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Apresentamos aqui a distribuição geral das ocorrências para as três variáveis dependentes: i) nós + -mos, -mo e zero; ii) SN+eu + -

mos, -mo e zero e; iii) a gente + -mos, -mo e zero. Nas seções

posteriores, trataremos separadamente de cada uma das variáveis dependentes.

5.2.1 Nós versus SN + eu versus a gente: distribuição geral de -mos; -mo e zero

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A distribuição geral da nossa amostra de CV com os sujeitos de 1PP nós, SN+eu e a gente está expressa no gráfico 2 e atesta a nossa hipótese de que haveria mais casos de sujeito nós e SN+eu do que a

gente por se tratar de textos escritos.

Gráfico 2: Distribuição de nós, SN+eu e a gente

Como podemos observar no gráfico, tivemos um total de 2.19983 dados sendo 1.204 com o pronome nós e seu nulo (55%), 787 com

SN+eu e seu nulo (36%) e 208 com a gente e seu nulo (9%). Nossos

dados se aproximam dos de Brustolin (2009) que ao analisar dados de escrita, também de escolas públicas, obteve 14% de a gente contra 86% de nós.

Quando pedimos aos alunos que escrevessem uma história real ou fictícia vivida por eles juntamente com outra(s) pessoa(s), os alunos necessariamente partiram do SN+eu, pois precisaram nomear quem estava participando. Isso de certa forma influenciou na baixa frequência de uso do sujeito pronominal a gente. Ainda assim obtivemos 208 dados de a gente. Logo após enumerar as pessoas participantes da história, o aluno alternava para a gente ou nós. Alguns não alternaram, deixaram de recorrer ao pronome a gente. Dos 27 dados de a gente das 5ª séries, apenas dois dados são de meninos (um de cada escola) e os outros 25 dados são de meninas da escola 1. Isso indica que das 2 turmas de 5ª

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Reunindo todos os dados temos 1.873 dados de -mos, 73 de -mo e 253 dados de zero.

1204 787 208 nós SN+eu a gente

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séries da escola 2, nenhuma menina utilizou a gente. Nas outras séries há melhor distribuição entre meninos e meninas no uso de a gente, tendo destaque quanto à frequência as meninas (71%): dos 208 dados de

a gente, 149 foram de meninas contra 59 de meninos. Zilles (2007)

destacou que esta mudança (gramaticalização de a gente) é liderada por mulheres. Os resultados quantitativos de um estudo de tempo aparente84 apresentado pela autora mostram que o gênero feminino favorece o uso de a gente PR de 0,55 e o gênero masculino o desfavorece com PR de 0,41 sendo 915/1.266 ocorrências (72%) de uso de a gente pelas mulheres e 422/678 (62%) pelos homens.

Na subseção a seguir passamos a discorrer sobre as variáveis dependentes que se referem especificamente à CV1PP combinadas aos sujeitos: nós, SN + eu e a gente.

5.2.2 Nós, SN + eu e a gente: combinações com -mos (P4); -mo (P4) e

zero (P3)

Os resultados obtidos na rodada geral corroboram nossas hipóteses de que haveria mais a combinação de sujeitos nós e SN+eu com -mos do que com zero e mais sujeito a gente com zero do que com P4 (-mos/-mo). O gráfico 3 ilustra a distribuição geral de nós, SN+eu e

a gente de nossos dados85 com as respectivas combinações de CV.

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Entre os estudos apresentados por Zilles (2007), este se refere a entrevistas de 39 informantes do banco de dados do projeto Variação Linguística Urbana no Sul do País, VARSUL (1990). Os informantes são de Porto Alegre e foram estratificados em gênero (19 masculino e 20 feminino); idade e; nível de escolarização.

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As 18 combinações de sujeito nós/SN+eu com P6 encontradas em nossa amostra foram excluídas dos nossos dados. São elas:

i. … já que nós ia brincar ele perguntou se nós podião brincar na frente da casa dele... (xm52)

ii. ...eu e minha prima estavam acordadas e nós resolvemos... (of51) iii. … eu e meus amigo, estavam brinquando quando... (b5m2) iv. Um dia eu e meus amigos estavão Brincando de futebol... (xm52)

v. Eu e meus amigos são muito legal uma com as outra. (om52) vi. … eu e meus amigo, estavam brinquando quando... (bm52) vii. Um dia eu e meus amigos estavão Brincando de futebol... (xm52) viii. Eu e meus amigos são muito legal uma com as outra. (of52)

ix. …Era uma vez eu [e] Cristiano estavam sontando Pipa mais com cerrou quando policia... (gm61)

x. … e o governador querendo que nois subiam no morro do careca... (sm61) xi. … eu e meus amigos foram jogar bola... (um61)

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Gráfico 3: Distribuição geral nós, SN+eu e a gente e respectivas concordâncias

Como podemos observar no gráfico, dos 1.204 dados com o sujeito pronominal nós (pleno ou nulo), 1.077 (89%) tem a concordância com -mos, 50 (4%) com -mo e 77 (6%) com zero. Com o sujeito SN + eu (pleno ou nulo) houve 787 dados dos quais 720 (91%) foram com concordância com -mos, 20 (2%) com -mo e 47 (5%) com

zero. Com o sujeito a gente houve 208 dados dos quais 76 (37%) foram

com -mos, 3 (1%) com -mo e 129 (62%) com zero. A tabela 27 ilustra a distribuição geral de CV1PP encontrada em nossos dados com a frequência e porcentagem de -mos -mo e zero.

xiii. Nós fomos e ficamos lá por 30 anos e vivem felizes aventuras... (tf61)

xiv. ...nois nademos e nois não sabiam que era uma cachoeira … (tm62) xv. Nas minhas verias eu e minha família divertiram-se muito... (rf62) xvi. … eu e a Minha mãe eram indenticom [idênticos] muitos parecido... (cm82) xvii. … como nós todos eram muito pobre nós tinham que caçar …(cm82) xviii. … como nós todos eram muito pobre nós tinham que caçar … (cm82)

1077 720 76 50 20 3 77 47 129 0 200 400 600 800 1000 1200 nós SN+eu a gente mos mo zero

169 Tabela 27: Distribuição geral nós, SN + eu e a gente e respectivas

concordâncias (-mos versus -mo versus zero) CV1PP/

Sujeito

-mos -mo zero

N % N % N %

Nós 1.077/1.204 89% 50/1.204 4% 77/1.204 6%

SN + eu 720/787 91% 20/787 2% 47/787 5%

A gente 76/208 37% 3/208 1% 129/208 62%

Total 1.873/2.199 85% 73/2.199 3% 256/2.199 11%

Conforme a tabela, temos 2.199 ocorrências de sujeito de 1PP, dos quais 85% são combinados com formas verbais com -mos, 3% com

-mo e 11% com zero. Surpreendeu-nos a porcentagem alta de a gente

com -mos/-mo com 79 dados, portanto 37% das vezes em que o sujeito foi a gente ele teve a combinação com -mos/-mo enquanto que nós e

SN+eu tiveram ambos apenas 6% e 5% de zero respectivamente.

Brustolin (2009) ao analisar textos escritos de alunos do Ensino Fundamental de Florianópolis obteve resultados um pouco diferentes dos nossos: 17% de a gente com -mos/-mo (29/174) e para nós 2% de

zero (24/1.110). Na fala a autora observou 11% de a gente + P4 e 2% de nós + zero.

Vianna (2006) teve como resultado em testes escritos 96% e 92% de nós + P4 para as décadas de 1980 e 2000, respectivamente o que se aproxima de nossos resultados. Porém para a gente ela obteve como resultado 11% e 7% de P4 para as décadas de 1980 e 2000 respectivamente.

Quando comparados aos dados de Vianna (2011), também com dados oriundos de testes escritos, nossos resultados se aproximam mais dos resultados obtidos pela autora no PE do que no PB quanto ao pronome a gente: 35% de P4 (PE) e 18% de P4 (PB). Para o pronome

nós a combinação de Vianna foi de 100% com P4 (PE) e de 90% de P4

(PB). Neste último caso nossos resultados se aproximam dos resultados da autora.

Quanto ao alto índice de a gente + P4 (-mos/-mo) em nossos dados, faremos uma análise mais aprofundada quando tratarmos especificamente da CV1PP com o pronome a gente (seções 5.5 e 5.6),

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pois sabemos que muitas destas combinações se deram com sujeito nulo (precedido pelo pronome a gente) e nestes casos poderia se perder a referência caso não houvesse a DNP como em (1'). Portanto, se a concordância está em P3/zero e o sujeito é nulo fica fácil de haver ambiguidade quanto à referência, já que ela não está expressa no sujeito “exigindo” que seja, desta forma, expressa com a desinência verbal como ocorre quando o sujeito é nós ou SN + eu nulo.

(1) … e depois agente foi em todos os show que havia nesse dia fomos no JB, Bionce, e etc; comemos (jantamos) no restaurante... (vf61) (1') *… e depois agente foi em todos os show que havia nesse dia foi no

JB, Bionce, e etc; comeu (jantou) no restaurante...

Em (1') não poderíamos ter certeza se comeu e jantou referia-se a a gente ou a ele/a. Neste caso o falante, não necessariamente consciente disto, não seguirá um padrão a gente + zero, nulo + zero sob pena de se perder a referência ou ainda de haver ambiguidade quanto ao referente, mas faz as adequações necessárias como falante competente86 que é. A DNP assegura a indexação referencial de 1PP. Sobre a concordância com a gente voltaremos a discutir detalhadamente nas seções 5.5 e 5.6.

Discorrendo sobre a perda do -s (redução da DNP) nossa hipótese de que com nós e SN+eu houvesse mais perda do -s do que a combinação com zero não se sustentou, provavelmente pela perda do -s ser mais característica da fala do que da escrita. Nossa hipótese teve como base os estudo de Zilles, Maya e Silva (2000) os quais tiveram como resultado maior frequência de -mo do que zero (34% contra 13%), e ainda, Zilles e Batista (2006), porém neste a frequência da forma não- padrão foi menor (15% de -mo contra 3% de zero) devido ao fato de os informantes serem de maior escolaridade. A seguir colocamos seus dados comparados aos nossos especificamente relativos ao pronome nós e SN+eu já que os autores não incluíram nesses estudos a gente. Ressaltamos a questão da diferença de escolaridade no caso do estudo de Zilles e Batista (2006)87 e também a diferença quanto à modalidade

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Todo falante nativo de uma língua é um falante plenamente competente dessa língua, capaz de discernir intuitivamente a gramaticalidade ou agramaticalidade de um enunciado. (BAGNO, 2005, p. 66).

87 Das 42 entrevistas analisadas pelas autoras apenas quatro informantes contam com 11 anos

de escolaridade (ensino médio completo). Os demais têm nível mais elevado quanto à escolarização.

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(fala e escrita) já que nosso estudo conta com dados de escrita enquanto que os autores aqui supracitados estudaram dados de fala. Para fins de comparação, a tabela 28 ilustra a distribuição de -mos; -mo e zero com os resultados para o sujeito nós e SN+eu.

Tabela 28: Distribuição geral da combinação de nós e SN+eu com -mos, -mo e zero comparada aos resultados de Zilles, Maya e Silva (2000) e Zilles e

Batista (2006)

Estudo -mos -mo zero

N % N % N % Nossos resultados 1.806/2.001 90% 70/2.001 3% 125/2.001 6% Zilles, Maya e Silva (2000) 579/1.035 53% 347/1.035 34% 109/1.035 13% Zilles e Batista (2006) 995/1.195 82% 167/1.195 15% 33/1.195 3%

Ao observarmos a tabela percebemos que nosso estudo apresenta menor ocorrência de zero do que o estudo de Zilles, Maya e Silva (2000) (6% contra 13%) e maior do que Zilles e Batista (2006) (6% contra 3%) mesmo sendo este oriundo de dados de fala. Esta diferença se deve, provavelmente, ao fato de os informantes de Zilles e Batista serem falantes cultos (com 11 anos ou mais de escolaridade) e Zilles, Maya e Silva (2000) e Zilles e Batista (2006) respectivamente. Neste caso em que há redução da DNP (omissão do -s) percebemos que os índices são maiores na fala por ser quase imperceptível, nesta modalidade, a omissão/queda do -s88, diferente do que ocorre na escrita. Porém, nossos alunos, por ainda não dominarem a norma padrão apresentam esta característica própria da fala refletida em sua escrita

88 Vale lembrar que “Em casos como andamo, vendemo, partimo (por ‘andamos’, ‘vendemos’,

‘partimos’), a desinência verbal que indica primeira pessoa do plural é -mos. Houve queda do -s, restando a marca -mo. Apenas o fonema deixou de ser pronunciado. O mesmo acontece em palavras como lápi (por ‘lápis’) ou em doi (por ‘dois’), por exemplo: a queda do -s é apenas fonológica”, diferente do que ocorre com ‘tu fala’ em que a queda do -s representa também a queda de um morfema (de 2ª pessoa do singular). (COELHO et al., 2010, p. 58-59).

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apresentando 70/2.001 dados de -mo com o pronome nós e SN+eu. Ressaltamos o fato de o pronome a gente ter menor ocorrência de CV padrão (zero) (62% e 78% para primeira e segunda análise respectivamente89) do que nós e SN+eu (91% e 89% de -mos, respectivamente). Vale lembrar que quando analisamos apenas as ocorrências com sujeito expresso esses valores são bem mais regulares, temos a forma padrão (-mos) com a frequência de 86% e 89% para nós e SN+eu, respectivamente, e para a gente a frequência de 90% da forma padrão (zero) o que indica que a diferença no uso da forma não-padrão de CV está mais ligada ao pronome nulo (consequentemente com a necessidade de haver a DNP) do que necessariamente ao fato do sujeito ser o pronome nós, SN+eu ou a gente. Isso significa dizer que, quando há a necessidade de a CV (pronome nulo) se manifestar com a DNP, ela estará presente, contribuindo com a combinação padrão para nós e

SN+eu e justamente o inverso para a gente (a necessidade da presença

da DNP contribui para a “quebra” do padrão: a gente nulo + P4). Na seção subsequente, traremos especificamente, os resultados e as discussões sobre CV1PP com o sujeito pronominal nós.