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Inicialmente, este trabalho busca descrever e analisar a variação na CV1PP na escrita de alunos dos anos finais do Ensino Fundamental em duas escolas da rede pública de ensino do município de Itajaí/SC. Também busca analisar, ainda que sucintamente, como as escolas (e professores) têm lidado com as questões de “erro” e variedades linguísticas, mais especificamente quanto à CV1PP.

Elencamos cinco objetivos específicos:

 Analisar quais as variantes que coocorrem e concorrem na escrita dos alunos em cada uma das variáveis controladas, observando quais grupos de fatores linguísticos, sociais e estilísticos condicionam o uso das variantes em questão (realizadas pelos pronomes nós/a

gente ou pelo SN+eu e o verbo correspondente

terminado em -mos, -mo e zero) na escrita dos alunos das séries finais de duas escolas públicas de Itajaí;

 Observar e discutir a respeito das diferenças

socioeconômicas entre as escolas34 como possíveis favorecedores de uma variante em detrimento das outras;

 Analisar, por meio do teste aplicado aos professores, quais formas são alvo de mais rigor na correção da produção escrita do aluno (nós + zero; nós + -mo; a

gente + -mos...);

 Analisar os questionários35 dos professores e dos alunos e, discorrer, apesar das limitações deste trabalho36, sobre

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A escola é um dos possíveis condicionadores. Categorizamos os dados distinguindo escola 1 (+ privilegiada) e escola 2 (- privilegiada).

35 Os questionários respondidos pelos seis professores estão em anexo (ANEXO E).

36 Estamos conscientes de nossas limitações quanto às análises de questões que envolvem as

concepções dos professores e até mesmo dos alunos concernente a 'erro' e variação linguística. Primeiro, por termos apenas seis professores envolvidos na pesquisa e apenas de uma cidade (Itajaí); segundo, por sabermos que um questionário não poderá dar conta de fenômenos que precisariam de um trabalho minucioso (com outras ações como observações das aulas, por exemplo, entre outros) pois na prática há a possibilidade das ações não corresponderem necessariamente com o que já sabemos sobre a língua. É nas ações diárias, no cotidiano que alunos, professores (e as pessoas de modo geral) demonstram em suas atitudes suas concepções referentes aos falantes e ao seu modo de falar (desde olhares entre professores ao ouvirem algo “errado” dito por um colega até as risadas dos colegas diante do “erro” de um dos alunos).

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suas respostas concernentes a concepções a respeito da variação linguística e do ensino/aprendizagem da língua portuguesa.

Levantamos a seguir algumas questões e principais hipóteses desta pesquisa, deixando as hipóteses específicas de cada variável independente para serem tratadas na seção destinada à descrição da metodologia do trabalho, no capítulo 3.

1.2.1 Quanto à produção textual dos alunos

 Questões

1. Qual das três variáveis dependentes apresentará mais a

combinação de CV de acordo com o padrão: CV com o sujeito nós; CV com o sujeito SN+eu; ou CV com o sujeito a gente?

2. Quais os principais condicionadores linguísticos e extralinguísticos da variação na CV1PP (para cada uma das três variáveis dependentes)?

3. Há diferenças significativas quanto à variação na CV1PP entre as duas escolas, visto que são de realidades socioeconômicas diferentes?

 Principais hipóteses:

1. Referente às variáveis dependentes, acreditamos que haverá maior ocorrência de CV padrão para o sujeito nós e SN + eu do que para a gente. É possível que isso esteja relacionado ao fato de o pronome a gente estar ausente das grades curriculares das escolas, da maioria dos livros didáticos e gramáticas, estando parcialmente ou, em alguns casos, totalmente ignorado seu estudo e o de sua CV.

2. Referente às variáveis independentes:

a) É provável que os grupos de fatores linguísticos ‘tempo verbal’, ‘saliência fônica’ e ‘realização do sujeito’ (expresso ou nulo) sejam os mais significativos na variação da CV1PP a saber:

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 o tempo verbal imperfeito do indicativo37, por ter sua forma alvo proparoxítona que é prosodicamente marcada por contrariar a tendência geral da língua favorece a omissão da DNP (zero);

 as formas verbais que formariam proparoxítonas em sua forma alvo desfavorecem muitíssimo a redução da DNP (-mo) com mais casos de zero. Quando há a combinação com P4 ela ocorre sem a redução, havendo restrição para formas como cantávamo, escrevíamo e partíamo (com apagamento do -s) conforme Zilles, Maya e Silva (2000, p. 211).

 os verbos com a forma alvo mais saliente favorecem a forma

nós/SN+eu com P4 (-mos-mo) e; zero para a gente;

 o sujeito nulo favorece P4 devido à necessidade de marcação da referência pela DNP.

b) Esperamos que, dos fatores extralinguísticos, a ‘escolaridade’ seja a variável que mais favoreça a marcação na CV1PP. Quanto mais avançada a série mais os alunos utilizarão a norma padrão tanto relacionada ao pronome nós ou ao SN+eu, quanto ao pronome a gente.

3. Quanto às escolas, nossa hipótese é de que a escola 1 (+ privilegiada/-carente) utilize mais as formas padrão que são ensinadas, devido aos fatos de os pais serem mais escolarizados e de ter essa escola menos evasão e migração das famílias pertencentes às comunidades próximas.

1.2.2 Quanto ao questionário e ao teste destinado aos professores:

 Questões:

1. Qual a visão dos professores em relação à noção de “erro” e à variação linguística, especialmente quanto à CV1PP?

2. O uso de formas não-padrão por parte dos alunos é avaliado com o mesmo “rigor” independente da modalidade e contexto? (fala/escrita; + formal/-formal);

3. Os professores consideram necessário o estudo do pronome a

gente e de sua CV? Eles incluem esse estudo em seus planos de

aula?

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Há outros tempos verbais que formariam proparoxítonas em sua forma alvo como o imperfeito do subjuntivo e o futuro do pretérito, porém tivemos pouquíssimos casos nesses tempos verbais de maneira que foram amalgamados a outros tempos verbais.

93  Principais hipóteses:

1. Acreditamos que os professores, devido às formações continuadas e à formação do curso de graduação, tenham uma base mínima de conhecimento quanto à variação linguística e à mudança do conceito de “erro”, mesmo assim é possível que, por parte dos professores, haja mais rigor na avaliação da CV do que nos outros fenômenos em variação encontrados no texto tanto na fala quanto na escrita38;

2. Os professores não consideram aceitável a concordância não padrão para os pronomes de primeira pessoa do plural (nós;

SN+eu e a gente), em contexto formal na fala ou na escrita e,

possivelmente, também não a aceitem em contexto informal tanto na fala quanto na escrita;

3. Os professores não têm em seus planos de aula o conteúdo relativo ao estudo do pronome a gente e suas respectivas concordâncias e, por hipótese, possivelmente, não consideram que seja necessário sua inclusão na grade curricular do município.

1.2.3 Quanto ao questionário dos alunos

Levantamos apenas duas questões e duas hipóteses pelo fato de as perguntas do questionário tratarem em geral de dados pessoais dos alunos e de suas famílias. As hipóteses referem-se às duas últimas questões do questionário (15 e 16):

Questão 15: Você já teve, ao longo de sua vida escolar, receio de falar