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II. Roberto Arlt: cronista/viageiro

3.2 Pelos caminhos da Andaluzia

3.2.1 O trabalho e os dias

As relações do homem com o trabalho é um tema recorrente na obra de Roberto Arlt. Profissões e ofícios são representados tanto na sua produção literária quanto jornalística. Nas crônicas dedicadas a esse tema, em geral, se ocupa em descrever as características de determinada profissão e as condições de trabalho do indivíduo ou, simplesmente, mostrar o profissional em ação. Nos textos de viagem não foi diferente, é nítido o seu interesse pelo mundo do trabalho. A atividade laboral aparece, principalmente, na descrição que busca captar o cotidiano das cidades e bairros por onde passa,

Los rapabarbas, a la puerta del mercado, en la vereda, afeitan a sus clientes, mientras el aprendiz de Barbero, aguarda para acercar la bacía, que don

Quijote confundió con el yelmo de Mambrino, y en la cual, como en los

tiempos manchegos, el vecino se remoja la cara. […] Carboneros renegridos, asoman a la puerta de sus cuevas, semejantes a demonios; en las escuelas particulares, sentados en sillitas de paja, repiten la lección sesenta o setenta alumnos que forman el aula, siguiendo con los ojos, la vara de la maestra, que señala el pizarrón. (“Cerámica de Triana”, 04/06/1935, grifo nosso)

Arlt privilegia o retrato em que se destacam imagens do povo em suas tarefas diárias, nele é possível perceber os mais diversos ofícios: cozinheiras, vendedores, açougueiros, motoristas, pescadores, donas-de-casa, professores, carvoeiros, barbeiros. Todos aparecem no exercício de sua função. Alguns desses ofícios, como no caso do barbeiro, no trecho acima, conservam uma prática ancestral que o cronista reconhece, como tal, graças à literatura. Arlt mantém com a realidade que o circunda uma dupla relação: “por un lado se inspira en ciertos paisajes y situaciones y por outro los ve, igual que a sus personajes ficcticios, bajo la mirada literaria”, (GNUTZMANN, 2004) como no trecho destacado acima, ou quando no caminho entre Cádiz e Barbate, ao reconhecer no campo espanhol a paisagem estampada nas figurinhas que acompanhavam os folhetins, exclama: “Estas son las tierras de José María el Tempranillo y del bandido Diego Corrientes.” (“De Cádiz a Barbate”, 17/04/1935)

Os pescadores de Barbate

A partir de Cádiz, Arlt começa o périplo pela Andaluzia. O cronista parte dessa cidade com destino a Barbate, cidade litorânea que concentra na pesca sua principal atividade econômica, ali deseja embarcar como repórter em uma trainera para descrever o trabalho dos pescadores.

Na série sobre a pesca em Barbate, Arlt, além de mostrar a rotina dos pescadores, exibe também o trabalho do repórter investigativo que se submete às condições mais adversas para executar seu trabalho. A série começa com a crônica “En busca de un patrón de barco” (18/04/1935), que, como o próprio título anuncia, narra as estratégias do cronista para conseguir um barqueiro que o aceite em sua embarcação, para que ele possa observar, perguntar, fotografar, e, posteriormente, relatar um dia de pesca da sardinha. Nessa crônica, aparece, pela primeira vez, a presença de sua máquina de escrever, objeto de trabalho que, simbolicamente, o identifica como escritor/jornalista, expondo, desse modo sua profissão.

O relato da pesca está dividido em duas crônicas: “Pesca de la sardina” (19/09/1935) e “Mar afuera en una trainera” (20/04/1935). Uma vez no barco, enquanto este se dirige ao ponto onde estão os bancos de sardinha, Arlt passa a descrever detalhadamente as ferramentas e etapas da atividade pesqueira, exibindo assim, o trabalho de investigação jornalística. Antes do amanhecer, começa a sofrer os efeitos do mal de mar, enjôos que acometem aos que não estão acostumados ao movimento do barco. A partir desse ponto, a narração da pesca é intercalada pela narração do sofrimento do cronista que, apesar do mareio, insiste em tentar acompanhar todos os movimentos dos pescadores e do barco.

A opção de Roberto Arlt em relatar sua experiência como repórter, mesclada ao texto/reportagem sobre a pesca, divide a atenção do leitor que, ao mesmo tempo em que se informa sobre a rotina dos pescadores, acompanha a aventura do cronista em sua desastrada tentativa de investigar in loco a atividade pesqueira. A evolução da pesca e, o mal-estar do cronista caminham em um ritmo crescente que culmina com a captura das sardinhas e o total desfalecimento do cronista:

[voz dos pescadores]-Las gaviotas han visto algo. Atentos al arte. Afloja, afloja...

La última vez que abro los ojos, es para ver los hombres descalzos, en torno de la red que tienen un fondo de plata saltarín. Son las sardinas plateadas. Las toman en cubos y las arrojan al fondo de la trainera.

Hago un último esfuerzo; tomo fotografías, luego me tiro en el empaletado de la proa, al sol, y duermo despierto, escuchando las voces de los hombres,

el graznar de las gaviotas; pero sin fuerzas ni para abrir los ojos. (“Mar afuera en una trainera”, 20/04/1935)

Se separarmos a descrição do trabalho da pesca da aventura do cronista, teremos dois textos completos e independentes que narram a rotina e as vicissitudes de ambas às profissões.

Terminada a aventura, Arlt dedica a crônica seguinte (“Vida de los pescadores de Barbate”, 21/04/1935) a fornecer dados sobre as condições de trabalho dos pescadores: remuneração, horários, roupa de trabalho e o que comem, enquanto estão no mar. São informações que prescindiam do acompanhamento de uma pescaria uma vez que ele as conseguiu com entrevistas em terra firme.

Arlt destaca, também, o trabalho do Tercio, grupo de homens a quem “no se le hacen, [...] preguntas indiscretas”, que tem como tarefa puxar os barcos até a areia. O trabalho é executado de forma primitiva e não emprega nenhuma ferramenta além de cordas, troncos roliços e a tração humana. As tentativas de empregar máquinas que pudessem facilitar o serviço foram rejeitadas pela população que,

[…] con excelente buen sentido, opinó, era menos peligroso tener ganando a los hombres del Tercio, esa misma suma, que holgando por el pueblo con peligro de las precarias haciendas. Mediaron los pescadores y hubo que abandonar toda tentativa de reforma.(ibid)

Esse apego à tradição, que leva à conservação de técnicas de trabalho primitivas, que remontam há séculos, exibe o atraso tecnológico no qual vive o país. Neste caso, trata-se de uma situação que independe de ações políticas e governamentais, pois não há uma vontade popular a favor de reformas. (GRANATA, 2002). A aprovação do cronista a essa resistência às reformas, manifestada na expressão “con excelente buen sentido”, mostra sua crítica ao progresso – que aparece também nas “Aguafuertes Porteñas”76 – que leva ao desemprego, à

destruição do espaço familiar, à decadência que chega de forma acelerada.

Outros ofícios atraíram a atenção do cronista, mas não mereceram o mesmo rigor investigativo que dedicou aos profissionais da pesca. Em visita ao bairro de Triana, tradicional reduto de ceramistas artesãos, o que impressiona Arlt é a manutenção das técnicas de fabricação da cerâmica que se conservam inalteradas há séculos, “Los estilos de labor de

76 Cf. “Molinos de viento en flores”, Grúas abandonadas en la Isla Maciel”, “Las angustias del fotógrafo”, “La

los andaluces actuales, son semejantes a los que empleaban los andaluces musulmanes del siglo XII y XV. (“Cerámica de Triana”, 04/06/1935)

A visita às oficinas desses artesãos proporciona ao cronista a oportunidade de conhecer técnicas seculares do feitio da cerâmica decorativa. Sua fascinação pelos elementos químicos e pela produção técnica o leva a descrever a confecção artesanal da cerâmica passo a passo, deixando de lado as informações que dizem respeito às condições de trabalho.

Na cidade de Granada, Arlt visita as oficinas dos guadamecileros, artesãos que trabalham na arte de imprimir desenhos em relevo no couro e no metal. Assim como os ceramistas, esses artesãos cultivam técnicas ancestrais. São “continuadores de los guadamecileros españoles del siglo XVI, que a su vez eran continuadores de los guadamecileros moros, cordobeses o granadinos” (“Turismo satandard y „Pato‟”, 04/09/1935). Na mesma rua funciona a oficina de bordado a mão. Tanto as bordadeiras quanto os artesãos passam por momentos difíceis em suas atividades. Nesse texto, as condições de trabalho e a crise social voltam a ser o tema.

3.2.2 Festas

Roberto Arlt percorreu a Andaluzia durante a primavera de 1935. É nessa estação do ano que acontecem as principais festas na região. Seu percurso pela Andaluzia festiva contempla celebrações religiosas, que apesar do fervor católico, são mescladas com manifestações pagãs, feiras que misturam comércio e diversão além do tradicional espetáculo taurino. A proximidade entre os festejos é, talvez, o fator responsável pelo estereótipo da alegria perene e de país sempre em festa.

Semana Santa em Sevilha

As festividades da Semana Santa, em Sevilha, receberam do cronista maior atenção que as demais. Em uma série de oito crônicas, Arlt mostra a importância da celebração, de origem religiosa, mas de forte apelo turístico. As festas mobilizam a sevilhanos e espanhóis de todo o país, que afluem para a cidade, a fim de acompanhar os desfiles.

Arlt, no texto “Semana Santa en Sevilla” (28/04/1935), antecipa a magnitude do festejo que descreve com detalhes nas crônicas seguintes, mostrando toda a movimentação do

sevilhano com os preparativos. A enumeração frenética das atividades transmite o ritmo que transforma a cidade para receber peregrinos e turistas. Com o mesmo recurso, lista à exaustão, a movimentação dos turistas e, principalmente, dos ambulantes, para quem a festa é mais trabalho do que diversão:

Un estrépito infernal sopla su fuelle en todas las calles. Fabricantes de churros han instalado sus carpas en las plazas y bocacalles, y hasta altas horas de la noche fríen en sus enormes cacharros, de los que se desprende una rígida columna de humo grasiento. Voces. Voces infatigables. Gritan los vendedores de corujos, maníes, roscas, mariscos, patatas fritas, avellanas, jeringos, pasteles, agua; gritan los vendedores de helados, pollos, bocadillos, barquillos, torrijas y guindas; circulan entre la multitud voceando su mercancía y haciendo crujir sus cestas, cajones, bandejas y palos, los fotógrafos ambulantes, los corbateros, los lustrabotas, los niños harapientos, los ciegos que tocan la guitarra, los pañueleros, los globeros y los vendedores de pirulines. Los órganos, financiados por cojos y mancos, lanzan al aire sus chotis, y pasan mujeres con peinetas fabulosas y mantillas pegadas a las ondulaciones de sus preciosos costados, y también pasan inglesas, americanos, familias de gallegos, alemanes con pantalón de golf, norteamericanos con suéter, gitanos con perro, un caballo rengo y un mono de ancas peladas, y también pasan curas, hermanos de cofradías con el capirote en la mano. El caos, el disloque. (“Pueblo y aristocracia...”, 02/05/1935)

Arlt explica, minuciosamente, em que consistem os pasos, – grandes andores que chegam a medir seis metros de comprimento por três metros de largura, alcançando, quando completo com as imagens dos santos, tapetes e adereços, quatro toneladas – os personagens que integram o desfile e suas funções, em dois textos repetitivos. O que diz no primeiro “Quién son y cómo se organizan los pasos…” (29/04/1935), retoma no seguinte “El esplendor de Arabia...” (30/04/1935), com poucas ampliações. As reiterações temáticas ou informativas, nos textos que compõem o corpus, quando ocorrem, são mediadas por uma distância temporal e, em geral, revelam um acúmulo de experiência e, por conseguinte, uma mudança de perspectiva, ou ainda como mensagens quase subliminares, como no caso da representação da miséria, já comentada neste trabalho. Nas crônicas em questão, os elementos reiterados, que são a descrição dos pasos, dos nazarenos, das jóias verdadeiras que ornamentam as imagens e, da escolta feita pela guarda civil, que as protege, representam no nível discursivo a monotonia dos desfiles.

Na afirmação do cronista: “en la soledad del cuarto donde preparo urgentemente estas notas, […] después de haber visto el desfile de ochenta “pasos” en seis días, afirmo que nada semejante puede presenciarse en el mundo” (“Semana Santa en Sevilla”, grifo nosso), o

trecho em destaque realça o caráter excessivo e monótono dos desfiles. Em nenhum momento o cronista se mostra entusiasmado pela festa religiosa, a assertiva final da citação acima aponta para a singularidade do evento, mas que não denota uma apreciação positiva, tampouco negativa. O cronista não compartilha da euforia pela festa que toma conta da população e dos turistas em geral, mas não se exime de relatá-la. Impressiona-lhe a manifestação de fé e a emoção com que alguns acompanham o desfile dos pasos, não falta na descrição a imagem hiperbólica:

[…] y los aplausos revientan en las manos, y lágrimas gordas como guisantes ruedan por muchas mejillas. Algunas caen de rodillas y rezan; otros, se apoyan sobre los hombros de un vecino y sollozan. ¡Es magnífico y terrible! (“El esplendor de Arabia...”)

Para Arlt, digno de admiração é o efeito que a passagem do paso causa na alma do crente. As manifestações do sentimento popular ultrapassam, em interesse, as da liturgia católica.

Essa comoção que leva às lagrimas contrasta com o total desinteresse da elite local pelo cortejo religioso. Convidado por uma autoridade local a ocupar um lugar no camarote oficial no qual “la crema de la sociedad sevillana hace sociabilidad” (“Pueblo y aristocracia...”, 02/05/1935), Arlt se dedica a observar ao seu redor e comprova que “De la emoción popular que vibra quinientos metros más abajo en la Campana, nada resta aquí. El acto del desfile sacro se ha convertido en una reunión social.” (ibid).

A emoção popular, inexistente no camarote, Arlt encontra na periferia da festa. O cronista recolhe uma série de episódios curiosos relacionados às rivalidades entre as confradías e aos excessos, provocados pela bebida pós-desfile, quando, realmente, a festa começa.77 A manifestação popular atrai o cronista de maneira especial, por isso Arlt não deixa de retratar o espetáculo que o povo proporciona na periferia da festa, fora do circuito oficial. Terminado o desfile, os carregadores do paso o estacionam na rua e descansam, bebendo vinho ofertado por simpatizantes e servido pelos nazarenos. As imagens das virgens, estacionadas na rua, ao alcance do público, leva a este, arrebatado de júbilo, a dedicar-lhes

77 O anedotário da Semana Santa, que focaliza a festa em seu aspecto mais pagão, parece despertar mais interesse

nos escritores/viageiros do que as festividades oficiais da liturgia católica. Assim como Roberto Arlt, Rubén Darío (1987, p.111) também ressaltou a mescla de religiosidade e paganismo na celebração da Semana Santa, “Pero junto a todas esas manifestaciones de religiosidad nefasta y [los martirios] milenárias encontaréis siempre la guitarra y el vino. [...] En ciertas procesiones andaluzas hay pleitos por si una Santa Virgen vale más que otra…”. Cf. também em Oliverio Girondo, Veinte poemas para ser leído en el tranvía. Calcomanías, os poemas “Semana Santa” e, especialmente, “Sevillano”, em que ele ridiculariza o rito sagrado.

compungidas saetas, provocando, aos que assistem à cena, emoção que rivaliza com a proporcionada pelo espetáculo oficial:

Comienza a cantar un gitano, […] no se entiende lo que dice, pero canta con una emoción tan espantosa y fúnebre, que un nazareno, del sufrimiento y la exaltación, de un golpe contra las piedras tuerce la vara plateada de su insignia, y luego se coge la cabeza con las manos crispadas de furor. La gente revienta en aplausos y el hombre gordo, desde el balcón, canta también otra saeta, y los criados reparten vasos entre los servidores de la Virgen Gitana, que […] hace exclamar con enternecimiento, a la gente que la contempla:

-Pero, ¡mira qué hermosa es! ¡Anda, bendita, habla! (ibid)

O cronista percebe que há no católico espanhol mais paixão por aquilo que a passagem dos pasos tem de espetáculo do que por sua representação da religiosidade. Arlt recorre à ambientação teatral para retratar o desfile do último paso, fazendo de sua passagem um apoteótico final que encerra os seis dias de festa. Turistas e sevilhanos se convertem em espectadores que aguardam com ansiedade o início do derradeiro espetáculo:

Dos de la madrugada en la poligonal plazuela de San Lorenzo. La multitud aguarda la salida de Jesús del Gran Poder. Luna de agua plateada en las alturas. Palmeras. Balcones arracimados de gente. Azoteas, balaustradas dentadas de espectadores. […] fachadas obscuras, interiores clareados, mostrando roperos; familias en torno de las mesas en los segundos pisos. En un estante de cedro se ven los potes de porcelana de un droguero. Las casas celestes por fuera y violentamente iluminadas por dentro. Tienen un quimérico aspecto de cubos de cartón, situados en un escenario. […] Suena una campanada. Simultáneamente se apagan las lámparas de todas las casas; los focos de las calles. Permanecemos en tinieblas compactas. La multitud retiene su respiración. Silencio absoluto. Otra campanada. Bruscamente las hojas del pórtico de la iglesia se abren, y tieso, en fundo de neblina amarilla, un alto crucito de oro macizo. Es Jesús del Gran Poder. Tableteo frenético de aplausos. Gritos unánimes angustiadísimos. (Último día. El Jesús del Gran

Poder… 12/05/1935)

Estão presentes no trecho citado todos os elementos relacionados ao teatro: o palco, o cenário, o público; e os procedimentos que antecedem uma função teatral: soa a campainha que anuncia o início do espetáculo, apagam-se as luzes, silêncio, expectativa do público, segundo aviso, a abertura das cortinas, começa o espetáculo, os atores entram em cena, aplausos da platéia.78

78

A aproximação dos atos sagrados católicos ao teatro, um dos temas do barroco, aparece descrita em Calderón de la Barca, no texto El gran teatro del mundo. Cf. Calderón de la Barca. El gran teatro del mundo. Madrid: Cátedra, 1989.

Na série sobre a Semana Santa, o cronista procurou abordar a festa em todos os seus aspectos: o turístico, o religioso, o pagão, o popular, o elitista, o anedótico e o espetacular. Pôde acompanhar os desfiles de vários pontos de observação, no que resultou as diferentes visões da festa: a comoção popular, na rua, junto à multidão; o desinteresse e exibicionismo, no camarote, ao lado da elite sevilhana; o desfile-espetáculo, vislumbrado de algum balcão, e, por fim a periferia da festa, sobre a qual conclui: “en este culto litúrgico, habitualmente popular, radica el éxito de la Semana Santa de Sevilla, en la cual participan indistintamente todas las clases sociales” (“Pueblo y aritocracia...”02/05/1935).

Feira de Sevilha

Poucos dias depois da Semana Santa, acontece a Feira de Sevilha, uma mistura de negócios e diversão, que teve origem em 1846 como uma feira anual para comercialização de gado. A Feira não entusiasmou o cronista que a julgou artisticamente pobre. Talvez essa percepção negativa com relação à festa se deva ao curto intervalo de tempo entre esta e a Semana Santa. Mesmo não havendo compartilhado da euforia do sevilhano, quando da celebração religiosa, esta como espetáculo, não lhe foi indiferente. Além disso, o caráter comercial da feira permitiu ao cronista uma crítica mais explícita, ao passo que a Semana Santa isso não foi possível.

Arlt descreve as atividades que se desenvolvem durante a feira, presta especial atenção às tendas, feitas de tecido e papel, em que se alojam as famílias durante os quatro dias que dura o evento. Ao descrevê-las como “vivendas cenográficas”, acentua o caráter teatral, no sentido de falso, pouco autêntico. Reconhece nas tendas a reprodução do pátio andaluz, mas o pátio de sainete, pois lhe parece que há um excesso de estilização. Compara as roupas usadas pelas mulheres, vestidas “a la manera gitana”, e o cenário da Feira ao Carnaval, ou seja, o sevilhano, ali representado, está como que disfarçado, fantasiado. Não deixa de notar a presença do camponês pobre e do cigano que se alojam atrás das tendas, ao seu aberto, quase sempre dividindo o espaço com seus animais.

Touradas

O espetáculo taurino, uma das expressões da cultura hispânica, provoca, naqueles que o assistem, apenas dois sentimentos possíveis: o fascínio ou a repulsa. Alguns escritores, na tentativa de não polemizar sobre o assunto adiam o momento de se posicionar com relação ao evento. 79 Roberto Arlt, ao tratar do tema, seguiu a mesma estratégia. Vejamos o parágrafo que inicia a série dedicada às touradas:

No conozco angustia que más agote y quebrante el sistema nervioso, que la