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As opções tomadas ao nível da organização da tese estão relacionadas com a temática em estudo, mas também com o paradigma em que se insere e com os caminhos metodológicos seguidos. Como se referiu na secção anterior, a abordagem a este estudo é essencialmente interpretativa, de profundidade, visando-se uma compreensão de um fenómeno em que os sujeitos são humanos e, portanto, dentro do que se pode considerar como paradigmas emergentes na investigação em turismo, são reconhecidos como coautores ou cocriadores do conhecimento (Pritchard et al., 2011). Neste sentido, a segunda parte da tese, que corresponde à aplicação empírica do estudo, apresenta-se mais extensa do que a revisão da literatura (parte I), que apresenta o estado da arte, apenas dos construtos principais.

Esta tese está, portanto, organizada em duas partes e oito capítulos. A primeira parte (três capítulos) é dedicada a uma revisão da literatura considerada relevante para a temática em estudo e, a segunda parte apresenta os objetivos e a metodologia da investigação empírica, bem como a sua análise e os seus resultados. Termina-se com um capítulo de conclusões, limitações e sugestões de investigação futura. O capítulo introdutório apresenta o enquadramento e a pertinência do tema escolhido, os objetivos principais que guiaram esta investigação, uma breve explicação sobre a metodologia seguida e a organização do trabalho.

O segundo capítulo é dedicado ao turismo em espaço rural, uma vez que é neste domínio que se insere a presente investigação. É feita uma reflexão sobre o conceito e a sua evolução, contemplando-se também um “olhar” sobre as áreas rurais e as suas principais transformações. Estas mudanças conduziram, em grande medida, a uma conceção do rural que tem implicações profundas na vida destes territórios. O espaço rural como espaço de consumo, idealizado e contemplado (Covas, 2009; Figueiredo, 2003a; Kastenholz, 2010, 2014; Kastenholz et al., 2014), no qual se procuram vivenciar experiências diversificadas e únicas, assentes nos recursos endógenos característicos deste espaço (Kastenholz, Carneiro e Marques, 2012), dá origem a um conjunto de novas oportunidades que permitem transformar o campo num (também) espaço de ação. O turismo tem, em muitas destas regiões, um papel importante e pode dar um contributo para o desenvolvimento local que, neste estudo, se explora por via dos empreendedores e seus negócios de pequenas unidades de alojamento em espaço rural. Neste sentido, este capítulo aborda a natureza da oferta e da procura de turismo em espaço rural, sua evolução e condicionantes, em Portugal, mas também na Europa e no mundo.

Os empreendedores são os sujeitos desta investigação e o seu principal enfoque. O terceiro capítulo debruça-se sobre o conceito de empreendedorismo, sobre a evolução deste conceito observada ao longo de mais de um século de investigação. O empreendedorismo é tratado nas suas múltiplas dimensões e abordagens, com especial atenção dada ao fenómeno do empreendedorismo designado de “estilo de vida”. Além dos aspetos concetuais, procura-se, sobretudo no que respeita aos negócios de turismo, compreender o que revela a literatura sobre o perfil e comportamento destes homens e mulheres. As reflexões enquadram vários aspetos de

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contexto, mais alargado ou mais restrito, mas o enfoque principal é sempre o empreendedor. O empreendedorismo “estilo de vida” é visto, e no âmbito desta tese entendido também assim, como uma opção de vida, não apenas uma opção de carreira (Marcketti et al., 2006). Enquanto estratégia para criar ou manter um estilo de vida que se considera interessante, equilibrado e de qualidade, pode também criar valor económico e social e, dessa forma, contribuir para o desenvolvimento, que se pretende integrado e sustentável (Bosworth e Farrell, 2011; Gelderen, 2007; Marcketti et al., 2006; Parrish, 2010).

O quarto capítulo encerra a primeira parte da tese e reflete sobre os pequenos negócios. A criação, a gestão e o sucesso são objeto de análise, numa tentativa de sistematização do estado da arte ao nível das micro e pequenas empresas de turismo. Especial atenção é dada às características e particularidades destes negócios no setor do turismo, especificando sempre que possível, o caso do turismo rural. O facto de muitos destes negócios constituírem empresas familiares é um aspeto particularmente relevante no turismo, uma vez que encerra desafios importantes à gestão destes negócios. A sazonalidade e as motivações na base da decisão de empreender são outras duas dimensões que importa analisar neste contexto de estudo. As práticas de gestão adotadas pelos empreendedores de pequenos negócios de turismo são, com especial enfoque, discutidas. Procura-se perceber que práticas são mais comuns, mas também, que princípios de gestão as sustentam e porquê. Apresentam-se e discutem-se alguns dos resultados dos estudos que têm vindo a ser realizados no domínio dos pequenos negócios de turismo, investigação que se reconhece escassa e fragmentada (Ioannides e Petersen, 2003; Shaw e Williams, 1998).

O capítulo quatro termina com uma discussão sobre o desempenho e sucesso dos pequenos negócios, as medidas financeiras e não financeiras que podem ser usadas para medir os resultados, e sobre como a maior parte da investigação realizada a este nível apresenta uma visão algo redutora (Hall e Rusher, 2004; Reijonen e Komppula, 2007). É sugerida uma perspetiva holística na análise do desempenho e sucesso dos pequenos negócios de turismo, onde medidas não financeiras são também consideradas, ajudando assim a perceber o porquê de muitos empreendedores considerarem terem negócios de sucesso, ainda que os tradicionais indicadores sejam substancialmente fracos (Cederholm e Hultman, 2010).

Os dois capítulos que iniciam a segunda parte da tese (capítulo cinco e capítulo seis) apresentam os objetivos da investigação empírica, o modelo que lhe serviu de base, a metodologia e o objeto de estudo. O capítulo cinco apresenta e explica os objetivos, as questões e o modelo de investigação adotados para esta investigação. São apresentadas as dimensões que constituem o modelo, bem como as dinâmicas e relações inerentes e, em detalhe, os objetivos específicos. Prossegue com as opções metodológicas tomadas para esta tese. A justificação e enquadramento das mesmas são apresentados, discutindo-se também alternativas às mesmas. Apresenta-se uma evolução das abordagens metodológicas nas ciências sociais em geral e, no turismo em particular, assim como algumas das tendências mais recentes a este nível. Discute-se o estudo de caso enquanto metodologia iminentemente qualitativa e adequada a estudos em profundidade de fenómenos contemporâneos e complexos, como é o caso desta investigação.

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Enquadra-se método, estratégia metodológica e técnicas usadas no paradigma em que se situa o estudo.

O capítulo seis delimita o objeto de estudo considerando a dimensão geográfica, setorial e individual. Assim, o capítulo inicia com uma delimitação territorial e uma breve caracterização da região onde o estudo teve lugar, o Alto Alentejo. Prossegue com a caracterização do turismo em espaço rural na região, terminando com uma breve reflexão sobre os empreendedores e sobre as razões que justificam constituírem-se como sujeitos desta investigação.

Os resultados do estudo empírico, sua análise e discussão serão apresentados e discutidos no capítulo sete. Primeiramente, é feita uma breve caracterização e análise ao perfil dos empreendedores e dos seus negócios. É uma caracterização essencialmente socioeconómica. Posteriormente, procede-se a uma análise mais aprofundada dos construtos do modelo apresentado no capítulo cinco: motivações, práticas de gestão e sucesso. Esta é uma análise entre casos, com transcrições dos discursos, e com contributos das múltiplas fontes utilizadas, nomeadamente das entrevistas aos turistas e da observação direta. O capítulo termina com uma discussão que, ao procurar dar resposta às questões formuladas, apresenta também uma visão global do caso.

O capítulo que encerra este trabalho sistematiza um conjunto de conclusões, contributos e eventuais implicações que emanam da investigação. Uma análise crítica à perspetiva global dos resultados permite aferir até que ponto os objetivos, inicialmente traçados, foram efetivamente alcançados. As limitações são reconhecidas e apresentadas, bem como algumas sugestões de investigação futura.