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5 GESTÃO AMBIENTAL: FONTE DE MUITAS PRÁTICAS

5.2 O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL: A CONSTRUÇÃO

Na CST, o SGA nasceu da necessidade de organizar as ações relativas às responsabilidades com o meio ambiente e definir suas práticas, procedimentos e processos, bem como viabilizar os recursos que garantam a implementação e manutenção da política ambiental. No SGA, as responsabilidades ambientais de cada empregado são definidas, propiciando que cada um possa conhecer suas atividades e obrigações, padronizadas pela companhia. A construção desse SGA seguiu o enredo que finalmente levou à certificação ISO 14001, com todos os requisitos de documentação, como o manual do SGA e o documento de política ambiental, entre outros. Essa documentação constitui um dos pré-requisitos para a certificação que, segundo a empresa11, é a comprovação de que a gestão ambiental da companhia é feita de acordo com os requisitos da norma ISO 14001.

A construção do SGA foi sendo consolidada ao longo dos anos, de acordo com a empresa, num processo de amadurecimento:

(16) (...) A gente respondia que o SGA tem que estar maduro, e produzindo os melhores resultados. Quando isso acontecer, naturalmente ele será certificado. Pra nós, a certificação foi fruto dessa maturidade, e, portanto, quando chegou a certificação, foi algo absolutamente natural, conseqüência de uma gestão ambiental que já estava bem madura e produzindo os melhores resultados (Gerente CST, grifo nosso).

Assim, a empresa ressalta que o SGA foi construído e amadurecido num processo em que a certificação veio ao seu encontro, e não o contrário. A utilização da palavra

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“chegou” no depoimento acima reforça a intenção de comunicar que a certificação não era a intenção final do SGA, mas foi caracterizado como um prêmio automático pela sua excelência. E esse prêmio começou a se desenhar a partir de 1998, quando a empresa começou a ter os requisitos da norma ISO 14001 como base para o aprimoramento de seu SGA, desenvolvendo ações para atender aos padrões estabelecidos, com a construção da declaração de Política Ambiental (de 1999), treinamentos específicos na norma ISO 14001, identificação dos aspectos ambientais, auditorias internas da gestão e do desempenho ambiental, aprimoramento da comunicação e levantamento das expectativas das partes interessadas.

Se é certo que o SGA da CST foi amadurecendo aos poucos, até por força da necessidade de aprimorar a resposta aos impactos gerados por seus processos ao longo dos anos, é certo também que a decisão de certificação foi a responsável pelo que a empresa chama de “aprimoramento do Sistema de Gestão Ambiental”12 a partir de 1998, que estruturou o sistema e lhe deu as características que tem hoje. A decisão de criar um sistema propriamente dito nasceu do aprimoramento da gestão ambiental da empresa, da ação dos órgãos ambientais e da mudança de perfil, após a privatização, que

(17) [...] Fez com que a empresa, não por pressão, mas por iniciativa própria, procurasse criar um sistema de gestão ambiental. Nesse sistema, nós usamos a ISO 14001 como modelo [...] e nos últimos três anos nós viemos trabalhando de uma forma sistêmica, de uma forma toda própria da CST trabalhar, para aperfeiçoar o seu sistema de gestão ambiental de acordo com o que a ISO 14001 determina (Especialista CST 4).

Além dos aspectos documentais, formais e estruturais, um grande fator ressaltado como de importância fundamental para a construção do SGA foi o treinamento de funcionários. Foram muitas horas de treinamento, num esforço de mudança de mentalidade. Os vários programas de treinamento do Programa de Educação Ambiental da empresa são divididos em módulos. O primeiro é o Módulo Despertar, curso com quatro horas de duração destinado aos operadores. Após isso, veio o Módulo Agir, com oito horas de duração, alcançando os operadores e os técnicos. O outro módulo é o Interagindo com os Parceiros, com quatro horas, que busca atingir

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os trabalhadores das empresas contratadas, parceiras da CST. O Módulo Gestor Ambiental é destinado aos supervisores e tem uma duração de seis horas.

Os módulos têm uma proposição de mostrar aos funcionários a ação do homem na natureza e a interferência das indústrias no meio ambiente. O primeiro módulo procura Despertar o homem para o meio ambiente, para a devastação. Quase 2.900 funcionários participaram desse treinamento. O segundo módulo, o Agir, focalizava o homem no posto de trabalho e os impactos desse trabalho no meio ambiente, mostrando que a responsabilidade ambiental não é do grupo de meio ambiente, mas de cada homem e de sua atuação no posto de trabalho. No terceiro módulo, Gestor Ambiental, foram trabalhadas as ferramentas do SGA, as responsabilidades e os padrões. O programa objetivou treinamento, mudanças de comportamento e atitude e ação proativa. Nos depoimentos, fica claro que

(18) A empresa tem ganhado muito com isso, pois são inúmeros processos de melhoria que não requerem investimentos vultosos, apenas a mudança de atitude. Um vazamento de óleo, um óleo no chão, é um valor pro empregado da CST hoje. Então ele tem a preocupação desde um vazamento de água, até a contaminação de um resíduo no seu posto de trabalho. As questões ambientais viraram um valor pro empregado, pro colaborador da CST (Especialista CST 4).

Na Samarco, a construção do SGA é mais automaticamente associada à obtenção do certificado ISO 14001. Com o sucesso da certificação da qualidade, em 1994, a empresa mobilizou-se para chegar à certificação ambiental em 1998. Com três diretrizes principais – a de que não se contratassem consultorias externas para não se correr o risco de desrespeitar a cultura da empresa, a de que a certificação não fosse o objetivo principal, mas apenas o coroamento do processo, e a de abranger todo o processo da companhia, da mina ao porto – partiu-se para a construção desse SGA.

A construção do SGA seguiu os passos da interferência internacional. Em 1994, percebeu-se a demanda pelo tema ambiental no mercado consumidor, a exemplo do que já ocorrera em relação à qualidade. A ação da empresa frente a essas demandas se deu no caminho da certificação. Com a inauguração da 2ª usina, em 1996, a empresa já tinha um desenvolvimento da gestão ambiental e a estratégia definida a partir daí foi de perseguir a certificação pela norma ISO 14001.

(19) Os clientes cobravam da Samarco, quais ações ambientais que ela tomava. No Brasil, a questão legal ainda era fraca, em 1994, 1996. Lá fora, as legislações já eram mais rigorosas. A Companhia entendeu que deveria estruturar o seu SGA seguindo a norma ISO (Analista Samarco 3).

Os requisitos da ISO 14000 foram a base do desenvolvimento do sistema, que se desenvolveu no atendimento da norma, com definição da política ambiental, preparação da documentação e treinamento dos funcionários, num processo similar ao da CST. A educação dos funcionários processou-se de modo a “trazer a norma para dentro da área de trabalho” (Analista Samarco 3). Para os estímulos de sensibilização do pessoal, utilizaram-se exemplos de catástrofes como a do Exxon

Valdez, explorando a repercussão negativa causada, num trabalho de

contextualização do tema ambiental. Assim, a construção do SGA na Samarco ocorreu, desde o início, muito ligada à norma ISO, pela qual se desejava certificar.

O treinamento do pessoal também se deu em módulos, em número de cinco, que começava com a Introdução ao Sistema de Gestão Ambiental, visando a sensibilizar as pessoas para a necessidade da gestão ambiental. “O programa era meio dia de teoria e meio dia de prática, pra ir assimilando aos poucos” (Analista Samarco 2). O segundo módulo foi A ISO 14000, com o estudo da norma propriamente dita. O terceiro módulo era o de Requisitos Legais e Outros Requisitos, em que foram estudados os impactos das legislações em todas as áreas. O quarto módulo descreveu os Aspectos e os Impactos Ambientais da organização. E o último módulo foi uma Visão Geral da ação ambiental da empresa.

Dessa forma, as ações ambientais foram sendo estabelecidas na vivência da empresa através de um processo que pode ser comparado ao processo de institucionalização narrado na Teoria Institucional.