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O professor e os espaços culturais

4. O que os dados revelam

4.2.2. O professor e os espaços culturais

Três professores abordaram a questão do ensino de Arte em associação à visitação a espaços públicos, propondo uma aproximação da escola, dos saberes em Arte que são trabalhados em sala de aula com as instituições culturais.

A relação entre o ensino de Arte e os espaços públicos e, em especial, com os museus de Arte, vem crescendo e se impondo como uma das alternativas de trabalho. Essa perspectiva propicia que os professores enriqueçam o processo de aprendizagem em Arte na escola, como também possibilita ao educando o acesso à produção artística e cultural, proporcionando ao aluno um contato direto com obras de reconhecido valor artístico, histórico e social de diversas épocas e estilos.

Muitos museus, principalmente na cidade de São Paulo, têm intensificado seu trabalho educativo, com uma programação de visitas e de cursos de apoio aos professores, com vistas a estreitar a relação da instituição com a escola e com os docentes, principalmente de Arte. Exemplo disto são os trabalhos educativos desenvolvidos de Museu de Arte de São Paulo (MASP), Museu de Arte Contemporânea (MAC), Pinacoteca do Estado, Museu Afro, Museu Lasar Segall, entre outros.

O professor Paulo reconhece o potencial educativo de visitas a museus e exposições de Arte, entretanto sente dificuldade em organizar ações desta natureza:

Faltam condições para eu levar estes meninos para exposições, para entrar em contato com a arte, porque com arte você tem que ter contato, só falando e mostrando algumas imagens é difícil. Eu acho importante isto, para mim foi, para todos que lidam com esta área também. É importante o contato com a obra, com o artista. Faltam também recursos para trabalhar em sala de aula. Eu vejo assim, tudo mudou menos a escola. A escola não muda. Como dizem, daqui duzentos, trezentos anos as pessoas vão perceber que muita coisa mudou, mas a escola, ela vai estar igualzinha hoje. O recurso material nós precisamos, porque vai nos ajudar a trabalhar melhor. Hoje, com a tecnologia, nós precisamos. Qual escola pública que vai ter isso? Para o professor e para o aluno também, para eles terem oportunidade. (Paulo)

O contato com espaços educativos informais é uma das dimensões as quais os professores de Arte devem contemplar em seu trabalho docente, uma vez que:

No museu, o que torna a experiência única é o fato de se poder apreciar obras de arte originais. Dessa forma, elas podem ser vistas em sua dimensão real, nas cores e texturas exatas. Conseqüentemente, o museu é o ambiente propício para o desenvolvimento das habilidades de apreciação estética. (GRINSPUM, 2004, p.165)

A professora Dora afirma realizar visitas com os alunos a museus de Arte e, em seu depoimento, o que chama a atenção é a postura de aprendiz que assume ao explanar para os alunos que as visitas são para ela também um momento de aprendizagem:

Tem coisas que eu tenho que estudar para falar com vocês. E tem coisas que nós vamos ver juntos. Quando nós vamos ao museu e o monitor está falando, tem muita coisa que eu não sei e eu estou aprendendo junto com vocês. (Dora)

Ao se colocar frente aos alunos como em processo de formação, Dora deixa evidente aos educandos que a aprendizagem é um processo

contínuo que nos acompanha durante toda nossa vida, aspecto que pode influenciar os alunos em sua vida pessoal e em sua trajetória profissional.

Já Maria descreve uma situação que vivenciou na escola no período em que organizou uma visita ao Museu Lasar Segall:

Para eu conseguir juntar quarenta alunos para fazer uma excursão para o Museu Lasar Segall foram dois meses de muita luta e ainda tendo que pagar para o aluno ir. Só que então, olha só. O resultado disso foi maravilhoso, tanto que até os pais se interessaram. Até os pais. Olha, meu filho ficou empolgado, ele quer que um dia nos levar ao museu. Tem alunos que querem conhecer novos museus. Teve uma mãe que me falou que o filho dela se sentiu importante indo no museu. Então, isto me chamou a atenção. Se você faz uma excursão para o Play Center, você enche dez ônibus, em uma semana. Se todos os professores valorizassem, se todos os professores incentivassem a cultura, acho que eles estariam melhores. Mas isto desde pequenininho, eu acho que assim ia mudar. Isto é uma ferramenta tão importante que nós temos agora, os museus para levar os alunos. (Maria)

O relato de Maria deixa evidente a mesma dificuldade que Paulo relata para levar os alunos a museus, ou seja, a falta de condições para organizar a visita. Porém, apesar das dificuldades que encontrou, conseguiu sensibilizar os alunos para a atividade e proporcionar-lhes uma experiência que deixou marcas e um sentimento de valorização, de prazer frente ao novo universo que se descortinou depois da visita. Um aluno querendo levar sua família ao museu, outro que se sentiu importante em conhecer e poder visitá-lo e o reconhecimento dos pais são prova disto, reações que fizeram Maria se sentir realizada como professora, pois, conforme ela destaca: “foi maravilhoso”. Ao afirmar que o museu é uma importante ferramenta da qual os professores devem utilizar, Maria reconhece que “[...] levar os estudantes a museus pode enriquecer muito o trabalho dos professores.” (Grinspum, 2004, p.167)

Com os alunos do Ensino Médio Maria adota outra estratégia para organizar a visita a museus:

Você sabe como eu levo os alunos do Ensino Médio? Eu formo pequenos grupos e nós vamos de trem, aos sábado. [...] Cinco, seis (alunos). Nós vamos com o dinheiro do trem e do cachorro quente com um suco, que sai três reais. E ai eles falam: não é mesmo professora, que com pouco dinheiro a gente se diverte. (Maria)

Essa disposição e compromisso com a formação dos jovens que Maria demonstra é um diferencial, pois sua ação como docente transcende o espaço escolar e seu horário de trabalho, uma vez que é aos sábados que acompanha os alunos do Ensino Médio em visitas a espaços culturais em São Paulo e, pelo que percebemos em seu relato, realiza esta atividade com muito prazer.

Sua atuação tem um potencial educativo que pode colaborar para que os estudantes percebam e valorizem espaços como museus de Arte, galerias, etc, que geralmente não são acessíveis a pessoas de menor poder aquisitivo, quebrando barreiras e o afastamento dessas pessoas destes espaços, pois:

Sem acesso a equipamentos culturais a população não desenvolve hábitos, valores, atitudes na relação com a cultura, nem é capaz de construir o olhar crítico sobre as produções artísticas visuais e outras, como outdoors, cinema, propagandas, revistas em quadrinhos, grafite, televisão etc. Identificar e discutir arte fora da sala de aula é fundamental para a compreensão de que a arte pode estar relacionada com a vida. (ARSLAN & IAVELBERG, 2006, p.41)

É papel do professor e, em especial do professor de Arte, sensibilizar e propiciar experiências que proporcionem aos educandos a possibilidade de usufruir dos espaços culturais e, mais ainda, socializar uma herança cultural que pertence a todos. A ação que Maria desenvolve com o objetivo de aproximar seus alunos dos espaços culturais também revela sua preocupação com a ampliação do repertório cultural dos estudantes, o que pode desencadear um processo de mudança destes jovens acerca de sua concepção de cultura e de arte e da importância dos espaços públicos, mais especificamente dos museus. Cumpre assim seu papel de educadora, já que

“[...] a escola que se compromete é responsável por ajudar a formar público de museus e melhorar cidadãos.” (Grinspum, 2004, p.169)