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1 INTRODUÇÃO

2.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E A INTERFERÊNCIA DO

O desenvolvimento dos modos de produção, acima, determina historicamente as formas de organização do trabalho nas sociedades em cada período e revela, ainda, sua íntima relação com a própria organização social.

Para Francisco José Silveira Lobo Neto (apud FRIGOTTO, 2002a, p. 88), “[...] ao percorrer o desenvolvimento da concepção do trabalho, várias vezes estaremos nos deparando com os múltiplos encaminhamentos que as diversas sociedades, em diferentes momentos, foram adotando na organização do trabalho”.

Pelo trabalho de cada um e de todos os membros de um determinado grupo social é possível determinar como estes grupos produziam e ainda hoje produzem os meios de subsistência e o próprio modo de vida. Em cada período histórico os grupos sociais se instituíam distribuindo ocupações e organizando o trabalho de produção da existência “[...] distribuindo tarefas de acordo com o sexo, a idade e características físicas”. (FRIGOTTO, 2002a, p. 88)

A organização do trabalho tem sua base nas ações empreendidas e no objeto em que se aplicam essas ações, que hoje denominamos ocupações. Antes, de maneira menos rigorosa e específica, desenvolveu-se gradativamente a definição dessas ocupações, gerando perfis ocupacionais dos trabalhadores. E, logo, essas definições passaram a ser objeto de controle por parte de governos das sociedades, que estabeleciam direitos e privilégios, deveres e obrigações dos que iriam exercer tais conjuntos de ocupações. (FRIGOTTO, 2002a, p. 88)

O autor ainda conclui que “[...] a manifestação concreta do trabalho humano se faz através da organização do trabalho” da mesma forma como historicamente “se apresentou em diversas sociedades e, também, em diferentes momentos de cada sociedade”. (FRIGOTTO, 2002a, p. 89)

Francisco José Silveira Lobo Neto (apud FRIGOTTO, 2002a, p. 93), ao descrever a organização do trabalho e a definição das profissões no Brasil, relata a indiscutível presença disciplinadora do poder político sobre a organização do trabalho, onde o credenciamento de pessoas para o exercício profissional e os limites estabelecidos para esta atuação decorrem historicamente do ato dos governantes de plantão no Brasil por um ato solene do rei ou de um delegado que em seu nome regulamentaram as profissões.

O estabelecimento dos limites de atuação em cada área vai determinar as normas reguladoras das formações dos trabalhadores, e desta forma vão se

[...] constituindo e sistematizando os perfis ocupacionais e profissionais que nada mais são do que o reflexo da divisão do trabalho, da organização do trabalho nas diversas sociedades manifestando-se, também, na dinâmica da organização social. (FRIGOTTO, 2002a, p. 95)

Nesta institucionalização concorrem “interesses corporativos e políticos da sociedade e do governo”. Assim, estes interesses acabam por definir as mudanças nos perfis profissionais a cada novo avanço científico e tecnológico, o que paulatinamente passa também a justificar as reformas curriculares em todos os níveis.

José Rodrigues (apud FRIGOTTO, 2002a) relata de forma precisa um grande número de produções acadêmicas e também jornalísticas na década de 90, que tratam do ingresso, interferência, dos empresários brasileiros no debate educacional defendendo uma universalização da educação básica (ensino fundamental e médio). Estas produções oriundas de pesquisadores das áreas, educacional, econômica e da sociologia do trabalho, além dos jornalistas que com seus artigos, difundiam suas concepções onde

[...] as mudanças tecnológicas e organizacionais que se encontravam em processo de implementação nas empresas “traziam uma nova realidade a intelectualização do trabalho e, consequentemente a elevação quantitativa da educação escolar”. (RODRIGUES apud FRIGOTTO, 2002a, p. 104)

Rodrigues ainda relata que a participação dos empresários no debate educacional não é recente; as primeiras investidas aconteceram na década de 1930, e que o conteúdo das propostas por eles assinaladas mudaram, mas “[...] o objetivo da participação do empresário jamais foi alterado”, ou seja, “operar a formação humana de forma a cumprir as necessidades da classe empresarial, que são nada mais que as necessidades do capital”. (FRIGOTTO, 2002a, p. 104)

As idéias dominantes de uma época são compatíveis com as idéias das classes dominantes, isto é, com as expressões das relações (sociais, econômicas e políticas) de sua dominação. (MARX; ENGELS apud FRIGOTTO, 2002a p. 104)

Como exemplo desta dominação Rodrigues (apud FRIGOTTO, 2002a) aponta a Confederação Nacional da Indústria (CNI) composta pela tríade pedagógica composta pelo SENAI, SESI e pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL).

[...] desde sua fundação oficial (1938), a CNI vem elaborando sucessivamente propostas gerais para a sociedade Brasileira, que podem ser identificadas com metas socioeconômicas. Essas metas societárias denominamos télos. Em outras palavras, télos é uma imagem construída pelo discurso hegemônico, com o fito de tornar-se uma meta a ser perseguida pelo conjunto da sociedade. (FRIGOTTO, 2002a, p. 105)

O autor credita a este télos as justificativas atuais “[...] para todas as privações e todos os sacrifícios impostos pela implementação das políticas que encaminharão a sociedade ao fim projetado” tais como: “Nação industrializada, país desenvolvido, e economia competitiva”. (FRIGOTTO, 2002a, p. 106)

O primeiro faz uma crítica ao Brasil rural, agrário, atrasado e propõe como solução de todos os problemas brasileiros a imagem da nação industrializada que superaria estes problemas: “[...] do analfabetismo à baixa qualidade dos produtos nacionais; da precária

qualificação profissional à criação de um mercado consumidor de massas; da dinamização da ciência à superação do pauperismo”. (FRIGOTTO, 2002a, p. 107)

A implementação deste télos implicaria na participação de todos os segmentos sociais representados pela agricultura, comércio e Estado a quem seria exigida o planejamento e a organização de todos os setores da vida social. Neste bojo, a educação, através da formação profissional, também deveria ser remodelada, pois, a partir desse momento, se consubstanciaria como a mola propulsora da industrialização.

A constituição de instituições com SENAI e SESI e seus congêneres SENAC e SESC, e das leis Orgânicas do Ensino (Reforma Gustavo Capanema) demonstram a subordinação da política nacional ao télos nação industrializada. (FRIGOTTO, 2002a, p. 107)

O télos nação industrializada finalmente foi alcançado na década de 60, após 30 anos dos discursos do primeiro presidente da CNI, sem, contudo, alcançar a superação dos graves problemas sociais a que se propunha. Esta foi a justificativa para a implementação de uma nova meta para a sociedade: “o télos país desenvolvido”.

Mas o fato de ter alcançado o télos nação industrializada não retirou o Brasil da sua condição de país subdesenvolvido, levando a CNI a estabelecer os parâmetros necessários para o país prosseguir em sua escalada industrial, rumo ao novo télos, “modernização industrial”.

Segundo Rodrigues (apud FRIGOTTO, 2002a), a implementação deste novo télos perpassa o período do regime militar (1964), “[...] que termina melancolicamente em meio a uma grave crise econômica apesar do seu grande salto no parque produtivo”. A manutenção dos problemas sociais em contradição à consecução do télos se constituem, na verdade, na “razão da construção e reconstrução permanente do télos industrial”. Na década de 80, com o fim do regime militar, o capitalismo mundial entra em uma nova fase reconhecida como o padrão da acumulação flexível. Neste contexto o CNI lança mão do seu terceiro télos industrial: a “economia competitiva” que integrava “[...] a reestruturação produtiva, a flexibilização das relações de trabalho, a integração ao mercado internacional e a redefinição do sistema educacional brasileiro”. (FRIGOTTO, 2002a, p. 108)

Em resumo primeiro foi prometida à construção da nação brasileira por meio da industrialização. Mais tarde foi apontada a modernização como

caminho para a superação da condição de país subdesenvolvido. Finalmente, é posta como inescapável a reestruturação produtiva, para que se alcance a posição de economia competitiva, condição esta que – finalmente – livrará a sociedade brasileira de todos os seus males: o desemprego, a inflação, a falta de qualidade dos produtos nacionais, as desigualdades regionais a miséria entre outros. (FRIGOTTO, 2002a, p. 109)

A seguir, veremos como estes fatos determinam uma nova concepção para o trabalho/educação, que caminham no sentido econômico/social.