalecimento entre teoria e prática é interessante aos detentores do poder, pois que sempre poderão tomar as decisões fundamentais deixando aos executores tão somente as decisões de “como fazer”, sem nunca lhes permitir interferência no “o que fazer”.[...] quem consegue descobrir o “o que fazer”, que consegue definir um projeto histórico a ser desenvolvido, saberá encontrar os meios e os caminhos para atingi-lo. Não será, assim, tão necessário que trabalhemos tão-somente os meios seccionados dos fins. Com imaginação e comprometimento afetivo-ideológico e uma constante meditação sobre a sua prática, o educador conseguirá encontrar os meios para atingir os fins. Contudo, o contrário não é verdadeiro da mesma forma, ou seja, que se poderá chegar a algum lugar conhecendo tão-somente os meios.

No caminho da melhor aplicação metodológica à sala de aula, o professor encontra e encontrará sempre alguns grandes e outros novos desafios. Grandes,

porque está sempre sendo desafiado por problemas conceituais das clássicas formas de ensinar que se conflitam com as novas metodologias projetada ao aluno com objetivo de fazê-lo construir-se e reconstruir-se. Novos, porque constrói a si mesmo diária e constantemente como educador e se descobre como quem precisa sempre se atualizar e não se deixar levar pelas imposições e modismos emergentes a todas as profissões mas em especial a de educador. É necessário experimentar sim práticas inovadoras, porém sempre com comprometimento e visão de quem é responsável pela formação cultural, intelectual e profissional de muitas pessoas.

Demo (1996, p. 77), faz dura crítica ao docente que não se manifesta positivamente frente a esses novos desafios e observa que

o professor que reprova a maioria dos alunos, está reprovado, pois mostra que não se coloca a serviço do desempenho do aluno, razão central de ser do professor; se o aluno está mal preparado é mister fazer disso um desafio a mais, não um pressuposto gratuito, nem se trata de nivelar por baixo – é pura incompetência -, mas de lançar mão de todos os meios para que o aluno tenha rendimento satisfatório, inclusive a produção própria de material didático; esta, de modo geral, não existe.

É primordial considerar a arte de lecionar não como uma complementação de renda, sob pena de se tornar medíocre, colaborando assim, para que profissionais despreparados, apáticos e incompetentes façam parte das filas de desempregados e dos noticiários de escândalos financeiros e policiais. É preciso como professor, ter coragem, acreditar nas possibilidades, em si mesmo e nos seus alunos como ser social e histórico na caminhada da educação e cultura da realidade em que está inserido.

Aos discentes, surge então a possibilidade real de serem sujeitos participativos e co-autores da construção e descoberta de novos conceitos, uma vez estimulados a trabalharem a facilidade da organização e reorganização deste.

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