• Nenhum resultado encontrado

O tempo, a movimentação e a frequência da criança

Na Mesa de Desenho, o tempo é da criança; a movimentação é livre - o ir e o vir, o entrar e o sair são completamente aceitos pelo educador responsável por ela. Há crianças que participam todos os dias, e outras que não se interessam pelo espaço do desenho na primeira hora do dia (manhã - das 8h às 9h; tarde - das 13h às 14h). As crianças têm autonomia e liberdade de expressar seu desejo de integrar-se ou não a esse momento, o que não descarta a possibilidade de serem convidadas ou incentivadas por adultos e outras crianças a participar.

Embora já tivesse essas observações, ao iniciar a investigação da Mesa, sentia muitas dúvidas em relação aos movimentos, ao tempo e à frequência das crianças. Por isso, no segundo semestre de 2014, fiz uma análise quantitativa com a ajuda dos professores, no período que variou de sete dias (turma da tarde) e doze dias (período da manhã).

As anotações preliminares dos professores continham os seguintes itens, elaborados por mim: data, nome do profissional, procedimento, nome da criança que frequentou e os sinais (+ ou –) para sinalizar o tempo dela na atividade. Como algumas entram e saem muitas vezes da Mesa de Desenho, isso também foi sinalizado por alguns professores com uma estrela.

Com as primeiras observações foi possível perceber que todas as crianças, sem exceção, passaram pela Mesa de Desenho nos períodos averiguados. No período da tarde, em sete dias observados, há crianças que frequentaram a Mesa quase todos os dias (poucas), aquelas que frequentaram em média de três ou quatro dias (poucas) e aquelas que usufruíram um a dois dias (muitas). No período da manhã, em doze dias observados, a maioria frequentou de quatro a seis dias.

Sobre a frequência e os interesses das crianças pela Mesa, há também outras observações que incorporei a trechos de relatórios feitos por professores para os pais. Muito em consonância com algumas de minhas observações, esses relatos são dos professores que trabalham com crianças de um a três anos de idade; grupos que coordeno mais diretamente e a cujos planejamentos, sínteses e relatórios tenho acesso.

Há Mesas que se distinguem por grupos etários, ou por gênero – só de meninas ou só de meninos. Há ainda as que se definem pelo professor que está na função. Por exemplo, se o professor é do G2, é quase certo que muitas crianças de dois anos passem por lá; isso é um dado interessante que justifica o rodízio dos professores no espaço; já que, de alguma forma, queremos que todos experienciem o lugar.

Frequenta a Mesa de Desenho, bem como todo o grupo. Por vezes, esta é sua primeira atividade no dia, já que quase sempre há um adulto com quem tem vínculo ou alguma criança do grupo desenhando nesse local, como Zoe, por exemplo. Dessa forma, Marina se aproxima da mesa e experimenta seus traços com os materiais disponíveis no dia. Cabe dizer que noto um gosto pelos lápis e certa recorrência em usar cores quentes. (Relatório Professor Pedro - G1G2)

Os materiais também chamam a atenção – a tinta, por exemplo, é um cha- mariz - principalmente para as crianças que, normalmente, não frequentam a Mesa.

Aprecia participar da Mesa de Desenho, que é montada para a recepção das crianças no Quintal e, lá, experimenta novos materiais plásticos e interage com outras crianças e adultos. (Relatório Professora Sandra G2)

Os professores reafirmaram para mim algo de que já suspeitava e pude constatar na proximidade da pesquisa – as crianças que mais frequentam a Mesa são aquelas que não perdem por nada as Oficinas de Arte, mesmo quando estas são de livre escolha. Ou seja, são crianças que adoram desenhar ou construir, que veem nessa atividade uma oportunidade de se expressar, de adquirir habilidades, de se relacionar com o outro e com os materiais; normalmente são aquelas que ficam uma hora na atividade, se dedicam e têm enorme atenção e prazer no seu fazer.

Atualmente, ao chegar, guarda os pertences e logo se dirige para nos cumprimentar. Stella não demora muito para escolher o que fazer, e a Mesa de Desenho é, geralmente, o primeiro lugar em que fica envolvida; interage com crianças e adultos que ali se encontram. Após desenhar com gizes coloridos, dobra o papel e pergunta se pode levar para casa; assim, acumula na mochila diversos papéis. (Relatório Professora Fabiana G2)

Ao desenhar, experimenta diversas estruturas de movimento. As linhas se sobrepõem umas às outras, delimitam áreas, aparecem espirais, traços paralelos, dentados, simulações de escrita, pontos... É uma pesquisa intensa e extremamente delicada! Ao combinar alguns elementos, muitas vezes, surgem formas e figuras humanas, que representam histórias conhecidas ou imaginárias. A Mesa de Desenho é visitada todos os dias, pois faz questão de fazer muitos desenhos para presentear os pais e os amigos. (Relatório Professora Silvia - G3)

Há aquelas que frequentam porque são muito tímidas, sentem mais dificuldade em interagir e encontram na Mesa um canto particular, menos coletivo para iniciar o dia.

Fez um desenho na Mesa de Desenhos e disse que era o Rio de Janeiro, o mar e a Roda Branca. Fantasiou-se com chapéu de bombeiro e capa. Não precisei ficar o tempo todo ao seu lado, pois teve momentos em que Lorenzo brincou também sozinho. (Relatório Professora Ana - G3)

Nesse grupo estão também as crianças que preferem interagir com o adulto – conversam muito, produzem pouco, e querem atenção quase exclusiva de quem lá se encontra. Como o professor está muitas vezes sentado à Mesa, é “prato cheio” para elas, que apreciam a exclusividade.

A Mesa também pode ser um lugar de espera ou de encontro – são crianças que permanecem nela o tempo exato da chegada ou permanência do amigo. Nesse caso, para aquelas que vão exclusivamente por esse interesse é comum não produzirem muito; preferem olhar e conversar.

A Mesa de Desenho é um ponto de encontro dela com Heitor, Lucas e Alice; juntos, narram os desenhos e contam suas histórias. (Relatório Prof. Priscila - G3) Logo procura um aparelho telefônico, algum computador ou ainda um pedaço de qualquer tipo de mangueira para fazer de aspirador. Pedro também aprecia em alguns momentos trabalhar na Mesa de Desenho, uma vez que, geralmente, é convidado pela irmã e suas amigas do Grupo 6. (Relatório professora Sandra - G2)

Há também as menos interessadas pelas brincadeiras corporais, que se sentem mais seguras ao iniciar o seu brincar sentadas à Mesa. Essas crianças tendem a ficar por muito tempo paradas e, nesses casos, existe uma atenção dos professores para incentivá-las a sair da Mesa; elas produzem bastante. Por outro lado, há aquelas que precisam ser convidadas a participar da Mesa, pois preferem notadamente a exploração do Caminho, Brinquedão ou Tanque de Areia.

Tem apreço pelo Tanque de Areia e pelo Brinquedão. Ultimamente tem frequentado a Mesa de Desenho, onde gosta de rabiscar e estar próxima aos amigos de sua turma – Zoe, Bia e Teresa, também assíduas desse espaço. (Relatório Professor Pedro - G1G2)

Não identifiquei nenhum indício de diferenças de predileção por estar na Mesa, em relação a idade ou gênero. Um dado muito importante, bastante observável durante as filmagens, foi que as Mesas mais atrativas para as crianças eram aquelas em que a presença do professor era mais longa e intensa: atento ao fazer da criança, à interação, à solicitude para acesso ao material; que priorizava o elogio, o convite, a ajuda em relação a alguma dificuldade, entre outros aspectos – sobre isso, abordarei mais à frente.