• Nenhum resultado encontrado

Vegetação ripária como filtros de pesticidas em culturas de plantio direto

3.6.1. O uso da terra e proteção dos ecossistemas

A zona de vegetação lenhosa teve maior capacidade de retenção de pesticidas. Esta vegetação apresentava um sistema radicular profundo, que atingiu a zona saturada do solo, que, de acordo com Ramsey et al., (2005) e Inoue et al., (2006), aumentou o processo de adsorção em áreas com alto teor

102 de carbono. No presente estudo, a retenção de pesticidas ocorreu ao longo das zonas ribeirinhas, indicando que uma boa estrutura de vegetação lenhosa é importante para a preservação das águas subterrâneas e gestão de bacias hidrográficas até mesmo para os pesticidas mais persistentes, como a atrazina. No entanto, áreas de vegetação ripária, com 12m fornecem pouca proteção, não sendo capaz de melhorar o percentual de remoção de todos os pesticidas estudados para níveis acima de 70% (figura 2.3). Outros estudos têm encontrado resultados semelhantes (Foster et al., 2002; Grismer et al., 2006). Em nosso estudo, a zona tampão composta por vegetação lenhosa, com uma largura maior que 36m, parece ser o mínimo necessário para para remoção de micropoluentes da água na zona saturada do solo, pois a maioria dos pesticidas foram removidos com taxas acima de 70%.

A técnica de cultivo e manejo do solo também exerce grande influência sobre a qualidade das águas subterrâneas e as taxas de recarga em alguns aquíferos (Carabias-Martinez et al., 2002; Foster et al., 2002; Aguiar et al., 2014). Algumas práticas agrícolas são capazes de causar contaminação difusa de nutrientes e outros contaminantes agrícolas, particularmente em áreas de solos pouco espessos e com boa drenagem, causando um aumento da salinidade da água, especialmente nas regiões áridas (Laabs et al., 2002; Six et al., 2002). Em nosso trabalho as áreas que observamos demostraram que o sistema de plantio direto, causa menos contaminação quando comparados com as monoculturas intensivas que requerem revolvimento do solo para o plantio, altos níveis de agrotóxicos e apresentam grandes perdas por escoamento superficial e subsuperficial, no entanto em plantio direto ocorre um aumento da capacidade

103 de infiltração da água no solo, podendo gerar uma maior contaminação das águas subterrâneas (Six et al., 2002; Inoue et al., 2006).

Outros autores (Feakin et al., 2013; Tiwari e Guha, 2014) estudaram os metabólitos da degradação por bactérias de pesticidas. Estes autores concluíram que alguns destes metabolitos podem ser mais tóxicos do que os pesticidas estudados, assim, novos estudos devem ser realizados para identificar a remoção destes metabolitos por vegetações ripárias em suas diferentes configurações.

3.7 Conclusão

As principais conclusões deste estudo são:

i) A eficiência de remoção é largamente influenciada pela largura da zona tampão e pelo tipo de vegetação. A vegetação ripária composta por árvores teve um melhor percentual de remoção para todos os compostos analisados.

ii) A atrazina foi o pesticida mais persistente no meio ambiente ciliar.

iii) A zona tampão composta por vegetação lenhosa com largura maior do que 36m é recomendada para alcançar a eficiência de remoção. Combinado com economia agrícola, ela também tem o maior potencial de aceitação por parte dos agricultores, facilitando a disseminação dessa prática para a conservação dos ecossistemas agrícolas.

104 3.8 Agradecimentos

Este trabalho foi financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-Brasil) e Projeto ServiAmbi (Avaliação e valoração de serviços ambientais em diferentes sistemas de uso da terra) financiado no âmbito do Programa-MP2 Embrapa (no. 0211010310001).

3.9 Referências

Agdi K., Bouaid A., Esteban A.M., Hernando P.F., Azmani A., Camara C. 2000. Removal of atrazine and four organophosphorus pesticides from environmental waters by diatomaceous earth-remediation method. J. Environ Monitor 2, 420- 423.

Aguiar, T.R.Jr, Rasera K., Parron L.M., Brito A.G., Ferreira M.T. (2014) Nutrient removal effectiveness by riparian buffer zones in rural temperate watersheds: The impact of no-till crops practices. AGR Water Manage. 149, 74-80.

Boyd R. A. 2000. Herbicides and herbicide degradates in shallow groundwater and the Cedar River near a municipal well field, Cedar Rapids, Iowa. Sci Total Environ. 248, 241-253.

Brazil. 2011. Portaria nº 2914 de 12 de dezembro de 2011 do Ministério da Saúde. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

105 Carabias-Martinez R., Rodriguez-Gonzalo E., Herrero-Hernandez E., Sanchez- San Roman F.J., Prado Flores M.G. 2002. Determination of herbicides and metabolites by solid-phase extraction and liquid chromatography—evaluation of pollution due to herbicides in surface and groundwaters. J Chromatogr. A. 950, 157–166.

Cerejeira M.J., Viana P., Batista S., Pereira T., Silva E., Valério M.J., Silva A., Ferreira M., Silva-Fernandes A.M. 2003 Pesticides in Portuguese surface and ground waters. Water Res. 37, 1055–1063.

Correia F.V., Macrae A., Guilherme L.R.G., Langenbach T. 2007. Atrazine sorption and fate in a Ultisol from humid tropical Brazil. Chemosphere. 67, 847- 854.

Correll D. L. 2005. Principles of planning and establishment of buffer zones. Ecol Eng. 24, 433–439.

European Commission. 2006. SANCO/10232/2006, Quality control procedures for pesticide residues analysis, European Union.

Feakin, S.J., Blackburn, E., Burns, R.G. 1994. Biodegradation of s-triazine herbicides at low concentrations in surface waters. Water Res. 28, 2289-2296.

Foster S., Hirata R., Gomes D., D’edlia M., Paris M. 2002. Groundwater Quality Protection: a guide for water utilities, municipal authorities, and environment agencies, The World Bank: Washington.

Graymore M., Stagnitti F., Allinson G. 2001. Impacts of atrazine in aquatic ecosystems. Environ Int 26, 483-495.

Grismer M.E., O´Geen A.T., Lewis D. 2006. Vegetative filter strips for nonpoint source pollution control in agriculture. ANR Publication. 8195, 1-7.

106 Inoue M.H., Oliveira Jr R.S., Regitano J.B., Tormenta C.A., Constantin J., Tornisielo V.L. 2006. Sorption-desorption of atrazine and diuron in soils from Southern Brazil. J Environ Sci Heal B. 41, 605-621.

Laabs V., Amelung W., Pinto A., Zech W. 2002. Fate of pesticides in tropical soils of Brazil under field conditions. J Environ Qual. 31, 256-268.

Lacorte S., Guiffard I., Fraisse D., Barcelo D. 2000. Broad spectrum analysis of 109 priority compounds listed in the 76/464/CEE Council Directive using solid- phase extraction and GC/EI/MS. Anal Chem. 72, 1430–1440.

Lovell S.T., Sullivan Y.W.C. 2006. Environmental benefits of conservation buffers in the United States: Evidence, promise, and open questions. Agr Ecosyst Environ. 112, 249-260.

Mander U., Kuusemets V., Lohmus K., Mauring T. 1997. Efficiency and dimensioning of riparian buffer zones in agricultural catchments. Ecol Eng. 8, 299-324.

Putnam R.A., Nelson J.O., Clark J.A. 2003. The persistence and degradation of chlorothalonil and chlorpyfiros in a cranberry bog. J Agr Food Chem. 51, 170- 176.

Ramsey R.J.L., Stephenson G.R., Hall J.C. 2005. A review of the effects of humidity, humectants, and surfactant composition on the absorption and efficacy of highly water-soluble herbicides. Pestic. Biochem. Physiol. 82, 162-175.

Ritter W.F. 1990. Pesticide contamination of ground water in the United States – A review. J. Environ. Sci. Health. 25, 1-29.

Ruschel A.R., Mantovani M., Reis M.S., Nodari R.O. 2009. Caracterização e dinâmica de duas fases sucessionais em floresta secundária da Mata Atlántica. Rev. Árvore 33, 101-115.

107 Six J., Feller C., Denef K., Ogle S.M., Sá J.C.D.M., Albrecht A. 2002. Soil organic matter, biota and aggregation in temperate and tropical soils: effects of no-tillage. Agronomie, 22, 755-775.

Syversen N. 2002. Effect of a cold-climate buffer zone on minimising diffuse pollution from agriculture. Wat Sci Tech. 45, 69–76.

U.S. Environmental Protection Agency (EPA). 2003. Atrazine Interim Reregistration Eligibility Decision.

http://www.epa.gov/oppsrrd1/REDs/atrazine_ired.pdf. Accessed 30 September 2014.

Tiwari, M. K., Guha, S. 2014. Kinetics of biotransformation chlorpyrifos in aqueous and soil slurry environments, Water Res. 51, 73-85.

Van Maanen J.M., De Vaan M.A., Veldstra A.W., Hendry W.P. 2001. Pesticides and Nitrate in Groundwater and Rainwater in the Province of Limburg in The Netherlands. Environ Monit Assess 72, 95-114.

Villanueva C.M., Durand G., Coutte M., Chevrier C., Cordier S. 2005. Atrazine in municipal drinking water and risk of low birth weight, preterm delivery, and small- for-gestational-age status. Occup Environ Med 62, 400-405.

109

Parte 4

_______________________________________________________________________________________________

O destino de agrotóxicos em um aquífero Karst

Documentos relacionados