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3 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

3.5 O SISTEMA PERIFÉRICO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

De acordo com Campos (2003), o sistema periférico era visto como secundário na estrutura da representação social durante muito tempo, porém com o avanço nos estudos da abordagem estrutural, compreendeu-se que os elementos periféricos são indispensáveis a essa estrutura. Eles protegem o núcleo central e servem como mediadores entre o cotidiano dos indivíduos e os elementos centrais da representação social.

Abric (1994) indica que os elementos periféricos constituem os componentes mais acessíveis de uma representação, mais passíveis de mudança, eles atualizam e contextualizam as determinações normativas e consensuais, promovendo a interface entre a realidade concreta e o sistema central. Almeida (2005, p.132) ainda coloca que “considerando os elementos centrais e periféricos, constata-se que a representação social é, ao mesmo tempo, estável e instável; rígida e flexível; é tanto consensual como marcada por fortes diferenças interindividuais”

De acordo com Sá (2002), os elementos periféricos respondem a três funções: a) a de concretização: na qual, os elementos periféricos resultam da ancoragem da representação na realidade e permitem a formulação da representação em termos de tomada de posição ou condutas, imediatamente compreensíveis e transmissíveis; b) de regulação: em que os elementos periféricos contribuem para adaptação da representação. As informações novas ou as transformações do meio podem ser integradas na periferia da representação e, por último,c) a função de defesa, em que eles funcionam como elementos de resistência às mudanças a fim de não desorganizar as representações bruscamente.

Ainda, Flament (2001) atribui outras funções aos elementos periféricos. Esse sistema desempenha a função de prescrição do comportamento, indicando ao sujeito espontaneamente como agir em uma determinada situação; e a função

de modulações personalizadas, permitindo a construção de representações

particulares relacionadas à história de vida de cada indivíduo, desde que os elementos estejam organizados em torno de um mesmo núcleo central.

A função de proteção da representação é colocada pelo autor nos mesmos termos que Abric. No entanto, Flament acrescenta a noção de

reversibilidade, em que elementos estranhos podem ser acrescidos ao núcleo periférico de modo a comportar as possíveis contradições entre o que o sujeito vive e a sua representação, sem que isso modifique a representação (ao menos inicialmente). É o que acontece quando os sujeitos são levados a praticar ações que contradizem seus esquemas de representação. Se os sujeitos praticarem ações contraditórias, porém, em circunstâncias reversíveis, temporárias, elas serão integradas ao sistema periférico da representação sem que o significado norteador desta sofra danos. Caso considerem que dada situação seja irreversível, levando os sujeitos a desenvolverem práticas contraditórias ao esquema inicial da representação, a significação desta poderá ser alterada, pois, uma representação se altera quando o seu núcleo central se modifica.

Como já postulado, as colocações de Abric a respeito das práticas sociais demonstram um forte interesse do autor em localizar o seu papel na transformação da representação. Apesar de considerar uma interdependência entre prática e representações, Abric acredita que as últimas determinam as práticas, portanto, as representações determinam os comportamentos dos sujeitos e dos grupos. Assim, como colocado anteriormente, o autor descreve três processos de transformação de uma representação que estão intrinsicamente relacionados ao sistema periférico (exceto a transformação brutal, que ataca diretamente o núcleo central), por este se configurar como elemento de interface entre a realidade e o significado da representação (núcleo central).

O sistema periférico, por ser mais permeável, permite a diferença de conteúdo e a adaptação à realidade concreta. É através da periferia que as representações aparecem no cotidiano e é por meio da relação dialética que estabelece com o núcleo central que este pode ser compreendido.

Esse sistema periférico permite uma adaptação, uma diferenciação em função do vivido, uma integração das experiências cotidianas, de modo que modulações pessoais frente ao núcleo central resultam em representações sociais individualizadas (ABRIC, 1998, p.33).

Portanto, quando as representações compreendem o aspecto consensual assumindo caráter homogêneo, observa-se o núcleo central estável e resistente à mudança, pouco sensível ao contexto imediato dentro do qual o sujeito se

relaciona socialmente. Quando as representações permitem a integração do novo, compreende-se os elementos periféricos, mais flexíveis. O núcleo central promove a geração, organização e estabilidade das representações sociais. Os elementos periféricos concretizam, regulam e preservam os comportamentos, individualizam as representações, enquanto protegem o núcleo central (LIMA, 2006).

A análise de uma representação social, para Abric, estabelece que sejam conhecidos três componentes essenciais: a) o conteúdo, b) a estrutura interna e c) o núcleo central. Abric (2005) afirma que “procurar o núcleo central, é então, procurar a raiz, o fundamento social da representação que, em seguida, modulará, se diferenciará e se individualizará no sistema periférico”.

Dito isso, reitera-se a violência contra o professor como um objeto passível de ser estudado pela Teoria das Representações Sociais, mais especificamente, adotou-se a abordagem estrutural nesta pesquisa por considerar que captar a estrutura e a organização dos elementos dos subsistemas da representação pode contribuir para compreensão de práticas sociais contra e em prol desse profissional e de sua profissão. Assume-se também que essa abordagem possibilita caracterizar como a violência contra o professor está interligada a outros elementos sociais através da organização dos componentes da representação, bem como sugerir as relações entre práticas sociais e possíveis transformações. No próximo capítulo, são apresentados os caminhos metodológicos que guiaram a investigação em questão.