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Parte I – Enquadramento teórico

4.3. Observação/avaliação

Uma vez que, a creche enquanto contexto educativo, tem como objectivo ultimo o desen- volvimento global e harmonioso de todas as crianças, a observação deve ser entendida como prioritária pelos educadores de infância.

Como preconiza Cáceres et al. (2002a) a avaliação consiste na observação contínua e formativa dos progressos da criança, das suas aquisições nos diferentes campos de desenvolvimento. Permite comprovar as mudanças originadas pelas diferentes interven- ções. Verifica-se, então, como um instrumento indispensável à avaliação introduzindo modificações no processo ensino – aprendizagem, com o intuito de o adaptar às caracte- rísticas das crianças, e recolher informações acerca da evolução das mesmas. Os crité- rios de avaliação devem indicar o tipo e grau de aprendizagem que se espera que a criança alcance no final de cada etapa. Esses não devem ser aplicados de forma rígida. É uma avaliação formativa, de capacidades e não de saberes. Cró (1987: 42) à seme- lhança destes autores destaca que a avaliação deve estar ligada à observação. Assim, o educador deve realizar essa avaliação através da observação das crianças ao longo da concretização de actividades planificadas, com a finalidade de atingir determinados objectivos. “É, naturalmente, uma tarefa difícil, pois que se é observador e actor ao mes- mo tempo, mas educar é uma arte que visa sempre, qualquer que sejam os métodos ou técnicas de que se disponha, o desenvolvimento harmónico e global da personalidade do educando”.

Da mesma forma Spodek e Saracho (1998) consideram que toda a avaliação envolve alguma forma de observação, seja numa situação controlada, como o preenchimento de uma grelha, seja num ambiente espontâneo. O educador para poder intervir adequada- mente terá de saber observar e problematizar. Estrela (1994: 26) reforça esta posição

referindo que o educador terá de interrogar a realidade e construir hipóteses explicativas. “Intervir e avaliar serão acções consequentes das etapas precedentes”.

Vayer et al. (1990: 5) referem que “a observação é o olhar posto sobre a actividade desta ou daquela criança, deste ou daquele grupo de crianças. É igualmente a atenção que damos ao que elas realizam […]”. A observação pode ser realizada de forma: directa, em que o observador olha ou regista (para voltar a ver) os acontecimentos ou comportamen- tos das crianças sem intervenção que vise modificá-los; provocada, a criança é colocada numa situação determinada pelo observador; ou indirecta, dividindo-se em dois aspectos, análise de produções espontâneas e entrevistas ou questionários a pessoas que conhe- cem a criança. A observação realizada de forma directa, provocada ou indirecta incluiu-se num dos dois tipos de observação, que correspondem a dois níveis de intenção: obser- vação contínua, desenvolvida ao longo do tempo e observação pontual, realizada num determinado momento e numa determinada situação.

Damas e De Ketele (1985) consideram que a observação e a avaliação são os dois prin- cipais pilares em que se baseia a relação professor/aluno e também as bases de uma verdadeira educação. Assim, observar é um processo que inclui atenção voluntária e inte- ligência, com o objectivo de recolher informações de determinado objecto ou situação. Avaliar implica seleccionar de entre um conjunto de informações e critérios os mais ade- quados ao objectivo fixado, para tomar uma decisão.

“Através da observação e do registo das estruturas fundamentais do desenvolvimento da criança, os profissionais de educação, podem aprender melhor as múltiplas especificida- des que estão implicadas e realizar uma melhor monitoragem dos equilíbrios e desequilí- brios que os processos de desenvolvimento naturalmente implicam, verificando COMO a criança se vai situando nessa dinâmica” (Rosa, 1994: 13).

Tavares e Alarcão (1999) recordam que a avaliação se baseia em dados tanto quanto possível objectivos, colhidos a partir da observação e da medida, mas que passa por um juízo de valor que interpreta os dados obtidos relativamente aos dados esperados. Ao avaliar, três perguntas devem ser colocadas: o que se vai avaliar, como e para quê. A observação é um dos componentes da avaliação. Apresenta-se como um elemento bási- co para uma avaliação adequada e, ao mesmo tempo, um passo essencial para um diag- nóstico devidamente fundamentado. O objectivo a ter em vista durante a observação é melhorar o ensino e a aprendizagem. Para o alcançar necessitamos de ‘ver com olhos de ver’ o que acontece a fim de analisar as crianças, o seu relacionamento consigo próprias, com os colegas, com o(s) educador(es), com a família, com a escola, com a sociedade,

com o conhecimento. Para os autores em análise existem duas formas de realizar obser- vação: observação orientada, sistemática e observação não-orientada. Na primeira defi- ne-se antecipadamente o que quer observar e concentra-se apenas nesses aspectos. Apoia-se em instrumentos de observação especialmente construídos para focar um ou outro aspecto que dependem dos elementos sobre os quais se quer fazer incidir a obser- vação. Quando parte para a observação sem ter definido os aspectos ou comportamen- tos a observar, trata-se da observação não-orientada. Neste caso, vai observar tudo o que, no momento, lhe parecer digno de observação.

Latino (2000: 16) menciona que “a avaliação feita com base na observação atenta e rigo- rosa permitirá a planificação adequada de actividades, que serão centradas nas potencia- lidades de cada criança, tendo em vista optimizar o seu desenvolvimento. A avaliação do desenvolvimento da criança, permite também reorientar, optimizar e tornar mais eficaz a acção”.

É através da observação que o indivíduo conhece o mundo à sua volta, o contexto em que está inserido e, dessa forma, adequar-se a ele mais eficazmente. Ela é uma atitude natural e implícita nas relações entre indivíduos e entre estes e a realidade. Na interven- ção educativa, o educador observa constantemente a criança, o que faz, onde e como está. É a partir destas observações e em função de determinados objectivos, que regula a sua actividade e a dos seus educandos. A observação é assim parte integrante do pro- cesso educativo e quanto mais for uma atitude consciente e intencional, mais eficaz será, tanto como instrumento de conhecimento como forma de avaliar a actuação. Contudo, existem dificuldades inerentes ao papel do educador como observador como: ratio adul- to/criança, tempo de qualidade para observar, ser em simultâneo educador e observador, entre outras. Sendo assim, torna-se imprescindível que o acto de observação seja planifi- cado, definir quem observar, quando e o quê em conformidade com os objectivos com- portamentais pré-definidos.