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O SURGIMENTO DA FOTOGRAFIA

3 FOTOGRAFIA

3.2 O SURGIMENTO DA FOTOGRAFIA

Percebe-se que quando o desenvolvimento tecnológico e as grandes indústrias tomaram conta da sociedade nas grandes capitais européias e nos Estados Unidos em meados do século XIX, o momento se tornou perfeito para a “criação” de um novo modo de lidar com as imagens, assim como novos espaços para a pesquisa na forma de reter as imagens. É muito difícil precisar as datas que levaram à descoberta da fotografia, tendo em vista os vários cientistas e químicos em variadas épocas e lugares que contribuíram para os estudos desse processo. Contudo, existem alguns momentos

mais apontados pelos estudiosos como sendo os mais importantes para a construção dessa linha do tempo, que ao final do século XIX foi completamente montada.

A litografia, procedimento no qual as imagens são impressas em uma pedra calcária, inaugurou nas artes gráficas o processo de produção em série (MAYA, 2008, p. 108), sendo talvez o primeiro processo mais “tecnológico” no que concerne à produção de imagens. Walter Benjamin, em seu texto “A Obra de Arte na era da sua reprodutibilidade técnica”, (1955) diz:

Com a litografia, as técnicas de reprodução marcaram um progresso decisivo. Esse processo, muito mais fiel – que submete o desenho à pedra calcária, em vez de entalhá-lo na madeira ou de gravá-lo no metal – permite pela primeira vez às artes gráficas não apenas entregar-se ao comércio das reproduções em série, mas produzir, diariamente, obras novas.

Figura 7. Primeira câmara escura no século XVI.20

A fotografia surge e ultrapassa a litografia, substituindo a mão pelo olho, mais rápido em captar os detalhes. A partir de um estudo feito pelo francês Joseph Nicéphore Nièpce, que desejava melhorar o processo litográfico de impressão, por volta de 1826, ao colocar uma placa sensibilizada quimicamente com betume de Judeia (uma espécie de verniz capaz de secar rapidamente quando exposto à luz) dentro de uma

20

Disponível em: <http://www.fotografia-dg.com/fotografia-a-linha-do-tempo/>. Acesso em 06 Out. 2011.

câmara escura21 apontada para seu jardim, Nièpce conseguiu então fixar nela a imagem projetada no interior da câmara após aproximadamente oito horas de exposição (SALLES, 2008). Esta, portanto, foi a primeira fotografia reconhecida, por sua estabilidade com o passar do tempo.

Assim como os estudos sobre a câmara escura, a sensibilidade dos objetos à luz já era reconhecida. Todos os corpos de alguma maneira são fotossensíveis, ou seja, sensíveis à luz, variando apenas o tempo em que esta irá demorar a produzir o efeito desejado. Contudo, para os fins da reprodução e impressão da imagem como era cobiçado na época, era necessário uma superfície sensível que não demorasse tanto para formar a imagem; neste momento os sais de prata ganharam mais atenção. A sensibilidade deste material diante da luz já era conhecida desde a época renascentista, mas os trabalhos realizados a partir dessa mistura química não obtiveram valor, já que as imagens formadas não eram estáveis, enegreciam conforme a exposição à luz, devido à sensibilidade ainda existente da prata (SALLES, 2008). Foi somente com a imagem produzida por Nièpce que a fotografia ganhou seu reconhecimento graças à estabilidade de fixação da imagem em uma superfície.

21 O conceito de câmara escura, precursora da câmera fotográfica, é descrita já por Leonardo Da Vinci no

século XVI. Na época, essa câmara escura consistia em um sala completamente escura, com um pequeno orifício em uma das paredes através do qual a luz passa, projetando imagens invertidas dos objetos externos na parede oposta à abertura. Posteriormente, tal dispositivo foi evoluindo até chegar em uma câmara escura portátil, uma caixa totalmente fechada com apenas um furo, tendo como princípio o mesmo da câmara escura em uma sala (SALLES, 2008).

Figura 8. Uma reprodução da primeira fotografia conhecida,

produzida por Nièpce em aproximadamente 1826.22

Entretanto, foi o francês Louis Jacques Mandé Daguerre o responsável pela disseminação da técnica fotográfica de maior qualidade. Os dois, Nièpce e Daguerre, formaram uma sociedade em nome da evolução do processo fotográfico iniciado naquele momento. Alguns anos depois, Nièpce faleceu e Daguerre e prosseguiu com as tentativas de uma melhor fixação da imagem sobre superfícies fotossensíveis e, assim como Nièpce, encontrou por acaso uma solução ao problema da nitidez e fixação na fotografia. De acordo com SALLES (2008), o processo consistia em uma chapa metálica tratada com vapores de iodo, que formavam um haleto de prata que, quando penetrado na chapa, tornava-a sensível. Posteriormente essa chapa era colocada na câmara escura, submetida a uma exposição que variava de 20 a 30 minutos em média. Decorrido o tempo após a exposição, o iodeto era colocado em contato com o vapor de mercúrio, fazendo com que a imagem surgisse na superfície, resultando no primeiro sistema de revelação fotográfica, o daguerreótipo, anunciado comercialmente quando François Arago, diretor do Observatório de Paris, comunicou a descoberta em 1839.

22 Disponível em: <http://www.fotografia-dg.com/fotografia-a-linha-do-tempo/>. Acesso em 06 Out.

Figura 9. Imagem a qual Daguerre considerava seu

primeiro daguerreótipo bem-sucedido.23

O daguerreótipo ficou massivamente conhecido, e apesar de ter como limitação o caráter único da imagem produzida – afinal, era produzida em uma única superfície opaca, sem chances de reprodução –, ele possuía inquestionável qualidade e nitidez.

Paralelamente, o inglês William Henry Fox Talbot, de acordo com Salles (2008), procurava desenvolver uma forma de fixar as imagens e ao mesmo tempo propiciar a sua reprodução. Seus estudos eram feitos utilizando o papel como superfície fixadora e, apesar de enfrentar muitos problemas inicialmente, conseguiu criar um sistema negativo-positivo, que chamou de calótipo. Este, inicialmente, não configurava quase nenhuma qualidade nas imagens se comparado ao daguerreótipo, haja vista sua característica propiciadora de várias cópias advindas de um mesmo negativo, culminando em certa vulgarização da imagem. Perante a elite, o daguerreótipo ainda era preferência.

Entretanto, o fator que transformou o daguerreótipo em desejo da sociedade na época, foi o mesmo que causou seu declínio conforme as demandas de produção aumentavam. A unicidade perdeu vez para a indústria, que fez com que a reprodução em larga escala dos retratos tomasse a frente da qualidade. Tratou-se então de construir formas de reprodução através do sistema negativo-positivo que constituíssem tanta

23 Disponível em:

<http://www.mnemocine.art.br/index.php?option=com_content&view=article&id=108:histfoto&catid=46 :fotohistoria&Itemid=68>. Acesso em 08 Out 2011

qualidade quanto o daguerreótipo, e que conseguissem suprir as demandas do mercado de produção.

Benjamin (1955) fala que com o advento do século XX as técnicas de reprodução atingiram um nível tão amplo que fizeram com que elas mesmas ganhassem um status de formas originais de arte. Tal reprodução está estreitamente ligada ao abalo da tradição em que a sociedade vivia e vive desde então, uma forma de se renovar e responder às transformações sociais e capitalistas, das quais as formas de percepção não eram nada mais que reflexo.

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