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A Constituição da República Federativa do Brasil reconhece o direito natural à vida à saúde, à segurança, à propriedade e à incolumidade das pessoas e do patrimônio, em todas as condições, cabendo à Defesa Civil, especialmente em circunstâncias de desastres, a garantia desse direito. O objetivo geral da Defesa Civil é a redução11 de desastres.

Um sistema de gestão de desastre é composto por organizações públicas e privadas, profissionais, voluntários da sociedade civil engajados no trabalho de combate a desastres e muitas vezes de recuperação e, levando em consideração na sua composição aspectos globais tais como:

Prevenção de desastres – que compreende a avaliação de riscos de desastres e a redução desses riscos.

Preparação Para Emergências e Desastres – objetiva otimizar as ações preventivas.

Resposta aos desastres - objetiva prestar socorro, assistência e reabilitação.

Reconstrução – objetiva restabelecer condições normais e o bem estar da população.

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Desastres Naturais e Eventos Críticos12 oriundos de variações

climáticas e na área de recursos hídricos tem especial relação, pois assim como os ciclones e os sismos, são responsáveis pelos prejuízos causados ao homem e ao meio ambiente, as secas e as cheias, que são também catástrofes naturais, provocam os mesmos efeitos, com sérios impactos sociais e econômicos.

Em água existe um provérbio: “nem tanto e nem tão pouco”, em ambos os casos as conseqüências para as populações e economias são desastrosas.

A gestão de eventos críticos deve ser dotada de mecanismos capazes de controlar a sua insuficiência, secas, para que isso não venha a ser um fator de restrição ao desenvolvimento de uma região, bem como seu planejamento deve assegurar a defesa e proteção da ação destrutiva da água, como enchentes e erosão.

No Brasil a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos, de origem natural, ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais, é um dos objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos, sendo que o órgão responsável pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos é a Agência Nacional de Águas – ANA, criada através da Lei n. 9.984 de 17 de julho de 2000 (BRASIL,2000u). O art. 4º desta Lei estabelece que compete à ANA:

planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, em articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil, em apoio aos Estados e Municípios;

12 Evento de seca ou cheia, além das médias observadas, que pode afetar populações e

comunidades. São os extremos de enchente e de seca, em que a natureza provoca chuvas torrenciais que ultrapassam a capacidade dos cursos d'água provocando inundações ou quando parece que todo o mecanismo do ciclo hidrológico parou completamente e cessam as chuvas e o escoamento superficial por longos períodos. (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2004).

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definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos e privados, visando garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, conforme estabelecido nos planos de recursos hídricos das respectivas bacias hidrográficas.

O parágrafo 3º do mesmo artigo estabelece que a definição das condições de operação dos reservatórios de aproveitamentos hidrelétricos será efetuada em articulação com o Operador Nacional do Sistema Elétrico – O.N.S, que opera o Sistema Interligado Nacional – S.I.N, por delegação dos Agentes empresas de geração, transmissão e distribuição de energia, seguindo regras, metodologias e critérios codificados nos Procedimentos de Rede, aprovados pelos próprios agentes e homologados pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL.

Assim, considerando ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de eventos hidrológicos críticos, há uma estreita relação entre a ANA e a Defesa Civil, uma vez que a ANA cabe o planejamento das ações que permitem controlar as águas de uma cheia ou minimizar seus efeitos, e a Defesa Civil cabe a responsabilidade de estabelecer o bem-estar social, em casos de danos e prejuízos que envolvam vidas humanas, perdas materiais, com ações preventivas, de resposta em relação a emergências e de reabilitação e recuperação dos danos.

Desenvolver técnicas e aplicar conhecimentos para mitigar esses efeitos é uma tarefa desafiante aos gestores.

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A água distribui-se de modo irregular, no tempo e no espaço, em função das condições geográficas, climáticas e meteorológicas. As condições geográficas, climáticas e meteorológicas influenciam na disponibilidade de água para os rios.

Estas águas, quando em rios com grandes quedas naturais, favorecem a exploração de energia hidráulica que, com auxilio de turbinas, geram energia mecânica e, com o auxílio de geradores, produzem a eletricidade. O homem dominou a tecnologia para aproveitamento desse potencial.

No caso do Brasil os rios de planície não possibilitam a exploração natural fazendo-se necessário o estabelecimento de grandes reservatórios de águas denominados de barragens, que armazenam água, permitindo um controle de variações nas afluências de água e, conseqüentemente uma gestão deste estoque em períodos mais secos.

Essa foi a opção feita pelo Brasil no tocante a exploração de seus recursos hídricos para geração de energia, cuja operação é feita em função da sazonalidade das vazões, caracterizando o uso de energia de base hidráulica.

Essa característica de dependência do regime hidrológico lhe confere certa vulnerabilidade13 e, sabe-se que alguns setores e sistemas, como

agricultura, áreas litorâneas, gerenciamento de água doce e criação de energia, através do poder hídrico, são reconhecidamente vulneráveis à variabilidade climática.

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Vulnerabilidade: entende-se por vulnerabilidade a extensão na qual as mudanças podem provocar danos ao sistema, o que depende da sensibilidade e adaptabilidade do mesmo.

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As variações climáticas acrescentam incertezas quanto às vazões dos rios, e se constitui num problema de conseqüências incertas, mas amplas, porque se faltar água, no caso brasileiro pode faltar energia, uma vez que para secas não há uma definição única, o fenômeno é de difícil determinação.

Todavia, nem todos os problemas ocasionados pela variabilidade climática estão relacionados com a escassez de água. As enchentes são também grandes problemas em muitas partes do mundo, resultando em falta de abrigos, água potável, desabamentos e morte de milhares de pessoas por ano.

As enchentes e as secas são eventos críticos provocados pelas variabilidades climáticas, e estas não podem ser eliminadas em função de sua difícil previsibilidade. Entretanto, estar preparados para entender esses fenômenos e contemplar a possibilidade de ocorrência de riscos de desastres neste setor estratégico que é a energia, seria a melhor maneira para prevenir, responder e mitigar principalmente em seus piores impactos, e assegurar que vidas humanas e economias não sejam abaladas.