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(1) desempregados e assistidos de programas sociais. (2) empregado instável (biscateiros, trabalhos eventuais).

(3) empregado estável (com anos empregado no mesmo lugar).

A soma do valor de cada categoria – escolaridade, construção da moradia e situação ocupacional - compõe o valor total do Índice de Classe, para cada informante, como nos exemplos a seguir.

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Nos exemplos dados pelo autor verificamos casos de nós o que nos permite aferir que, embora o autor aqui utilize a expressão nóis, nos seus dados estejam reunidos os casos de nós e nóis.

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Quadro 5: Exemplos de soma de cada categoria das classes (COELHO, 2006)

Informante Escolaridade Construção da moradia Situação ocupacional Índice de classe A 2 2 3 7 B 3 2 1 6 C 3 1 2 5 Fonte: Coelho (2006, p.76-77)

O valor total do índice de classe variou nos indivíduos entre 4 a 8. Os seguintes “rótulos” foram propostos para qualificar os valores totais desse índice:

 7 - 8 classe trabalhadora mais alta

 6 - classe trabalhadora baixa

 4 - 5 classe mais baixa

O quadro 6 representa a organização da Amostra feita pelo autor31:

31 O autor afirma que a constituição de sua amostra “privilegiou a praça e seus equipamentos

urbanos (creche, botecos, cabeleireiros, mercadinhos, igrejas etc.) e selecionou como informantes moradores que não necessariamente compartilham o mesmo estilo de vida. Há, por exemplo, claras diferenças entre 'os mano' que jogam o gol-a-gol na creche e as costureiras evangélicas: seus estilos de vida são divergentes e podem ser caracterizados até mesmo como conflitantes. Esses estilos de vida não se diferenciam somente pela faixa etária e pelas práticas na vizinhança, mas também por diferenças na formação escolar e no status socioeconômico. Desse modo, conforme evidencia nossa descrição etnográfica, as coordenadoras do projeto para as jovens, por exemplo, são as mais escolarizadas, e a associação de moradores é exemplo daquilo que a sociolinguística chama de classe trabalhadora mais alta.” (COELHO, 2006, p.73).

85 Quadro 6: Amostra Brasilândia de acordo com os grupos de vizinhança

(COELHO, 2006)

Grupos da Vizinhança No. de

informantes

Gênero/se xo Mais velhos

> 50 Costureiras da cooperativa 4 feminino < 50 Trabalhadoras da creche 3 feminino > 25 Membros e esposas da

associação

4 misto

Mais novos < 25

Frequentadoras dos projetos para jovens

4 feminino

Filhos dos membros da associação

5 misto

Jogadores do gol a gol 4 masculino

Total de entrevistas 24

Fonte: Coelho (2006, p. 73)

Ao cruzar saliência fônica e grupos vicinais, o autor percebe que entre os adultos a inserção de a gente ocorre a partir dos pares mais salientes e que o único grupo que utiliza com mais frequência o a gente em pares menos salientes é o composto pelos filhos dos membros da associação32. “Por outro lado, na vizinhança de “Vila Nova”, o uso exagerado de Nóis em todos os pares de saliência (indistintamente) é um estereótipo linguístico dos jovens que vivem pelas ruas e na praça da vizinhança e que possuem um status baixo na opinião dos outros moradores.” (COELHO, 2006, p. 123). A tabela a seguir, como apresentada pelo autor, demonstra os resultados do cruzamento entre saliência fônica e grupos vicinais:

32 Esse padrão, segundo o autor, “está correlacionado com a ascensão social desses falantes.

Entre os mais jovens, os filhos dos membros da associação são aqueles que mais possuem expectativa de ascensão social. Alguns deles, por exemplo, começaram a frequentar ‘cursos’ ligados à serviços de computação, serviços de telefonia, de atendentes e etc. Os filhos dos membros possuem o tempo para melhorar sua formação, em razão das melhores condições de vida dos seus pais.” (COELHO, 2006, p. 123).

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Tabela 22: Saliência fônica versus grupos vicinais: uso de nóis (COELHO, 2006) Saliência Fônica/Grupos Vicinais Nóis Adultos COSTUREIRA PROFESSORAS DA CRECHE MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO No. /total % No. /total % No. /total % c/ sufixo para 1a.

pessoa do singular

falo/fala/ falamos

56/109 51% 10/59 17% 26/65 40%

s/ sufixo para 1a. pessoa do singular falava/ falávamos 42/60 70% 6/18 33% 8/18 44% Jovens FILHOS DOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO PARTICIPANTES DO PROJETO JOGADORES DO GOL A GOL No. /total % No. /total % No. /total % c/ sufixo para 1a.

pessoa do singular

fala/ falamos

38/83 46% 37/102 36% 75/118 63%

s/ sufixo para 1a. pessoa do singular

falava/ falávamos

4/27 15% 7/18 38% 34/55 61%

Fonte: Coelho (2006, p. 122)

Ressaltamos, ainda, o fato de os jovens do “gol a gol” (manos) utilizarem preferencialmente nós independentemente da saliência e o fato das professoras utilizarem bem mais a gente (83% nos pares mais salientes e 67% nos menos salientes) destacando-se entre os outros grupos aproximando-se do uso dos filhos dos membros da associação que tiveram 54% e 85% para mais salientes e menos salientes respectivamente. Segundo o autor, as professoras se aproximam dos grupos de classe alta, visto que os resultados quanto à classe indicam que as classes mais baixas utilizam mais “nóis”. Segundo o autor, “o uso de nóis possui na vizinhança o significado local de fala dos jovens que

87 vivem na rua, enquanto que, em termos demográficos, o significado

social está associado ao uso de nóis pelas classes mais baixas.” (COELHO, 2006, p. 123) Isso pode ser observado na tabela a seguir na qual verificamos que a classe mais baixa é a líder no emprego de nóis.

Tabela 23: Índice de classe no uso de nóis (COELHO, 2006)

CLASSES POPULARES No./Total % PR

Classe trabalhadora alta 51/178 36 0,318 Classe trabalhadora baixa 82/145 28 0,413

Classe mais baixa 212/327 64 0,659

Fonte: Coelho (2006, p. 124)

Observa-se, então, que na classe trabalhadora alta há o desfavorecimento do uso de nós (com peso relativo de 0,318) assim como na classe trabalhadora baixa (com peso de 0,413) que também desfavorece o uso de nóis. Porém, a classe mais baixa tem o PR de 0,659 que favorece o uso de nóis. O PR é maior inversamente proporcional à classe social. Quanto mais baixo o nível social há mais uso de nóis.

O autor também constatou que quem mais usa o pronome a gente são os homens e as jovens (mães solteiras), pois tanto estas quanto aqueles trabalham fora do bairro com peso relativo de 0,128 (8/80) e 0,361 (40/142) para o pronome nóis. Em contrapartida, os homens jovens e desempregados e as donas de casa não alteram o uso mais característico da periferia com peso relativo de 0,884 (76/92) e 0,634 (44/87), respectivamente, favorecendo o uso de nóis destacando-se o peso relativo altíssimo no caso dos homens jovens e desempregados. (p. 124-125).

Passando à variável nóis + -mos versus nóis + zero, que no caso está mais relacionada ao nosso objeto de estudo, Coelho observou que diferentemente da variação entre os pronomes (nós versus a gente), há uma distribuição mais equilibrada entre os grupos: todos os mais jovens utilizam mais a combinação nóis + zero do que os adultos. A seguir a tabela com os resultados obtidos pelo autor.

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Tabela 24: Grupos vicinais e o uso de nóis + zero (COELHO, 2006)

Grupos vicinais do bairro No./total % PR

adultos Costureiras da cooperativa 49/98 50 0,277

Professoras da creche 5/18 27 0,036

Membros da associação 21/34 61 0,351

jovens Filhos dos membros 39/42 92 0,863

Participantes do projeto 36/44 81 0,615

Jogadores de futebol 92/109 84 0,658

Fonte: Coelho (2006, p. 131)

Segundo o autor, mesmo com um número pequeno de ocorrência com nós, as professoras são as que mais utilizam a combinação nóis +

mos desfavorecendo muitíssimo a combinação nóis + zero (0,036). As

costureiras são as que desfavorecem o uso de nóis + zero, pois utilizam amplamente o pronome nós, porém com PR de nóis + zero baixíssimo (0,277). Segundo Coelho, a explicação para este afastamento da forma estigmatizada (nóis + zero) por parte das costureiras não estaria na escolaridade (já que todas têm menos de quatro anos de escolaridade e uma delas cinco anos), mas na idade. Os mais jovens são mais escolarizados do que as costureiras, contudo são os líderes no uso da forma nóis + zero. Há uma disparidade entre grupo ‘mais privilegiado’ e ‘mais jovens’ em relação aos filhos dos membros da associação que preferem o pronome a gente, mas quando utilizam nóis o combinam com zero, característica dos mais jovens.

Embora o autor tenha como valores de referência nóis + mos e não a gente ele afirma que os comportamentos não vernaculares são superpostos, porque acarretam algum tipo de afastamento em relação ao vernáculo da comunidade local. Os falantes que se afastam do vernáculo apresentam a tendência de usar a gente com o morfema -mos (“a gente

vamos”), sendo assim possível atribuir a essas construções o valor de hipercorreção.33

É interessante observarmos, conforme Coelho, que a combinação de nóis + zero por parte dos jogadores de futebol (os manos) tem ampla relação com a identidade de quem, geralmente filho de mãe solteira,

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Nos exemplos dados pelo autor verificamos casos de nós o que nos permite aferir que, embora o autor aqui utilize a expressão nóis, nos seus dados estejam reunidos os casos de nós e nóis.

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busca se identificar com o grupo que se rebela contra o domínio dos adultos. Os filhos dos membros da associação fazem parte do grupo de maior expectativa de ascensão social e na fala destes a mudança linguística se relaciona à ascensão social como uma substituição de nóis por a gente sem a adoção da variante -mos. Os jogadores do gol a gol, ao contrário, passam por um processo de desvinculação familiar e das formas de prestígio impostas. Nas palavras do autor

Nesse processo de desvinculação familiar, o uso de determinadas construções deixa de ser um fato meramente “inconsciente” ou “natural”, para se tornar uma marca consciente de sua identidade. “Os mano” libertam-se da pressão vinda dos adultos, valendo-se de um novo significado social correlato ao uso de Nóis V-zero, mas se prendem a outro sistema de valores, fruto de suas vivências com pessoas de mesma idade. Ao contrário do que ocorre entre os manos, os filhos dos membros da associação se dissociam do vínculo familiar por razões diferentes. Os manos vão se identificar com seus iguais: negros, pobres, descendentes de nordestinos, moradores da periferia paulistana. Já os outros vão se identificar com valores de classes mais altas da hierarquia social. (COELHO, 2006, p. 153).

Em nosso estudo, temos casos de migrantes, principalmente na escola 2, por se situar em um novo loteamento que traz a oportunidade de casa própria para as famílias que antes pagavam aluguel ou moravam com parentes. Controlamos os lugares onde esses alunos nasceram e também as profissões e grau de escolaridade dos pais de ambas as escolas investigadas. Nossa hipótese é de encontrarmos diferenças quanto à CV já que a escolaridade e profissão dos pais, assim como o hábito de leitura dos alunos, podem nos revelar diferenças no aprendizado e no uso da variante padrão tanto por influência dos pais que têm na profissão e na escolaridade influência sobre seus filhos quanto no próprio hábito de comprar livros e incentivá-los a ler.

Com base nos trabalhos vistos aqui elencamos algumas questões, objetivos e hipóteses expostos na seção seguinte.

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