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A Fase Ocampo, c 5000-3000 a.C, continha aboboras-moranga de sementes maiores e feijões vermelho e mulatinho maiores — todos ou alguns dos quais

O Ambiente Neolítico

2) A Fase Ocampo, c 5000-3000 a.C, continha aboboras-moranga de sementes maiores e feijões vermelho e mulatinho maiores — todos ou alguns dos quais

podem ter sido domesticados.

3) Na denominada Fase La Perra, c. 3000-2200 a.C, aparece o milho domesticado, derivado, aparentemente, do desenvolvido em Tehuacán.

C. Há também uma possibilidade de que o milho domesticado possa ter chegado à América do Sul mais ou menos nessa época, e que já no período c. 3800-3000 a.C o feijão-de-lima e cabaças possam ter começado a ser cultivados.

De qualquer modo, foi a partir dessas últimas datas em diante, 3800-2200 a.C, que apareceram nas Américas indícios de um tipo primitivo de agricultura hortelã, praticada por indivíduos que pescavam, caçavam e moravam em cavernas, e que aumentaram em número até que, por volta de c. 1500 a.C, surgiram os primórdios de algo parecido com uma autêntica fase neolítica de agricultura aldeã.

O período crítico assim indicado, porém, corresponde exatamente ao dos primeiros desembarques seguramente comprovados de visitantes que chegaram da Ásia através do Pacífico — e estes, tampouco, podem ter sido os primeiros viajantes transpacíficos!

No The Masks of God,27 passei em revista as provas de uma contribuição transpacífica ao chamado "Período Formativo" das

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civilizações do Novo Mundo, louvado nos conhecimentos existentes em 1959, quando a mais antiga data confirmada de plantas domesticadas no Novo Mundo era de c. 1016 a.C, com variação para mais ou para menos de 300 anos, e os materiais disponíveis — encontrados na costa Norte do Peru em um sítio denominado Huaca Prieta — consistiam de uma rede de malha e de tecidos feitos com o que parecia ser um tipo de algodão asiático, juntamente com duas pequenas cabaças que serviam de garrafa, com figuras gravadas altamente estilizadas que sugeriam temas transpacíficos (uma ave bicéfala e a máscara de um tipo de gato ou homem-jaguar) —, uma vez que a cabaceira era uma planta desconhecida na América. Além disso, foram desencavados com esses restos alguns pedaços de tecido feito de casca de árvore (Le, tapa), que constitui um traço cultural da Oceania.

Hoje, porém, conforme mencionado acima,c temos mais informações. Isto porque, em dezembro de 1960, um fragmento de cerâmica japonesa marcada com fios (Jomon), com a data de c. 3000 a.C, foi desenterrado na costa do Equador. Escavações subseqüentes ao longo da mesma costa revelaram muitos outros fragmentos, sendo estas as primeiras indicações de louça de cerâmica até então encontrada em qualquer região do Novo Mundo. Além do mais, certo número de estatuetas femininas de cerâmica foram incluídas nos achados e são também as mais antigas encontradas nas América. Significativamente, uma carta náutica do Pacífico Norte, publicada pelo Departamento de Hidrografia da Marinha dos Estados Unidos,28 mostra o curso de uma das correntes oceânicas mais fortes, no sentido Oeste-Leste, correndo na direção Norte a partir das vizinhanças da ilha japonesa de Kyushu, curvando-se na direção Leste em um grande arco sobre o Havaí e descendo, exatamente, para a costa Guayas do Equador. A cerâmica japonesa do período Antigo e Médio Jomon foi agora

       

27 Joseph Campbell, The Masks of God, Vol. I, Primitive Mythology (Nova York: The Viking Press, 1959), pp.

205-15.

c Acima, p. 63.

28 Pilot Chart of the North Pacific Ocean, n° 1401, Hydrographic Office, Navy Department, Washington, D.C,

datada pelo método do carbono-14 em c. 3140 a.C, com variação para mais ou para menos 400 anos, e a da chamada fase Valdivia da costa equatoriana, em c. 3190 a.C, com variação para mais ou para menos 150 anos.

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"Palavras", dizem os autores da pesquisa, "não descrevem adequadamente a similaridade entre a antiga cerâmica Valdivia e a Jomon contemporânea (...) Na maioria das categorias da técnica decorativa, podem ser encontrados exemplos de aparência tão semelhante que quase que poderiam ter-se originado do mesmo vaso."29 Em uma série de placas belamente fotografadas de numerosas amostras semelhantes, eles demonstraram seu argumento tão bem que o observador, se quer manter separadas as duas ordens, é obrigado a traçar uma linha entre elas.30

Os desenhos da Figura 1 são de um montículo fúnebre de índio americano do período do Mississippi, c. 1000-1.500 d.C, escavado em Spiro, Oklahoma. Os da Figura 2 são do Iraque, c. 4000 a.C. A Figura 3 é um mapa da distribuição mundial da suástica, e a Figura 4, da idéia das cores das quatro direções. Já nos primeiros anos deste século, era evidente para Frobenius — o responsável por esses mapas — que (em suas palavras) "existia uma ponte, e não um abismo, entre a América e a Ásia".31 Subseqüentemente, o Dr. Adolf Jensen, diretor do Forschungsinstitut für Kulturmorphologie, de Frankfurt-am-Main, demonstrou em seus estudos de mitos e ritos de culturas agrícolas tropicais32 que, até no nível mesolítico primitivo, houve um continuum cultural que se estendeu da África na direção Leste, através da índia, Suleste da Ásia e Oceania, chegando à América, e que um dos aspectos característicos desse Kulturkreis equatorial é o mito de um ser morto e desmembrado, de cujos restos enterrados nasciam plantas.33 Em todas as esferas das antigas culturas agrícolas do mundo esse mito arquetípico de origem foi adaptado à vegetação local. Na Indonésia primitiva, é referido à

       

29 Ibid.,p. 160.

30 Ibid., Pranchas 160-91. Ver especialmente a Prancha 184, Figuras C e D.

31 Leo Frobenius, Geographische Kulturkunde (Leipzig: Friedrich Brandstetter, 1904), p. 450; citado em

Campbell, The Masks of God, Vol. I, Primitive Mythology, p. 205.

32 Adolf E. Jensen, Das Weltbild einer frühen Kultur (Stuttgart: August Schröeder, 2a ed., 1949); Mythos und

Kult bei Naturvölkern (Wiesbaden: Franz Steiner Verlag, 1960).

banana, ao coco e ao inhame; na Polinésia, à mesma coisa; no Japão, ao arroz; no México, ao milho, e, no Brasil, à mandioca; no Egito antigo, a planta era o trigo. Poderiam ter sido os Sioux influenciados por essa tradição equatorial amplamente conhecida?

Teria sido espantoso se não tivessem sido.

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Figura 1. Decorações de cerâmica pintada, louça de Samarra, Iraque, C. 4000 a.C.

Figura 2. Decorações em gorjais trabalhados em conhas, Spiro mound, Oklahoma, c. 1000 a.D.

Longfellow, no The Song of Hiawatha, Parte V "O Jejum de Hiawatha", pôs em verso um exemplo do mito agrícola em questão, baseando-se no Algic

Researches,34 de Henry Schoolcraft. Usou como fonte uma lenda Ojibwa sobre a origem do milho. Este teria nascido de uma divindade assassinada, esquartejada e enterrada. Os Ojibwa eram uma tribo algonquina que habitava a mesma região

       

34 Henry Schoolcraft, Algic Researches (Nova York: Harper and Brothers, 1839), reproduzido em Mentor L,

Williams, Schoolcraft's Indian Legends (East Lansing, Mich.: Michigan State University Press, 1956), pp. 58- 61; "Mon-daw-min", or The Origin of Indian Corn, An Odjibwa Tale".

geral, nas cabeceiras do Mississippi, que os Sioux

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haviam conhecido no século XVI. Além disso, na época mais recuada em que os Sioux tinham vivido numa região mais ao Sul, no Médio Mississippi, houve nessa zona uma grande concentração de pequenas cidades agrícolas, de muitos milhares de almas, que plantavam culturas de milho, abóbora e feijão, construíam enormes montículos fúnebres retangulares que serviam de templos e que eram localizados em volta das praças centrais, possuíam líderes seculares e espirituais e iconografias secretas.

Figura 3. Distribuição mundial da suástica. (Na obra de Frobenius.)

Figura 4. Distribuição Mundial do Simbolismo em Cores das Quatro Direções. (Na obra de Frobenius.)

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Essa cultura, como dissemos,d estabeleceu-se na região já no século 5 a.C.

       

Atingiu seu ponto culminante no século XV d.C, com povoados na direção Leste e Atlântico e, na Oeste, penetrando em Arkansas e região oriental de Oklahoma, bem como espraiando-se para o Norte, através de Illinois.35 O nível cultural era mais ou menos equivalente ao da França no período das Guerras Gálicas de César, o período de Vercingetorix. E os montículos que serviam de templos — bem como certo número de outras características — indicam que influências procedentes do México haviam sido muito fortes na região.

Em suma, portanto, a possibilidade, ou mesmo a probabilidade de contatos extremamente antigos através do Pacífico, de uma influência mais do que passageira sobre a América equatorial, a prova de louça de cerâmica japonesa de c. 3000 a.C encontrada na costa do Equador, e a prova, um pouco mais ao Sul, na costa peruana, a partir de c. 1016 a.C, da presença do tapa, um algodão asiático, e de cabaças usadas como garrafas e gravadas com figuras míticas de um estilo que sugeria a China da dinastia Shang (a dinastia Shang é hoje datada de c. 1523-1027 a.C), sugerem fortemente que Frobenius pode ter tido razão. E esses contatos antigos, primitivos, não são os únicos de que temos notícia, pois há prova notável também de uma seqüência de contribuições posteriores da China e do Sudeste da Ásia, afetando os núcleos mais importantes das América Central e do Sul. Essas contribuições iniciaram-se pelo menos já no século VIII a.C, quando a China já estava na metade de seu período áureo na dinastia Chou (Chou Antigo, c. 1027-772 a.C, Chou Médio, 722-480 a.C, Chou Recente, 480-221 a.C), e continuaram até o século XII d.C, quando a maravilhosa civilização Khmer de Ankor (c. 600-c. 1300 d.C) parece ter influenciado a arquitetura maia e a escultura de Chiapas, Tabasco, Campeche e o Petén, bem como as artes toltecas do lendário rei representado pela serpente emplumada, Quetzalcoatl36

       

35 Willey e Phillips,op.cit., pp. 163-70.

36 Gordon F. Eckholm, "A Possibile Focus of Asiatic Influence in the Late Classic Cultures of Mesoamerica",

Memoirs of the Society of American Archaeology, Vol. XVIII. n° 3, Parte 2 (janeiro de 1953), pp. 72-89; e

também, ibid, "The New Orientation toward Problems of Asiatic-American Relationships", em New

Interpretations of Aboriginal American Culture History, volume do 75° aniversário da Anthropological

Society of Washington (Washington, D.C, 1955), pp. 59-109. De igual maneira, Robert Heine-Geldern, "The Origin of Ancient Civilizations and Toynbee's Theories", Diogenes, n° 13 (primavera de 1956), pp. 93-96; ibid, "Theoretical Considerations Concerning the Problem of Pre-Columbian Contacts between the Old World and the New", Selected Papers of the Fifth International Congress of Anthropological Sciences, setembro de 1956 (Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 1960), pp. 277-81; e ibid, "The Problem of Transpacific Influences in Mesoamerica", em Wauchope (ed.), op.cit., Vol. IV, pp. 277-95. Uma réplica pouco convincente a tudo isso, de parte de Philip Phillips, seguiu-se imediatamente ao último dos acima denominados Heine- Geldern papers, em Wauchope (ed.),op.cit., Vol. IV, pp. 296-315

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É inteiramente possível, por conseguinte, que todos esses elementos que nos parecem familiares na mitologia dos Sioux sejam, na verdade, elementos constituintes do mesmo grande complexo mitológico de civilizações adiantadas, tendo por base a agricultura, de onde deriva nossa própria herança mitológica, e que, conseqüentemente, eles não sejam nem um acidente de convergência cultural nem qualquer arquetipologia geralmente válida da psique humana, mas apenas a arquetipologia de civilizações mais avançadas, de base agrícola — as quais, como sabemos pela arqueologia do seminal Oriente Médio, tiveram seus começos em pequenas cidades e aldeias protoneolíticas e neolíticas antigas dessa área, c. 9000 a.C, e seu primeiro completo florescimento nas velhas cidades da Suméria, na Mesopotâmia, no período c. 2500-2500 a.C.e