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Organização cíclica do PNLD a partir de 1995

No documento O mercado do livro didático no Brasil (páginas 64-69)

Capítulo II Segunda fase do PNLD

2.4 Operacionalização do PNLD

2.4.2 Organização cíclica do PNLD a partir de 1995

Com fluxo regular de recurso assegurado, aquisição e distribuição dos livros universalizadas e ampliadas, e com a introdução da avaliação no Programa, foi sistematizada uma organização cíclica para o PNLD.

Desde 1996, cada aluno matriculado na rede pública do ensino fundamental recebe um livro didático de cada disciplina do núcleo comum (Português, Matemática, História, Geografia e Ciências), para ser usado no ano letivo respectivo ao recebimento.

Os livros ficam em posse do aluno, mas devem ser devolvidos ao final de cada ano, para serem usados por outro aluno no ano posterior, e isso vale por três anos consecutivos, enfim, o livro no PNLD tem uma vigência de três anos. Exceção feita aos livros recebidos pelos alunos da 1ª série, que são consumíveis e efetivamente doados

aos alunos. Além disso, esses são os únicos alunos que recebem, também, os livros de Alfabetização.

Assim, como o livro didático comprado por meio do PNLD tem previsão de uso para três anos, o MEC, desde 1999, tem feito recorrentes campanhas para sua preservação.

Há, a cada ano, alternância na compra integral do MEC. Isto implica que se num ano o governo compra os livros de todas as disciplinas para os alunos de 2ª a 4ª série, no ano seguinte comprará integralmente os livros para os alunos de 5ª a 8ª série, e no outro ano, o governo apenas fará complementação de matrícula e reposição. Lembremos que os livros recebidos pelos alunos da 1a série são consumíveis, portanto são adquiridos anualmente.

Essa sistemática justifica que em um ano seja publicado o Guia de Livros didáticos de 1ª a 4ª série; no outro ano, de 5ª a 8ª; e no terceiro ano não é produzido nenhum Guia, visto ser um ano de reposição. No caso de necessidade de consulta nesse último ano, em que não há produção de nenhum guia, a referência são os dois Guias de Livros Didáticos distribuídos nos anos anteriores. A Tabela 2.1 sintetiza a abrangência do atendimento e os recursos aplicados de 1995 a 2005, e nos possibilita entender melhor essa estrutura cíclica que o Programa passou a ter desde 1995.

Tabela 2.1:Aquisição e distribuição de livros didáticos pelo PNLD (1995 a 2005) PNLD Aquisição/ Distribuição Livros adquiridos Recursos em (em R$) Alunos atendidos Escolas atendidas Disciplinas* 1995 1994/1995 56.973.686 125.655.576,34 LP e M (1a a 4a série) ES e C (2aa 4 a série) 1996 1995/1996 80.267.799 196.408.625,96 29.423.376 179.953 LP e M (1a a 4a série) P, M e C (5aa 8asérie) 1997 1996/1997 84.732.227 223.251.104,59 30.565.229 179.133 Alfabetização, P, M, C e ES (1a série); ES e C (2aa 4asérie); H e G (5aa 8asérie) 1998 1997/1998 84.254.768 253.871.511,35 22.920.522 169.953 Alfabetização, P, M, C e ES (1a a 4asérie) 1999 1998/1999 109.159.542 373.008.768,44 32.927.703 169.949 Alfabetização, P, M, C e ES (1a a 4a série - complementação); P, M, C, H e G (5a a 8a série - todos os alunos) 2000 1999/2000 72.616.050 249.053.551,82 33.459.900 165.495 Alfabetização, P, M, C e ES (1a série); P, M, C e ES (2aa 4asérie - complementação); P, M, C, H e G (5a a 8a série - complementação) 2001 2000 130.283.354 474.334.698,90 32.523.493 163.368 Alfabetização, P, M, C e ES e dicionários (1 a 4a série - todos os alunos); P, M, C, H e G (5a a 8a série - complementação) 2002 2001 120.695.592 539.040.870,21 31.942.076 162.394 Dicionários (1a a 6a- - todos os alunos) Alfabetização, P, M, C e ES (1a série); P, M, ES e C (2aa 4asérie - complementação); P, M, C, H e G (5a a 8a série - todos os alunos) 2003 2002 57.024.873 266.128.366 31.966.753 159.228 Dicionário, Alfabetização, P, M, C e ES (1a série); P, M, ES e C (2aa 4asérie - complementação); P, M, C, H e G (5a a 8a série - complementação) 2004 2003/2004 119.287.883 574.839.852 31.911.098 153.696 Dicionário, Alfabetização, P, M, C e ES (1a série); LP,M, C, H, G (2a a 4a série - todos os alunos); P, M, C, H e G (5a a 8a série - complementação) 2005 2004/2005 111.189.126 619.247.207 30.837.947 149.968 Alfabetização, LP, M, C e ES (1a série); LP, M, C, H e G (2a a 4a série); P, M, C, H e G (5a a 8a série - todos os alunos) Fonte: MEC/ SEF (2002) e Serwy (2005).

* Legenda: LP – Língua Portuguesa, P – Português, M – Matemática, C – Ciências, ES – Estudos Sociais, H – História e G - Geografia

Sobre a operacionalização do PNLD, ainda resta dizer que há duas formas de execução do Programa, instituídas legalmente na Resolução n° 3, do Conselho Deliberativo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - CDFNDE, de 21/02/2001, que são abaixo descritas na conformidade da lei:

I – Centralizada: quando as ações que compõem o processo de aquisição dos livros didáticos e dicionários da Língua Portuguesa às escolas forem desenvolvidas pelo FNDE; e

II –Descentralizada: quando o FNDE repassa recursos nas secretarias de Educação dos Estados ou Municípios, responsáveis pela execução de todas as ações desenvolvidas no processo de aquisição e distribuição do livro didático às escolas públicas do ensino fundamental (...).

Em relação à forma descentralizada de execução do PNLD, foi uma estratégia considerada necessária no Plano Decenal de Educação (MEC,1993). Batista (2001) aponta que esta descentralização do planejamento e execução do PNLD foi uma meta que se impôs para o alcance de uma otimização do Programa, na medida em que as suas proporções gigantescas se tornaram cada vez mais complexas para a administração federal.

Assim sendo, em 1995, o governo federal apresentou ao Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (CONSED) uma proposta de planejamento e execução descentralizada do PNLD. Nesta proposta, além da execução descentralizada do Programa, foi prevista a participação financeira dos estados quando a compra realizada excedesse o montante repassado pelo Ministério. Vários estados aderiram à proposta: Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

A maioria desses estados encontrou dificuldades para operacionalizar o PNLD desse modo descentralizado, principalmente por conta da dificuldade de negociação com as principais editoras fornecedoras, todas com sede em São Paulo, o que dificultava a negociação regional de preço e distribuição. Por isso, apenas Minas Gerais e São Paulo passaram a realizar o Programa de forma descentralizada, e, em 2000, Minas voltou a participar do Programa centralizado, isto é, junto ao governo federal.

São Paulo manteria a forma descentralizada de participação no PNLD por uma década, mas em 2006 voltou a participar das compras centralizadas do governo federal.

De modo geral, desde que o PNLD foi instituído, foram dispostas várias portarias e resoluções acerca de sua forma de execução. Dede 1997, porém, todo o processo operacional do Programa, na sua forma centralizada, é de competência do FNDE, e a

avaliação pedagógica e a elaboração do Guia dos Livros didáticos são de competência da Secretaria da Educação Básica do MEC (SEB/MEC). No Quadro 2.1, sistematizamos esse processo operacional do PNLD, que se inicia três anos antes da entrega do livro para o aluno.

Quadro 2.1: Operacionalização do PNLD desde 1997

Etapa Instâncias envolvidas e

responsáveis

Obs.

Publicação do Edital para inscrição das obras*

FNDE As inscrições são feitas pela

Internet. Triagem das obras IPT – Instituto de Pesquisas

Tecnológicas do Estado de São Paulo

É analisada a qualidade física do livro, por meio de coleta de amostras.

Avaliação pedagógica dos livros

SEB e, desde 2002, conta com a participação direta de universidades diversas, de acordo com a área.

Produção e distribuição dos Guias de Livros Didáticos às escolas

SEB e FNDE Desenvolvimento conjunto do Guia pela SEB/MEC e FNDE/MEC. O Guia é entregue em meio magnético ou ótico, e produzido por gráfica vencedora de licitação.

Escolha dos livros Escolas

Processamento das demanda FNDE/ INEP Parceria INEP/ FNDE – prévia do censo escolar.

Habilitação dos detentores de direitos autorais

FNDE Comissão especial de habilitação/ Habilitação jurídica e fiscal dos títulos das obras.

Negociação/ Aquisição FNDE/ Editoras Comissão especial de negociação/ Desenvolvimento de sistema próprio de negociação com as editoras- SINED

Produção Editoras

Logística da operação: FNDE/ ECT FNDE e correio (ECT) Monitoramento da distribuição

nos Estados

FNDE

Campanhas de conservação e devolução

FNDE Veiculação de campanhas nacionais para conservação e devolução do livro ao término do ano letivo, visto que a previsão de uso de cada obra é de três anos.

Fonte: Projeto publicado no site do Programa “Viva Leitura”, por Alexandre Serwy, 7/04/2005 e FNDE/MEC, 2005. Dados organizados pela pesquisadora.

* excetuando-se o livro de alfabetização, as editoras, desde o PNLD 2002, só podem inscrever coleções, e não mais obras isoladas, como nos anos anteriores.

No final do governo FHC, foi realizado em Brasília, em 21/11/2002, o Seminário Livro didático: desafios da qualidade, que teve como objetivo fazer a avaliação do desenvolvimento do PNLD como parte de uma política de Estado. Assim, foram

destacados os avanços do Programa e apresentadas sugestões para sua continuidade, por meio de um balanço feito pelo então Ministro Paulo Renato de Souza acerca dos oito anos do governo FHC. Vejamos suas palavras:

Encontramos um programa antigo e tradicional de compra de livros, que tinha muitos defeitos, corrigidos neste tempo. Uma das mudanças foi a ampliação da entrega do livro para estudantes de 1ª a 4ª série para os de até a 8ª série do ensino fundamental. Garantimos que 100% dos livros cheguem à escola, antes do início das aulas, e passamos a avaliá-los e só comprar aqueles aprovados. Foram avanços importantes e significativos

Encontramos livros defasados, com erros, com preconceitos de todo tipo. Eliminar isso foi difícil. Temos hoje um processo instalado que funciona. A meu ver, seria um crime voltar ao império da propaganda enganosa prevalecente antes da avaliação do livro didático (Paulo Renato de Souza , Seminário Livro didático: desafios da qualidade, Brasília, 21/11/2002)

Desse modo, a instauração da universalização e ampliação de atendimento do PNLD para todos os alunos da Educação Básica, assim como a instituição da avaliação para o livro didático, no PNLD, são políticas que dão visibilidade a esse governo. Tais medidas, além de contarem com sua legitimação por meio da mídia, também são o mote para a construção de uma bibliografia que começa a ser produzida, em grande parte, por sujeitos que entram para as arenas decisórias do PNLD, por meio da avaliação, dada a nova ordem estabelecida.

Há, ainda, outros sujeitos que dão significações para as políticas educacionais adotadas no governo FHC, construindo um consenso nacional positivo sobre essa gestão, porque tais políticas têm o amparo da mídia e constantemente são alimentadas por discursos que enfatizam a qualidade dessa gestão.

No documento O mercado do livro didático no Brasil (páginas 64-69)