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2 MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO E GESTÃO:

2.5 OS PARADIGMAS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

2.5.4 O Paradigma da Administração de Recursos

Esse paradigma propõe a incorporação de todo tipo de capital e recurso – biofísico, humano, infra-estrutural e monetário – nos cálculos macroeconômicos e de políticas de desenvolvimento e de investimento. Afirma que a exaustão dos recursos naturais é um problema a ser gerido. Considera a poluição como um recurso negativo. O clima e os processos que o regulam passam a ser considerados recursos fundamentais a serem administrados. Um dos princípios característicos é o do poluidor pagador. Ou seja, quem polui paga pela emissão de poluentes.

De acordo com Bressan (1996), recursos naturais como energia, metais valiosos, reservas pesqueiras, florestas, solos e água são percebidos como escassos. A administração dos recursos naturais é o tema central da agenda de discussões e de documentos como o Relatório Brundtland, chamado Nosso Futuro Comum. Em 1972, a publicação do Relatório do Clube de Roma, apoiado pelo MIT, intitulado Limites do Crescimento, alertou para o que ele chamou de dilema da humanidade. Conforme Carvalho (1991), os problemas gerados pelo crescimento econômico e populacional, desenvolvimento tecnológico e devastação dos recursos naturais puseram em destaque as discussões sobre modelos de desenvolvimento.

Esse e outros relatórios que projetaram um futuro sombrio devido ao modelo de desenvolvimento seguido e seu conseqüente impacto ambiental tiveram como base de suas previsões a continuidade linear do modelo de desenvolvimento então adotado, sem considerarem a possibilidade de mudanças de tecnologias, de substituição de recursos e dos impactos benéficos surgidos com o desenvolvimento de legislações ambientais. Realmente, em certa medida, nos países industriais desenvolvidos, algumas dessas mudanças ocorreram, amenizando ou corrigindo alguns dos graves problemas de poluição.

Apesar de muitos desses cenários tenebrosos não terem se cumprido totalmente e na intensidade prevista, outros tipos de problemas surgiram ou foram detectados. A destruição progressiva da camada de ozônio e o aquecimento global foram algumas questões levantadas ao longo dos últimos anos, para as quais as atuais estruturas e formulações econômicas, políticas, legais e institucionais não conseguem dar respostas adequadas. Os problemas com a estabilização do crescimento populacional dos países pobres e em desenvolvimento, bem como a redução no nível de consumo per capita nas nações desenvolvidas, foram temas propostos como ações essenciais para alcançar um equilíbrio global. Várias conferências foram organizadas e os princípios de otimização no uso de recursos, gerenciamento inteligente e integração dos princípios econômicos e ecológicos, juntamente com a contribuição dos avanços tecnológicos, foram considerados suficientes para reverter a anunciada tendência ao desastre (COLBY, 1990; EGRI e PINFIELD,1998).

Nos países em desenvolvimento, a crise das dívidas externas apontou para um caminho de exploração das reservas naturais com vistas à geração de divisas, promovendo a destruição de grande parte desses recursos para atender as necessidades imediatas de uma população em constante crescimento, ofuscando e amortecendo a sensibilização ambiental das populações e governos desses países (COLBY, 1990).

Por outro lado, houve um grande esforço para a criação de legislações e tratados sobre questões ambientais referentes a recursos comuns globais, no sentido de mundializar perdas e riquezas. Foi introduzido o conceito de gerenciamento de riscos, para avaliar a gravidade e a probabilidade de ocorrência de determinadas ameaças e a escala de prioridades de ação em caso de qualquer ameaça ambiental. Apesar de o imperativo neoclássico do crescimento econômico continuar como meta primordial, a necessidade de condições para a manutenção desse crescimento faz com que se admita a urgência do aumento das ações “verdes”.

Na vigência desse paradigma, surge um fator que irá marcar fortemente o gerenciamento das questões ambientais. Cria-se a certificação ISO 14000, que se torna um referencial mundial para a gestão ambiental nas empresas, uniformizando as diversas normas ambientais existentes em diversos países, homogeneizando o

discurso do mercado internacional no que se refere a exigências quanto aos níveis máximos de impacto ambiental tolerados pelas atividades das empresas, e funcionando como um “incentivo” para que esse impacto seja minimizado, tanto quanto possível (CAVALCANTI, 1996).

Na Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente, de 1972, em Estocolmo, destacou-se a internacionalização da problemática ambiental. Apesar de ter surgido aí embrionariamente a idéia de ecodesenvolvimento, a abordagem era basicamente a de buscar formas de atacar as questões ambientais já detectadas, pois os organismos mundiais ainda tinham pouco poder para imporem mudanças mais significativas no tipo de prática industrial vigente. Além disso, os países em desenvolvimento foram frontalmente contra as propostas de contenção do desenvolvimento – como a proposta do crescimento zero – e muito morosos na implementação e efetivação de legislações ambientais, bem como na adoção de práticas que, na sua visão, com certeza iriam restringir seu desenvolvimento (COLBY, 1990).

Os governos freqüentemente viam as questões ambientais como apenas do interesse das elites dos países ricos, e contrárias às suas necessidades de progresso industrial. A posição oficial do Brasil na Conferência para o Meio Ambiente em Estocolmo, de 1972, foi a de que a forma ambientalmente predatória de desenvolvimento poderia continuar. Seguindo a posição de Indira Ghandi, o Brasil argumentava que a pior poluição era a miséria. Ainda segundo Maimon (1996), a posição do Brasil nessa conferência era a de que o país queria indústrias e tinha um grande espaço para ser poluído.

À medida que os temas ambientais foram integrando e permeando a sociedade, as leis, as fontes de financiamento e os processos produtivos, ficou claro que esse era um caminho sem retorno. As conquistas nessa área foram se acumulando e dando um viés claro para os agentes econômicos de que o caminho de menor impacto ambiental e maior eficiência na utilização de recursos se apresentava como o único viável numa perspectiva de longo prazo. Assim sendo, a proposta do ecodesenvolvimento ganhou força e forma, apresentando-se como mais uma evolução no continuum imaginário, trazendo para o debate e para as práticas as

constatações resultantes dos outros paradigmas e avançando significativamente para uma parametrização do “desenvolvimento” com princípios que apontam para uma nova abordagem, sem a superioridade do desenvolvimento sobre o meio ambiente.