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3 O DIREITO

3.3 O ordenamento jurídico

A Ciência do Direito tem como um de seus objetivos a construção do ordenamento jurídico, também chamado de sistema jurídico, que consiste na “unificação lógica das normas e dos princípios jurídicos vigentes em um país”, a fim de se evitar as “contradições dentro de uma ordem jurídica”. Tem por objetivo a criação de uma unidade, na qual se agrupam, por afinidades de matérias, várias normas jurídicas vigentes e cujo conteúdo pode-se extrair os conceitos e princípios, buscando a descoberta de pontos obscuros e contraditórios ou incompletos e, ainda, a harmonização e coordenação de dois ou mais institutos. Para obter a unificação lógica dentro do ordenamento jurídico, o jurista elimina as contradições lógicas porventura existentes entre normas e entre os princípios, estabelece uma hierarquia entre as fontes

46 do direito, formula conceitos extraídos dos conteúdos das normas e dos enunciados dos princípios. A partir de sua função, agrupa normas em conjuntos orgânicos e sistemáticos e estabelece classificações, indicando o local de cada norma no sistema (GUSMÃO, 2006, p. 12).

Kelsen (1984, p. 310) advoga que a ordem jurídica não apresenta um sistema de normas jurídicas ordenadas no mesmo plano, mas uma estrutura escalonada, com diferentes níveis. Para o autor, o sistema jurídico seria representado por uma pirâmide, na qual cada norma, ao entrar no ordenamento jurídico, seria validada pela norma antecessora, que, por sua vez, teria sido validada pela anterior, até atingir o topo da pirâmide ou a “norma fundamental”. Já para Ferraz Júnior (2011), o ordenamento jurídico, embora coeso, não é homogêneo. O autor propõe sua representação através de um círculo, já que não há uma norma capaz de conferir unidade. Em virtude dos ordenamentos conterem séries normativas plurais, haveria as chamadas normas- origem, que se diferenciariam das demais por imperar, ou seja, por serem as primeiras de uma série. Bittar e Almeida (2009, p. 553) corroboram com esta ideia, ao descrever o sistema jurídico, como

sistema dinâmico, que possui vários padrões de funcionamento, todos determinados por regras estruturais. Não sendo totalidades homogêneas, sendo apenas coesos, os sistemas jurídicos se formam a partir de séries normativas plurais, que antes de conviverem harmoniosamente, se cruzam e entrechocam provando fenômenos que somente os desafios aplicativos (aplicação, integração, interpretação) do Direito podem solver, constituindo-se o sistema a todo instante e que ele efetivamente é invocado para a solução de sempre novos litígios.

Segundo Gusmão (2006, p. 60), a ordem jurídica, por sua vez, é o “complexo de normas jurídicas vigentes em dado momento histórico, numa sociedade determinada, garantido coercitivamente por sanções eficazes, que garantem a cada um o que é seu e o que pode fazer”. A ordem jurídica compreende não apenas as normas legislativas (constituição, leis, decretos, regulamentos, etc.), mas, também, normas consuetudinárias (costumes), jurisprudência, tratados internacionais e os princípios gerais do direito vigentes em um dado momento histórico. A ideia de ordem jurídica pressupõe a existência de órgãos e autoridades previstos nas normas, que, além de garantirem a eficácia das normas, garantem a ordem pública e a paz social, entre outras coisas.

Embora se possa construir um ordenamento jurídico mais amplo do que o nacional (sistema jurídico europeu, por exemplo), para cada país e para cada matéria jurídica, deve haver apenas um único sistema jurídico. E este não consiste em um

47 índice esquemático a ser seguido, mas uma unidade, na qual agrupam-se por afinidades de matérias, várias normas jurídicas vigentes e cujo conteúdo pode-se extrair os conceitos e princípios. Tem por objetivo a descoberta de pontos obscuros e contraditórios ou incompletos e, ainda, a harmonização e coordenação de dois ou mais institutos (GUSMÃO, 2006, p.12).

O Direito encontra-se disperso em uma infinidade de normas que foram criadas em épocas diferentes, para atender necessidades criadas por situações sociais diversas e solucionar uma variedade de conflitos de interesses. Para Bittar e Almeida (2009), o pensar sobre o sistema jurídico foi suscitado pelo pensamento positivista no século XIX, que o descreveu de modo rigoroso como o “conjunto de normas do ordenamento jurídico”, que evoca “harmonia, coerência, regularidade e estruturação”, tendo esta ideia, a partir de então, passado a incorporar a ciência e as práticas jurídicas. A ideia de ordenamento visa à produção da garantia de que a segurança jurídica é possível e determinante para o próprio universo dos valores jurídico-dogmáticos e abriga outras convergências teóricas do positivismo jurídico, como a interpretação literal para cercar o arbítrio dos juízes, a unidade sistemática para eliminar a fragmentação normativa, a coerência estrutural para escapar à ilogicidade do Direito dispersivo, a completude para garantir a igualdade perante a lei e a doutrina das fontes do direito com prevalência da legislação, para garantir a supremacia da legalidade.

Reale (2011) esclarece que a primazia desta ou daquela forma de produção de normas ou modelos jurídicos depende de circunstâncias sociais e históricas, não havendo uniformidade entre os países e em diferentes épocas. Podemos distinguir dois tipos de ordenamento jurídico existentes na contemporaneidade, (1) o da tradição romanística (nações latinas e germânicas), que se caracteriza por um primado do processo legislativo, e (2) o da tradição anglo-americana (Common Law8), na qual o

Direito se revela muito mais pelos usos e costumes e pela jurisdição do que pelo trabalho do parlamento. Esses dois grandes sistemas jurídicos ocidentais correspondem a duas experiências culturais distintas, resultantes de múltiplos fatores, sobretudo de ordem histórica. A comparação entre um e outro sistema tem sido extremamente fecunda, demonstrando que o que prevalece não são razões abstratas de ordem lógica, mas motivos de natureza social e histórica de cada povo. Ambos os sistemas são expressões culturais diversas e que sofrem influências recíprocas nos últimos anos, pois as normas legais ganham cada vez mais importância no Common Law e os precedentes judiciais são cada vez mais relevantes no Direito de tradição romanística.

O sistema jurídico brasileiro é um sistema escrito, codificado, no qual a lei é a fonte suprema. Teve sua origem no Direito português, que, por sua vez, foi influenciado

48 pelo Direito romano, germânico e canônico. Pode ser dividido em três fases: colonial (1500-1822), imperial (1822-1889) e republicana (1889 até os dias atuais). A fase colonial é mais portuguesa que brasileira, a fase imperial se caracteriza pela transição e a fase republicana é a que se poderia chamar de brasileira.