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Outras formas de preconceito

No documento claudeteimaculadadesouzagomes (páginas 102-106)

3.3 Se observa situações de preconceito na escola?

3.3.3 Outras formas de preconceito

Ao nos dizerem da presença na escola, na forma de falas e atitudes de alunas e alunos, que representam “preconceitos raciais, discriminação de classe social, homofobia e bullyin” ou especificando melhor essas representações, afirmando que elas/eles demonstram preconceitos “de todos os tipos: cor de pele, obesidade, problemas na fala, formas de vestir,

orientação religiosa”, as/os docentes nos ajudam a pensar que as formas possíveis de

discriminação dentro dos espaços escolares refletem uma diversidade de categorias, para além das questões de gênero e sexualidade, perpassando por classe, raça, tipos de corpo, cultura e prática religiosa.

Segundo Débora Britzman (1996) através da cultura pode-se ver “o conhecimento

escolar como a corporificação de relações racializadas de poder, uma vez que esse conhecimento depende dos interesses, valores, disposições e discursos da estrutura de poder dos brancos” (p.72), e podemos somar aqui as concepções adotadas e praticadas para impor padrões aos sujeitos, tais como o peso ideal, as roupas mais adequadas a cada espaço e situação, a linguagem ideal. Esses padrões estão presentes na escola, porém, a resistência

também se estabelece nesses espaços, na forma e performance daquelas e daqueles que destoam, que rompem, que resistem.

Quando recebemos uma resposta em que a/o docente diz do preconceito “em relação a

posição religiosa”, fica marcada a presença das diferentes crenças religiosas, que, em

diversos segmentos, parece estar presente e ter um papel significativo na escola, seja em sua pluralidade, seja na disputa por expansão de seus espaços de ação e domínio de alguns segmentos em detrimento de outros. Ainda pensando com Britzman (1996), a sociedade/religiões “explora as não-tão-ocultas relações entre educação, reprodução cultural e regulação social” (p.72), e nesse espaço de disputa de poder e influência a escola é um dos mais importantes campos de batalha. Como ficam as alunas e alunos diante dessa busca por domínio, onde a escola é palco de disputa de poder através de discursos e ações?

Todas as modalidades sociais estão presentes na escola, em maior ou menor representação, e cada aluna/o percebe e recorre a isso enquanto se movimenta nesse espaço e constrói ali seus saberes e relações. Segundo Elizabeth Ellsworth (2001),

Na medida em que as relações de sala de aula são moldadas pelos antagonismos sociais e econômicos mais amplos bem como definidos pelas relações de gênero e raça, os educadores não podem cerrar o espaço da diferença entre endereçamento e resposta. Eles jamais podem impedir o medo, a fantasia, o desejo, o prazer e o horror que fervilham no espaço social e histórico entre endereçamento e resposta, currículo e estudante (p. 49).

Foi frequente a tentativa de se definir uma unidade cultural brasileira, na tentativa de estabelecer uma identidade cultural e religiosa, ao longo da nossa história, e grande parte dessa busca se deu nos espaços escolares. Entretanto, devido à nossa realidade cultural plural, somos melhores expressos pelas relações que são possíveis estabelecer nos espaços sociais, podendo considerar nossas identidades múltiplas e variadas. Onde não se tem ou terá um produto ou uma finalidade, e sim o devir de diferentes saberes, culturas e conhecimentos, em constante transformação, em que a contribuição dos segmentos diversos é bem vinda e desejada, mas o preconceito e as discriminações que produzem e perpetuam as desigualdades e a violência sejam problematizados e desconstruídos.

De posse das respostas recebidas através dos 36 questionários que foram preenchidos por professoras e professores das 3 escolas definidas para campo de pesquisa, e algumas problematizações possíveis acerca de suas respostas, chega o momento de mais uma etapa desse encontro com docentes da educação municipal de Juiz de Fora, as conversas entre a pesquisadora e cada uma/um das/os convidadas/os que aceitaram participar dessa etapa, ou que conseguiram um espaço em suas agendas de atividades, para construírem comigo mais

uma parte desse trabalho. No capítulo que se segue, as falas trazem um pouco do que elas/eles experimentam, percebem e praticam, de acordo com seus relatos pessoais, e seus pontos de vista.

4 CONVERSANDO COM PROFESSORAS E PROFESSORES SOBRE

RELAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADES: A ESCOLA E “ESSES

ASSUNTOS”

Neste capítulo trago o diálogo direto com as/os decentes das três escolas participantes da pesquisa, através de duas entrevistas, e dois encontros em grupos focais, que tiveram como eixo as respostas dos questionários iniciais. Nesse diálogo, é relevante dizer que as narrativas se referem a situações e atividades ocorridas no cotidiano dessas três escolas pesquisadas, não pretendendo uma generalização pelo universo extremamente amplo da educação municipal de Juiz de Fora. As duas entrevistas aconteceram pela impossibilidade de horário de todas/os para participar do grupo focal. Em uma delas conversei com o professor Luiz Carlos, que preferiu este procedimento metodológico por indisponibilidade de tempo para estar em um encontro em grupo e, por isso, o encontrei em uma das escolas campo, na qual ele atua como professor de inglês. A segunda entrevista foi feita com a professora Ana Paula, professora de história, em outra escola campo, argumentou que se sentia mais à vontade conversando apenas comigo. As/os demais docentes estiveram em encontros de grupos focais, sendo que Paulo, também professor de história e Marília, professora de geografia, estiveram nos dois encontros e o professor de educação física, Cristiano, compareceu somente no segundo encontro.

Nesta parte da narrativa, procuro organizar a discussão em tópicos relacionados diretamente aos assuntos mais abordados, aos quais as/os docentes dedicaram maior tempo e/ou demonstraram direcionar maior empenho e atenção. Meu percurso é ditado pelas falas delas/es, da forma como preferiram se expressar. A utilização das declarações advindas das respostas dadas ao questionário inicial, serviu apenas como um gatilho para a sequência das conversas, porque a partir delas, deixei que eles falassem sobre os assuntos, situações e possibilidades da forma como ia-se lhes aparecendo durante nossos diálogos. Os tópicos são numerados e nomeados de acordo com os temas que surgiram com ênfase durante as conversas. Foram momentos de muitas descobertas e grande aprendizado, no qual estar no lugar de pesquisadora não necessariamente “representa aproximação da verdade, mas uma de suas múltiplas possibilidades” (COSTA, 1996, p.5). Estar em três escolas municipais possibilitou entender que cada espaço e os sujeitos que o compõem formam um novo cenário, fluído e dinâmico, onde podemos atestar que “não existe a tal ‘verdade verdadeira’; ela é sonho, pura ficção” (COSTA, 1996, p.9)

4.1 Primeiras palavras em nossas conversas: o que é mais forte no diálogo? O que

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