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PNLD pós-1995: aquisição universal, distribuição planejada e implementação da

No documento O mercado do livro didático no Brasil (páginas 58-61)

Capítulo II Segunda fase do PNLD

2.2 PNLD pós-1995: aquisição universal, distribuição planejada e implementação da

Já trouxemos que no Plano Decenal de Educação para Todos (MEC, 1993) o livro didático foi apresentado como insumo primordial da educação escolarizada, sendo ressaltado, nesse documento, que os aspectos referentes à sua política, economia, gerência e pedagogia deveriam ser considerados ao lado das demais características da questão educacional brasileira.

Também, nesse documento, foram feitas críticas à condução do programa direcionado para o livro didático desenvolvido até então, sendo abordados os problemas vinculados ao processo de aquisição e distribuição, que inviabilizavam a chegada dos livros didáticos na escola no início do ano escolar.

Igualmente, foi questionada a qualidade dos livros escolhidos e recebidos pelas escolas e, aqui, o interessante é observar que esta afirmativa foi justificada pela malformação do professorado, que, de acordo com o disposto nesse Plano Decenal, não sabia escolher o livro adequadamente.

Sendo assim, em 1993, no mesmo ano da publicação do Plano Decenal de Educação para Todos, o Estado – que até esse momento mantivera o papel de comprador e distribuidor de livros didáticos por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), pela Portaria 1.130, de 6/08/1993 – constitui uma comissão para analisar a qualidade dos conteúdos programáticos e dos aspectos pedagógico- metodológicos dos livros que vinham sendo comprados pelo MEC para as séries iniciais do ensino fundamental, assim como para poder estabelecer critérios para novas compras governamentais. Tal comissão analisou os dez livros mais solicitados pelos professores das escolas públicas, de cada disciplina.

Em 1994, foi divulgado pelo governo, por meio da imprensa, os resultados desse estudo, sendo demonstrado que o MEC vinha comprando e distribuindo, para a rede pública de ensino, livros didáticos preconceituosos, desatualizados e com erros conceituais.

Assim, em 1996, o MEC implementou oficialmente a avaliação pedagógica dos livros didáticos comprados por meio do PNLD. O Ministério da Educação formou comissões, divididas por áreas de conhecimento (Alfabetização e Língua Portuguesa; Matemática; Ciências e Estudos Sociais, posteriormente, Geografia e História), para estabelecer quais seriam, efetivamente, os critérios de análise e classificação dessa avaliação. Desde essa época, o resultado desse processo passou a ser condensado e divulgado por meio de exemplares denominados Guias de Livros Didáticos, que são distribuídos nacionalmente para as escolas, com o objetivo de orientar os professores na escolha do livro didático. Desse modo, a avaliação dos livros e a distribuição desses Guias de Livros Didáticos fazem parte da operacionalização do PNLD.

É esse, então, o início do processo oficial de avaliação dos livros didáticos adquiridos pelo governo para a rede pública de ensino, mas que teve repercussão, também, na rede particular, visto ter sido objeto da mídia e ter configurado discussões com formadores de opinião.

A implementação da avaliação dos livros didáticos, feita na esfera governamental, gerou muitos conflitos e disputas, sendo esse o início de uma ampla discussão travada, principalmente, entre poder público, editores e autores, mas que também alcançou os pais dos alunos, uma vez que essa situação foi bastante explorada pela mídia.

Além da avaliação dos livros didáticos, o PNLD teve, no governo de FHC, dois outros marcos importantes, por meio da adoção de medidas que asseguraram tanto a

ampliação da aquisição (universalização da compra e entrega do livro didático de todas as disciplinas do núcleo comum para o alunado do ensino fundamental, da rede pública) como a distribuição planejada de livros no Programa.

A destinação de um fluxo regular de recursos para o PNLD, feita na gestão de Itamar Franco (1992-1994), possibilitou tais medidas, que consolidaram definitivamente o Programa.

Com o amparo da importância do livro didático na escola, e conseqüentemente, da necessidade de que fossem direcionados recursos financeiros que assegurassem efetivamente o Programa, a Resolução n° 6, de 13/07/1993, destina para o PNLD, “anualmente e em caráter prioritário, recursos da ordem de duzentos e setenta milhões de Unidade Fiscal de Referência (UFIR), equivalentes à média de doze ufir por aluno, da quota do salário educação, para aquisição de livros didáticos para os alunos da rede pública do ensino fundamental” (art.1º), e no art. 3° dessa mesma resolução é discriminada a prioridade de atendimento aos alunos das quatro primeiras séries iniciais, podendo ser ampliado para as demais séries, porém somente quando houvesse disponibilidade de recursos5.

Se a Resolução n° 6 assegura o fluxo regular de recursos para o PNLD, é a Portaria 542, de 10/05/1995, que prescreve a universalização da distribuição dos livros.

Por essa portaria, são estabelecidos recursos para a aquisição e distribuição gratuita de livros didáticos para todos os alunos matriculados de 5ª a 8ª série das escolas públicas brasileiras, de todas as disciplinas do núcleo comum (Português, Matemática, História, Geografia e Ciências). Tal portaria institui que no ano letivo de 1996 as escolas receberiam dois ou três livros de determinada disciplina em um ano, e no ano posterior completariam as disciplinas ainda não atendidas, variando conforme os recursos disponíveis. Conseqüentemente, as cifras resultantes do PNLD passam a ser significativamente maiores a partir de 1996, e redimensionam o mercado editorial nacional dos livros didáticos, o que resultaria no aumento da concentração, nos anos vindouros, dos grandes grupos editoriais nacionais e multinacionais, como já vimos na Tabela 1.3.

5A Unidade Fiscal de Referência (UFIR) foi criada em substituição à extinta BTN, como medida de valor e parâmetro de atualização monetária de tributos e de valores expressos em cruzeiros na legislação tributária federal e os relativos a multas e penalidades de qualquer natureza. Depois do Plano Real (julho de 1994), a UFIR continua sendo utilizada como medida de atualização monetária de tributos, multas e penalidades relacionadas com obrigações em face do poder público. (Disponível em: <www.ajudabancaria.com/termos_mercado_u.html>. Acesso em 10 jul. 2007)

Assim, o estabelecimento de um fluxo regular de recursos para a execução do PNLD, o cumprimento da universalização da aquisição e distribuição dos livros didáticos para os alunos das oito séries do ensino fundamental, como o prescrito na implementação do Programa, em 1985, e a introdução da avaliação foram medidas que deram organização diferente ao Programa daquela que vinha sendo executada até então e construíram as condições para a sua solidificação e permanência.

2.3 O contexto das alterações do PNLD em 1995: a política educacional do governo

No documento O mercado do livro didático no Brasil (páginas 58-61)