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O Programa Esporte e Lazer da Cidade e seus Objetivos

As políticas públicas são criadas objetivando à regulação de áreas específicas, tendo como atores principais os governos. Dentre as políticas públicas, as políticas

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sociais se voltam à satisfação das necessidades básicas da população, em especial aquelas garantidas como direitos sociais (ALVES e PIERANTI, 2007; COHEN e FRANCO, 2007).

O esporte e o lazer, tratados no Artigo 217 da Constituição Federal de 1988 e amparados pela Lei 9.615/1998, são considerados por essa legislação como direitos sociais, sendo dever do Estado o fomento a práticas desportivas formais e não-formais, devendo o esporte ser tratado em suas três dimensões: esporte educacional, esporte de rendimento e esporte de participação.

O Programa Esporte e Lazer da Cidade, em consonância com a tendência de descentralização e municipalização das ações do Estado, posterior a essa Constituição, se direciona na busca de orientar a estruturação e condução de políticas públicas de esporte e lazer nos poderes públicos municipais e estaduais, oferecendo um rumo, incentivando e financiando as ações locais no sentido da compreensão do lazer e do esporte como direitos sociais e objetos de políticas públicas e programas sociais.

Trata-se de uma proposta desenvolvida inicialmente contra a vontade de forças políticas estratégicas e com restrições orçamentárias, “ante um já minguado orçamento ministerial”. Embora não seja ainda, anos depois de sua criação, o foco principal da ação ministerial, ganhou reconhecimento e adesão por parte de gestores, acadêmicos, movimentos sociais e outros setores políticos, dado seu desenho conceitual focado no desenvolvimento e na democratização do esporte de participação e do lazer, como direitos sociais a serem usufruídos por todo o conjunto da população brasileira (CASTELLANI FILHO, 2007:2).

Dentre os objetivos do PELC, condizentes com essa perspectiva, os que se destacam, para fins deste artigo, são: a) Democratizar o acesso a políticas públicas de esporte e lazer; b) Reconhecer e tratar o esporte e o lazer como direito social; c) Formação permanente dos agentes sociais de esporte e lazer; d) Orientar a estruturação e condução de políticas públicas de esporte e lazer nos poderes públicos municipais e estaduais.

O primeiro objetivo, de democratização do acesso a políticas públicas de esporte e lazer, se relaciona diretamente ao segundo, pois essa democratização só será possível a partir do momento em que o esporte e o lazer sejam tratados como direitos sociais e, portanto, questões de política pública.

Considerando as análises de Botelho (2001), a democratização do acesso ao lazer e ao esporte, assim como à cultura, não significa a indução da totalidade da

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população a executar o lazer e o esporte, mas sim oferecer a todos a possibilidade de escolher entre fazê-lo ou não, segundo suas preferências, disponibilizando os meios para essa escolha. Não se trata apenas de colocar ao alcance de todos o lazer, mas de fazer com que todos possam vivenciar o seu lazer, segundo a tomada de consciência de sua realidade.

Dessa forma, a democratização do acesso ao lazer e ao esporte, no âmbito do PELC, não deve buscar somente a abrangência e acessibilidade do Programa, e a criação de políticas públicas locais de esporte e lazer, mas também estimular a busca pela percepção das demandas específicas de cada contexto social, a fim de que se possa criar políticas públicas adequadas ao seu público-alvo e que esse público tenha a capacidade e oportunidade de escolher o que melhor lhe convier.

É importante considerar também que uma política de democratização do acesso ao lazer deve ser pensada em longo prazo, pois a construção de um habitus de lazer requer tempo. Assim, mesmo que este seja um dos objetivos do PELC, é possível apenas determinar indicadores para resultados relacionados ao mesmo, mas não seus impactos finais, tendo em vista o pouco tempo de vigência dessa proposta.

No que se refere ao reconhecimento do esporte e do lazer como direitos sociais, o Programa Esporte e Lazer da Cidade se fundamenta no pressuposto da participação comunitária. Brasil (2007) aborda a participação como um direito fundamental, mesmo que haja dificuldades para seu usufruto, pois a principal função da participação na teoria da democracia participativa é educativa (GUIMARÃES, 2007). A participação comunitária, no contexto do PELC, possui na formação continuada de agentes sociais, terceiro objetivo aqui considerado, um elemento-chave para a aprendizagem social e a reivindicação de direitos.

A formação continuada se dá, nesse Programa, envolvendo os agentes sociais de esporte e lazer, os quais são, em sua maioria, “leigos”, não diplomados em curso superior de Educação Física (ex-atletas, jovens atletas, dançarinos, artistas plásticos, dentre outros), havendo, entretanto, também estudantes de Educação Física, pedagogos e professores com nível superior (SAMPAIO e LIÁO JR, 2007).

Os agentes sociais são figura fundamental em sua implementação, tendo o papel de mobilização da comunidade como um todo, dada a legitimidade alcançada por eles perante a mesma. A formação dos agentes e gestores surge para complementar sua ação, oferecendo qualificação e suporte à sua capacidade técnico-política para dar tratamento às especificidades dos Núcleos de esporte e lazer, de maneira refletida

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sobre o sentido e significado do fazer esportivo, lúdico e cultural, redimensionando sua compreensão de política pública de esporte e lazer (CASTELLANI FILHO, 2007).

O processo de formação continuada de agentes sociais transcorre em três módulos, com conteúdos especificados pela SNDEL: introdutório, geralmente ao início do convênio; módulo de ampliação, logo após; e módulo de aprofundamento, em geral ao término do convênio. No primeiro módulo o Programa como um todo é discutido de forma prospectiva, e no último de forma retrospectiva, tendo uma “perspectiva mais avaliativa” (SAMPAIO e LIÁO JR, 2007:50).

Para Marcassa e Sousa (2007:100), as ações de formação devem ter como referência a análise crítica da prática, partindo de problemas concretos e buscando soluções para os mesmos, na tentativa de que os educadores e agentes sociais consolidem “a competência e a autonomia necessárias à constante qualificação de suas práticas”.

Verificada sua necessidade, a formação permanente dos profissionais vinculados às atividades do Programa, relacionada à participação democrática, é um dos principais objetivos do PELC, pautando-se na previsão de que, após a conclusão do consórcio, os proponentes serão capazes de propor e gerir suas próprias políticas públicas de esporte e lazer (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2004). Essa característica leva ao quarto objetivo do Programa tratado neste artigo, a orientação da estruturação e condução de políticas públicas de esporte e lazer nos poderes públicos municipais e estaduais.

O estímulo às iniciativas locais, em especial por parte dos Governos Estaduais e Municipais, faz emergir no Programa um papel diferenciado de seu órgão fomentador. Além de instância financiadora, a SNDEL seria também uma subsidiadora de políticas públicas de esporte e lazer, orientando as esferas governamentais inferiores no que se refere ao processo político, de gestão de políticas públicas, favorecendo a continuidade das ações locais de governo.