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CAPÍTULO 4 – AS PERGUNTAS DAS CRIANÇAS 77


4.2 O que pode uma pergunta de uma criança? 89

Por último, iremos apresentar um outro texto da autoria da Mariana, a mesma menina cujo relato que foi apresentado em 3.3, a propósito do surgimento das coisas à superfície da terra. No dia em que ocorreu o seu novo relato, enquanto as outras crianças do seu grupo-turma foram para o recreio, a Mariana e eu ficámos mais tempo na sala de aula porque ela desejava poder partilhar uma nova interrogação, de forma individual. Assim, enquanto a Mariana me foi contando o que a estava a angustiar, como de costume, eu fui registando as suas palavras. Na sua escola, todas as crianças, desde o primeiro ano de escolaridade participavam das sessões de Filosofia para Crianças segundo o método de Matthew Lipman. Porém, afim de poder acolher e trabalhar directamente a partir das perguntas que as crianças iam colocando de forma espontânea, desde o início da minha atividade na escola, tinha decidido não usar esses manuais. De facto, desde sempre, na minha prática, tinha tido a intuição de que as histórias do programa de Lipman mediavam o questionamento das crianças através de perguntas que já se encontram preparadas, nomeadamente, nas histórias e nos manuais do programa FpC. Assim, embora na escola da Mariana, houvesse um seguimento rigoroso das histórias de Lipman, a minha forma de trabalhar era diferente. Desta forma, julgo poder afirmar que o relato da Mariana que em seguida passarei a apresentar, resulta de uma experimentação e de um encontro nosso, e não de uma aplicação de um programa dirigido para as crianças aprenderem a pensar lógico e corretamente.

Mediante a apresentação deste texto, pretende-se experimentar (introduzir na prática) alguns dos resultados obtidos ao longo desta pesquisa. Trata-se de um empreendimento ariscado, contudo, se aquilo que foi analisado anteriormente não puder servir de ponto de partida para futuras compreensões e análises acerca do pensamento e das perguntas das crianças, então, todo o trabalho realizado terá sido feito em vão. Como o objectivo é chegar a entender o que as crianças dizem, separadamente das representações que temos da infância segundo o nosso pensamento adulto, i. e., na sua singularidade, torna-se quase uma urgência tentar trazer os resultados da nossa análise para uma prática

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efetiva. Como tal, mediante esta apresentação, aquilo que se pretende é começar a delinear os primeiros passos de uma “metodologia” futura. Nesse sentido, é necessário que possamos colocar à prova as conclusões a que chegámos, confrontando-as com um relato que possa ser testemunho das perguntas de crianças. Por outro lado, pretende-se averiguar a possibilidade de considerarmos o questionamento de uma criança, neste caso, o da Mariana, enquanto experimentação. Para isso, teremos em conta a nossa reflexão em torno do processo de devir-criança, nomeadamente, a análise de José Gil acerca da poesia de Caeiro.

Este subcapítulo intitula-se O que pode uma pergunta de uma criança?, porque, por um lado, trata-se de tentar perceber como é que foi possível a uma criança de apenas oito anos interrogar-se de forma tão intensa. Para isso, iremos refletir sobre as condições de possibilidade ou as operações que possibilitam um tal questionamento na infância. Por outro lado, queremos ainda aprofundar melhor a análise sobre o estatuto do encontro entre um adulto e uma criança. Tendo em conta aquilo que já foi afirmado, a saber, que é necessário considerar as perguntas das crianças como perguntas-máquina e não, interpretá- las à luz das teorias da psicanálise, trata-se de tentar definir as condições de possibilidade do acesso à singularidade e à diferença do modo como as crianças se questionam.

“Temos nomes, mas se calhar não são verdadeiros. Quem sou eu? É uma coisa esquisita, tu não sabes quem és tu, eu não sei quem sou eu. Se soubesse, dizia!

O nome não me chega, o nome não é a pessoa, o ser da pessoa é que eu quero saber. Não sei o que é, não sei quem sou eu.

Às vezes, olhamos para a nossa pele, mas não sabemos o que é isto.

Se calhar, não é só carne, se calhar chama-se carne, mas, se calhar, nós é que demos esse nome e, afinal, é outra coisa. Gostava de saber a opinião das outras salas. Se calhar só com a opinião dos da nossa sala não fico satisfeita.

Os olhos, se calhar, não são olhos, todas as partes do corpo, se calhar, são outra coisa e nós não sabemos.

Eu não sei o que estou a dizer porque se calhar, as palavras são outra coisa. Se pensamos uma coisa e é outra?

Eu percebo por que é que nós achamos que é essa coisa, mas não sabemos.

Não sei o que é isto, sei que é uma borracha, mas, se calhar, não é uma borracha, tem esse nome, mas, se calhar, não é isso.

Não sei isso sobre o corpo, o que nós somos.

Eles devem pensar que é uma pessoa. Não quero um nome, quero saber esta pele, o que é, se calhar esta pele não sou eu mesma.

Nós temos nome, não sei quem sou, se calhar nada tem nome.”

É um texto surpreendente, não apenas pelo seu conteúdo filosófico, como pela forma como as suas ideias e questões se seguem umas às outras. Antes de averiguarmos a

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possibilidade de o considerar como sendo o resultado de uma pergunta-máquina ou de uma experimentação, vejamos porque razão não é redutível ao plano da Imitação.

Em primeiro lugar, se tentássemos interpretá-lo segundo a psicanálise de Freud, na medida em que esta reporta tudo a um sujeito, o risco de analisar o pensamento da Marina segundo uma questão meramente psicológica seria grande. Como a Mariana afirma que já não sabe nada, nem quem ela é, nem o que são as coisas, nem a que correspondem as partes do seu corpo, esta ausência de definição relativamente à sua identidade, poderia ser interpretada como sintomas de uma doença mental como, por exemplo, a esquizofrenia. Do ponto de vista da interpretação psicanalítica, só a partir dum estado psicológico em que um sujeito se divide, é que alguém poderia começar a duvidar como a Mariana o faz, pondo em causa nomeadamente, o seu nome, como se este pudesse não se reportar mais à pessoa que ela é. .

Por outro lado, se considerássemos o raciocínio da Mariana como a consequência de uma série de operações cognitivas situadas no plano da representação ou, ainda, a acumulação de conhecimentos dentro da esfera da significação, dificilmente conseguiríamos justificá-lo tal como ele se apresenta. Com o objectivo de poder extrair o sentido do seu texto como um todo, é necessário encontrar o elo de ligação, o que une todas as perguntas umas às outras, ou seja, o que é que faz com que a primeira questão que é colocada acerca dos nomes102, desencadeie todas as outras, incluindo a questão sobre a

sua própria pessoa, a saber, quem sou eu? Segundo o mero plano conceptual, não é evidente que haja uma conexão entre todas as perguntas colocadas pela Mariana, nomeadamente, entre as perguntas sobre os nomes, as palavras e aquela que é levantada a respeito do seu corpo. Não se percebe como é que uma leva à outra, ou o que é que as liga. Assim, ao denotar uma falha no sentido do texto como um todo, seríamos levados a deduzir acerca da incompletude do pensamento da Mariana.

Como vimos através da crítica de Deleuze à interpretação da psicanálise, num plano da representação, a concepção da Infância deduz-se de uma falha ou de uma indefinição. Para Freud, o facto das crianças empregarem artigos indefinidos denota uma indefinição. Segundo Merleau-Ponty, o mesmo sucede com assunção da criança,

102 Temos nomes, mas se calhar não são verdadeiros. Quem sou eu? É uma coisa esquisita, tu não

sabes quem és tu, eu não sei quem sou eu. Se soubesse, dizia! O nome não me chega, o nome não é a pessoa, o ser da pessoa é que eu quero saber. Não sei o que é, não sei quem sou eu

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pressuposta nos estádios de desenvolvimento estipulados por Piaget. De acordo com um estudo do filósofo, intitulado Psicologia e da pedagogia da criança, ao conceber os conceitos utilizados pelas crianças à luz de um pensamento adulto, Piaget falhou na compreensão da criança:

“Piaget pense par catégories bien définies, ayant toujours à l´esprit les dichotomies comme matière-esprit-pensée, langage intérieur-extérieur. Il suppose que ces distinctions manquent à l´enfant uniquement par rapport à ce registre de distinction. À la lettre, il ne cherche pas à comprendre les conceptions de l´enfant, il cherche à les traduire dans son système d´adulte103.”

Como vimos anteriormente com Stern, os estádios do desenvolvimento remetem para um estatuto da criança que é concebido segundo o domínio da imitação e, através do qual ela é percebida segundo uma evolução em direcção ao adulto. De acordo com Merleau-Ponty é conforme o uso dado aos conceito que as crianças são classificadas segundo estádios do desenvolvimento, o que implica sempre partir de um modelo de pensamento, ou seja, dum determinado uso dos conceitos pelo adulto. Assim, para Piaget, enquanto uma criança não está apta a fazer uso dos conceitos segundo as dicotomias referidas na citação, tais como matéria e espírito, interior e exterior, etc., ela ainda não é capaz de pensar corretamente. Como só aos onze anos é que, segundo o psicólogo, as crianças podem assimilar o uso dos conceitos (tal como o adulto), até a essa idade, as crianças encontram-se limitadas a meras concepções materialistas, as quais devem ser consideradas como pertencendo a uma etapa inferior do desenvolvimento. Portanto, para Merleau-Ponty, uma das razões que levou Piaget a esquivar-se a singularidade da experiência e do pensamento das crianças, encontra-se no facto dele ter partido do pressuposto que existia um modelo de pensamento e, através de uma comparação a esse modelo, ter classificado as falas das crianças.

Tendo em conta esta crítica, ao tomarmos a direcção do psicólogo do desenvolvimento para interpretar o texto da Mariana, teríamos de afirmar que o uso dos conceitos Ser (o ser da pessoa é o que eu quero saber) e Corpo, por ex., implica a mesma oposição que existe nas outras dicotomias da metafísica tradicional. Como tal, apesar da aproximação das questões da Mariana a interrogações de natureza filosóficas ser notória, chegar-se-ia à conclusão que o seu raciocínio, não estaria ainda apto a pensar segundo as categorias do adulto. Segundo Piaget, para tal, seria necessário à Mariana compreender primeiro que o Ser é a Essência e, por isso, encontra-se do lado da Identidade (quem sou

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eu) e não do Corpo. Nesse sentido, algumas das frases nas quais a menina tenta responder à questão de saber quem ela é, a partir do seu corpo e da sua pele, tais como, “Não sei isso sobre o corpo, o que nós somos. Eles devem pensar que é uma pessoa. Não quero um nome, quero saber esta pele, o que é, se calhar esta pele não sou eu mesma. Nós temos nome, não sei quem sou, se calhar nada tem nome” seriam, sem dúvida, interpretadas como advindo de um estádio de desenvolvimento no qual a criança ainda não sabe pensar segundo a abstração.

Assim sendo, nem a interpretação da psicanálise Freudiana, nem a análise dos conceitos segundo Piaget, permite compreender o texto da Mariana à luz de uma acepção da criança que esteja em consonância com os resultados das análises desenvolvidas nos três primeiros capítulos deste trabalho. Pelo contrário, ambas as posições refletem uma ideia de Infância pensada a partir de uma indefinição, de uma falha ou incompletude e relacionam-se com a experiência da criança pensada a partir de um modelo adulto (e não enquanto singularidade). Neste sentido, ao consideramos este texto meramente segundo um plano conceptual, afigura-se impossível apreender a forças, a intensidade, a velocidade e os afectos que estão em jogo, tal como nos refere José Gil enquanto cita Caeiro:

“.Saber sentir ou ver é ver ou sentir sem metafísica. Temos que desaprender o que aprendemos para chegar ao despojamento total que nos garanta a verdadeira percepção das coisas. “Bendito seja eu por tudo o que não sei”, escreve ele”104.

Vejamos então, de que modo é que a análise do filósofo nos ajuda a compreender as operações que levaram a Mariana a interrogar-se da forma como o fez. Da citação de Gil podemos extrair estes três pontos para, em seguida, considerar o texto da Mariana segundo uma assunção da criança totalmente diferente daquela que é equacionada no plano da imitação:

i) Ver é ver ou sentir sem metafísica, o que implica resolver ou pôr de parte as dicotomias da metafísica tradicional. Assim, contrariamente a Piaget, segundo a ciência do ver e do sentir do poeta Caeiro, existiria um modo de ultrapassar as oposições consciência/sentidos, animal/humano, criança/adulto, etc., que não colocaria em jogo o próprio pensar.

ii) É o despojamento total e não a acumulação de mais saber ou a aquisição de mais aptidões que possibilita ver as coisas como elas são.

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iii) Tudo aquilo que não sabe é antes demais uma bênção, segundo Caeiro. Ora, a criança de Caeiro encontra-se, à partida, no plano em que é possível Ver. É através de um devir-criança que o poeta acede à visão nua das coisas, tal como aparece na descrição de José Gil. Portanto, aquilo que na citação é referido a respeito da visão de Caeiro, também se pode dizer de um devir-criança da criança.

Começando pelo último ponto, ao considerarmos o relato da Mariana verificamos que à medida que se questiona, o seu desconhecimento vai aumentando. A Mariana cada vez sabe menos: Eu não sei o que estou a dizer porque se calhar, as palavras são outra coisa. Se pensamos uma coisa e é outra? Eu percebo por que é que nós achamos que é essa coisa, mas não sabemos.. Do ponto de vista da análise de José Gil, este não saber, expresso pela criança, não denotaria uma falha nem uma incompletude, mas seria revelador de uma certa sabedoria natural a respeito da qual se poderia afirmar que a criança sabe, mesmo sem saber. Ao passo que para o adulto-poeta é preciso que ele se liberte da cultura e tradição que nele se inscreverem, para a criança, esse trabalho seria praticamente desnecessário. Como tal, o seu não saber é uma oportunidade para se abrir à visão das coisas tal como estas são. É claro que temos que ter em conta o que foi analisado no ponto 3.3, onde se afirma que a criança também precisa de se extrair a um bloco maioritário para devir-criança. Tendo em conta esse dado, deduzimos que para compreender o não saber da Mariana, é necessário considerar um processo de devir, i. e., de devir-criança, inerente ao seu discurso, através do qual as palavras e os nomes ao deixarem de ter importância, fazem-na entrar numa espécie de caos.

Num livro intitulado Metamorfoses do Corpo, a propósito do xamane, do corpo e da linguagem, José Gil afirma que o renascer de um corpo novo implica um processo de descodificação do corpo que envolve a linguagem:

“A primeira, negativa, corresponde a um desbloqueamento do sentido, necessário à recodificação que se prepara: desbloqueamento obtido pela confusão levada ao extremo, dos códigos e língua que tinham por emblema o corpo (...). Processo que corresponde à irrupção progressiva do corpo “tal e qual”, do corpo incodificado e que só é possível viver, precisamente, no estado de transe ou de êxtase105”.

A partir desta nova citação, podemos entender o caos inerente ao questionamento do Mariana, o qual é consequência do seu não saber, como um caos necessário. Ele seria a consequência de uma descodificação ao nível da linguagem. Segundo José Gil, essa

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operação acontece ao nível do corpo. Nesse sentido, o facto da Mariana colocar em questão os nomes das coisas não seria meramente o resultado de uma operação cognitiva, mas de um processo que envolve o seu corpo. Se considerarmos que todo o devir implica a construção de um corpo sem órgãos, um corpo que, tal como vimos, implica libertar-se das partes do corpo enquanto órgãos, afim de poder libertar e produzir partículas moleculares, então podemos pensar nas dúvidas da Mariana segundo essas operações. Seria necessário deixar de saber para, em seguida, poder construir um novo corpo, i. e., a partir de um devir-criança. Tal como refere esta última citação do filósofo, esse não saber seria o resultado de uma descodificação necessária, levada a cabo por uma operação do corpo e, segundo a qual, algo de novo e singular poderia emergir.

A respeito da segunda ideia acima assinalada (a ideia do despojamento), corresponde aquilo que já dissemos anteriormente no ponto 3.1, a saber, que para aprender a ver é preciso desaprender a pensar, como refere José Gil106. No texto da Mariana, verifica-se uma modificação na forma como as coisas são pensadas habitualmente: “Não sei o que é isto, sei que é uma borracha, mas, se calhar, não é uma borracha, tem esse nome, mas, se calhar, não é isso.” Essa ruptura com o modo de conhecer habitual é levada ao extremo no seu relato em frases como esta, pondo em risco a certeza de que as coisas são para ser pensadas unicamente. Como é que isso acontece? Para Caeiro, tal como nos mostrou a análise de José Gil, desaprender implica:

“Cortar definitivamente o laço que une a visão de uma coisa ao seu conceito (...); mas que supõe também que as palavras que nomeiam as coisas vistas perdem a ligação com estas últimas- corta –se a linguagem dos sentidos107.”

Se olharmos novamente para o seu texto, apercebemo-nos que é precisamente essa operação que vem descrita na citação de José Gil que está em jogo: Temos nomes, mas se calhar não são verdadeiros. (...) O nome não me chega, o nome não é a pessoa, o ser da pessoa é que eu quero saber. (…) Se calhar, não é só carne, se calhar chama-se carne, mas, se calhar, nós é que demos esse nome e, afinal, é outra coisa. (…) Eu não sei o que estou a dizer porque, se calhar, as palavras são outra coisa. (...). À medida que a Marina devém, ela vai colocando várias questões que comprometem a linguagem. A Mariana não cessa de questionar os nomes e as palavras que designam as coisas. Porém, com isso, ela

106 “Aprender a ver-que é a única verdade de Caeiro, equivale, pois, a desaprender a pensar” (GIL,

J., 2013 : P. 15).

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não pretende saber qual é o verdadeiro sentido das coisas, como se ainda houvesse um significado oculto por descobrir, pois isso ainda supõe que o seu pensamento fosse da mesma ordem. É outra coisa: “Se calhar nada tem nome”, tal como Mariana expressa. Se, como vimos, as perguntas das crianças podem ser perguntas-máquina, i. e., problemas através dos quais as próprias crianças entram num devir-criança, então, é legítimo querermos considerar as dúvidas da Mariana como resultando do domínio no qual o processo do devir acontece.

As dúvidas da Mariana acerca das palavras e dos nomes também resultam de um devir-criança seu que opera segundo uma fragmentação do laço que liga as coisas aos nomes, tal como acontece na escrita do poeta. Para ambos, há um devir que os atravessa, que atua sobre a visão das coisas que deixam de ser apreendidas segundo o seu nome, o seu significado e também uma forma. Além disso, o facto da Mariana questionar: Quem sou eu? É uma coisa esquisita, tu não sabes quem és tu, eu não sei quem sou eu. Se soubesse, dizia! O nome não me chega, o nome não é a pessoa, o ser da pessoa é que eu quero saber. Não sei o que é, não sei quem sou eu, denota o resultado do devir-criança, através do qual o sujeito Mariana se dissolve e não, como se poderia julgar, uma fragmentação do eu como acontece na esquizofrenia. Da mesma forma que se corta o laço que une as coisas ao seu nome, o nome Mariana deixa de identificar a pessoa que ela é.

Em relação ao primeiro ponto da citação de José Gil, assinalado anteriormente, Saber sentir ou ver é ver ou sentir sem metafísica, sem querer apresentar uma explicação demasiado aprofundada, gostaríamos de referir que segundo a análise de José Gil, a visão de Caeiro situa-se num plano em que as aporias da metafísica tradicional se encontram resolvidas:

“Caeiro não resolve as aporias da consciência e da inconsciência, do natural e do artificial,