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Parte II – Empreendedores “estilo de vida” em turismo no espaço rural:

5.1 Objetivos gerais e específicos

O impacto económico e social do empreendedorismo é amplamente reconhecido, nomeadamente ao nível dos pequenos negócios que representam a maioria das empresas turísticas, não apenas nos países europeus, cujo tecido empresarial é marcadamente constituído por PMEs, mas um pouco por todo o mundo (Reijonen e Komppula, 2007). Responsáveis por uma parte significativa da criação de riqueza, entre outros impactos económicos e sociais de relevância, os empreendedores têm merecido atenção crescente por parte dos estudiosos, também no setor do turismo, em particular no que diz respeito à sua propensão para o crescimento, inovação, desempenho e sucesso (Ateljevic e Doorne, 2000; Bosworth e Farrell, 2011; Glancey et al., 1998; Komppula, 2004; Morrison et al., 2003; Morrison, 2006; Reijonen e Komppula, 2007).

O turismo é uma atividade indissociável do lugar, de um contexto geográfico, social, económico e cultural, pelo que neste estudo se procurou restringir, tanto quanto possível, a variabilidade de contexto. Assim, o estudo terá lugar numa região do interior do país – o Alto Alentejo – região de características eminentemente rurais, descrita em maior pormenor no capítulo 6, e num subsetor do turismo, aqui designado como empreendimentos de turismo no espaço rural. Esta opção reflete a preocupação de partir de uma base relativamente comum aos empreendedores para uma compreensão mais profunda de casos de empreendedorismo contextualizados, não apenas no que diz respeito ao seu contexto ambiental mais macro (geográfico, socioeconómico e cultural), mas também ao nível do setor e subsetor de atividade. Esta é uma questão de grande relevância, uma vez que o processo empreendedor sofre influências de múltiplas variáveis externas, pelo que considerar a especificidade do produto e contexto turísticos em que os empreendedores se movem, é fundamental (Getz e Petersen, 2005; Glancey et al., 1998; Morrison, 2006; Reijonen e Komppula, 2007).

Uma abordagem holística e integradora do fenómeno do empreendedorismo parece ser particularmente adequada no caso dos pequenos negócios em turismo, e em particular no turismo em espaço rural. Esta abordagem multidimensional inclui, entre outros aspetos, as motivações, os objetivos e os comportamentos dos empreendedores (Bosworth e Farrell, 2011; Carlsen et al., 2008). Como já foi referido, a criação dos negócios, a sua dimensão e estrutura, a forma como são geridos, o seu desempenho e sucesso são também aspetos que suscitam um interesse crescente, quer na academia, quer em contextos profissionais (Claire, 2012; Morrison, 2006; Reijonen e Komppula, 2007). Contudo, os estudos que têm vindo a ser realizados são escassos e fragmentados (Ateljevic, 2007; Ioannides e Petersen, 2003; Shaw e Williams, 1998).

O empreendedor de um negócio de turismo no espaço rural, tal como acontece com outros contextos dos pequenos negócios em turismo, pode ser motivado por uma ampla diversidade de aspetos, podendo inclusivamente ser orientado por objetivos de “estilo de vida” na criação do negócio, usando-o até como estratégia para conseguir um determinado estilo de

- 127 - vida (Ateljevic e Doorne, 2000; Bosworth e Farrell, 2011; Carlsen et al., 2008; Getz e Carlsen, 2005; Hall e Rusher, 2004; Komppula, 2004; Lewis, 2005; Morrison, 2006; Peters et al., 2009; Shaw e Williams, 2004). No entanto, sobre os seus comportamentos e práticas da gestão do negócio pouco se sabe. Os contributos que se conhecem, no turismo em geral, no turismo em espaço rural e nos pequenos negócios familiares de turismo são parciais, incidindo em um ou poucos aspetos da gestão das empresas e dos seus resultados (Akbaba, 2012; Ateljevic, 2007; Getz e Carlsen, 2005; Lynch, 2000, 2005; Lynch et al., 2009; Page et al., 1999; Park et al., 2014; Szivas, 2001). Considerando os empreendedores “estilo de vida”, são ainda mais raros os estudos que se debruçam sobre as práticas de gestão adotadas e sobre os resultados que delas resultam (Bosworth e Farrell, 2011; Marchant e Mottiar, 2011; Mottiar, 2007). Alguns autores estudaram o desempenho e o sucesso dos pequenos negócios de turismo, nalguns casos em contexto rural, e a forma como os resultados estão relacionados com as motivações dos empreendedores, muitas destas motivações identificadas como sendo de “estilo de vida” (Peters et. al, 2009; Reijonen, 2008; Reijonen e Komppula, 2007). No entanto, são estudos que adotam a perspetiva económica na sua análise (Peters et al., 2009) ou que consideram nas suas análises as motivações e não os comportamentos ou práticas dos empreendedores (Reijonen, 2008; Reijonen e Komppula, 2007).

Nas motivações, ainda que mais estudadas, o foco recai fundamentalmente sobre as motivações iniciais. A forma como evoluem estas motivações no tempo e como influenciam as práticas de gestão não é clara. Sabe-se também que os perfis dos empreendedores têm influência nas opções tomadas pelos indivíduos, mas saber como influenciam as escolhas carece ainda de amplo esforço de pesquisa (Ateljevic, 2007; Park et al., 2014; Thomas et al., 2011), o que também é verdade no que aos respetivos resultados (económicos e não só) diz respeito.

Em Portugal, a investigação sobre empreendedorismo em turismo rural é bastante escassa, com alguns notáveis exemplos que começam a construir caminho nesta área. A maioria dos estudos caracteriza os empreendedores e seus negócios, traçando perfis e analisando, nalguns casos, as motivações na base da criação das empresas (Pato, 2012; Pato et al., 2014; Ribeiro, 2001, 2003a; Silva, 2009; Silva et al., 2003). Os estudos que se debruçam sobre a atuação dos empreendedores de turismo em contextos rurais (em várias regiões do país) focalizam-se em aspetos específicos da gestão, como as redes, a qualidade, o marketing e a promoção e o papel das relações sociais na gestão destes negócios (Dinis, 2011; Loureiro, 2007; Pato, 2012; Pato et al., 2014; Silva, 2009; Silva, 2012). Não se conhecem estudos que analisem, com alguma profundidade, a atuação dos empreendedores ao nível das diferentes áreas da gestão e, nem tão pouco, estudos que se tenham debruçado, de forma sistemática e compreensível, sobre o fenómeno do empreendedorismo “estilo de vida”, neste contexto do turismo em espaço rural.

Neste sentido, e dada a grande complexidade do fenómeno, bem como a importância do setor do turismo para a sustentabilidade das regiões e qualidade de vida das populações, sobretudo em meio rural, o papel do empreendedor, entendido aqui na perspetiva do promotor e gestor de um negócio, afigura-se de vital importância. Assim, uma questão fundamental preside a esta investigação:

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É possível identificar empreendedores “estilo de vida” entre os proprietários dos empreendimentos de alojamento turístico no espaço rural?

Como se diferenciam de outros empreendedores ao nível da sua atuação e resultados?

Espera-se, partindo do empreendedor como unidade de análise, que este trabalho possa contribuir para um melhor entendimento das motivações que estão na base da criação de negócios de turismo em contexto rural, bem como da sua evolução no tempo. O estudo dos comportamentos e práticas de gestão do negócio permitirá compreender como atuam e em que aspetos os empreendedores “estilo de vida” se diferenciam dos restantes. O estudo possibilitará também o entendimento de como se relacionam o perfil, as motivações e, as práticas de gestão dos empreendedores com o sucesso do negócio, neste contexto particular.

A questão base de investigação sugere um conjunto de questões específicas que estão relacionadas com diferentes particularidades do fenómeno a estudar:

Qual o perfil (ou perfis) do empreendedor de turismo no espaço rural?

Quais as motivações iniciais dos empreendedores na criação do seu negócio?

Como evoluíram essas motivações iniciais?

Como atuam os empreendedores ao nível das práticas de gestão do seu negócio?

Em que medida se relacionam as motivações, particularmente as que se podem considerar “estilo de vida”, com os comportamentos dos empreendedores, nomeadamente, com as práticas de gestão?

Como evoluíram os comportamentos identificados, sobretudo os que se relacionam com a gestão do negócio?

Em que medida os comportamentos adotados contribuíram para o desempenho dos negócios e para gerar impactos na envolvente onde se situam?

Como é entendido o sucesso por parte destes empreendedores?

Em que medida as perceções de sucesso dos empreendedores afetam as suas motivações e práticas de gestão?

Os objetivos implícitos nestas questões de investigação remetem para a intenção de compreender, com alguma profundidade, os empreendedores dos empreendimentos de turismo em espaço rural. Três grandes construtos estão em análise: motivações, práticas de gestão e sucesso. Antecede o seu estudo e discussão, uma caracterização do perfil destes

- 129 - empreendedores. Este perfil, essencialmente de natureza sociodemográfica, pretende também incluir informação ao nível das crenças e valores que orientam as suas escolhas e opções de vida, permitindo, por esta via, um melhor conhecimento sobre quem são estes homens e mulheres.

A motivação que os levou a criar um negócio neste setor e a localizá-lo na região em causa, mas também a forma como evoluíram essas motivações permitirá compreender porque se mantêm estes empreendedores na atividade e como se sentem relativamente a isso. Procuram-se eventuais mudanças na motivação inicial, mudanças que podem, de alguma forma, condicionar os comportamentos de gestão e a dinâmica dos negócios, inclusivamente os seus resultados.

Compreender as práticas de gestão que os empreendedores adotam e porquê, como as entendem e avaliam, constitui um dos principais enfoques desta investigação. Procuram-se identificar essas práticas nas principais áreas funcionais da empresa, questionar e observar como atuam os empreendedores em cada uma delas, bem como, perceber se, ao longo do ciclo de vida do negócio, houve alterações na forma como estes são geridos.

Relativamente ao sucesso, terceiro construto em análise, espera-se compreender de que forma estes empreendedores entendem “sucesso” e como o avaliam no seu negócio e na sua vida. O objetivo passa por tentar perceber até que ponto estão satisfeitos com o negócio, como avaliam o seu desempenho, se o consideram de sucesso e porquê, também em função das motivações iniciais (mais ou menos associadas ao “estilo de vida”) e das práticas de gestão adotadas. Esta investigação adota uma abordagem global e multifacetada do construto, considerando que o sucesso pode ser entendido e analisado sob múltiplas perspetivas, e não apenas sob a lente económica e financeira. Procura-se compreender a que está associado o sucesso para estes empreendedores e como o negócio pode contribuir para os múltiplos “sucessos” dos vários stakeholders.

Por fim, pretende-se compreender em que medida a diferença entre diversos perfis e motivações pode influenciar a atuação dos empreendedores e, desta forma, também o desempenho e sucesso dos seus negócios, focando-se particularmente a comparação entre empreendedores “estilo de vida” e restantes.