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O surgimento dos cursos de Matemática no Brasil e a situação hoje

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CAPÍTULO 1: Formação de Professores/as: processo histórico e revisão

1.2. O surgimento dos cursos de Matemática no Brasil e a situação hoje

Com a chegada da família real portuguesa no Brasil, em 1808, ocorreram diversas mudanças no cenário educacional brasileiro. Uma delas foi o início do ensino superior da Matemática.

D. João VI foi o responsável por esta institucionalização, que se deu por volta de 1810, com a criação da Academia Real Militar da Corte. Silva (2003) afirma que esta Academia era uma instituição de ensino e regime militar. O objetivo central era a formação de oficiais Topógrafos, Geógrafos, além de oficiais das armas de Engenharia, Infantaria, Cavalaria e Artilharia, sendo que todos estes oficiais eram formados para compor o exército.

Dentro desta Instituição, existia um curso destinado aos Artilheiros e aos Engenheiros, cuja duração total era de sete anos. Por sua vez, este curso era separado em dois: um Matemático com duração de quatro anos e o outro Militar com duração de três anos.

Para suprir as necessidades do curso de Matemática, a Academia Real teve como primeiro corpo docente onze professores titulares e cinco substitutos. Dentre eles Manoel Ferreira de Araújo Guimarães, um militar da marinha brasileira que se formou em Matemática na Academia Real da Marinha Portuguesa. O corpo docente em sua maioria era composto por militares/professores como Guimarães.

Com o passar dos anos e as novas necessidades educacionais do país, a Academia Real Militar se transformou em Escola Militar a qual, por sua vez, se transformou em Escola Central. Silva (2003) diz que este foi o grande marco do rompimento entre o ensino militar e o ensino das ciências, o que ocorreu no ano de1874. Neste mesmo ano,

com a nova reformulação do ensino, a Escola Central deu origem à Escola Politécnica, de âmbito civil, especializada nas engenharias e à Escola Militar da Praia Vermelha.

Somente na década de 1930, mais precisamente em 1934, que este cenário é alterado. No ano de 1934, por meio do Decreto 6.283, o governo de São Paulo cria a Universidade de São Paulo – USP, que em sua fundação já era composta pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a Escola Politécnica, a Faculdade de Direito, a Escola de Farmácia e Odontologia, a Escola Superior de Agronomia Luís de Queiroz, a Faculdade de Medicina e de alguns institutos de pesquisa, como o Instituto Butantã, como afirma Gomes (2016).

A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras era composta por três seções: uma de Filosofia, uma de Letras e uma de Ciências, que por sua vez eram divididas em subseções, todas elas descritas no Decreto 7.069 de 1935, no qual é aprovado o regulamento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Uma das subseções da Ciência era denominada Ciências Matemáticas, dividida basicamente em três cadeiras: 1) Geometria (Analítica e Projetiva) e Histórias da Matemática; 2) Análise Matemática; 3) Mecânica racional precedida de Cálculo Vetorial.

Neste novo contexto na Faculdade de Ciências, inicia-se uma nova etapa no ensino da Matemática no Brasil com a criação do primeiro curso de graduação em Matemática. Neste curso o objetivo central era a formação exclusivamente de matemáticos e de professores de Matemática. O que diferencia dos estudos realizados em Matemática no período de 1810 até 1934, nos quais o objetivo real, em sua maioria, era a formação de engenheiros. Para suprir as demandas geradas com o curso de Matemática, o Estado de São Paulo foi obrigado a importar capital intelectual para atuar neste, pois o Brasil era carente de professores. Um dos primeiros professores contratados foi o italiano Luigi Fantappié (1901-1956) que chegou no Brasil em julho de 1934.

Silva (2003) ressalta algumas ações que o matemático Fantappié realizou logo que chegou na USP. Uma delas foi a reformulação do Curso de Cálculo Infinitesimal e do curso de Geometria oferecidos pela Escola Politécnica, por exemplo, no curso de Cálculo Infinitesimal os alunos começariam com os estudos de números reais e terminariam com o estudo de equações diferenciais. Esta influência de Fantappié é tão grande, que a maior parte dos livros de Cálculo Infinitesimal da atualidade seguem esta linha de raciocínio.

Além de modificar alguns cursos, Luigi Fantappié passou a oferecer cursos não estudados no Brasil, naquela época, como Funcionais Analíticos, Teoria de Grupos

Contínuos, Teoria dos Números, Cálculo Diferencial Absoluto e Álgebra. Assim, a partir desta década começam a existir sinais da formação de uma escola matemática no Brasil.

No Decreto 7.069 de 1935, era assinalado a quantidade de anos do curso de Ciências Matemáticas e também o que deveria ser ministrado em cada ano. Segue esta descrição conforme estava escrito no documento:

Art. 9º. Será a seguinte seriação o curso de Ciências Matemáticas:

1º ano: Geometria (Analítica e Projetiva), Análise Matemática (1ª parte), Física Geral e Experimental (1ª parte), Cálculo Vetorial;

2º ano: Análise Matemática (2ª parte), Mecânica Racional, Física Geral e Experimental (2ª parte);

3º ano: Análise Matemática (3ª parte), Geometria, História da Matemáticas. (Decreto 7.069, 1935)

Vale ressaltar que neste primeiro curso, efetivamente, de Matemática, a sua matriz curricular era composta somente por disciplinas de cunho específico da Matemática. Isso só veio a mudar com a criação da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, por meio do Decreto 1.190 de 1939, que regulamentava a criação desta Faculdade e também os cursos de formação de professores/as do país.

Já foi mencionado no tópico anterior, embasado em Saviani (2009), o modelo que foi formulado após a aprovação deste documento, modelo este conhecido como sendo o “3+1”. O/A aluno/a cursava os três anos referentes a sua disciplina e depois cursava mais um ano do curso de didática, assim o/a mesmo/a recebia o título de licenciado/a e bacharel. Reza o artigo 20 do Decreto 1.190 que o curso de didática será de um ano e será composto pelas seguintes disciplinas: 1) Didática geral; 2) Didática especial; 3) Psicologia educacional; 4) Administração escolar; 5) Fundamentos biológicos da educação e 6) Fundamentos sociológicos da educação.

Mesmo com esta alteração e a inserção de um curso de didática para a preparação de professores/as fica evidente a supervalorização do matemático em detrimento do/a professor/a de Matemática. Neste mesmo sentido, Gomes (2016) afirma que a formação inicial de professores/as de Matemática, em nível superior no Brasil, é demarcada por uma trajetória, desde 1934, na qual uma formação Matemática num curso específico passa a se desenvolver prioritariamente na direção da pesquisa e a preparação de professores tem papel notoriamente menor.

Após a criação do primeiro curso de Matemática pela USP em 1934 e posteriormente com a criação da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil e a regulamentação dos cursos superiores que detinham interesse em formar

bacharéis e licenciados/as, houve um aumento significativo na oferta de novos cursos no Brasil. Substancialmente, a partir da década de 1960 a graduação em Matemática se expandiu por todo o país, afirma Silva (2003). Este mesmo autor associa esta expansão pela criação de vários programas de pós-graduação em Matemática, formando assim novos/as professores/as que poderiam ofertar novos cursos em seus locais de trabalho.

Ao ser feito um recorte no Estado de Goiás, percebe-se que esta lógica citada acima foi respeitada. O primeiro curso de graduação em Matemática (Licenciatura) foi aberto na Universidade Católica de Goiás – UCG – GO, atualmente Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC – GO, em 1961. Logo em seguida, em 1964, a Universidade Federal de Goiás – Campus Goiânia realiza a abertura da Licenciatura e do Bacharelado em Matemática.

No interior do Estado de Goiás, surgiram novas proposições de cursos em outras faculdades. É possível identificar a cidade, o ano e também a instituição que promove os cursos na Tabela 1. Todos os dados obtidos foram pesquisados no site oficial do MEC em “Acesso a informação”, com a condição de selecionar somente os cursos na forma presencial. Vale ressaltar que além da consulta feita no MEC, foram realizados cruzamentos de informações com as Instituições proponentes do curso de Matemática.

Nestes cruzamentos de informações aconteceram algumas incoerências. No site do MEC consta que o curso de Licenciatura em Matemática da PUC – GO foi aberto em 1974, algo que não é verdade. Em consulta na Universidade, foi possível descobrir que o curso foi aberto no ano de 1961. Outros fatos que podem ser relatados estão associados a oferta do curso. No site consta o nome de quatro Instituições que ofertam vagas para o curso de Licenciatura em Matemática (Uni evangélica, UNIVERSO, FACEC e FESURV). Ao entrar em contato com estas Instituições todas afirmaram que o curso já havia sido extinto.

Tabela 1: Instituições de Ensino Superior que ofertam a graduação em Matemática no Estado de Goiás.

Instituição Cidade Curso Ano de criação

PUC-GO Goiânia Licenciatura 1961

Universidade Federal de Goiás Goiânia Licenciatura e Bacharelado 1964 Catalão Licenciatura 1988 Jataí Licenciatura 1996 UEG Quirinópolis Licenciatura 01/03/1993 Iporá Licenciatura 01/02/1998 Morrinhos Licenciatura 01/03/1999 Cidade de Goiás Licenciatura 01/02/2000 Anápolis Licenciatura 21/02/2000 Formosa Licenciatura 21/02/2000 Jussara Licenciatura 21/02/2000 Porangatu Licenciatura 21/02/2000 Posse Licenciatura 21/02/2000 Santa Helena de Goiás Licenciatura 21/02/2000

IESGO Formosa Licenciatura 01/08/2001

UNIFAN Aparecida de

Goiânia

Licenciatura 08/12/2005

UNIDESC Luziânia Licenciatura 01/02/2007

IF Goiano Urutaí Licenciatura 11/09/2007

IFG Goiânia Licenciatura 24/02/2010

Valparaíso de Goiás

Licenciatura 02/03/2015

Fonte: Site do MEC, consultado em maio de 2017.

Desta forma é possível perceber que o Estado de Goiás conta hoje com 21 cursos de graduação em Matemática, sendo que 20 são cursos de Licenciatura em Matemática e 1 é de Bacharelado em Matemática. É inevitável dizer a discrepância que existe em relação a quantidade de cursos de Licenciaturas e Bacharelados.

Esta discrepância acontece também em nível nacional. Ao se fazer uma nova pesquisa nos cursos de graduação cadastrados no MEC, percebe-se a existência de, atualmente, 101 cursos de Bacharelado em Matemática e 777 cursos de Licenciatura em Matemática, na modalidade presencial. Se forem analisados os cursos nacionalmente, nas duas modalidades, presencial e à distância, o quadro não se altera, 102 cursos de Bacharelado em Matemática e 863 cursos de Licenciatura em Matemática, consequência de mudanças na legislação, que não cabe aqui discutir.

Ao contextualizar com a pesquisa em andamento, no ano de 2017, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – Campus Goiânia conta com aproximadamente 42 professores/as, entre professores/as efetivos/as e substitutos/as. Sendo que 35, de acordo com dados fornecidos pela Coordenação de área da Matemática da referida Instituição, são professores/as efetivos/as. Destes/as professores/as, aproximadamente 75% cursaram a licenciatura ou bacharelado em Matemática no Estado de Goiás. Ao analisar os valores absolutos, tem-se que:

 UFG: 18 professores/as  PUC: 7 professores/as  UEG: 1 professor/a  UFU: 2 professores/as  UFRN: 1 professor/a  UNESP: 1 professor/a

 Universidade Peruana: 1 professor/a

 Centro Universitário Patos de Minas: 1 professor/a

 Universidade do Alabama: 1 professor/a

Foram listados 33 professores/as, pois não foi possível identificar a graduação de dois professores/as por meio da Plataforma Lattes. Mesmo com estes dois dados inexistentes é perceptível que os professores/as que ministram aulas de Matemática no IFG – Campus Goiânia tiveram sua formação inicial em Matemática na UFG e na PUC, algo que seria até natural, pois estas duas Instituições permaneceram por mais de três décadas sendo as únicas, na oferta do curso de Licenciatura e de Bacharelado em Matemática na capital.

Após feito um resgate histórico da formação de professores/as e da formação de professores/as de Matemática no Brasil, parte-se para a apresentação de uma nova etapa da pesquisa que foi a busca sobre o que foi produzido a respeito da formação de professores/as e em específico da formação dos formadores/as de professores/as de matemática, temática central deste trabalho.

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