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Organização da dissertação

No documento claudeteimaculadadesouzagomes (páginas 44-46)

1.1 Uma vida em poucas páginas

1.2.3 Organização da dissertação

No primeiro capítulo trago a discussão teórica que relaciona o corpo, a escola e as relações que se constroem a partir desse cotidiano, incluindo as sexualidades e relações de gênero, em suas possibilidades e condições de emergência nesses espaços e na constituição desses sujeitos, a partir de autoras/es que utilizam a perspectiva pós-estruturalista em suas produções. Este capítulo é importante para deixar claro para as/os leitoras/es as concepções teóricas que embasam esta pesquisa.

No segundo capítulo, apresento as falas docentes registradas nas respostas escritas nos questionários que foram aplicados às escolas pesquisadas, e que representam parte da estruturação do segundo momento da pesquisa de campo, os encontros em grupos focais e entrevistas, com algumas/alguns docentes que responderam a essas primeiras questões. Inicialmente, a intenção era utilizar os questionários como sondagem junto às/aos professoras/es das 3 escolas municipais sobre quais delas/es exerciam algum trabalho sobre gênero e sexualidades. Mas, diante da riqueza das respostas, considerei que teríamos um material que deveria ser analisado em seu conjunto. Desta forma, este capítulo nasceu do próprio movimento de pesquisa. Nele, vamos trabalhar com o conjunto das respostas recebidas a partir do encontro com as três escolas, de forma que as informações individuais dão lugar ao imaginário coletivo das/os professoras/es.

No terceiro capítulo, partindo do recurso de grupos focais e entrevistas como a metodologia utilizada sugere, chego às falas com as/os professoras/es, trazendo para a escrita as situações, expectativas e problematizações de cada uma/um das/os participantes nos encontros, a partir dos eixos fornecidos pelas respostas dadas aos questionários iniciais. Dessa forma, se configura essa escrita, que representa uma parte de minhas procuras e expectativas diante da educação e suas possibilidades.

2 O CORPO E SEUS SIGNIFICADOS SOCIAIS NA ESCOLA E PARA

ALÉM DELA, COMO POTENCIALIDADES NOS PROCESSOS DE

FORMAÇÃO DO SUJEITO

Nossos corpos são nossos eus; os corpos são mapas de poder e identidade. (Donna J. Haraway. 2009, p. 97)

Neste capítulo a discussão se faz através dos diversos significados construídos sobre o corpo, ao longo da história e nas relações com as construções de gênero e sexualidades. A seu respeito se construíram saberes que vêm sendo transformados através da cultura, da ciência, da filosofia, dos juízos morais e da disciplina escolar, enquanto parte ativa e fundamental na construção e vivência das sexualidades e suas expressões. O corpo que viaja através do tempo e do espaço, trazendo consigo as demonstrações de mudanças e possibilidades que o ser humano, em toda a sua potencialidade pode representar, se tornando “objeto de estudos”: o corpo que mostra, o que disfarça, o que ensina, o que aprende, o que transforma e é transformado, o que significa e é significado, o que sente, o que sofre, o que goza, o que luta, o que vive e que morre, mas que não passa despercebido.

Pensando os corpos que habitam e circulam nos espaços onde se desenvolvem os processos que compõem a educação de crianças, jovens e adultos, podemos problematizar a importância que é dada a esses corpos, como eles se diferenciam e são diferenciados por nós e pelos papéis que desempenhamos nesses espaços? Como os corpos, tantos e variados, são vistos, olhados e significados nesses espaços e no desenrolar de todos os processos que ali se instalam?

Para nós, que estamos na escola hoje, representa prática necessária problematizar e discutir os significados e a valorização que determinadas culturas atribuem aos corpos, as práticas narrativas a eles associados, os discursos praticados em torno deles, as hierarquias que a partir deles se estabelecem e seus efeitos, que nos deixam, acerca dos corpos, uma certeza: “o corpo é ele mesmo uma construção social, cultural e histórica (...) e não é algo que está dado a priori. Ele resulta desta construção sobre a qual são conferidas diferentes marcas em diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais, étnicos etc.” (GOELLNER, 2010, p.33). David Le Breton (2012) complementa nossa discussão ao afirmar que “o homem não é o produto do corpo, produz ele mesmo as qualidades do corpo na

interação com os outros e na imersão no campo simbólico. A corporeidade é socialmente construída” (p. 19).

Meu interesse de pesquisa, nesse trabalho que estamos realizando, tem como foco principal as discussões de gênero e sexualidades presentes no universo que abarca a escola e seus atores, e penso que não é possível conduzir essa discussão ignorando a importância fundamental do corpo e de suas representações nesses espaços e com os seus diversos significados, já que os gêneros e as sexualidades estão ancorados, ou são ancorados, também em corpos. A construção dos gêneros e as discussões acerca dos papéis e lugares a serem desempenhados e ocupados, pelas mulheres e homens, através das práticas, ou negações estabelecidas das sexualidades, se dá através da dinâmica das relações sociais entre esses atores.

Heleieth Saffioti (1992) considera que não se trata de perceber apenas corpos que entram em relação com outros, mas reconhecer a totalidade formada pelo conjunto composto pelo corpo, pelos sentimentos, pelas histórias de vida que irão formar cada sujeito e permitir que se desenvolva essa relação. Cada ser humano é a história de suas relações sociais, perpassadas por antagonismos e contradições (CARLOTO; 2010). Na mesma linha, David Le Breton afirma, de maneira significativa, que o corpo é o locus de construção de nossa identidade, visto que “a existência é corporal” (LE BRETON, 2012, p. 24).

Busco então pensar nas dimensões com as quais se pode pesquisar, discutir e problematizar as questões concernentes ao corpo presente na escola, em como se dá a construção, a desconstrução, a significação de tais corpos em relação com a cultura, as sexualidades, os discursos, a linguagem, a história, as performatividades, e outras relações que envolvem o corpo e produzem o pensar. Espero, com essa proposta, dar lugar à multiplicidade de olhares sobre o corpo, dirigindo-me às/aos professoras/professores que, entre outros desafios, estão sob dois domínios: praticar o ofício da docência e refletir sobre a sua ação cotidiana junto aos atores da escola.

No documento claudeteimaculadadesouzagomes (páginas 44-46)