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Principais Trabalhos sobre Capacidade de Carga

A partir da década de 60, os estudos sobre capacidade de carga em litoral ganharam notório interesse. Essas pesquisas estavam relacionadas com um melhor entendimento do esclarecimento deste conceito e de seus aspectos teóricos e metodológicos. A seguir são apresentados a natureza desses trabalhos e seus resultados.

Ruyck et al (1997) avaliou a capacidade de carga social em algumas praias da África do Sul. Para isto, dividiu a praia em faixas de 10 metros e, com o auxílio de fotografias e questionários, analisou a capacidade de carga e social das

praias, dando ênfase ao grau de tolerância ao congestionamento. Desta forma, pode associar a percepção do usuário ao número efetivo de pessoas presentes no momento que as imagens foram tiradas.

Ruyck et al. mostrou que os usuários são afetados pelas condições do local e por fatores externos, tais como instalações de lazer e atividades que atraem multidão, influenciando, assim, a capacidade de carga da praia. Este estudo considera ainda, que a capacidade de carga deverá ser uma técnica indispensável para o planejamento e gestão das praias, em conjunto com outros instrumentos.

Yepes (1999), ao estudar praias sujeitas a intenso uso turístico no Mediterrâneo espanhol, distinguiu áreas dentro de uma praia (zona ativa e zona de repouso) em função do seu grau de utilização. Neste estudo, destacou a importância de agregar outros aspectos no cálculo da capacidade de carga de uma praia, além de simplesmente dividir a área de areia passível de utilização balnear pelo valor da área por pessoa, as quais são distribuídas em três categorias:

 Envolvente – acessibilidade, capacidade de alojamento da área onde está inserido, estacionamento, estruturas de apoio;

 Praia – acessos, profundidade, frente de mar, variação intertidal, limpeza, segurança, condições do mar;

 Fatores exteriores – clima, altura do ano, dia, hora, expectativas dos utilizadores.

Sobre esses aspectos, Yepes defende que estes são passíveis de mudanças em função das circunstâncias particulares de cada praia e do usuário, mostrando que o cálculo da capacidade de carga deverá ser adaptado a cada situação de acordo com os objetivos do planejamento da localidade.

Silva (2002) integrou abordagens de percepção da paisagem e imagens digitais para a determinação da capacidade de carga de praias do litoral de Portugal (Sines). O autor enfatizou a importância da capacidade de carga para a prática da gestão integrada no litoral, sugerindo que o litoral deve passar, necessariamente, por uma amostragem holística e multidisciplinar dos diferentes fatores em questão. Desta forma, seria possível proporcionar uma interação equilibrada: de um lado, entre o meio natural e o homem; do outro lado, entre as práticas e comportamentos antrópicos desenvolvidos no espaço litoral. Especial atenção, segundo ele, deve ser

dada ao caso das praias, por serem freqüentemente negligenciadas ao nível da sua gestão e ordenamento, não obstante o papel crucial que desempenham, não só para o turismo como também para o Ambiente.

Assim sendo, o autor sugere que a capacidade de carga, percepção da paisagem, participação pública e o papel que determinadas tecnologias podem assumir em todo esse contexto, são conceitos de fundamental importância no processo de aprimoramento da gestão costeira. Não só porque podem recolher mais e melhor informação, mas também porque é um importante estímulo ao processo de participação.

Sobre a estrutura metodológica do trabalho, Silva (2002), primeiramente, utilizou uma câmera digital especial para tirar fotografias aéreas de alta resolução das praias do litoral de Sines, explorando as vantagens desse sistema. Depois disto, utilizando gravações de imagens e vídeos, realizou as contagens e aplicação de questionários das praias sobrevoadas.

Este estudo mostrou que a conjunção dos métodos de observação remota, de percepção e observação de terreno, permite aumentar a compreensão dos comportamentos sociais. Porém, destaca que há a necessidade empreender ações de educação ambiental que possam se mostrar úteis para a proteção e preservação dos sistemas naturais, ao invés da imposição de restrições e interdições de uso das praias.

Sobre a capacidade de carga no litoral brasileiro, existem inúmeros estudos, principalmente em áreas na porção Sul do País, mas precisamente, no estado de Santa Catarina. Dentre eles, destacam-se os trabalhos de Silva (2004), Maciel, Paolucci e Ruschmann (2008), Sousa et. al. (2011), Silva, et. al. (2009) e Venson (2009).

Silva (2004) estudou a percepção dos usuários da Praia Brava (SC), perante as propostas de desenvolvimento. Nesta pesquisa, foi utilizada a técnica de visualização com o desenvolvimento da computação gráfica. A possibilidade de imersão das pessoas em ambientes virtuais, criados a partir da realidade, porém, com alterações associadas a projeções, trouxe uma nova forma de estudo de percepção de estudo ambiental. Este novo enfoque possibilita a exploração visual das alternativas de paisagem, sejam elas naturais ou induzidas pelo homem, de modo a gerar impressões positivas ou negativas que complementam informações

textuais ou em forma de mapas tradicionalmente utilizadas nos estudos de impacto ambiental.

Esta pesquisa propôs o emprego de técnicas de visualização baseadas em ferramentas de Sistema de Informação Geográfica (SIG), CAD e processadores de imagens para estudo de percepção dos usuários da Praia Brava perante as propostas de desenvolvimento para a área.

Venson (2009), também avaliando a capacidade de carga na Praia Brava, utilizou imagens de fotografias e filmagens aéreas, com o auxilio de um ultraleve sobrevoando paralelamente a linha de costa, para cobrir toda faixa costeira da Praia Brava, a fim de obter a capacidade de carga turística da localidade, como também um completo zoneamento da área de estudo e adjacentes.

Maciel, Paolucci e Ruschmann (2008) estudaram a capacidade de carga no planejamento turístico, frente à implantação do Complexo Turístico Habitacional Canto da Brava, Praia Brava – Itajaí. Este trabalho tem como objetivos avaliar a capacidade de carga, considerando o conforto ambiental relativamente à população de moradores e usuários da praia e a projeção decorrente da futura instalação do empreendimento Complexo Turístico/Habitacional Canto da Brava. Neste estudo, foi aplicado o método de Cifuentes que permite a integração e a quantificação de fatores físicos, bióticos e de infra-estrutura, através do cálculo das capacidades de carga física, real e efetiva. Os resultados quantitativos foram ainda ponderados por uma análise dos impactos e dos limites de mudança aceitáveis do ponto de vista da percepção do usuário.

Na região Norte, mas precisamente, no estado do Pará, Sousa et. al. (2011) estudou a capacidade de suporte de três praias amazônicas macrotidal (Ajuruteua, Princesa e Atalaia) durante a temporada de alta estação, em que foram investigados os fatores que influenciam a capacidade de carga destas praias, tais como: dia da semana, insolação, acesso e níveis de maré. Cada praia foi pesquisada ao longo de um período de quatro dias, no mês de maior fluxo turístico, durantes os picos de marés, ou seja, maré cheia e maré seca. Durante cada levantamento, o número de frequentadores foi calculado ao longo de um transecto pré-estabelecido, contado a cada hora das 08:00 às 18:00, a fim de obter o fluxo e os picos destes em relação a capacidade de carga turística da localidade, como também um zoneamento da área de estudo.

Silva, et. al. (2009), utilizando metodologia similar ao de Sousa et al. (2011), fez o diagnóstico ambiental e avaliação da capacidade de suporte das praias do bairro de Itapoã, Salvador (BA). Neste estudo, as parias foram divididas em transectos pré-estabelecido, formando 55 células com 30 metros de comprimento. A partir do cálculo da área de cada célula e do número de usuários em cada uma delas, foi estimada a área disponível para cada banhista/recreacionista. Desta forma, avaliou-se a capacidade de suporte das praias do bairro de Itapoã, de acordo com os limites de tolerância dos seus usuários, fornecendo subsídio para a sua gestão sócio-ambiental local.