• Nenhum resultado encontrado

O sistema do Enoturismo

No documento Dissertação Final_Ana Sofia Vieira Coelho (páginas 54-58)

Parte I | Revisão da Literatura

3. Enoturismo

3.1. O sistema do Enoturismo

Para compreendermos melhor o funcionamento e a estrutura que compõe o enoturismo, é essencial perceber como funciona o seu sistema e como se estabelecem as relações com o meio envolvente. De facto, o enoturismo é composto por um vasto conjunto de elementos que vão desde os produtores vinícolas, aos restaurantes, ao alojamento, aos transportes, aos eventos culturais entre muitos outros. Deste modo, Getz (2000) e Hall et al. (2000), propuseram os mais conhecidos modelos do sistema funcional do enoturismo.

O sistema do enoturismo sugerido por Getz (2000, p. 5) (figura 5) é um sistema integrador de três principais componentes que o constituem:

1. consumidor/visitante; 2. destino/região;

3. oferta;

Para Getz (2000) o sucesso do enoturismo assenta na correta integração destes três elementos. Na base do enoturismo está o turista que se desloca a uma região vinícola por motivações ou questões relacionadas com o vinho. Estas motivações ou interesses podem ser baseados nas preferências de vinho, ou na imagem das regiões vinícolas como lugares românticos e bonitos para

Consumidores viajantes Organização de destinos Fornecedores Prova vinícola Jantar Sightseeing Compras Aprendizagem Lazer Conservação de recursos Pesquisa e planeamento Informação: sinalização Theming (Rotas de vinho) Marketing Eventos especiais Educação de visitantes Transporte Alojamento Catering Adegas Tours/ Guias Retalhistas Eventos especiais Figura 5. Sistema do enoturismo Fonte: adaptado de Getz (2000, p. 5)

55

visitar. O interesse por este tipo de turismo pode também acontecer “quando os consumidores de vinho são expostos a vinhos estrangeiros de qualidade, isso naturalmente desperta uma curiosidade sobre a fonte. Se este interesse é combinado com as preferências históricas de viagem, o turismo do vinho pode florescer” (Getz, 2000, p. 17, nossa tradução)20. As atividades realizadas durante a visita podem ser focadas nas visitas às adegas e nas degustações vinícolas, ou então, focar-se mais na transmissão de conhecimentos sobre o mundo vitivinícola, como os processos de produção ou informação sobre o armazenamento do vinho, entre outros (Getz, 2000). Outras atrações como a gastronomia, a paisagem, a cultura e produtos locais também poderão provocar um desejo nos turistas (Getz, 2000). Tudo isto desempenha um papel primordial na experiência turística do enoturista.

O sistema do enoturismo apresentado por Getz (2000) depende também, da oferta, ou seja, das empresas que fornecem serviços (fornecedores) que acrescentam valor para os turistas. A oferta assume um papel fundamental no território e engloba um conjunto essencial de serviços, que inclui, alojamento, transportes e restauração. Além destes serviços que Getz considera como básicos, os agentes turísticos devem conter outras oportunidades de lazer, como a realização de festivais e feiras de vinhos que contribuem consideravelmente para uma experiência mais completa.

O último elemento do sistema do enoturismo é o destino/organizações. Como já foi referido, o potencial da atividade enoturística é importante ao desenvolvimento económico de um país. Como tal, é essencial elaborar e aplicar estratégias de desenvolvimento local/regional. Getz (2000) refere que é evidente que a aplicação do marketing é necessário, por forma a estimular o crescimento desta forma de turismo. O autor salienta ainda a importância da disponibilização de informação aos turistas, especialmente pelo meio de sinalização e mapas, e também a relevância das organizações realizarem investigações e pesquisas de mercado, avaliando as tendências do mercado. Estes aspetos são relevantes, na medida que poderão estimular o aumento das visitas, a definição dos mercados alvo e a construção de uma imagem forte e atrativa do local de destino.

Getz (2000) afirma que as empresas devem assumir a proteção do destino uma vez que o enoturismo pode ser ameaçado pela venda sem controlo, pela destruição das paisagens, pela poluição e pela erosão do solo. O autor refere ainda que as quintas vitivinícolas devem assumir a liderança em questões ambientais, contudo, também a comunidade local tem interesse em garantir que os recursos e o apoio sejam sustentados.

Hall et al. (2000) apresentam um quadro que analisa a natureza do produto turístico (figura 6, página 57), o enoturismo. Este sistema funcional do enoturismo tem como objetivo “integrar a

20“when wine consumers are exposed to quality foreign wines it naturally arauses a curiosity about the source. If that interest is combined with historical travel preferences, wine tourism can flourish” (Getz, 2000, p. 17).

56

procura e oferta da experiência enoturística. O ponto focal do modelo é a experiência do turismo do vinho” Hall et al. (2000, p. 6, nossa tradução)21. A experiência é vivenciada quando:

o consumidor, o visitante, tem ao mesmo tempo que entra em contato com os elementos que compõem o produto enoturístico, como as quintas, as vinhas, os festivais, as paisagens do vinho e, claro, o vinho. No entanto, devemos notar que as experiências desejadas ou os resultados das viagens serão diferentes de pessoa para pessoa e de cultura para cultura. (Hall et al. 2000, p. 6, nossa tradução)22.

Do lado da procura, a perceção dos visitantes resulta da experiência vivenciada e da informação transmitida pelos canais específicos e pelos gostos e preferências pessoais. Como Hall et al. (2000) afirmaram:

As motivações e as percepções são juntas de forma a construir a imagem dos destinos e atrações de cada indivíduo e as várias expetativas que cada consumidor tem em relação à experiência no destino. A imagem criada é de extrema importância porque o apelo das atrações surge em grande parte da imagem formada, em parte da experiência direta ou relacionada e, em parte, de fontes e influências externas. (p. 8, nossa tradução)23.

Os mesmos autores salientam ainda:

As motivações vão mudar de acordo com experiências de vidas passadas e etapas da vida. Além disso, as motivações podem mudar ou tornar-se fatores maiores por causa de campanhas de promoção que podem criar certas percepções de possíveis destinos e atrações, como publicidade para uma determinada região vinícola, e que, portanto, influenciam as viagens recreativas. As motivações do turismo não serão as mesmas para um indivíduo ao longo da vida (Hall et al., 2000, p. 6, nossa tradução)24.

21“to integrate the demand and supply of the wine tourism experience. The focal point of the model is the wine tourism experience” (Hall et al., 2000, p. 6).

22the consumer, the visitor, has while he or she comes into contact with the elements that comprise the wine tourism product, such as wineries, vineyards, festivals, winescapes and, of course, wine. Nevertheless, we should note that the desired experiences or travel outcomes will differ from person to person and from culture to culture” (Hall et al., 2000, p. 6).

23 “Motivations and perceptions combine to construct each individual’s image of destinations and attractions and the associated series of expectations regarding the experience at the destination. The image created is of utmost importance because the appeal of attractions arises largely from the image conjured up, partly from direct or related experience and partly from external sources and influences” (Hall et al., 2000, p. 8).

24Motivations will change according to past life experiences and stages in life. In addition, motivations may shift or become greater factors because of promotion campaigns which may create certain perceptions of potential destinations and attractions, such as publicity for a particular vineyard, and which therefore influence recreational travel. Tourism motivations will not be the same for an individual throughout their life” (Hall et al., 2000, p. 6).

57

Figura 6. Sistema do enoturismo segundo Hall, Sharples, Cambourne e Macionis

58

Do lado da oferta, e segundo o modelo de Hall et al. (2000), o enoturismo inclui todos os recursos utilizados pelos turistas para o enoturismo e as empresas e instituições que transformam esses recursos num produto enoturístico.

Relativamente aos recursos da indústria do vinho fazem parte as adegas, as vinhas, os festivais e feiras; os da indústria turística incluem passeios, alojamento e setores associados, como o restaurantes e indústrias de restauração (Hall et al., 2000). Os recursos humanos incluem os produtores de vinho e todos os trabalhadores vitivinícolas e enólogos, bem como os operadores turísticos.

Em relação ao ambiente envolvente, inclui infra-estruturas, ambiente físico, cenário, cozinha regional e os componentes sociais e culturais da região vitivinícola - o terroir turístico de vinho (Hall et al., 2000).

Por fim,

os acordos institucionais que afetam o enoturismo incluem não apenas todos os níveis de governo, mas também legislação, regulamentos e estruturas de planeamento. Em muitas partes do mundo, o papel do governo no enoturismo é fundamental em termos de criação de controlo de apelação, estabelecimento de regulamentos de saúde e segurança, regulamentos de planeamento que afetam o que pode ser construído e/ou cultivado em certos locais e assistência que o governo pode fornecer para apoiar as infra-estruturas e as redes de enoturismo (Hall et al., 2000, p. 9, nossa tradução)25.

No documento Dissertação Final_Ana Sofia Vieira Coelho (páginas 54-58)