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Situando a questão

No documento O mercado do livro didático no Brasil (páginas 170-172)

Capítulo III Uma década da avaliação dos livros didáticos no PNLD (1996 a

7.1 Situando a questão

“Na sociedade atual torna-se cada vez mais necessário preservar física e espacial, como também descobrir e valorizar a memória do homem”. Tal citação procede do projeto de pesquisa de Santos (1999), em que o autor, então assessor de imprensa da Editora Moderna, ressaltava ter como objetivo trazer a memória institucional dessa editora, mas que seu foco se daria, de maneira especial, no professor Ricardo Feltre, fundador da Editora Moderna.

O projeto de Santos (1999) insere-se no rol de publicações que buscaram recuperar a memória das editoras brasileiras de didáticos que lideraram o mercado nacional no período compreendido entre meados dos anos 1970 até a década de 1990. Tais editoras caracterizavam-se, basicamente, por serem nacionais e terem gestão familiar, salvo raras exceções, e têm suas histórias atreladas à própria história dos homens que as criaram.

Paixão (1998), da Ática, e Gandra (2005), do IBEP/ Cia. Editora Nacional, são exemplos de publicações em que a história das editoras é apresentada pelas próprias empresas, e seus respectivos fundadores têm evidente destaque.

O projeto de Santos (1999), de resgatar a memória institucional da Editora Moderna, foi apresentado quando esta editora ainda era nacional e pertencia ao professor Ricardo Feltre. Caso o autor tivesse dado continuidade à pesquisa proposta em tal projeto, e alcançasse os primeiros anos do século XXI, ele teria de trazer, também, a história de Jesús de Polanco, que estava à frente do Grupo Prisa até julho/2007, quando faleceu, e até então era considerado um dos homens mais poderosos da Espanha. Isso porque, em 2001, a Editora Moderna foi comprada por esse gigantesco grupo midiático espanhol, o Prisa, por meio do seu braço editorial, a Santillana.

Essa alteração de gestão ocorrida na Editora Moderna, que passou do domínio de uma empresa familiar para o de um grande grupo empresarial, não ficou restrita a essa editora. Isso porque a partir de meados da década de 1990, exceção feita à Editora do Brasil, que continuou sendo independente (pelo menos até meados de 2007, período em que findamos nossa pesquisa), todas as demais, que lideravam o mercado editorial dos

didáticos nessa época, passaram a fazer parte de grandes grupos, muitos deles formados pela incorporação das menores editoras pelas maiores.

Isso posto, na relação abaixo discriminamos quais são esses grupos:

 Grupo Saraiva, formado pelas Editoras Saraiva, Atual e Formato. A Editora Atual foi adquirida pela Saraiva em 1998; e a Formato, em 2003. Saab (1999) observa que a Editora Saraiva, que tinha 15% do seu capital em propriedade de capital estrangeiro, vendeu mais 2,6% ao Internacional Financial Corporation (IFC), órgão financeiro do Banco Mundial;

 Grupo Abril, que em 2004 passou a ter o controle acionário total das Editoras Ática e Scipione. Tais editoras haviam sido compradas pelo próprio Grupo Abril e pelo Havas, da França (Vivendi Universal Publishing – VUP), em 1999. Em 2002 o Grupo Vivendi vendeu todas as suas editoras na Europa e na América Latina para a Hachette (braço editorial do Grupo lagardère, da França), porém, de acordo com o constante no site da Ática (Disponível em: <http://www.atica.com.br/materias>. Acesso em: 15 jun. 2007), as Editoras Ática e Scipione ficaram fora dessa transação comercial. Em 2004 o Grupo Abril assumiu integralmente o controle dessas empresas. De acordo com artigo assinado por Cassiano Elek Machado e Marcelo Sakate, publicado em 2/03/2004, no jornal Folha de S.Paulo, o fundo europeu TMG havia proposto a compra da totalidade das ações das Editoras Ática e Scipione por US$ 85 milhões. Também haviam feito propostas para a compra das duas editoras o Grupo espanhol Prisa, fundos dos bancos Real e Unibanco, e a Editora Saraiva;

 a Editora Moderna, em 2001, foi adquirida pelo Grupo Editorial Santillana, pertencente ao Grupo Prisa. Em 2006, a Santillana já conta com seis empresas no território nacional, pois o grupo controla também a Editora Salamandra, o selo Richmond, o Sistema Uno de Ensino, a empresa de avaliação educacional Avalia e a Editora Objetiva, que foi adquirida pela Santillana em 2005;

 Grupo IBEP/Cia. Editora Nacional. Em 1980 a Companhia Editora Nacional foi adquirida pelo IBEP;

 a FTD adquiriu a Editora Quinteto em 1997.

Além desses, o Grupo Positivo, de origem nacional, também começa a despontar na disputa por uma fatia do mercado dos didáticos, inscrevendo livros pela primeira vez para o PNLD no início do século XXI. Tal grupo, como já citamos nos capítulos anteriores, além de comercializar livros didáticos, vendidos por meio da sua editora, a Nova Didática, também comercializa computadores e sistemas de ensino, em que é

negociado tanto o material didático (normalmente sem autoria declarada e elaborado por meio de apostilas/ módulos), como também a metodologia e o treinamento para os professores.

As Editoras Nova Didática e Moderna – considerando esta na gestão Santillana, portanto já fazendo parte de um grande grupo internacional – integram um mercado nacional de didáticos reconfigurado, por ser constituído, essencialmente, pelos grandes grupos já destacados, com raras exceções. Essas duas editoras apresentam novas estratégias de marketing em direção às escolas, sinalizam com a possibilidade da introdução dos sistemas de ensino na rede pública brasileira (antes restritos às escolas particulares) e têm grande poder de investimento. Além disso, vale considerar que o investimento dessas empresas estende-se a várias áreas, não só à edição de livros.

Antes, porém, de debruçarmos nossa atenção sobre essas duas editoras, é necessário que recuperemos, de modo sintético, a história de todas as editoras que têm dominado o mercado nacional dos livros didáticos nas duas últimas décadas do século XX, para que possamos entender os fatores que levaram essas editoras a assumirem a liderança que alcançaram, e, ao mesmo tempo, compreendermos as alterações procedentes da passagem das gestões familiares para a gestão dos grandes grupos1.

No documento O mercado do livro didático no Brasil (páginas 170-172)