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Objetividade/Interferência nos fatos

No documento Download/Open (páginas 113-123)

Superman IV: Em busca da paz ( the quest for peace, EUA/Reino Unido,1987)

3. Objetividade/Interferência nos fatos

A objetividade é um dos principais parâmetros do jornalismo moderno e que mesmo sendo impossível de se alcançar em sua totalidade, deve ser buscada sempre. Diversos filmes questionam a objetividade e como a mídia pode interferir diretamente na realidade, alterando- a. Um bom exemplo é Mera coincidência, em que é criada uma guerra na Albânia com o intuito de distrair a opinião pública do fato do presidente norte-americano às vésperas de tentar uma reeleição, assediar sexualmente uma estudante. Em O preço de uma verdade, o jornalista Stephen Glass simplesmente cria histórias que são mais emocionantes com o intuito de ter destaque na carreira, mas sua ambição acaba levando à sua própria queda, quando descobre que diversas histórias eram falsas e que as fontes citadas nunca existiram.

Em Quase famosos e Capote questiona-se o envolvimento do jornalista com as fontes, os entrevistados. Até que ponto é possível não se envolver, não apresentar nenhuma subjetividade, ser neutro sempre? Os dois filmes abordam esse dilema.

Síndrome da China também questiona o tema da objetividade: como divulgar de forma precisa, como na TV, um fato grave, urgente, em que não há tempo para se apurar e buscar mais detalhes e que podem causar pânico à população? Coincidentemente, 12 dias após o filme estrear, um âncora da NBC, Edwin Newman, estava na redação selecionando notícias sobre um acidente nuclear em Three Mile Island e recebeu um telegrama da UPI atribuído a um responsável da Agência Nuclear: “Existe o risco final de um derretimento”. Redes como ABC e CBS colocaram a notícia imediatamente no ar, sem averiguar. Newman resolveu apurar melhor, mesmo dando a notícia mais tarde. Deu certo: ele descobriu que a declaração não significava que o reator ia derreter e causar um desastre nuclear, como não acabou causando.

Considerado um clássico moderno, O passageiro: profissão repórter apresenta de forma diferente a questão da objetividade. O próprio diretor, Michelangelo Antonioni, trabalhou por muitos anos na imprensa e apresenta no filme, por exemplo, que quando o jornalista faz uma entrevista, ele se expõe mais do que o interlocutor. Que acaba revelando mais com as suas perguntas do que com as respostas esperadas. Por isso é necessária a despersonalização do repórter, sua neutralidade, tudo em nome da objetividade. Algo que é perdido pelo jornalista interpretado por Jack Nicholson, quando ele simplesmente abandona sua identidade e assume uma falsa porque está cansado de sua vida. Quando faz isso, ele

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rompe com um dos maiores princípios do jornalismo, a objetividade e acaba sofrendo as consequências de seu ato.

Filmes: Capote

Mera coincidência

O passageiro: profissão repórter O preço de uma verdade

Quase famosos Síndrome da China

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Capote (Capote, EUA/Canadá, 2005)

Direção: Bennett Miller

Elenco: Phillip Seymour Hoffman13, Catherine Keener, Clifton Collins Jr., Chris Cooper,

Bruce Greenwood, Amy Ryan e Bob Balaban.

Resumo: Novembro de 1950. Quatro integrantes da família Cluster são brutalmente assassinados em Holcomb, no Kansas (EUA). A notícia publicada no jornal New York Times chama a atenção do jornalista e escritor Truman Capote, que resolve escrever sobre essa história verdadeira de forma envolvente, como se fosse um romance, utilizando recursos da literatura. Após convencer seu editor da revista The New Yorker a escrever uma história sobre o assunto, Capote parte com sua amiga de infância Harper Lee (Catherine Keener) para o Kansas. Com seus maneirismos e por ser homossexual, Capote surpreende a população local, mas logo ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), agente da polícia que investiga o crime. Após serem presos em Los Angeles, os assassinos da família Cluster, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hicock (Mark Pellegrino) são enviados à prisão do Kansas. Capote passa os visitar na prisão e aos poucos conquista sua confiança e começa a escrever uma obra que seria um dos marcos do movimento New Journalism: A sangue frio.

13 O ator Philip Seymour Hoffman ganhou o Oscar de Melhor Ator em 2005 pelo papel. Ele faleceu em 2 de

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Gardênia azul (The blue gardenia, EUA, 1955)

Direção: Fritz Lang

Elenco: Anne Baxter, Ann Sothern, Raymond Burr e Richard Conte. Resumo: Norah Larkin (Anne Baxter) é uma telefonista cujo noivo soldado está em uma ação na Coreia. Quando descobre que ele se apaixonou por outra mulher, aceita sair com outro homem no dia de seu aniversário, o desenhista Harry Prebble (Raymond Burr), conhecido mulherengo. Os dois jantam em um restaurante chamado Gardênia Azul e ela ganha a flor que batiza o nome do estabelecimento. Ele a faz beber e a convida para seu apartamento, locam em que chega a beijá-la. Mas Norah resiste às investidas e os dois brigam. Ela foge e deixa para trás uma gardênia azul. No dia seguinte, Prebble é encontrado morto e Norah não se lembra de nada e passa a ser alvo de investigação da polícia.

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Mera coincidência (Wag the dog, EUA, 1997)

Direção: Barry Levinson

Elenco: Dustin Hoffman, Robert De Niro, Anne Heche, Denis Leary, Willie Nelson, Andrea Martin, Kirsten Dunst, William H. Macy, John Michael Higgins, Suzie Plakson e Woody Harrelson.

Resumo: Qualquer semelhança com a realidade e com um caso do ex-presidente Bill Clinton com a estagiária Monica Lewinsky é mera coincidência. Inteligente e ácido, Mera coincidência faz uma crítica ao marketing político e à sua utilização para encobrir falhas de governantes, possibilitando sua eleição. A história inicia com uma denúncia de suposto abuso de uma garota que visitava a Casa Branca pelo presidente da República, poucos dias antes das eleições. Imediatamente a Casa Branca aciona uma equipe para cuidar do caso, formada por Winifred Ames (Anne Heche) e Conrad Brean (Robert De Niro). Diante da situação, eles chamam um produtor de Hollywood, Stanley Motss (Dustin Hoffman) que explica que a única forma de se desviar a atenção da opinião pública de um caso tão sério é criando uma guerra! E a equipe trata de criar uma guerra na Albânia e divulgá-la na mídia. Só que eles não esperavam que a história tivesse tantas complicações. Com o cantor Willie Nelson, que produz um jingle político para a campanha: Old shoe (Sapato velho), para se referir ao soldado esquecido no país com o fim da guerra (Woody Harrelson).

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O passageiro: profissão repórter (The passanger/Profesione:reporter, EUA, Espanha, França

e Itália,1975)

Direção: Michelangelo Antonioni

Elenco: Jack Nicholson, Maria Schneider, Ian Hendry, Steven Berkoff, Jenny Runacre, Ambroise Bia, José María Caffarel, James Campbell, Manfred Spies e Jean-Baptiste Tiemele. Resumo: Mesmo tendo prestígio, o bem-sucedido repórter de TV David Locke (Jack Nicholson) vive amargurado, pois não se sente bem em fazer carreira com fatos da vida alheia. Ele resolve então tomar uma atitude radical: assume a identidade de um homem que morrera em um quarto vizinho ao seu em um hotel africano, para onde viajara a trabalho. Mas o que ele não sabe é que assumiu uma identidade perigosa, pois o homem que havia morrido era traficante de drogas. Uma das cenas antológicas é quando a mulher que passa a acompanhá-lo nessa nova vida (Maria Schneider) pergunta porque esse radical rompimento com o passado, do qual ele se recusa a falar: “Do que você está fugindo?”. Ele responde: “Fujo de tudo. Da minha mulher. Da casa. De um filho adotivo. De um emprego de sucesso. De tudo, exceto de alguns maus hábitos dos quais não consigo me livrar”, finaliza.

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O preço de uma verdade (Shattered glass, EUA, 2003)

Direção: Billy Ray

Elenco: Hayden Christensen, Peter Sarsgaard, Steve Zahn e Chloé Sevigny.

Resumo:E se você descobrisse que diversas reportagens que leu não eram baseadas em fatos reais, mas tratavam-se de mentiras forjadas? O filme O preço de uma verdade aborda essa questão, mostrando a falta de ética no jornalismo por meio da história de Stephen Glass (Hayden Christensen). Ainda jovem, o jornalista fez parte do quadro de repórteres de uma das maiores revistas dos EUA: The New Republic. Destacava-se por ter um grande número de artigos publicados em um espaço pequeno de tempo. No entanto, todo esse sucesso escondia uma grande mentira: seus artigos eram forjados. Em uma de suas maiores reportagens publicadas, porém, Glass foi desmascarado pelo jornalista Adam Penenberg (Steve Zahn), da Forbes Digital. A reportagem “O Paraíso dos Hackers” abordava a respeito de Ian Restil, um hacker de 15 anos, que havia invadido a rede de computadores de uma grande empresa de informática. Penenberg começa a pesquisar na internet os nomes ligados à reportagem de Glass e não consegue encontrar vestígio algum da existência da empresa e do garoto. Notando que a reportagem era falsa, Penenberg pressiona Glass e seu editor Chuck Lane (Peter Sarsgaard) até descobrir que não só esse texto, mas 27 dos 41 artigos publicados por Glass na revista haviam sido forjados, com o intuito de se destacar na carreira jornalística.

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Quase famosos (Almost famous, EUA, 2000)

Direção: Cameron Crowe

Elenco: Patrick Fugit, Michael Angarano, Billy Crudup, Frances McDormand, Kate Hudson, Jason Lee, Zooey Deschanel, Anna Paquin, Fairuza Balk, Noah Taylor, Philip Seymour Hoffmann, Jay Baruchel, Jimmy Fallon, Rainn Wilson, Mark Kozelek, Liz Stauber e John Fedevich.

Resumo: Escrever para a revista Rolling Stone e acompanhar de perto a vida de astros do rock é o sonho de muitas pessoas. Sonho realizado pelo diretor Cameron Crowe, que quando tinha 15 anos era aspirante a jornalista e acompanhava as bandas Poco, The Allman Brothers Band, Led Zeppelin, The Eagles e Lynyrd Skynyrd para escrever reportagens para a publicação. Inspirado em suas próprias memórias, ele dirigiu esse filme que é um tributo nostálgico a um tempo que não existe mais: os anos 1970, com toda sua psicodelia, drogas, paz, amor e, é claro, rock and roll de primeira. Mostra a história de William Miller (Patrick Fugit), aspirante a jornalista na revista Rolling Stone que passa a acompanhar a turnê da banda Stillwater (Almost famous) em 1973 para escrever reportagens exclusivas para a revista. No entanto, ele percebe que esse envolve demais com a banda e com a groupie Penny Lane (Kate Hudson), o que pode prejudicar sua objetividade na hora de escrever. Indicado a quatro Oscars, ganhou na categoria Melhor Roteiro Original.

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Síndrome da China (The China Syndrome, EUA, 1978)

Direção: James Bridges

Elenco: Jack Lemmon, Jane Fonda, Michael Douglas e Wilford Brimley.

Resumo: No período da Guerra Fria, pós-Segunda Guerra Mundial (décadas de 1950 a 1980), diversos filmes abordaram o perigo de uma guerra nuclear, decorrente das disputas entre as potências Estados Unidos e União Soviética. Síndrome da China é um desses filmes e mostra a história da âncora Kimberly Wells (Jane Fonda), que durante uma reportagem com seu cinegrafista, Richard Adams (Michael Douglas) acabam presenciando um terrível acidente nuclear. A obra apresenta uma questão interessante: como divulgar de forma precisa, como na TV, um fato grave, urgente, em que não há tempo par se apurar e buscar mais detalhes e que podem causar pânico à população? O filme foi indicado a quatro Oscars: Melhor Ator (Jack Lemmon), Melhor Atriz (Jane Fonda), Melhor Roteiro Original e Melhor Direção de Arte.

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O tempo é uma ilusão (It happened tomorrow, EUA, 1944)

Direção: René Clair

Elenco: Larry Stevens, Linda Darnell, Jack Oakie, Edgar Kennedy, John Philliber e Edward Brophy.

Resumo: E se você pudesse ler no jornal que está nas bancas hoje o que ocorrerá amanhã, o que faria? Mistura de comédia e fantasia, O tempo é uma ilusão brinca com essa hipótese e mostra a história de uma grande família, cujos patriarcas estão comemorando bodas de ouro. Toda família espera que o casal desça as escadas, mas isso não ocorre, pois eles estão brigando, algo que nunca aconteceu em sua vida conjugal. Há então um flashback e o filme retrocede até 1980 e mostra a redação do jornal Evening News. Todos comemoram, pois Larry Stevens (Dick Powell) escreveu o 500º obituário de sua carreira e acredita que agora deva ser promovido a repórter pelo seu chefe. Enquanto brindam a ocasião, encontram um veterano do jornal, Pop Benson (John Philliber), que filosofa sobre o que é o hoje e o amanhã. Nessa noite, ele receberá dois presentes: conhecerá sua futura esposa, Sylvia (Linda Darnell), assistente do mágico “charlatão”, mas bom caráter Cigolini (Jack Oakie) e um jornal, colocado por Benson em seu paletó. Quando acorda no dia seguinte, verá que esse jornal é especial: traz uma reportagem sua escrita no futuro a respeito de um assalto ao caixa da ópera da cidade. A obra foi dirigida por René Clair quando estava exilado nos Estados Unidos, um ano antes do fim da Segunda Guerra Mundial e do cineasta retornar à França.

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