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2.2 Uso e Ocupação do Litoral

2.2.2 Ocupação da Zona Litorânea de Caucaia

Como já comentado anteriormente, a ocupação inicial do litoral cearense concretizava-se, através das comunidades originárias dos antigos grupos indígenas, somada a de populações interioranas (mestiços) que se distribuíam sobre quase todo litoral, onde a pesca era a principal atividade. Da mesma forma deu-se a ocupação inicial das praias caucaienses, originadas por comunidades de pescadores que a partir da primeira metade do século XX, teve inicio as gradativas mudanças no seu perfil sócio-ambiental devido ao fenômeno da vilegiatura, ou veraneio, nos anos 1920.

Segundo Araújo e Pereira (2011), pode-se identificar o fenômeno da vilegiatura no litoral de Caucaia em duas fases. A primeira relacionada à valorização do litoral nos anos 1920, com o interesse da elite cearense por esses espaços, antes

marginalizados. Segundo, à expansão da metrópole iniciada nos anos 1950. Em ambos os casos, a procura pelo litoral apresenta-se a partir da demanda de uma sociedade de lazer. Assim, inicia-se o processo de urbanização das zonas de praias como resultado da demanda por espaços de lazer.

Como a ocupação do litoral caucaiense deu-se, gradativamente, nas praias situadas mais a oeste da capital, Iparana e Pacheco foram as primeiras praias a sofrerem a pressão exercida pela demanda por espaços de lazer no litoral de Caucaia.

Na década de 1950, nascia o clube SESC Iparana, elemento propulsor das atividades de lazer e, conseqüentemente, do processo de ocupação e urbanização do litoral de Caucaia por ser o primeiro empreendimento de veraneio na localidade. Concomitantemente, a elite cearense começou a estabelecer residência secundária nessas faixas costeiras em busca de usufruir dos espaços à beira-mar.

Atualmente, essas áreas residenciais secundárias dividem espaço com ocupações populares, evidenciando uma acentuada diversidade em seu quadro social. A faixa fronteiriça situada a leste, na qual o rio Ceará separa Caucaia de Fortaleza, é ocupada por população pobre, grande parte expulsa da capital pelo elevado custo dos terrenos (DANTAS, 2003). Tal processo se intensificou na última década, fruto da construção da ponte que interliga os municípios supracitados, gerando uma maior fluidez entre os mesmos (LIMA, 2004). Isso facilitou a ocupação dos “vazios urbanos” existentes na área.

Os fatores sociais, como as ocupações populares supracitadas, somado, aos fatores naturais, como a erosão da costa, fruto da transferência dos processos erosivos advindos da capital, contribuíram para a desvalorização das residências aí estabelecidas. Com isso, a prática da vilegiatura nestas praias passa por um declínio observado a mais de uma década, refletindo o esvaziamento da vida cotidiana, além de placas de vendas em muitos imóveis nessas localidades.

Dos anos 1960 aos 1980, a praia do Icaraí, que possuía uma extensa faixa de areia branca com coqueiros, lagoas, tornou-se o principal destino da ocupação vilegiaturística da região metropolitana. A partir daí, teve inicio a ocupação urbana desta praia, fato explicitado a partir da construção do Centro de Veraneio Icaraí, cujas obras iniciadas na década de 1960, e concluídas em 1972, totalizando 195 domicílios. Tal empreendimento foi configurando como marco no processo de urbanização da localidade e utilizado como referencia para construções futuras de

extensos condomínios horizontais (Figura 02), situados entre a principal via de acesso e a praia (TELES, 2005). De acordo com De Paula e Dantas (2009), outras formas de ocupações, ainda vinculadas à prática da vilegiatura, são inúmeras segundas residências de caráter unifamiliar, representando um padrão tradicional.

Figura 02 - Condomínio de vilegiatura na Praia do Icaraí.

Fonte: De Paula & Dantas, 2009.

Além dos vários condomínios residenciais e casas de veraneio, a praia abriga restaurantes, variedades de lojas, escolas, academias, farmácias, supermercados, etc. Trata-se de uma praia bastante requisitada pelo turismo recreativo e por praticantes de esportes terrestres e náuticos. Possui dunas freqüentadas por praticantes de sand board e oferece um mar com ondas propícias à prática do surf. A praia tem sediado campeonatos estaduais e regionais e condições de ventos apropriadas para o wind surf e kite surf, considerado um dos melhores lugares do mundo para a prática desses esportes, tornando-se um ponto turístico conhecido mundialmente.

Devido ao conjunto de atrativos, o turismo e vilegiatura, por muito tempo foram a principal fonte de renda da localidade. Este quadro sofreu alterações em decorrência dos mesmos fatores que afetaram as praias de Iparana e Pacheco. Entretanto, o fator de maior relevância foi o impacto da erosão costeira sobre as atividades econômicas nesta praia. Estima-se que o impacto da erosão na praia do Icaraí causou prejuízos materiais estimados em torno de R$ 10.500.000,00 e prejuízos sociais em torno de R$ 200.000,00, além de inestimáveis prejuízos ambientais.

Do final dos anos 90 até, aproximadamente, 2010, a praia do Icaraí, tornou-se, praticamente, uma “cidade morta”. Com os severos impactos ambientais devido à erosão costeira, as atividades socioeconômicas enfrentaram um período de declínio, somado a negligência do poder público em adotar medidas para reverter o quadro. Em decorrência disto, observou-se um intenso processo de degradação ambiental e desvalorização imobiliária, contribuindo para a migração do fluxo turístico em direção a praias próximas menos impactadas, como por exemplo, Tabuba e Cumbuco.

Atualmente, a praia do Icaraí está inserida em um contexto e que aponta para novas perspectivas. O fato desta praia estar relativamente próxima do Pólo Industrial e Portuário do Pecém e ter recebido obras de contenção de marés explicam o "boom" imobiliário que a região experimenta no momento.

Em 2007, o valor do metro quadrado que custava, em média, R$ 500,00, hoje custa, em média, R$ 1.600,00, representando um aumento de 220%. A demanda por imóveis nesta região tem sido impulsionada por pessoas que chegam de outros estados para trabalhar no Pólo Industrial e Portuário do Pecém.

Por outro lado, a recuperação da balneabilidade da praia do Icaraí, devido à construção da primeira etapa da obra de contenção iniciada em 2010 e finalizada em 2011, favoreceu o crescimento da procura por lazer, baseada na tríade perfeita, praia, sol e mar.

No rio Barra Nova, que separa a praia do Icaraí da praia da Tabuba, pode-se observar o resultado da intensa urbanização nas localidades litorâneas já antevistas no PDDU de Caucaia:

Os aqüíferos da faixa litorânea, nos campos de dunas que abastecem as localidades da orla marítima (Iparana, Pacheco, Icaraí, Tabuba e Cumbuco) estão sendo comprometidos pela ocupação urbana que vem reduzido consideravelmente a taxa de infiltração e diminuindo o volume de recarga destes recursos hídricos. Além disso, devido à inexistência de esgotamento sanitário há uma proliferação de fossas negras que permitem a contaminação desses mananciais (CEARÁ, 2002, p. 61).

Já a praia do Cumbuco é, atualmente, o foco central das atividades turísticas do município de Caucaia. A localidade destaca-se por dispor de uma infraestrutura turística significativa, com hotéis, pousadas, restaurantes e barracas. Concentram-se na localidade 13 meios de hospedagem, 35% dos meios de hospedagem de Caucaia, evidenciando o interesse turístico na área.

Essa exploração turística mudou rapidamente o cenário da praia do Cumbuco, antiga colônia de pescadores, que foram perdendo espaço para a expansão turística e a vilegiatura de alto poder aquisitivo. Ainda observa-se um significativo contraste em relação aos tipos de imóveis dispostos na área. Por exemplo, em Cumbuco, as residências secundárias de luxo dividem espaço com empreendimentos turísticos de padrão nacional e internacional, enquanto as residências populares concentram-se em, praticamente, três estreitas ruas localizadas na porção central da praia. Isto mostra a resistência da população pobre em abandonar a área que luta contra a lógica turística instituída na localidade.