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Oposição: jornalista novato x jornalista veterano

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Superman IV: Em busca da paz ( the quest for peace, EUA/Reino Unido,1987)

4. Oposição: jornalista novato x jornalista veterano

A oposição jornalista novato e jornalista veterano é bem explorada pelo cinema e presente em obras como Todos os homens do presidente, Íntimo e pessoal e Intrigas de Estado. Rico em diversos temas, como a questão do conflito de interesses e da ética na apuração da reportagem, a obra é exemplar em apresentar as diferenças na forma de se atuar do jornalista novato e do veterano.

O repórter veterano Cal McAffrey (Russel Crowe) é cuidadoso na investigação, procura índices que comprovem o que será publicado, mas “demora demais, o que custa caro”, como diz a editora-chefe Cameron Lynne (interpretada por Helen Mirren). Representa o Jornalismo Tradicional, que busca a averiguação dos fatos e a credibilidade acima de tudo.

Já a novata Della Frye (Rachel McAdams), é curiosa, rápida, mas devido à pressa em furar os concorrentes presentes na internet, muitas vezes comete erros, não checando todas as informações. Ela representa o Novo Jornalismo e apesar de cometer erros, é bem vista pela editora-chefe Cameron Lynne porque “ganha pouco e escreve dez reportagens por hora”, ao contrário de Crowe, que produz de forma mais lenta e cara.

Filmes:

Adoro problemas Íntimo e pessoal Intrigas de Estado Uma manhã gloriosa Quase famosos

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Nos bastidores da notícia (Broadcast news, EUA, 1987)

Direção: James L.Brooks

Elenco: Albert Brooks, Holly Hunter, William Hurt, Robert Prosky, Lois Chiles, Joan Cusack, Peter Hackes, Christian Clemenson, Jack Nicholson, Robert Katims, Ed Wheeler, Stephen Mendillo, Kimber Shoop, Dwaynee Markee e Gennie James.

Resumo: Três jornalistas ambiciosos e workaholics que atuam em uma emissora de televisão e acabam misturando a vida pessoal e profissional. Esse é o tema de Nos bastidores da notícia, comédia dirigida por James L. Brooks. Em Washington, a produtora Jane Craig (Holly Hunter) recebe a missão de transformar o novo âncora, Tom Grunick (William Hurt), bonito, mas inexperiente, em um verdadeiro sucesso. Já Aaron Altman (Albert Brooks) é um competente repórter, que apesar de trabalhar há mais tempo na emissora não tem a mesma oportunidade de Tom devido à sua falta de carisma. Enquanto buscam a melhor notícia, os três protagonizam um divertido triângulo amoroso.

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Intrigas de Estado (State of play, EUA/França/Reino Unido, 2009)

Direção: Kevin Macdonald

Elenco: Russel Crowe, Rachel McAdams, Ben Affleck, Helen Mirren, Jason Bateman, Maria Thayer, Robin Wright, Viola Davis e Jeff Daniels.

Resumo: Uma verdadeira aula de jornalismo, a obra aborda temas como conflito de interesses, a ética na apuração de uma reportagem e a oposição entre Novo e Velho Jornalismo. O filme mostra o misterioso assassinato da assistente do congressista norte- americano Stephen Collins (Ben Affleck) cotado pelo partido a disputar a presidência do país. Abalado com a morte da assistente Sonia Baker (Maria Thayer), Stephen chora em um discurso público, levantando suspeitas pela imprensa de que ele teria um relacionamento amoroso com a jovem. O repórter veterano Cal McAffrey (Russel Crowe), do jornal The Washington Globe, é designado por sua editora Cameron Lynne (Helen Mirren) para investigar a história. Ele contará com a ajuda da novata Della Frye (Rachel McAdams), responsável pelo blog do jornal e por escrever notícias sobre celebridades. Durante a investigação eles descobrirão que o crime envolve muitos outros aspectos, como a conspiração de uma grande empresa que deseja privatizar a segurança dos Estados Unidos.

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5. Questões de gênero

Um tema bastante recorrente é a questão de gênero, presente em obras como

Ele disse, ela disse, Jejum de amor e Íntimo e pessoal. Segundo o crítico Louis Marcorelles, Jejum de amor (His girl Friday, EUA,1940) é o filme de jornalismo por excelência. É um verdadeiro rito de passagem, sendo um dos primeiros a mostrar uma mulher em um filme de aventura, filme considerado masculino por excelência. Hildy (Rosalind Russell) não é mera coadjuvante, atua em termos de igualdade e procura investigar a reportagem a fundo assim como seu colega Walter Burns (Cary Grant). Apesar das implicâncias entre os dois, acaba ocorrendo um envolvimento amoroso e é muito presente essa perfeita integração do casal, que forma tanto uma dupla na redação como depois como par amoroso.

Filmes: O âncora

Aconteceu naquela noite Adoro problemas

Ele disse, ela disse Feitiço do tempo Jejum de amor

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Aconteceu naquela noite (It happened one night, EUA, 1934)

Direção: Frank Capra

Elenco: Clarke Gable, Claudette Colbert, Walter Connolly, Roscoe Karns, Jameson Thomas, Alan Hale, Arthur Hoyt. Blanche Frederici e Charles C. Wilson.

Resumo: Inspirado no conto Night blues, de Samuel Hopkins, o filme Aconteceu naquela noite conta a história de uma jovem mimada (Ellie Andrews), filha de um milionário, que resolve fugir para Nova York. No caminho ela conhece o jornalista Peter Warne (Clark Gable), que acabou de ser demitido por beber no trabalho. Para que o jornalista não a entregue ao seu pai, ela concorda que ele o acompanhe e escreva a história de sua fuga. Dirigido por Frank Capra, o filme foi um sucesso de bilheteria e teve a proeza de reunir dois dos grandes astros de Hollywood: Claudette Colbert e Clark Gable. Também foi o primeiro filme a receber os cinco Oscars principais: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro.

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Adoro problemas (I love trouble, EUA, 1994)

Direção: Charles Shyer

Elenco: Julia Roberts, Nick Nolte, Saul Rubinek, Robert Loggia, Kelly Rutherford, Olympia Dukakis, Marsha Mason, Charles Martin Smith, Eugene Levy e James Hebhorn.

Resumo: Previsível, o filme segue a fórmula recorrente nos chamados Journalism movies: a oposição entre a jornalista novata e o veterano e o envolvimento amoroso entre os dois. Famoso, mas já acomodado, o jornalista Peter (Nick Nolte) vão cobrir um acidente de trem e descobre que a repórter novata Sabrina (Julia Roberts), do jornal concorrente, deu um furo de reportagem ao descobrir que o acidente foi criminoso. Apesar das diferenças, os dois aliam forças para descobrir a verdade e escrever uma boa história.

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O âncora: a lenda de Ron Burgundy (Anchorman: the legend of Ron Burgundy, EUA, 2004)

Direção: Adam McKay

Elenco: Will Ferrell, Christina Applegate, Paul Rudd, Steve Carell, David Koechner, Chris Parnell, Kathryn Hahn e Danny Trejo.

Resumo: “Baseado em fatos reais. Apenas personagens, lugares e situações foram alterados.”

Essa frase é a primeira imagem do filme, cuja ideia surgiu quando Will Ferrell viu um programa em que a jornalista Jessica Savtich comentava sobre os hábitos machistas de um companheiro de bancada. Escrito por Ferrell, em parceria com o diretor Adam McKay, a obra mostra a história de Ron Burgundy, um dos mais populares âncoras da televisão norte-

americana nos anos 1970, que apresentava o telejornal do canal 4 de San Diego. Egocêntrico, Ron cativa a audiência com suas histórias interessantes, mas pouco relevantes, ao lado de três excêntricos repórteres: o homem do tempo, Brick Tamland (Steve Carell), o comentarista esportivo Champ Kind (David Koechner) e o repórter de campo, Brian Fantana (Paul Rudd). Mas seu reinado se vê ameaçado com a chegada da competente repórter que também sonha em ser âncora, mas encontra dificuldades por ser mulher, Veronica Corningstone

(Christina Applegate).

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Ele disse, ela disse (He said/She said, EUA, 1991)

Elenco: Kevin Bacon, Elizabeth Perkins, Nathan Lane, Anthony LaPaglia, Sharon Stone, Stanley Anderson, Charlayne Woodward e Danton Stone.

Direção: Ken Kwapis e Marisa Silver.

Resumo: Questões de gênero, as eternas diferenças entre homens e mulheres rendem boas comédias românticas no cinema e bons Journalism movies. Um deles é Ele disse, ela disse. O filme mostra a história de dois jornalistas: os editores Dan Hanson (Kevin Bacon) e Lorie Bryer (Elizabeth Perkins), que trabalham no jornal Baltimore Sun e são concorrentes. Essa rivalidade acaba conduzindo-os a um programa de televisão, em que cada um defende sua visão sobre diferentes assuntos. Com a convivência, eles percebem que não são tão diferentes assim e têm muito em comum. É interessante que a obra é dividida em duas partes: sendo apresentado o ponto de vista masculino (dirigido por Ken Kwapis) e o ponto de vista feminino (com direção de Marisa Silver).

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Feitiço do tempo (Groundhog Day, EUA, 1993)

Direção: Harold Ramis

Elenco: Bill Murray, Andie MacDowell, Stephen Tobolowksy, Chris Elliot e Harold Ramis. Resumo: “I’ve got you baby/I’ve got you baby.” Toda vez que o repórter de televisão Phil Connors (Bill Murray) é despertado pela música de Sony e Cher, ele fica irritado. Pudera: ele ouve a mesma música sempre que acorda, mas não se trata de repetição proposital da emissora de rádio: simplesmente o mesmo dia passa a se repetir sempre! Tudo começa quando ele vai para a pequena cidade de Punxsutawney para fazer previsões de metereologia e uma reportagem especial sobre o celebrado “Dia da marmota”. Apesar de querer ir embora o mais rápido possível, ele fica inexplicavelmente preso no tempo, condenado a viver sempre os mesmos eventos do dia, em um eterno déjà vu. O filme não se preocupa em responder como isso ocorreu, pois é uma comédia e não um filme de ficção científica e explora ao máximo as divertidas reações de Phil à repetição dos dias. No começo ele se irrita, mas com um tempo passa a tomar partido da situação e a se tornar uma pessoa melhor, salvando outras pessoas. Também procura conquistar sua colega de trabalho, a doce e bela produtora de TV Rita (Andie MacDowell), que o acompanha na reportagem do Dia da Marmota (o título original do filme).

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Jejum de amor (His girl Friday, EUA, 1940)

Direção: Howard Hawks

Elenco: Cary Grant, Rosalind Russell, Ralph Bellamy, Gene Lockhart e Porter Hall.

Resumo: A história mostra dois jornalistas que atuam em um mesmo jornal e que acabaram de se divorciar: Walter Burns (Cary Grant) e Hildy (Rosalind Russell). Apesar das implicâncias entre os dois, Burns não gosta nada da notícia e pede que ela fique e escreva com ele uma última reportagem sobre o assassino Earl Williams. Obra típica do gênero screwball comedies, comédias de situação e engraçadas que Hawks adorava fazer, Jejum de amor nos prende do início ao fim, graças à química de Grant e Russel e à perfeita integração do casal, que forma tanto uma dupla na redação como par amoroso.

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CONCLUSÕES

Primeiramente cabe registrar que as categorias as quais os filmes foram classificados neste capítulo não são estanques ou fechadas. Certamente vários filmes se encaixariam em diversas das categorias propostas.

Como foi visto neste capítulo, a indústria cultural e particularmente o cinema são campos privilegiados em produções simbólicas e construções de mitos. O cinema, com seu amplo alcance na atualidade, atinge um grande número de classes sociais e como um termômetro, não só identificou mudanças importantes na sociedade.

O cinema sempre foi um termômetro das mudanças ocorridas na sociedade, como explica Douglas Kellner em A cultura da mídia:

Ler politicamente a cultura também significa ver como as produções culturais da mídia reproduzem as lutas sociais existentes em suas imagens e espetáculos e sua narrativa. Em Camera Politics: The Politics and Ideology of Contemporary

Hollywood Film (1988), Michael Ryan e este autor indicamos o modo como as

lutas da vida diária e o mundo mais amplo das lutas sociais e políticas se expressam no cinema popular, que, por sua vez, sofre uma apropriação e exerce efeito sobre estes contextos. Indicamos o modo como alguns dos filmes e dos gêneros mais populares de Hollywood dos anos 1960 ao fim da década de 1980 “transcodificam” discursos sociais e políticos opostos e representam posições políticas específicas nos debates sobre a Guerra do Vietnã e os anos 1960, sexo e família, classe e raça, empresa e Estado, política externa e interna dos Estados Unidos e outras questões que preocuparam a sociedade americana nas últimas décadas.[...] Ao longo dos anos 1970 até hoje, a cultura da mídia em geral tem sido um campo de batalha entre grupos sociais em competição: algumas de suas produções defendem posições liberais ou radicais, enquanto outras defendem posições e representações progressistas de coisas como sexo, preferência sexual, raça ou etnia, enquanto outras expressam formas reacionárias de racismo ou sexismo. Desse ponto de vista, na cultura da mídia há uma luta entre representações que reproduzem as lutas sociais existentes e transcodificam os discursos políticos da época (KELLNER, 2001, p. 76-77).

O panorama apresentado mostra, portanto, importantes mudanças na sociedade. Nos primeiros filmes, como Aconteceu naquela noite, Correspondente estrangeiro e No silêncio de uma cidade, os profissionais de imprensa são homens que vivem nas redações datilografando em máquinas de escrever ou falando freneticamente ao telefone, atrás de notícias. A boemia é destacada nas obras, como válvula de escape, espaço em que o profissional pode relaxar enquanto não cumpre seu dever. Os ambientes apresentados são essencialmente masculinos.

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Já desde as primeiras obras, dos anos 1930 aos anos 1950, os jornalistas são apresentados como heróis, que buscam um mundo melhor e lutam pela democracia, combatendo o nazismo e uma guerra mundial que se aproxima, como o repórter de Correspondente estrangeiro, filme de Alfred Hitchcock. Mas também há espaço para os vilões, homens que pensam em sua própria carreira e esquecem dos outros, como os jornalistas representados por Charles Tatum em A montanha dos sete abutres e Kane em Cidadão Kane.

A inserção da mulher no mercado de trabalho é uma questão que aparece primeiramente na obra Jejum de amor, em que Hildy (Rosalind Russel), apesar de tentar atender às expectativas da sociedade, buscando se casar e ter uma família tradicional, não resiste ao chamado de um grande “furo de reportagem” e acaba voltando ao seu ambiente natural: a redação. Como explica Brian McNair:

Cinema has been part of the cultural apparatus of patriarchal oppression, then, representing women in journalism not only as they have been and are (discriminated against and structurally subordinate to men), but as they are perceived to be by wider society and, recalling the function of film as myth, as it is perceived that they should be. Representations of strong female journalists often end with the woman’s acceptance of and return to ‘proper’ femininity. However, not always. If film has been, overall and on balance, a conservative medium in relation to sexual politics it is now possible, precisely because of the achievements of those politics, to undertake a more nuanced, post-feminist reading of how women are represented in journalism. By ‘post-feminism’ I do not mean a period after feminism, but an ideological environment in which there is, first recognition, implicit or explicit, of the genuine advances which women have made in journalism in recent times, as in other-traditionally male-dominated professions; and second, that the images of women journalism produced for cinema in the past can be re-read as more than sexist stereotypes and caricatures. That said, stereotypes and caricatures are at the heart of story-telling, and we should not be surprised that women are victims of the compression made by film-makers in their effort to reduce complex reality to ninety minute of engaging celluloid (McNAIR, 2010, p. 99-100).14

14 Tradução da pesquisadora: “Cinema tem sido parte de um aparato cultural da opressão patriarcal, sendo que

representar mulheres no jornalismo não apenas como elas foram e como são (discriminadas e subordinadas estruturalmente aos homens), mas como elas são percebidas por um setor maior da sociedade, retomando a função de filme como mito, percebendo como elas deveriam ser. Representações de mulheres jornalistas fortes sempre terminam com o retorno ao feminino apropriado. Mas isso não ocorre sempre. Se o filme tem sido, quase sempre ou na média, um meio conservador na relação de políticas sexuais agora é possível, precisamente porque os avanços dessas políticas para uma leitura pós-feminista e com mais nuances de como as mulheres são representadas no Jornalismo. Como pós-feminista, eu não quero dizer um período depois do feminismo, mas um desenvolvimento ideológico em que há, primeiro, reconhecimento, implícito ou explícito, do avanço que as mulheres fizeram no jornalismo nos tempos recentes, assim como em outras profissões tradicionalmente dominadas pelos homens; e em segundo, porque as imagens de mulheres jornalistas produzidas no passado para o cinema podem ser re-lidas mais como estereótipos sexistas e caricaturas. Com isso dito, estereótipos e caricaturas são o coração da arte de contar histórias e nós não devemos estar surpresos que mulheres são vítimas

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Essa evolução no mercado de trabalho se reflete em personagens femininas cada vez mais pró-ativas, como a personagem de Rachel McAdams em Uma manhã gloriosa e de Kate Winslet em A vida de David Gale. Elas são batalhadoras, procuram mostrar seu valor, mas não precisam mostrar que são iguais aos homens. Têm suas próprias características como sensibilidade e intuição que ajudam muito, no caso da personagem de Rachel McAdams a fazer um programa que tenha maior audiência, trazendo componentes do entretenimento para um programa jornalístico (infotainment) ou conseguindo juntar as peças de um quebra-cabeça e resolver um caso complexo, no caso de Kate Winslet em A vida de David Gale.

Nos anos 1970, um filme faz história: Todos os homens do presidente e por ser filmado em uma redação de jornal faz sucesso por trazer a marca da realidade. Vira parâmetro do que é ser jornalista em todo mundo, contribuindo também para o aumento no número de estudantes matriculados em Jornalismo nos Estados Unidos e no resto do mundo. Até hoje Carl Bernstein e Bod Woodward são lembrados por apurarem exaustivamente os fatos, ficando até de noite na Biblioteca do Congresso pesquisando e buscando encontrar as peças que faltavam no quebra-cabeças. Criam o mito do herói, dos jornalistas que conseguem o impeachment de um presidente corrupto, Richard Nixon.

É um filme que traz um tema recorrente: a oposição entre o jornalista experiente, representado pelo personagem de Dustin Hoffman e do novato, representado por Robert Redford. O primeiro escreve bem e dá dicas ao novato de como tornar uma história interessante. O segundo, por sua vez, é esforçado e determinado a aprender e preocupa-se com detalhes. Essa oposição aparece em Intrigas de Estado nas figuras de Russel Crowe como o experiente jornalista Cal McAffrey que ajuda a blogueira Della Frye a obter um furo de reportagem e a conduzir melhor uma investigação jornalística que irá revelar um esquema que envolve uma grande corporação e políticos importantes.

Os filmes que trazem jornalistas como correspondentes de guerra também trazem essa marca. Afinal eles mostram aquilo que o governo está encobrindo. Bons exemplos são os fotojornalistas de obras como Sob fogo cerrado, Salvador: martírio de um povo, Repórteres de guerra e o radialista interpretado por Robin Williams em Bom Dia, Vietnã.

Esse mito de herói cresce com o filme. No entanto, nos anos posteriores surgem mais filmes em que jornalistas são apresentados como vilões e apresentam questões éticas e fortes críticas à mídia, devido ao contexto histórico do pós-guerra, em que o cinema passa a mostrar dessas compressões feitas por diretores nos seus esforços em reduzir a complexidade da realidade para noventa minutos de um filme que motive as pessoas” (McNAIR, 2010, p. 99-100).

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obras mais realistas e com uma tônica muitas vezes de desencanto. Entre essas obras estão: Rede de intrigas, em que Faye Dunaway aparece como uma produtora de televisão sedenta por audiência, assim como personagem de Robert Downey Jr. em Assassinos por natureza.

Nos anos 1980 e 1990 muitos filmes sobre a televisão ganham destaque e seu poder de influência na sociedade, como O quarto poder, Mera coincidência, Rede de intrigas e Assassinos por natureza, que criticam jornalistas mais preocupados com a audiência, do que passar informações verdadeiras ao público. A obra traz um interessante debate sobre o crescimento de notícias ligadas ao entretenimento (infotainment) é Uma manhã gloriosa, que mostra também o difícil desafio de se obter audiência hoje na televisão aberta, devido à concorrência da televisão a cabo e da internet. Ao vivo de Bagdá mostra também como ganhou notoriedade a CNN, primeiro canal de notícias 24 horas por dia, ao cobrir a Guerra do Golfo e conseguir uma entrevista exclusiva com Saddam Hussein.

Um tema bastante recorrente é a questão do furo jornalístico, presente na maior parte dos filmes, como em O informante e Todos os homens do presidente, em que os jornalistas são apresentados como verdadeiros heróis. Assim como o tema da objetividade, presente em Capote e Quase famosos, em que os protagonistas começam a se questionar se não estão ficando “próximos demais” de suas fontes, não tendo o devido afastamento necessário para escrever de maneira imparcial. Em O preço de uma verdade, o jornalista Stephen Glass deliberadamente cria os fatos para ter sucesso na carreira e nem sente culpa por isso, mas vai ter de pagar um preço alto por sua atitude ousada.

Nos anos 1990 e 2000 filmes que abordam a questão das novas tecnologias, como a internet e a sua popularização e crescente utilização de blogs, ganham destaque. Um bom exemplo é Intrigas de Estado, que mostra também o quanto caiu a vendagem de jornais impressos e como está sendo a transição para o jornalismo online. O filme também se destaca

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