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2 MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO E GESTÃO:

2.8 A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL E SEUS DETERMINANTES

2.8.1 Os S Stakeholders e sua Influência sobre a Organização

2.8.1.4 Pressão por Certificação Ambiental

Um dos grandes “incentivos” à mudança do comportamento ambiental de muitas empresas no Brasil é a cada vez mais freqüente exigência da certificação ambiental pelo mercado. Especialmente as empresas exportadoras de recursos naturais ou seus derivados têm sido “sensibilizadas” para a necessidade crescente de se adequarem às normas ambientais internacionais. Certificações como a Ecotex, no setor têxtil, o Certificado de Origem para madeira e derivados, a britânica BS 7750 e a ISO 14000 são exemplos de certificações que o mercado passou a valorizar nas empresas. Como grande parte das exportações brasileiras é destinada aos países “desenvolvidos”, houve um grande “surto de sensibilização” das nossas empresas exportadoras, especialmente em relação ao atendimento das normas ambientais dos países para onde seus produtos são exportados (MAIMON, 1996).

Nos países de destino da maioria das exportações brasileiras, o mercado consumidor tem na questão ambiental uma das suas prioridades. Na Europa, especialmente, a preocupação ambiental está em terceiro lugar na ordem de prioridades da população, logo após emprego e saúde, e o meio ambiente já é o quinto maior negócio do mundo, segundo Viterbo Júnior (1998). Essa realidade leva acionistas, investidores, agentes financeiros e seguradoras a terem como pré- requisito, para a sua participação nos negócios, análises da gestão ambiental das empresas, e cada vez mais exigências de certificações ambientais.

Segundo a ABNT2 – Associação Brasileira de Normas Técnicas, certificação é um conjunto de atividades desenvolvidas por um organismo independente da relação comercial com o objetivo de atestar publicamente, por escrito, que determinado produto, processo ou serviço está em conformidade com os requisitos especificados. Esses requisitos podem ser nacionais, estrangeiros ou internacionais. As atividades de certificação podem envolver análise de documentação, auditorias/inspeções na

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empresa, coleta e ensaios de produtos, no mercado e/ou na fábrica, com o objetivo de avaliar a conformidade e sua manutenção.

A certificação objetiva a implantação eficaz de sistemas de controle e garantia da qualidade nas empresas, tendo em vista a diminuição de perdas de produtos e dos custos de produção e aumentando diretamente a competitividade da empresa frente às concorrentes que não contam com tal diferencial. A certificação também aumenta a satisfação do cliente e facilita a venda de produtos e sua introdução em novos mercados, já que são comprovadamente projetados e fabricados de acordo com as expectativas do mercado consumidor.

Quando a certificação é feita por um organismo que possui acordos de reconhecimento com outros países, evita-se a necessidade de certificação pelo país de destino. Se as normas nacionais aplicadas forem similares às normas nos países de destino ou às internacionais, a certificação livra o exportador de barreiras técnicas do comércio.

No Brasil, os certificados emitidos são controlados pelo Inmetro, responsável por fiscalizar as empresas certificadoras atuantes no território nacional. São auditorias idênticas às realizadas pelas certificadoras, porém conduzidas pelo Inmetro para verificar se não há divergências de métodos e resultados, funcionando como um controle de qualidade no setor. Algumas empresas contratam certificadoras com sede em outros países, dando preferência aos órgãos certificadores dos países de destino das suas exportações. As atividades de certificação podem envolver análise de documentação, auditorias/inspeções na empresa e coleta e ensaios de produtos, no mercado e/ou na fábrica, com o objetivo de avaliar a sua conformidade com as normas.

Não se pode pensar na certificação como uma ação isolada e pontual, mas como um processo que vai desde a conscientização da necessidade da gestão ambiental até a manutenção da competitividade, visando à permanência no mercado, utilizando normas técnicas e disseminando o conceito por todos os setores da empresa, em seus aspectos operacionais internos e de interação com a sociedade e o ambiente. Assim, o sucesso da gestão ambiental está diretamente ligado à gestão global da

organização. A certificação confere à imagem da empresa uma credibilidade a priori, servindo de diferencial inequívoco no ambiente de negócios (MAIMON, 1996).

A ABNT é um organismo nacional com credibilidade internacional. Todo o seu processo de certificação está estruturado em padrões internacionais e as auditorias são realizadas atendendo às normas ISO, garantindo o reconhecimento de organismos internacionais e, portanto, a aceitação do mercado. A ABNT é uma entidade privada, independente e sem fins lucrativos, fundada em 1940, e que atua na área de certificação. É reconhecida pelo governo brasileiro como Fórum Nacional de Normalização, além de ser um dos fundadores e único representante da ISO (International Organization for Standardization) no Brasil. É credenciada pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), detentor de acordo de reconhecimento com os membros do IAF (International Acreditation Forum) para certificar Sistemas da Qualidade (ISO 9000), Sistemas de Gestão Ambiental (ISO 14001) e diversos produtos e serviços. A ABNT oferece também, por meio de acordos com organismos semelhantes, certificados aceitos na Europa, Estados Unidos da América e outros países da América do Sul.

Ao longo dos anos, surgiram várias normas ambientais, acompanhando a evolução e determinações das legislações ambientais em vários países. O conceito de sistema de gestão ambiental, segundo Contadini (op. cit.), teve o seu desenvolvimento inicial pela BSI – British Standard Institution, com a criação da norma BS 7750, surgida da necessidade de comprovação ao mercado do comprometimento ambiental das empresas inglesas. Publicada inicialmente em 1992, foi republicada com pequenas alterações em 1994. A mesma pressão por responsabilidade ambiental fez com que outras normas surgissem em outros países como França, Irlanda, Canadá, África do Sul, Finlândia e Espanha. Essa grande diversidade de normas, legislações e exigências ambientais fez surgir a necessidade de uma homogeneização para uma aceitação comum no mercado internacional, desenvolvida pela ISO.

ISO é a sigla de International Organization for Standardization3, uma ONG fundada em 1947, com sede em Genebra, na Suíça. Ela reúne os órgãos de normalização de

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mais de 100 países, buscando a homogeneização de procedimentos, de medidas, de materiais e/ou de uso, e se propõe refletir o consenso internacional na maioria dos campos de atividades. A ABNT é quem representa o Brasil na ISO.

Especificamente, a ISO 14000 busca normalizar a gestão ambiental através da homogeneização das várias normas nacionais e regionais, trazendo-as todas para parâmetros conhecidos e aceitos pelo mercado internacional, devido ao surgimento de uma profusão de certificados, rótulos ambientais ou selos verdes nas últimas décadas.

A adoção da ISO 14000 é voluntária e depende exclusivamente da vontade da empresa, ou seja, difere da adoção de algumas práticas ambientais adotadas por empresas de maneira compulsória, por força das legislações municipais, estaduais e federais. A Série ISO 14000 é composta pelas seguintes normas:

- Normas Certificáveis:

ISO 14001 – Sistema de Gestão Ambiental (SGA) – Especificação para Implementação e Guia.

ISO 14040 – Análise do Ciclo de Vida – Princípios Gerais. - Normas Auxiliares :

- 14004 – Sistema de Gestão Ambiental – SGA – Diretrizes Gerais - 14010 – Guias para Auditoria Ambiental – Diretrizes Gerais

- 14011 – Diretrizes para Auditoria Ambiental e Procedimentos para Auditores

- 14012 – Diretrizes para Auditoria Ambiental – Critérios para Qualificação de Auditores

- 14020 – Rotulagem Ambiental – Princípios Básicos - 14021 – Rotulagem Ambiental – Termos e Definições - 14022 – Rotulagem Ambiental – Simbologia para Rótulos

- 14023 – Rotulagem Ambiental – Testes e Metodologias de Verificação - 14031 – Avaliação da Performance Ambiental

- 14032 – Avaliação da Performance Ambiental dos Sistemas de Operadores

- 14041 – Análise do Ciclo de Vida – Inventário

- 14043 – Análise do Ciclo de Vida – Migração do Impacto

Fonte: Maimon, 1999, p.7.

A ISO 14001 normaliza a implantação do Sistema de Gestão Ambiental – SGA em uma empresa, independentemente do ramo de atividade. Segundo Maimon (1999, p.6), apesar de voluntária, a adesão à norma é condicionada à sua exigência por vários tipos de atores, dos quais se destacam clientes, matriz da companhia, órgãos e agências de financiamento, seguradoras, licitações, ambiente interno da empresa e legislações. Cada vez mais, portanto, a expressão “Norma de Adoção Voluntária” perde valor, tal o número de pressões diretas e indiretas que cercam a empresa e a impelem a aderir “voluntariamente” à norma e implantar o SGA.

Segundo Cavalcanti (1996), a certificação ISO 14000 tem várias finalidades. Dentre elas, destacam-se a homogeneização das inúmeras normas que se espalhavam pelo mundo e que, se não tivessem uma formulação conjunta por inúmeros países, poderiam mais facilmente abrigar, sob a chancela de normas ambientais, verdadeiras barreiras comerciais para protecionismo econômico.

Outra utilidade dessa certificação é que ela se tornou um elenco mínimo de normas que terão validade mundial, impedindo que países adotem uma postura de desregulamentação ambiental, oferecendo dessa forma “vantagens” competitivas às organizações neles instalados. Esses países sem normas ambientais seriam a versão “inferno ambiental” da idéia do paraíso fiscal, em que nenhuma autoridade faz perguntas sobre a origem do dinheiro. Apesar de serem normas de adoção voluntária, Cavalcanti (1996) alerta para a grande tendência de se tornarem impositivas, devido a sua caracterização como “instrumento mercadológico”.