2.4 IDENTIDADE DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL
2.4.2 Orientação sexual
Os estudos de comportamento do consumidor se utilizam primeiramente de traços de personalidade de gênero para medir a relevância nos estudos. Contudo, de acordo com Palan (2001, tradução do autor), outras variáveis parecem ser relevantes, tais como papeis de gênero e a orientação sexual.
Os estudos acerca da orientação sexual humana têm sido desenvolvidos ao longo do tempo sob diversas perspectivas. Contudo, duas hipóteses são geralmente encontradas: a de que a heterossexualidade não precisa ser estudada/explicada; e a de que a orientação sexual desenvolve-se de forma única, apesar de não existir atualmente uma posição estabelecida acerca disso (BEM, 1996; BEM, 2000; BIRKE, 1981; LEVAY, 1996; TREVISAN, 2002; MENEZES, 2005 apud MENEZES; BRITO; HENRIQUES, 2010).
Assim como acontece uma confusão com os termos “gênero” e “sexo”, a orientação sexual também tem sua compreensão centrada no sinônimo de sexualidade. Para esclarecer a diferença entre esses dois últimos, define-se sexualidade como
Uma das dimensões do ser humano que envolve gênero, identidade sexual, orientação
sexual, erotismo, envolvimento emocional, amor e reprodução. É experimentada ou
expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, atividades, práticas, papéis e relacionamentos (ABRAMOVAY, 2004 apud FERRERIA; LUZ, 2009, p. 35, grifo nosso).
Outro ponto que deve ser ressaltado é o fato de que a orientação sexual não é consequência da identidade de gênero. Butler (2009, p. 100) salienta que “não se pode prever, com base no gênero de uma pessoa, qual identidade de gênero ela terá e qual ou quais direções do desejo essa pessoa, ao final, levará em consideração e seguirá.”.
O Ministério da Educação (MEC), apresenta em seu documento criado para inserir orientação sexual5 como tema transversal no ensino escolar, uma definição bastante completa
acerca da sexualidade. No documento descreve-se que
A sexualidade é entendida como algo inerente, que se manifesta desde o momento do nascimento até a morte, de formas diferentes a cada etapa do desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída ao longo da vida, encontra-se necessariamente marcada pela história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e sentimentos, expressando-se então com singularidade em cada sujeito. [...] Se, por um lado, sexo é expressão biológica que define um conjunto de características anatômicas e funcionais (genitais e extragenitais), a sexualidade é, de forma bem mais ampla, expressão cultural. Cada sociedade cria conjuntos de regras que constituem parâmetros fundamentais para o comportamento sexual de cada indivíduo. Nesse sentido, a proposta de Orientação Sexual considera a sexualidade nas suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural (MEC, 2017, p. 81).
Dada a definição de sexualidade, pode-se começar a entender a orientação sexual no sentido de relacionamentos e sentimentos entre/para com indivíduos. Nesse sentido, a Associação Americana de Psicologia define orientação sexual como
Um padrão duradouro de atração emocional, romântica e/ou sexual por homens, mulheres ou ambos. Orientação sexual também refere-se ao senso de identidade de uma pessoa baseado nestas atrações, em comportamentos relacionados e participação em comunidades de outros que compartilham essas atrações (APA, 2017, tradução do autor).
Em adição a isto, os Princípios de Yogyakarta trazem em sua definição de orientação sexual a “capacidade de cada pessoa de experimentar uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como de ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas;” (OS PRINCÍPIOS, 2006?, p. 10).
Essas atrações, traduzidas em orientação sexual de uma forma geral e em sua configuração mais conhecida, podem classificar-se de três formas (ABGLT, 2006?, p. 12):
a) Homossexual: atração pelo mesmo gênero/sexo;
b) Heterossexual: atração pelo gênero/sexo oposto ao qual o indivíduo se identifica; c) Bissexual: atração por ambos os gêneros/sexos.
5 Neste contexto, a orientação sexual têm o sentido de orientar os alunos para questões da própria sexualidade,
Além dessas três configurações, a pansexualidade também é considerada uma forma de orientação sexual, onde o indivíduo sente atração sexual independentemente do sexo biológico ou identidade de gênero da outra pessoa. Ainda, há a assexualidade, que é o nome destinado às pessoas que não sentem nenhum tipo de atração sexual.
Para Menezes, Brito e Henriques (2010, p. 246), a orientação sexual tem uma característica de complementariedade entre o biológico e o cultural. Sendo assim, as autoras afirmam que
Se pode considerar que a orientação sexual não seria resultante diretamente nem de fatores biológicos nem de culturais, mas que suas múltiplas formas de manifestação decorreriam de diferentes interações entre esses elementos e, consequentemente, de diferentes percursos de desenvolvimento ontogenético (MENEZES; BRITO; HENRIQUES, 2010, p. 246).
Essa teoria se sustenta pelo fato de que, na visão das autoras, os padrões de gênero tipicamente construídos são criados a partir de uma constituição biológica aliada às influências culturais que o indivíduo sofre no decorrer de sua vida (MENEZES; BRITO; HENRIQUES, 2010).
Como forma de sumarizar e exemplificar as diferentes configurações que identidade de gênero, sexo e orientação sexual podem assumir, o Quadro 9 apresenta a síntese de como a junção destes três elementos é diversificada, contemplando também o aspecto social – forma como o indivíduo é visto socialmente.
Quadro 9 – Algumas possibilidades de orientação sexual e identidade de gênero.
Sexo biológico Identidade de gênero Orientação sexual Como se reconhece
Feminino Mulher Bissexual Mulher bissexual
Feminino Mulher Heterossexual Mulher heterossexual
Feminino Mulher Homossexual Mulher homossexual
Feminino Mulher Assexual Mulher assexual
Masculino Mulher Bissexual Homem bissexual
Masculino Mulher Heterossexual Homem heterossexual
Masculino Mulher Homossexual Homem homossexual
Masculino Mulher Assexual Homem assexual
Masculino Homem Bissexual Homem bissexual
Masculino Homem Heterossexual Homem heterossexual
Masculino Homem Homossexual Homem homossexual
Masculino Homem Assexual Homem assexual
Feminino Homem Bissexual Mulher bissexual
Feminino Homem Heterossexual Mulher heterossexual
Feminino Homem Homossexual Mulher homossexual
Feminino Homem Assexual Mulher assexual
É importante ressaltar que, na síntese do Quadro 9, apenas quatro orientações sexuais foram consideradas – heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e assexualidade, excluindo a pansexualidade. Uma hipótese para que isso ocorra pode recair sobre o fato de que essa orientação sexual ainda é relativamente pouco conhecida e estudada. Ademais, apenas as identidades de gênero e sexo biológico binários (masculina e feminina) foram consideradas, suprimindo os hermafroditas e transgêneros. Portanto, pode-se observar que, a despeito de terem sido excluídas pelo menos cinco variáveis, existe uma ampla diversidade e complexidade que a combinação dos três fatores (sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual) abrange.
Para fins deste trabalho, serão consideradas as orientações heterossexual, homossexual e bissexual.
3 METODOLOGIA
Nessa seção, são expostos os instrumentos metodológicos que foram utilizados para atingir os objetivos do trabalho, sendo descritos todos os procedimentos seguidos para sua execução.
Nesse sentido, Markoni e Lakatos (2010, p. 65) definem método como
[...] o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista (MARKONI; LAKATOS, 2010, p. 65).
Dado o exposto e de modo a atingir os objetivos propostos de forma mais completa, o trabalho deu-se em três etapas: a primeira foi de caráter qualitativo e exploratório, a segunda foi netnográfica e a terceira, quantitativa e descritiva. Sendo assim, os aspectos da metodologia utilizada em cada uma das etapas foram divididos em: tipo de pesquisa, população e amostra, técnica de coleta de dados e análise e interpretação dos dados.
O trabalho caracterizou-se como netnográfico pois, neste caso, através da mediação de comunicação via computador, serviu para “incluir em suas estratégias de coleta de dados a triangulação entre diversas fontes online [grupos de interesse da pesquisa] e off-line [entrevista] de compreensão cultural” (KOZINETS, 2014, p. 62).