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II. Roberto Arlt: cronista/viageiro

3.2 Pelos caminhos da Andaluzia

3.2.4 Viagem ao passado

Viajar pela Andaluzia e por toda Espanha, como comprovará Roberto Arlt durante seu périplo, é também viajar a tempos pretéritos. O passado medieval e mouro, que os românticos tanto buscavam em terras espanholas e que, posteriormente, registraram em seus livros de viagem, não foi ignorado pelo cronista. No entanto, a visão de elementos da modernidade, inseridos no espaço arquitetônico medieval, causou estranhamento no viageiro Roberto Arlt:

Y como la edad actual ha ubicado sus tranvías, carteles, talleres y altoparlantes en la ciudad antigua, es por ello que el visitante descubre la extrañeza de vivir aquí, entre el ayer de otros siglos y el hoy tan desligado de aquellos tiempos muertos y, sin embargo, presentes en el testimonio de cada piedra. (ibid)

O cronista em seu duplo deambular, espacial e temporal, ao mesmo tempo em que circula pelas ruas de Sevilha, recupera lendas e histórias gravadas no imaginário popular e também registradas nas crônicas históricas. A rua del Candijero, situada no bairro de Santa Cruz, guarda a anedota bastante popular: “La cabeza del Rey Don Pedro”. Segundo García- Montón (2000, p. 276) essa historia se repete em quase todos os relatos de viajantes do século

XIX81. O que chama a atenção na versão de Arlt é a citação do texto de Pero Lopez de Ayala,82

Lope de Ayala que sirvió a don Pedro el Cruel, escribe de su amo: “E fue el Rey don Pedro azas grande cuerpo, e blanco e rubio, e ceceaba en poco en la fabla. Fue mui sofridor de trabajos. Era muy templado e bien acostumbrado en el comer e beber. Dormía poco e amó mucho a mujeres”. […]He aquí la historia, tal cual narran los cronicones. (“La cabeza del Rey Don Pedro”, 17/006/1935)

O cronista desveste a anedota de seu aspecto lendário ao citar a crônica do século XIV e, automaticamente, lhe confere status histórico. Arlt, assim como os viageiros que o antecederam, visitou o Archivo de Indias, e pode, portanto, documentar-se para escrever alguns de seus textos83, como foi o caso do mencionado acima. Outro aspecto importante, é a preocupação em marcar a localização exata onde os fatos ocorreram,

Una vejezuela, que vivía en el primer piso de un edificio, cuya planta baja ocupa hoy un vendedor de leche de cabra, reconoció al Rey a la luz de su candilejo de aceite, (que aún permanece colgado de la reja en la calle llamada del Candilejo). (ibid)

O espaço histórico permanece, segundo o cronista, inalterado. A afirmação que aparece entre parêntesis tenta confirmar a imutabilidade do espaço no qual se desenrolaram os fatos. Na impossibilidade de contar com o testemunho da velha, instala na narrativa a lamparina com essa função, como se fosse possível que tal objeto durasse tanto. A inverossimilitude do fato nos leva a crer que Arlt prega uma burla no leitor e transforma a crônica (no sentido histórico) do rei Don Pedro em um “causo”.

O interesse pelo espaço histórico e pelas lendas que o reveste abre caminho para a descrição de alguns monumentos turísticos, tema desprezado pelo cronista até então. A Giralda, atual campanário da catedral de Sevilha, que foi construída originalmente como minarete, é o tema da crônica “La ofrenda de Almazor a Alá” (10/06/1935). Nesse texto, Arlt utiliza o recurso da ironia para mostrar os contrastes que fazem parte da história desse monumento, desde a sua construção até os dias atuais. Arlt efetua um corte temporal que divide a crônica em duas partes que podem ser lidas como dois textos independentes: a

81 Sanhueza Lizardi a cita em Viaje en España (1886, pp. 190-193).

82 Foi servidor do rei Don Pedro I e autor de crônicas que contam a história dos reis de Castela.

83 Ainda que não mencione sua visita ao Archivo, esta foi documentada no artigo “Un panorama de evocación

primeira narra a história da construção da Giralda e de seu idealizador “El andaluz Jacobo Abu Juceph Almanzor, Comendador de los Creyentes, Califa de Andalucía” (“La ofrenda...”); a segunda descreve a Giralda atual a partir do passeio do cronista.

O cronista ao revelar que a construção da torre, monumento ligado tanto ao islamismo quanto ao catolicismo, se deve a um sangrento massacre mostra a estreita ligação entre a guerra e a religião:

Después de haber vencido a los cristianos españoles, en la batalla de Alarcos, haciendo degollar a los vencidos en una vendimia tan recia, que sus soldados berberiscos pudieron levantar pirámides de cabezas cortadas y jugar con ellas a los bolos, al califa quiso darle las gracias al Eterno por la victoria que le concedió, y el día 13 del mes de Safar, del año 580 de la

Hégira, numerosos cautivos cristianos, graciosamente estimulados por los

bastones de los capataces que se quebraban en sus espaldas, comenzaron a cavar los cimientos de lo que hoy se denomina la Giralda, (ibid, grifo nosso)

O uso do calendário islâmico e as expressões de graças ao Eterno, que aparecem três vezes ao longo da primeira parte do texto, revelam que Arlt narra a construção da torre de outro lugar que não o da história Ocidental. Assim como havia feito com a lenda do rei Don Pedro, contada a partir da crônica histórica do século XIV, Arlt narra, no caso da Giralda, a partir da crônica islâmica, na qual o califa aparece como um homem empreendedor “que acostumbraba terminar sus empresas a conciencia” e não como um invasor árabe, papel que lhe caberia se a perspectiva histórica fosse a ocidental/cristã.

Para conferir autoridade ao texto, Arlt recorre às palavras (testemonia) de “Ebn-Said, autor del siglo XII”. Repetindo, assim, o gesto anterior feito com relação a Pero Lopez de Ayala.

Terminado o preâmbulo histórico, o cronista inicia sua excursão pela Giralda atual. Como qualquer atração turística, é necessário pagar para visitá-la. Quem recebe tal pagamento é “una robusta mujer, la consorte del campanero, que plancha las camisas de su honorable cónyuge”. Descobre que, por causa do elevado número de suicídios, deve subir acompanhado por um “cuidador de suicidas”. O adjetivo honorable, qualificativo próprio ao califa Almanzor, deslocado da primeira parte do texto, designa, ironicamente, o sineiro, marcando a passagem do grandioso ao prosaico.

O contraste entre passado histórico, representado na figura do califa Jacobo Abu Juceph Almanzor, e o presente representado na prosaica cena da mulher que cobra o ingresso

para o acesso à torre, enquanto cumpre as tarefas domésticas, mostra o efeito da passagem do tempo na utilização desse espaço público e a perda de sua importância como símbolo de poder político e religioso, representados por muçulmanos e cristãos que se revezaram no controle da região. De minarete, ocupado pelo muezim que convocava os fiéis à oração, a campanário, que apesar manter a função inicial, acumula duas outras: atração turística, mediante pagamento84, e trampolim de suicida. A Giralda atual conserva de seu passado apenas a grandiosidade de sua construção.

Na viagem proposta por Roberto Arlt percorrer os monumentos não é prioridade, mesmo assim, o cronista não se eximiu de visitar e descrever alguns, como a Giralda, mencionada acima; a catedral de Cádiz, ainda no começo da viagem; e as ruínas da cidade romana de Ítalica, a qual dedica uma crônica. O caso do palácio árabe Alhambra chama a atenção, não pela ausência de sua descrição, mas sim, pela explícita recusa em tratar do assunto. Arlt poderia ignorar o monumento como o fez com tantos outros, simplesmente deixando de citá-los. No entanto, com a Alhambra agiu, justamente, ao contrario: para marcar a ausência, impregnou o texto com a presença do palácio citando-o repetidas vezes, não para exaltar sua importância como se poderia supor:

Altos de Granada, a espaldas del parque de la Alhambra, en el barranco del Abogado. (“Trogloditas de Granada…”, 28/08/1935)

A un costado del parque de la Alhambra, en el mismo camino que se toma para ir al “Barranco del Abogado”… (“Trato de visitar a Falla…”, 01/09/1935)

En la cuesta de Gomeres, la empinada calleja que conduce al arco que da entrada al tupido bosque que rodea el altozano donde se encuentra edificada la Alhambra… (“Turismo standard…”, 04/09/1935)

Desde la calleja con farolas oxidadas, se divisan las rojizas torres de la Alhambra y sus ventanales sin marcos, ojivando escudos de cielo desolado… (“Gitanas del Sacro Monte…”, 05/09/1935)

O famoso palácio, considerado ponto de visita obrigatório da cidade de Granada, registrado em, praticamente, todos os relatos de viageiros85, que por ali passaram sob a escrita de

84 Antônio de Alcântara Machado no fragmento “religião e pesetas”, de Pathé Baby (1926) critica com ironia a

exploração turística de alguns monumentos religiosos: “- Hay que ver la Catedral! [...] –Para ver las joyas hay que pagar una peseta cada uno.[…] – Para subir a la torre deben pagar una peseta cada uno.” (ibid, pp. 20-21)

85 Rafael Sanhueza Lizardi (1886, p. 196.) depois de descrever o palácio da Alhambra e seu bosque comenta

sobre a exuberante beleza do lugar e afirma “se comprende que todos los que han visitado a Granada se hayan olvidado de ella para condensar sus impresiones exclusivamente en la Alhambra, y que solo a ésta hayan dirigido el fruto de sus inspiraciones y la hayan hecho la representación viva y animada de la ciudad felicísima que posee. […] la esplendidez de Granada vive en la Alhambra.”

Roberto Arlt se converte em simples ponto de referência que o visitante usa para localizar-se na cidade.

Apesar de não dedicar nenhuma crônica à descrição da Alhambra, sabemos que o cronista a visitou. Um pouco antes de encerrar seu périplo pela Andaluzia, Arlt escreve o texto “El bosque de la Alhambra. Ensueños y sugerencias” (08/09/1935). Como o próprio título anuncia, a crônica registra a visita de Arlt ao bosque que a circunda a fortaleza e não propriamente da afamada construção. Com prosa impressionista, que apela a imagens de encantamento, procura traduzir a atmosfera onírica do bosque. No entanto, não deixa de aludir às disputas políticas/religiosas, que com a série de batalhas de conquistas e reconquistas marcaram o passado da região,

A veces cae una hoja bermeja. Violenta sensación de encantamiento. Si los árboles echaran a caminar, nos parecería natural. Si por la pendiente descendiera un largo cortejo de jovencitas, precedidas de un dragón, el episodio sería verídico. Atmósfera de posibilidades donde se hace verosímil la brujería y el endriago. Edad Media. Por cada árbol, corre savia de sangre humana. Cada pulgada de tierra ha sido regada de sangre humana, cada árbol ha presenciado una agonía humana. (“Bosque de la Alhambra…”, 08/09/1935)

De seu passeio pelo interior da fortaleza nada nos revela. O texto termina com o cronista diante da entrada da Alhambra, “Estamos a la entrada de la Alhambra. Un ciego tañe la guitarra, sentado en un pórtico, bajo la protección de una virgen enclaustrada en un nicho” (ibid). E não voltará a esse tema durante a viagem.

Ao retomar a experiência viageira, no livro Aguafuerte Españolas, Arlt elucida, nos textos “La Alhambra y el público” e “Amor próprio en la Alhambra”, a explícita recusa demonstrada durante a viagem em descrever o palácio e aponta como fator para o desinteresse o excesso de propaganda em torno das qualidades estéticas da fortaleza: “Su fama universal, hace esperar mucho más de lo que ofrece. Nada me ha distraído más en su interior, que dedicarme a observar las expresiones de disgusto y decepción de sus visitantes.” (ART, 1991, tomo 2, p. 346) O cronista se apóia na decepção que observa em outros visitantes para justificar a própria indiferença.

À reação negativa do público, diante de uma imagem que se lhe haviam pintado mais deslumbrante do que o realmente visto, Arlt atribui à literatura romântica – cita, particularmente, Washington Irving, autor de Cuentos de Alhambra – e à fotografia, capaz de captar o que o olho humano não consegue:

En la fotografía nuestro ángulo visual, abarca sin mayor esfuerzo la totalidad de los entalles, que por su misma pequeñez, nos extraña ver perceptibles, de manera que en ese acto confundimos la admiración que nos produce el aparato, reproductor minucioso, con la estima al objeto. Es decir que no sabemos separar dos admiraciones. (ibid, p. 350)

Acreditamos que a inclusão dos monumentos, no roteiro pela Andaluzia, obedeceu a uma orientação da direção do jornal El Mundo. Ao guardar os textos críticos sobre a Alhambra para a publicação em livro, Arlt exibe sua reserva em tratar do assunto nas páginas do diário e mostra que sua escritura é comprometida com os interesses do mercado editorial. No entanto não se rende totalmente, se não pode exibir sua crítica opta pelo quase silêncio. A Alhambra nas crônicas, como já dissemos, é apenas uma referência.

3.2.5 CIGANOS

O plano inicial, do cronista Roberto Arlt, de “convivir con el pueblo y las masas de sus ciudadanos” (“Mañana me embarco”), se realiza com os ciganos do bairro de Sacromonte, em Granada. O período em que pode acompanhar o dia a dia desse povo foi registrado em sete crônicas que encerram sua viagem pela Andaluzia. Assim como na série sobre a pesca, Arlt quer conhecer como vivem os ciganos, seus hábitos, costumes, caráter.

Antes, porém, os ciganos já haviam aparecido de maneira breve e, observados a distância pelo cronista, durante a Feira de Abril, em Sevilha. Nessa ocasião, destaca a disposição do cigano para a disputa tanto verbal quanto armada e para o embuste, reafirmando a imagem do cigano ladrão e enganador. Quando uma cigana tenta vender-lhe um anel de bijuteria, como se de jóia se tratasse, Arlt se mostra matreiro,

Yo la miro, le doy una palmadita en la espalda y le digo, muy atentamente: -De estos anillos tengo doscientos; te los vendo por un par de duros. -¿Eres platero?

-No; soy ladrón. (Los gitanos en la feria, 05/07/1935)

Malandragem cigana versus malandragem portenha.

Uma vez no Sacromonte, na primeira imagem que o cronista exibe, das ciganas, destaca suas imperfeições físicas, marcas de antigas doenças, fornecendo uma visão grotesca dessas mulheres. Imagem que se opõe ao estereótipo da mulher sensual e sedutora personificado na personagem Carmen, de Prosper Merimée,

“De cerca son horribles. Tienen la piel color cobre manchado, erisipelada. Los labios belfos, algunas bizquean, otras muestran la cara mordida por antiguas viruelas. Mal pintadas, las arracadas de quincalla, los anillos de bronce, la jeta famélica, la mano pedigüeña, la voz zalamera, cascada, falsa” (“Gitanas del Sacro Monte…”, 05/09/1935)

No entanto, mais do que a aparência, o que decepciona o cronista é o excesso de estilização que confere a esse povo um aspecto teatral. Arlt repete com os ciganos do Sacromonte aquilo que já havia dito sobre a ambientação e os ciganos da feira de Sevilha. Uma das características do viageiro Roberto Arlt é sua recusa à experiência falsa, preparada especialmente para o entretenimento turístico (GNUTZMANN, 2004, p. 181). O cronista, a principio, não considera o turismo como uma atividade lucrativa, mais adiante descobre que a fama do bairro atrai turistas em busca dos espetáculos de música e dança que acontecem no interior das casas-cavernas, o que levou os ciganos a transformar sua dança tradicional em um negócio.86 Todo o colorido em demasia serve para atender ao gosto do turista, perpetuando assim a imagem tópica:

“No exageremos. Como cuadro de color, y a la distancia, está muy en su punto. Niños con la camiseta hasta el ombligo, ruedas de sillas de asiento de paja a la sombra de las cavernas blancas, mozas de crenchas renegridas que rascan parásitos y vestidas como para participar en un ballet; manchas de pelo embetunado con abanicos de flores, perfiles de cobre, perros sarnosos, viejas haciendo calceta… el panorama, para mirarse a veinte metros, es de un colorido pirotécnico…” (ibid)

Arlt não se satisfaz com a imagem que observa à distancia e mediada pelo interesse turístico, por isso busca aproximar-se do povo cigano a fim de conhecer o que há além da aparência teatral. Os ciganos, povo arredio, que não se deixa penetrar com facilidade, se rendem ao cronista, seduzidos pela promessa de serem, por ele, fotografados.

Conquistada a confiança, Arlt circula pelo bairro, é convidado a entrar nas casas- cavernas e conversa com as ciganas que deixam de ser uma categoria e aparecem nas crônicas já como personagens, identificadas com seus nomes reais ou artísticos: Lola la Chata, La Víbora, La Golondrina, Antonia, Teresa e até pelo carinhoso abuela, maneira como Arlt se dirige a tia da ciganinha Golondrina:

86 Todorov (1991, p. 389) afirma que o turista, apesar do desinteresse pelos habitantes do país que visita, acaba

por influenciar nas atividades ali desenvolvidas. “Puesto que está dispuesta a gastar dinero, el autóctono tratará de ofrecerles lo que exige […] Poco a poco, las actividades locales se ven remplazadas por la venta de “recuerdos” […]; y así la búsqueda desenfrenada del colorido local desemboca, paradójicamente, en la homogeneización.”

Me voy para la cueva de la tía de La Golondrina. La tía de La Golondrina, una vieja de nariz gorda, pelo liso grisáceo sobre el cráneo, me ve, se aparta del fogaril y yo corro a su encuentro, la abrazo, la palmeo en las espaldas y zamarreándola le digo:

-Dichosos mis ojos, abuela, que te ven tan florecida como una ensalada. La gitana se echa a reír... (Con los gitanos..., 10/09/1935).

Para a representação do relacionamento entre o cronista e as ciganas, Arlt utiliza o recurso dramático do diálogo, que dá voz ao povo estrangeiro, que deixa de ser um elemento da paisagem e adquire o status de sujeito na narrativa (TODOROV, 1991, p. 358), colocando- se como personagem da crônica. Desaparece a narrativa em discurso indireto para dar lugar ao turno e returno do discurso direto, tanto que a crônica que trata sobre a cigana mais rica do Sacromonte se intitula “Diálogo extraordinário con Lola, la Chata” (12/09/1935). Arlt dá autonomia à personagem, conhecemos a história da cigana contada por ela mesma.

Ao final declara sua admiração pelos ciganos e reconhece a descriminação que sofrem:

Estoy cómodo entre esta gente que comienza a quererme. Son duros para entregarse, pero de una sensibilidad prodigiosa. Aman la belleza, hombres y mujeres viven desmesuradamente lo que imaginan. Sus pasiones son vehementes. Ignoran el término medio. Tienen el sentido de la tragedia. Sobre cualquier bagatela desenvuelven un mundo de gesticulaciones, de conmoción. […] Para apoderarse de sus almas es menester ir hacia ellos con bellezas extraordinarias. Hombres y mujeres, se puede hacer de ellos lo que se quiere, pero hay que interesar sus sensibilidades apasionadísimas. Ser frío y ardiente. Amarles. Perciben sagazmente el amor, y entonces hay que ser imparcial. Un favor a uno en especial, los enferma a los otros. En síntesis, fieras maravillosas. Artistas. Lástima que no se les proteja ni ayude. (“La sensibilida gitana”, 17/09/1935).

A declaração final, de Arlt, contrasta com a deconfiança mostrada inicialmente. Os ciganos, considerados como estrangeiros, em qualquer país, que fixe residência, ironicamente são os únicos habitantes locais que merecem um lugar na crônica de Roberto Arlt, que vai além da descrição. Os ciganos deixaram de ser um elemento pitoresco que compõe a paisagem. A convivência do cronista com esse povo se configurará como experiência única durante toda a viagem pela Espanha.