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PARTE II O ESTUDO DE CASO DO BAIXO 4° DISTRITO DE

ORGANIZAM C OMO ATUAM R EPRESENTAM S ETOR E SFERA

i) dos Meios de Proprietários Produção

Grandes empresas industriais e de

serviços.

“No estágio atual do capitalismo os três primeiros agentes podem se confundir, estando integrados direta ou indiretamente em grandes corporações, que “compram, especulam, financiam, administram e produzem o espaço urbano” (CORRÊA, 1995, p. 13). O Poder

Econômico Imobiliário Privada ii) Imobiliários Promotores

Construtoras; Incorporadora;

Corretores imobiliários;

Loteadores. iii) Proprietários Fundiários

Grandes e pequenos proprietários privados. iv) Estado Municipal; Estadual; Federal.

Possui dupla função: a) Principal agente na produção e reprodução do espaço urbano; b) Árbitro dos conflitos entre os outros agentes.

O Poder

Político Público Pública

v) Grupos Sociais Excluídos Não se fazem representar Tradicionalmente excluídos, não participam do processo oficial de tomada de decisões; Atuação restrita a produção informal do espaço residencial.

vi) Multilaterais Agências Fundações Bancos e

Organismos ou organizações, nacionais e internacionais, de financiamento e fomento, com o poder - econômico e político - de nortear as políticas públicas urbanas. O Poder Econômico e Político Público-

privado Pública-privada

vii) Comunidades e Organizações Civis ONGs, Associações; Movimentos sociais; Grupos e Coletivos de bairro

Ações coletivas locais que atuam como grupos de pressão (atos de insurgência) frente ao Poder Político e ao Poder Econômico. O Poder Local Coletivo (Forças Sociais) Social

Fonte: Quadro desenvolvido por C.Wagner (2019) com base nas classificações de Corrêa (2012), Botelho (2007) e Miraftab (2016).

As agências multilaterais, representadas pelo Banco Mundial (BM), Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),

Fundo Financeiro para o Desenvolvimento dos Países da Bacia do Prata (FONPLATA), Fundação Rockfeller, etc., passaram a ser importantes agentes norteadores das políticas pública urbanas implantadas em muitos municípios brasileiros. A busca por aportes de grandes capitais financeiros, impulsionado por uma maior autonomia das prefeituras - pós CF/1988 - em negociar diretamente com diversos organismos e órgão nacionais e internacionais de fomento, fez com que os projetos demandantes de recursos tivessem que se adaptar às agendas de financiamento preconizadas por estar instituições.

Com a consolidação e difusão global do conceito de desenvolvimento sustentável, e a aprovação da Agenda 21 Global (Quadro 2.6.), em 1992, a questão da sustentabilidade passa a ser incorporada como uma condição para a contratação desses financiamentos, determinando assim o foco “sustentável” anunciado e sugestionado pela grande maioria dos plano urbanístico a partir da década de 1990.

Representando o “poder” e o conhecimento local, as comunidades e organizações civis são compostas pelos diversos agentes que, através de ações coletivas locais, atuam como grupos de pressão frente ao Poder Político e ao Poder Econômico. Estes grupos de pressão podem estar estruturados sob diferentes denominações: Associação; Movimento Social; Organização Não Governamental (ONG); Grupo de Apoio; Coletivo de Bairro; etc.. Através de práticas cidadãs de ativismo insurgente (MIRAFTAB, 2009), estes grupos se constituem em um importante agente social de negociação e luta pela justiça socioespacial.

Faranak Miraftab (Ibid.) reconhece dois tipos de espaços de ativismo, nos quais as diferentes formas de ação e atos de insurgência protagonizados pelas comunidades e organizações civis podem ocorrer: os espaços convidados, e os espaços inventados6. Espaços previamente selecionados e sancionados, tanto pelo Estado como pelos grupos dominantes, são designados de espaços de ação convidados, onde os canais representativos de participação cidadã se estabelecem. São espaços pré-determinados, controlados e limitados à representantes e escolhidos7. Já os espaços inventados, ou forjados através da pressão constante do ativismo

6 Também chamados de espaços forjados: “[...] mais do que inventado, poderíamos considerar um "espaço forjado"

pela luta social, uma vez que sem a pressão política, a prefeitura não havia se disposto a considerar as demandas da população.” (TANAKA, 2017, p.16)

7 Muitas vezes, e cada vez mais frequente, estes espaços de ação convidados representam exclusivamente os

interesses dos grupos dominantes, se transformando apenas em uma maquiagem de fachada para a agressiva agenda do capital (MIRAFTAB, 2016)

e da luta social (TANAKA, 2017), refletem a busca por uma inclusão ativa nos processos decisórios, realmente participativa, e não apenas representativa e consultiva:

As práticas insurgentes e o planejamento insurgente não buscam por inclusão através de uma melhor representação (seja de especialistas ou de políticos); mas buscam a inclusão autodeterminada, na qual os direitos das pessoas são reais e praticados (MIRAFTAB, 2016, p.368).

Em seus textos “Insurgência, planejamento e a perspectiva de um urbanismo humano” e “Insurgent planning: situating radical planning in the global South”, Miraftab discorre sobre a importância de se pensar um novo tipo de planejamento, nomeado pela autora como planejamento insurgente ou conflitivo8, que reconhece “[...] o leque de práticas além das sancionadas pelo Estado e poderes corporativos [...]” (MIRAFTAB, 2016, p.364) como valores e princípios que podem orientar e promover um futuro e um urbanismo mais comunal e humano. Tais práticas cidadãs de ativismo insurgente apontam para uma mudança no foco da ação direta coletiva, que volta-se da democracia representativa para a democracia participativa (MIRAFTAB, 2016).

Segundo Miraftab (Ibid., p.368):

Na democracia representativa, os cidadãos delegam seus direitos a outros - representantes políticos, burocratas ou especialistas técnicos - para atuar em seu melhor interesse. Em contraste, na democracia participativa os cidadãos reconhecem a inadequação dos direitos formais e não incumbem a outros advogar por seus interesses mas, ao contrário, tomam parte diretamente e formulam decisões que afetam suas vidas.

O direito de todos à cidade só será alcançado através da mobilização política e de ações concretas que desafiem a hegemonia capitalista. Na constante luta pela equiparação das relações de poder, o ativismo e a participação cidadã das organizações civis deve se fazer presente em todos os espaços de ação. Seja através dos espaços convidados, por meio de comissões e de seus representantes, ou através de uma gama de espaços inventados, forjados, que podem tanto incluir ações diretas como protestos pacíficos, ocupações e instalações temporárias de espaços públicos - ruas, praças e parques -, ou até mesmo atos performáticos

8 Carlos Vainer, em seus textos “Pátria, empresa e mercadoria: Notas sobre a estratégia discursiva do Planejamento

Estratégico Urbano” (2000b) e “Os liberais também fazem planejamento urbano? Glosas ao “Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro”” (2000a), ambos publicados em 2000, também discorre sobre o que ele chama de planejamento de conflito: um novo tipo de planejamento transgressor e contra hegemônico.

de insurgência9. No subcapítulo 5.4 olharemos para as ações locais de ativismo insurgente - ações das forças sociais (Setor Coletivo) - protagonizadas pelas associações e organizações civis atuantes na área do Baixo 4° Distrito de Porto Alegre, a partir das quais serão discutidos e analisados a abrangência e os efeitos decorrentes destas ações.

Com exceção dos Grupos Sociais Excluídos (v) e as ações de ativismo insurgente, protagonizadas pelas Comunidades e Organizações Civis (vii) junto aos espaços inventados, a atuação dos demais Agentes Sociais, descrita no Quadro 1.1., ocorre de acordo com a legislação vigente, residindo aí a importância do papel exercido pelo Estado (iv), por ser ele o guardião e o responsável pela legislação que regulamenta as práticas e estratégias que orientam a produção do espaço urbano. Ainda assim, tanto Corrêa (2012) como Miraftab (2016) enfatizam que, por diversas vezes, tais práticas ocorrem à margem destes mecanismos legais e, em muitos casos, a própria atuação do Estado é contraditória, desrespeitando tanto a legislação quanto os interesses da maioria da população.

Isto ocorre devido as ações do Estado estarem também relacionadas a criação de capital excedente a serem apropriados pelos demais agentes, especialmente os promotores imobiliários. Como grande proprietário fundiário de terras públicas, o Estado também pode se beneficiar destes arranjos, já que negocia com os demais agentes e assume aqui, ele também, a função de promotor imobiliário.

É importante observar que as formas de intervenção de um Estado capitalista seguem a reboque o padrão de acumulação (capitalista) vigente e, consequentemente, a sua atuação sobre o espaço urbano não será uniforme. O Estado capitalista, constituído em suas instituições, cujos postos de direção, deliberação e execução são ocupados por pessoas de diversos segmentos sociais, atuará das mais diversas formas, muitas vezes contraditoriamente aos próprios interesses do Estado ou da sociedade como um todo. Esse conflito de interesses emana dos grupos de poder que o compõem, e dos compromissos que tais grupos possuem consigo mesmos, com seu segmento social ou sua classe.

9 “Uma série de táticas com base no lugar, que simbólica e performaticamente resiste ao re-desenvolvimento na

Praça Taksim, re-inventou a praça e deu-lhe um novo significado através do uso imaginativo de seu espaço público. Por exemplo, uma forma não ortodoxa de protesto: permanecer parado. [...]. Enquanto o Homem Parado desnorteou as forças policiais, em como manejar os supostamente passivos protestos de massas “apenas parados”, também criou uma presença corporal de pessoas. [...].O protesto do Homem Parado tornou-se um ato inovador de prática cidadã precisamente por causa do contexto histórico, espacial e político no qual teve lugar e deu significado a ele.” (MIRAFTAB, 2016, p.372).

Desta relação, se estabelece o eterno conflito de classes, no qual o Estado apresenta-se como a arena de disputa e o “objeto” de desejo das classes envolvidas no conflito. A luta pelo controle do Estado garante ao vencedor maior possibilidade de apoio às reivindicações da sua classe. Ressalta-se que a concepção do conceito do Estado capitalista tem como objetivo favorecer a compreensão de como esse está atuando contemporaneamente no espaço.

A relação existente entre este Estado capitalista e o espaço urbano apresenta uma unidade, cujo caráter, já mencionado anteriormente por Santos, é histórico e dialético, semelhante à relação existente entre a sociedade e o espaço. Assim, o espaço é produto tanto das transformações como das experiências sociais (SOJA, 1993). Nele, e por ele, as classes sociais e os grupos de poder se confrontam. Quanto mais bem estruturado e situado em meio ao aglomerado humano, maior será o seu valor de troca. Como visto neste subcapítulo, o espaço urbano é fonte intensa de conflitos entre os diferentes agente sociais que atuam e participam deste intrínseco processo de produção e reestruturação da cidade.

1.3 POLÍTICAS PÚBLICAS URBANAS E AS RELAÇÕES DE PODER ENTRE OS