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PARTE II O ESTUDO DE CASO DO BAIXO 4° DISTRITO DE

(PDDUA) DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE DE 1999

8. Estabelecer as bases para as estratégias de qualificação ambiental estabelecidas pelo 2° PDDUA, para as ações de proteção e planejamento ambiental do Município e para revisão

4.5.3 Plano Plurianual do Município de Porto Alegre: quadriênio 2002-

Dando continuidade às estratégias e atividades internacionais de promoção e construção de uma imagem159 de cidade solidária, participativa e competitiva160, Porto Alegre passa a ser membro, em 1997, da IULA (International Union of Local Authorities - União Internacional de Autoridades Locais [UIAL])161 - uma das mais antigas e respeitadas organizações internacionais de cidades “de esquerda” (SALOMON e NUNES, 2007). Ainda na década de 1990, em 1999, e posteriormente em 2002, o município assina um acordo de cooperação com

159 “A decisão de criar uma "marca Porto Alegre" foi um elemento presente desde o princípio na estratégia de

internacionalização da cidade. Entre outras coisas, os responsáveis municipais encarregados de elaborar uma estratégia internacional para Porto Alegre consideraram que as negociações com agências internacionais para a obtenção de recursos seriam facilitadas se seus interlocutores pudessem situar a cidade no mapa e associá-la a uma imagem positiva.” (SALOMON e NUNES, 2007, p.10-11).

160 Dentre as diretrizes e objetivos estabelecidos pela SECAR, destacamos os seguintes: “Estabelecer e coordenar

a política de intercâmbio e cooperação multilateral e bilateral com cidades, instituições e ONG's, elaborar a executar políticas de projeção internacional da cidade e desenvolver as atividades relacionadas com à função de cidade filiada à Rede de Cidades do MERCOSUL. [...]. Articular politicas de cooperação intercâmbio com cidades de interesse estratégico, visando a dar suporte ao desenvolvimento tecnológico e comercial de Porto Alegre (PMPA, 1997, p.39-40).

161 Criada em 1913, posteriormente mudou o seu nome para UCLG (United Cities and Local Governments -

Cidades e Governos Locais Unidos [CGLU]). Importante instituição internacional, na disseminação de teorias e práticas relacionadas ao planejamento e à administração urbana, assim como na formação de uma intensa comunidade transnacional de planejadores, administradores e reformadores urbanos (DUHA, 2007).

a prefeitura de Barcelona162, cidade considerada referência para o planejamento urbano nas décadas de 1980 e 1990163, e para o desenvolvimento baseado no conhecimento e na inovação164, a partir dos anos 2000. E foi precisamente “[...] entre janeiro de 2001 e dezembro de 2004, coincidindo com a quarta e última das administrações municipais sucessivas do PT (Genro e Verle) [que] a atividade internacional viveu um dinamismo sem precedentes.” (SALOMON e NUNES, 2007, p.9):

A agenda internacional de Porto Alegre, desenvolvida ao longo de pouco mais de dez anos - desde a criação da Secar, em 1994, até a saída do PT do governo municipal a partir de 2005 -, esteve baseada em uma estratégia visível, bem articulada e que buscou a maior coerência possível com o projeto político do PT em sua dimensão internacional. [...]. Esse dinamismo e as importantes transformações qualitativas da agenda nos permitem falar de "um salto adiante" para referirmo-nos à agenda internacional de Porto Alegre nesse período [2001-2004].

Durante este período, Porto Alegre produziu um amplo catálogo de instrumentos de cooperação centrado no intercâmbio de boas práticas - tanto a nível nacional como internacional165 -, protagonizando também forte ativismo junto as duas grandes associações mundiais de cidades, a IULA e a FMCU (Federação Mundial de Cidades Unidas)166. Tanto em relação a dimensão social, quanto cultura, Porto Alegre se destacou a nível internacional,

162 “Os responsáveis pela Secar consideraram profundamente o exemplo de Barcelona, uma cidade com uma

imagem internacional que explora seu próprio modelo de cidade e suas práticas de gestão urbana.” (SALOMON e NUNES, 2007, p.11). É bom lembrar também que esta relação de intercâmbio entre Porto Alegre e Barcelona é antiga, remetendo-nos à palestra proferida pelo espanhol Jordi Borja “Participação Popular e Planejamento Participativo - A Experiência de Barcelona”, durante os eventos do Cidade Constituinte, em 1993 (PMPA, 2015a).

163 “Somente na década de 1980, com a política urbanística de preparação de Barcelona para os Jogos Olímpicos

de 1992, ocorreu um ponto de inflexão, que acabou por influenciar a reestruturação dessa antiga área industrial, localizada próxima da área central da cidade. O Poblenou tornou-se uma das quatro áreas olímpicas, nas quais pretendia-se desenvolver pontos estratégicos de novas centralidades (Bohigas, 1999). Inaugurou-se assim um novo momento no planejamento da cidade, no qual a participação do setor privado para o financiamento de infraestrutura e habitação foi peça relevante na viabilização do projeto olímpico” (GADENS e BEL, 2018, p.562).

164 “Assim, após alguns anos de declínio econômico, essa região voltou a atrair atenção, sendo objeto de diversos

planos, até a proposição do Plano 22@, aprovado no ano 2000 pela prefeitura municipal. Esse plano foi idealizado em um contexto de desenvolvimento urbano baseado no conhecimento (knowledge-based urban development - KBUD), que legitimou suas diretrizes e proposições (Duarte & Sabaté, 2013)” (Ibid.).

165 “[...] buscou-se priorizar as relações internacionais com cidades segundo alguns critérios preestabelecidos e de

acordo com os interesses estratégicos de Porto Alegre. Foram privilegiadas as relações bilaterais com as seguintes categorias de cidades: as governadas pela esquerda ou com governos de esquerda durante longos períodos de tempo; as capitais do Mercosul; as com experiências interessantes em matéria de gestão e de políticas públicas comerciais; as com um papel destacado nas redes internacionais de cidades; e as com atrativos como interlocutores comerciais potenciais. Bolonha, Barcelona, Paris, Montevidéu, Buenos Aires e Santiago estão entre as cidades com as quais Porto Alegre estreitou relações levando em conta um ou mais desses critérios (SALOMON e NUNES, 2007, p.9-10).

166 Ambas associações foram unificadas em 2004, com o estabelecimento da UCLG (United Cities and Local

Governments - Cidades e Governos Locais Unidos [CGLU]). “[…] a criação de uma única organização universal que representasse os interesses dos governos locais dentro e fora do sistema das Nações Unidas.” (SALOMON e NUNES, 2007, p.10).

sediando, em 2001, o principal evento mundial da antiglobalização - em contraposição ao Fórum Econômico de Davos -, o Fórum Social Mundial167 (FSM), e participando, de forma fundamental, na produção da Agenda 21 das Cidades para a Cultura durante a formação da organização internacional de Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), ocorrido junto ao Fórum Universal das Culturas, em Barcelona, em 2004:

A Agenda 21 das Cidades para a Cultura é um documento elaborado a partir do exemplo da Agenda 21 para o Meio Ambiente. Foi aprovada em 2004, por cerca de mil representantes de governos locais, a iniciativa de Porto Alegre e Barcelona contém o compromisso dos governos locais de fazer da cultura uma dimensão-chave das suas políticas urbanas (SALOMON e NUNES, 2007, p.14).

Produzido já sob a influência de diretrizes ambientais, sociais, econômicas e institucionais estabelecidas em uma série de leis e documentos (e.g.: 2° PDDUA168; Estatuto da Cidade169; Cidades Sustentáveis - Subsídios à Elaboração da Agenda 21 Brasileira170; Indicadores de Desenvolvimento Sustentável para o Brasil171; e Agenda 21 Brasileira - Ações Prioritárias172), o PPAM 2002-2005 (Quadro 4.4.), por primeira vez, passa a usar o termo “desenvolvimento sustentável”, porem, relacionando-o, ainda de maneira limitada e simplista, tão somente à questão da durabilidade ambiental e do crescimento econômico.

O seu uso pode ser observado junto as Diretrizes Gerais do Plano: “Consolidar o crescimento econômico de Porto Alegre através de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, diversificado e de qualidade, integrado ao Mercosul e ao projeto de desenvolvimento do Rio Grande do Sul.” (PMPA, 2001, p.29) (grifo nosso); junto às diretrizes 167 “[...] a decisão do comitê organizador do Fórum Social Mundial de celebrá-lo em Porto Alegre estava

relacionada com a imagem de cidade solidária que fora provocada internacionalmente a partir da difusão do OP, ainda que isso não exclua outras razões. O perfil de Porto Alegre como cidade solidária e capital internacional da democracia participativa, com efeito, casava bem com as características do Fórum.” (SALOMON e NUNES, 2007, p.11).

168 O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre, Lei Complementar 434/99, foi

sancionado em 1999.

169 Promulgada em 10 de julho de 2001, o Estatuto da Cidade é a denominação oficial da Lei n°10.257, que

regulamenta o capítulo “Política Urbana” da Constituição brasileira.

170 Elaborado, em 2000, pelo Consórcio Parceria 21, o documento “Cidades Sustentáveis: Subsídios à Elaboração

da Agenda 21 Brasileira” teve por objetivo “[...] subsidiar a formulação da Agenda 21 Brasileira com propostas que introduzam a dimensão ambiental nas politicas urbanas vigentes ou que venham ser adotadas, respeitando-se as competências constitucionais em todas as esferas de governo.” (BEZERRA e FERNANDES, 2000, p.12)

171 Documento publicado, em 2002, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponibilizando

informações sobre a construção de indicadores de desenvolvimento sustentável (IDS) para o Brasil, integrando as dimensões social, ambiental, econômica e institucional; com edições atualizadas em 2004, 2008, 2010, 2012 e 2015.

172 A CPDS (Comissão de Politicas de Desenvolvimento Sustentável) publica, em 2002, o documento “Agenda 21

Brasileira - Ações Prioritárias”, com o objetivo de internalizar nas políticas públicas do país os valores e princípios do desenvolvimento sustentável.

da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comercio (SMIC): “Desenvolver uma política municipal, através da nova Secretaria Municipal de Abastecimento, que integre ações visando a soberania alimentar, tendo como eixo estratégico o desenvolvimento sustentável, dinamizando o meio rural, propiciando uma mudança estrutural na lógica dos grandes conglomerados.” (PMPA, 2001, p.142) (grifo nosso); e como uma das metas da Secretaria de Planejamento Municipal (SPM): “Desenvolver Programa de Desenvolvimento Sustentável para a Macrozona 8 que contemple ações políticas de fomento à produção primária, de proteção ao patrimônio natural e de saneamento ambiental.” (PMPA, 2001, p.182) (grifo nosso).

Quadro 4.4. Referências às dimensões conceituais do desenvolvimento sustentável identificadas no PPAM 2002-2005.

PPAM 2002-2005 (Lei N° 8.748) - Gestão: Tarso Genro e João Verle (PT) N° de paginas do documento: 261

Secretarias Diretrizes; Objetivos; e Metas

Mensagem - [...] condição de capital de melhor qualidade de vida, conforme a metodologia da ONU, que utiliza Índice de Desenvolvimento Humano - IDH [...] (p.7).

- [...] Porto Alegre hoje é reconhecida internacionalmente. Inclusive a participação democrática foi citada no relatório do Banco Mundial (World Development Report, 2000, página108) como uma forma eficiente para o desenvolvimento local (p.8).

- [...] o Plano Plurianual é um excelente instrumento para reivindicarmos e realizarmos nossas aspirações em prol do desenvolvimento econômico, da melhor qualidade de vida na nossa cidade e, por consequência, do bem estar social (p.8).

Premissas do Plano

-[...] três eixos prioritários do Governo [...]: Combate a Exclusão Social, Radicalização da Democracia e Desenvolvimento Econômico, Emprego e Tecnologia (p.21).

Diretrizes

Gerais 2. Ampliar o reconhecimento nacional e internacional de Porto Alegre como cidade referência em democracia, diversidade cultural e qualidade de vida (p.29). 8. Consolidar o crescimento econômico de Porto Alegre através de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, diversificado e de qualidade, integrado ao Mercosul e ao projeto de desenvolvimento do Rio Grande do Sul (p.29).

9. Executar ações e obras de qualidade da infra-estrutura urbana e do saneamento básico para elevar o nível de qualidade de vida de Porto Alegre, de acordo com as decisões do Orçamento Participativo e as orientações presentes nas estratégias do Plano Diretor de desenvolvimento Urbano e Ambiental (p.29).

Gabinete do

Prefeito - GP Diretriz: Estabelecer intercâmbios e cooperações multilaterais e bilaterais com cidades e Organizações Não Governamentais (ONGs) e projetar internacionalmente a Cidade de Porto Alegre (p.40).

Objetivo:

Articular projetos de intercambio cultural, tecnológico e comercial com as cidades irmãs de Porto Alegre, com destaque para as cidades do MERCOSUL (p.40).

Meta:

Coordenar executivamente a participação de Porto Alegre na Rede de Cidades do Mercosul (MERCOCIDADES), na União de Cidades Capitais Luso-Afro-Américo- Asiáticas (UCCLA), na Federação Mundial de Cidades Unidas (FMCU) e na Associação internacional de Cidades Educadoras (AICE) (p.40).

Secretaria Extraordinária de Captação de Recursos e Cooperação Internacional - SECAR Objetivos e metas:

- Captar recursos [para varias obras de infra-estrutura] e buscar parcerias junto à iniciativa privada (p.62).

Meta:

Coordenar a elaboração, o encaminhamento e a negociação de projetos, captando recursos e realizando parcerias na área tecnológica a fim de dinamizar o setor de eletrônica e informática (p.63). Secretaria Municipal da Cultura - SMC Objetivo:

Dar continuidade ao projeto Memoria dos Bairros e iniciar um projeto de Memoria da Cidade (p.79).

Meta:

Pesquisar a história dos bairros junta aos seus moradores (p.79). Secretaria Municipal de Obras e Viação - SMOV Diretriz:

- Qualificar a circulação viária (p.120). Objetivo:

- Criar uma consciência ecológica na população através do convívio com o lago (p.120). Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comercio - SMIC Diretriz:

- Contribuir para a constituição de Porto Alegre como um polo referencial de desenvolvimento e capacitação tecnológica (p.141).

- Desenvolver uma política municipal, através da nova Secretaria Municipal de Abastecimento, que integre ações visando a soberania alimentar, tendo como eixo estratégico o desenvolvimento sustentável, dinamizando o meio rural, propiciando uma mudança estrutural na lógica dos grandes conglomerados (p.142).

Secretaria Municipal dos Transportes - SMT

Objetivo:

- Desenvolver estudos para Plano Cicloviário na Cidade de Porto Alegre (p.153). Objetivo:

- Viabilizar a implantação da “Linha 2” do Metrô no Município de Porto Alegre (p.153). Secretaria de

Planejamento Municipal - SPM

Meta:

- Desenvolver Programa de Desenvolvimento Sustentável para a Macrozona 8 que contemple ações políticas de fomento à produção primária, de proteção ao patrimônio natural e de saneamento ambiental. (p.182). Secretaria Municipal do Meio Ambiente - SMAM Meta:

- Detalhar as Áreas de Proteção do Ambiente Natural indicadas no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA) de 1999 (p.190).

Fonte: Quadro desenvolvido por C.Wagner (2019) com base nas informações coletadas junto ao Plano Plurianual 2002-2005, do Município de Porto Alegre (PMPA, 2001) (grifo nosso).