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A visão apareceu completa. Registramo-la na primeira parte e temos o ma- nuscrito sob os olhos. Podemos agora relê-lo com outra forma mental. Exami- ná-lo-emos nesta segunda parte à luz da razão, com a psicologia da análise e da crítica, que diverge fundamentalmente do estado de inspiração. Agora va- mos transformar-nos em incrédulos, a quem é lícito toda discussão e toda dú- vida, para enfrentar a teoria exposta, agora submetida a uma ação de controle racional, necessário para provar sua veracidade. Se ela corresponder aos fatos e for por eles confirmada, poderemos aceitá-la, declarando que a inspiração viu efetivamente a verdade. Se assim não for, temos obrigação de não aceitar essa teoria. Por aí se vê até que ponto trabalhamos sem preconceitos nem dogmatismos, sem nos preocupar em chegar a esta ou àquela conclusão, sem antepor à pesquisa, totalmente desapaixonada, as teorias desta ou daquela es- cola ou religião. Esta posição de absoluta imparcialidade, pela qual nós mes- mos procuramos demolir, com as dúvidas, os resultados de nossa inspiração, é a única a nos dar a garantia de ter visto uma verdade, garantia indispensável, se quisermos atingir resultados positivos, sem cair na fantasia.

As probabilidades de erro são muitas no terreno da metapsíquica, onde nos- so espírito trabalha, e ainda conhecemos pouco a sua estrutura e funcionamen- to para podermos julgar com segurança os seus produtos. Para o homem, a alma humana é ainda um abismo desconhecido, onde se movem forças de que não sabemos a origem nem as possibilidades. Enquanto não submetermos os resultados das operações do espírito a severo controle positivo, a ciência tem o direito de não os tomar a sério. De nossa parte, esta análise e crítica dos resul- tados de nossa inspiração nos leva a resultados jamais alcançados no terreno teológico, em que agora se aventuraram as nossas indagações. Entendemos por teologia a ciência das coisas de Deus, enfrentando os problemas máximos do conhecimento, situados no absoluto; teologia pertencente a todas as religiões, na medida em que se ocupam das coisas de Deus. Pois bem, neste campo, ina- tingível para a ciência, poderemos chegar a conclusões positivas, alcançadas mediante um controle racional, até chegar às provas, em nosso mundo, das verdades descobertas por inspiração, as quais, de outra maneira, escapariam no absoluto. Obteremos assim um plano de teologia demonstrada, que, fundamen- tada em provas encontradas em nosso mundo, tem o direito de ser levada em consideração mesmo pelos racionalistas positivos.

Estes resultados nós oferecemos a todos imparcialmente, seja às várias re- ligiões, à filosofia ou à ciência. A solução dos problemas máximos interessa a todos. Subir o monte do conhecimento representa uma conquista para todos os homens. Levantar o véu do mistério é a grande aspiração e o maior pro- gresso. Oferecemos o produto genuíno de nossa pesquisa, que é inspirativa e racional ao mesmo tempo. Cada um irá usá-lo da forma que lhe for mais útil. Nossa pesquisa é absolutamente desapaixonada. Nossa única finalidade é conhecer as causas primeiras de que derivou a gênese e a estrutura de nosso universo, e não defender de modo algum, aprioristicamente, esta ou aquela religião. Iniciamos as pesquisas sem saber aonde chegaríamos nem quais seriam as conclusões. Provavelmente, agindo desta maneira, descontentamos a todos, pois cada um procura mais achar provas em favor do próprio grupo do que descobrir a verdade. Mas, em compensação, achamos a resposta a muitas perguntas que estavam em suspenso sobre nossas cabeças. Isto é o que vamos explicar nesta segunda parte.

Enfrentemos, pois, a visão, para verificar se ela resiste às várias objeções e se as nossas dúvidas poderão destruí-la. Devemos, por isso, ser sinceros e ho- nestos, mesmo nas dúvidas. Devemos ser impelidos apenas pelo desejo de conhecer a verdade, prontos a sacrificar a ela todos os nossos preconceitos, a render-nos sempre à evidência, todas as vezes que ela surgir. Não podemos antecipar as conclusões da pesquisa, obrigando-nos a repelir esta ou aquela verdade, apenas pelo fato de ser ela contrária a certos princípios que ainda não estão demonstrados. Quem está na fase da pesquisa sabe que pode chegar a qualquer conclusão e deve estar pronto para qualquer surpresa.

Por isso temos de ser pesquisadores sinceros, que amigavelmente se ajudam no mesmo trabalho de indagação, e não polemistas que procuram sobrepor-se, esforçando-se cada um por impor ao outro a própria verdade. Para nós, situa- dos no relativo, as perspectivas são diferentes. Dessa forma, as verdades não são apenas relativas à posição particular de cada um, mas também progridem, caminham em evolução e são conquistáveis por aproximações sucessivas. Por isso os verdadeiros pesquisadores, sabendo disso, não fazem polêmicas; pelo contrário, ao invés de procurarem eliminar-se mutuamente, como num comba- te de esgrima, buscam o caminho da compreensão para colaborar, combinando as próprias visões particulares, para alcançar uma visão de conjunto sempre mais vasta. Por estas afirmações se compreende quanto esteja afastada de nós a ideia de proferir afirmações catedráticas, em tom de autoridade. Explicamos

tudo isto porque também são objetivos destas pesquisas mostrar o método evo- luído com que elas devem ser conduzidas e ensinar e arte de pensar de acordo com uma técnica mais produtiva.

O sistema de querer vencer polemizando, ou seja, usando as palavras e os argumentos como armas e projéteis, para esmagar o inimigo, é o sistema do homem primitivo, que instintivamente ainda adota os métodos da guerra, para ter razão contra os outros. Nos planos mais elevados, o vencedor não é o mais forte em dialética, mas aquele que, usando da mais simples sinceridade, con- vence porque demonstrou haver descoberto desapaixonadamente maiores ver- dades e sabe dar as provas necessárias. Ora, a descoberta da verdade pertence a quem vive nesses planos mais altos e usa seus métodos. Os involuídos sabem fazer bem as guerras e vencê-las, sendo muito fortes no terreno da luta pela vida, mas são impotentes diante do problema da busca da verdade.

É preciso compreender este princípio geral, de que a verdade não se con- quista – como as coisas humanas – pela força ou pela astúcia, mas sim pelo amor. A verdade está escrita, fechada no pensamento de Deus, e só se revela a quem mereça conhecê-la, porque esse dará garantia de saber usá-la bem. A ele a verdade abre suas portas e se deixa conquistar pela sinceridade e pureza de intenções, pela humildade do pesquisador e pelo desejo de conhecê-la para o bem. Quando, ao contrário, aparece o orgulho de apoderar-se da verdade para explorá-la e impô-la ao próximo; quando transparece na busca a insinceridade, o egoísmo, as segundas intenções; a verdade, que é constituída por inteligentes correntes de pensamento, recusa-se e fecha as portas ao seu conhecimento. A verdade se esconde dos involuídos, porque eles a usariam mal e, portanto, de- vem ser dela excluídos, até que tenham atingido, vivendo e lutando, o necessá- rio amadurecimento. Por conseguinte, quando nos deparamos com alguém que queira impor a própria verdade, vendo no próximo um antagonista a ser derro- tado, ao invés de encontrar nele um colaborador que possa apresentar novos e inéditos aspectos, então podemos dizer que ele não só descobrirá pouco da verdade, mas também demonstra nada ter compreendido a seu respeito, pen- sando que pode pregá-la só porque a aprendeu com outros. E tudo isto pelo fato de procurar impô-la ao próximo. A verdade se entrega a quem ama, e quem ama procura a unificação com os seus semelhantes, e não o domínio sobre eles. Isto porque a verdade está em Deus, e só podemos nos aproximar de Deus pelos caminhos do amor, ou seja, unindo-nos fraternalmente ao pró- ximo. Quem assim não procede, mesmo quando prega a verdade em nome de

Deus, só consegue afastar-se dela e de Deus. Portanto, com a agressividade polemista, não se difunde nem, muito menos, se descobre a verdade, que, pelo contrário, fica sufocada e se nega, pois tudo o que não é amor não pertence ao Sistema, mas ao Anti-Sistema.

A nossa finalidade, portanto, deve ser apenas uma: chegar a conhecer a verdade. Com o máximo respeito para com tudo já dito pelas religiões e filoso- fias, somos obrigados a enfrentar sozinhos, para resolvê-los, os problemas que elas não enfrentaram nem resolveram. A lei de Deus rege todos os fenômenos, e não há religião nem filosofia que lhe possa alterar o funcionamento. Tanto no mundo espiritual como no material, há fatos positivos que, como tais, a todos se impõem, independentemente de nossas crenças. Galileu não podia impedir que a Terra girasse em redor do Sol, fazendo o Sol girar em redor da Terra, só porque a Bíblia podia fazer supor que assim acontecesse. Da mesma forma, não se poderá impedir que a reencarnação seja verdadeira, só pelo fato do catolicismo sul-americano combatê-la (o catolicismo europeu nem sequer se interessa por isso e não a combate). Assim também não se pode impedir que a teoria da queda dos anjos se nos apresente com grande possibilidade de ser verdadeira, só pelo fato de vários espíritas brasileiros não a aceitarem, por ela parecer de origem católica, sem saberem que os teólogos de Roma seriam os primeiros a condenar o nosso ponto de vista, pois a teologia clássica os orienta de modo completamente diferente.

Infelizmente, sobre estes problemas e suas soluções apoiaram-se numero- sos interesses materiais e morais de casta, que são defendidos por meio da criação de obstáculos a cada passo, como trincheiras no caminho do pesqui- sador. A este não é pedida, de modo algum, a verdade, que pouco interessa, porque já a julgam em suas mãos, mas pedem-lhe filiar-se ao próprio grupo, para fazê-lo crescer. Assim, o pesquisador sem preconceitos é constrangido a esbarrar, a cada passo do seu caminho, com as estradas transversais, onde está escrito: local ocupado, aqui não se passa! Mas isto está perfeitamente justificado, porque o mundo está organizado segundo o tipo médio normal, precisando mais de chefes que o dominem e o domem do que de compreen- são e liberdade que lhe possibilitem realizar investigações para chegar ao conhecimento da verdade. Por isso, para cada grupo, a resposta ao nosso es- forço de investigação não foi discutir o problema em si, para saber como de fato se passavam as coisas, mas foi, sobretudo, saber se as conclusões con-

cordavam ou não com os seus princípios, declarando-as ótimas no caso afir- mativo e condenando-as no caso negativo.

As necessidades da mentalidade corrente parecem ser diferentes. O que se pretende, para qualquer coisa nova que surja, é enquadrá-la num dos muitos padrões já existentes de catalogação de todas as coisas humanas. Com efeito, uma das características do ser situado no Anti-Sistema é conceber tudo divi- dido e querer fixar essas suas divisões em categorias separadas e contrastan- tes. A criatura situada no Anti-Sistema não concebe uma ideia senão em po- sição de antagonismo com outra oposta à sua. Por isso a principal preocupa- ção de muitos que acompanham estes estudos é, naturalmente, saber em pri- meiro lugar a que religião ou corrente humana pertencem, para formar gru- pos e agredir os que se acham do outro lado. E é incrível sua desilusão quan- do não acham nada disso. Seu sentimento é quase de desgosto, diante desta estranha linguagem de imparcialidade e universalidade, num mundo funda- mentado em outros princípios. Linguagem que dá, a quem vive de lutas, com a psicologia correspondente, um sentido de inutilidade, como de ecletismo vazio e passatempo para diletantes.

Perguntamos, no entanto, como é possível excluir a priori esta ou aquela fi- losofia ou religião, garantir que não possa haver no campo alheio um pouco de verdade, só porque não está em nosso campo? Como negar que o outro aspecto da verdade possa ser talvez exatamente o que nos falta para completar a nossa? E como não admitir também que, mesmo no campo alheio, possa faltar outro aspecto da verdade e seja este justamente o que nós possuímos? A voz de to- das as coisas é tão grande e rica, a presença do pensamento de Deus é tão uni- versal no todo, que cada um terá visto, por certo, algo da verdade. Num mundo onde tudo é relativo, como admitir estar a verdade toda de um lado, e nada do outro? Como é possível acreditar que a verdade esteja toda exclusivamente do próprio lado, e o erro sempre do lado oposto? Isto corresponde à psicologia de quem vive no plano da luta animal, mas não à de quem vive em plano mais evoluído, onde deveria estar situado o homem.

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Esclarecidos assim os critérios com que procederemos em nosso exame, en- frentemos a visão. Eis-nos, pois, como incrédulos, mas incrédulos honestos. Devemos, portanto, permanecer equitativos, sinceros, fraternos com todos. Como incrédulos, temos o direito de perguntar se esta teoria é verdadeira; te- mos de partir da dúvida, para aceitar somente o que ficar provado. Mas, embo-

ra honestamente imparciais, não podemos deixar de reconhecer verdadeiro o que sinceramente nos convence.

Ora, a razão pela qual estou desenvolvendo e aceitando a teoria da queda não é tanto por um ato de fé cega em suas origens inspirativas, quanto pelo fato dela resolver muitas das minhas dúvidas, explicando muitos fatos e solu- cionando muitos problemas, num quadro orgânico e harmônico, reconduzindo tudo à unidade e, ao mesmo tempo, satisfazendo as exigências da minha mente e do meu coração. Esta teoria me dá de Deus um conceito verdadeiramente grande e bom, que permanece tal apesar da maldade dos ruins dominar em nosso mundo humano. Nesse conceito, que busca afastar-se cada vez mais dos conceitos comuns antropomórficos da Divindade, vejo triunfar a bondade, a liberdade, o amor, que um instinto irresistível me diz serem Seus atributos.

Além disso, a teoria me explica algumas coisas que nem a razão, nem as re- ligiões, nem a filosofia, nem a ciência sabem dar-me. Por exemplo: por que motivo nasceu a matéria? Com isto pergunto não só de que nasceu a matéria, mas por que nosso mundo assumiu a forma de matéria. E mais: por que existe a evolução? Por que ela progride da matéria para o espírito? Por que esse tele- finalismo na evolução, e não outro, e por que a evolução assumiu esta, e não outra forma e direção? Mais ainda: o que é a vida? E por que em nosso mundo existe o contrário, a morte? E, se Deus é perfeito, donde nasceu e como se jus- tifica entre nós a imperfeição, o erro, o mal, a dor etc.? Como podem ter nas- cido da luz da nossa vida as trevas e as tantas negações do ser, quando a su- prema qualidade de Deus é afirmação?

Poder-se-ia responder que esse Deus é uma nossa projeção antropomórfi- ca no vazio, pois nela se idealizam as aspirações humanas de perfeição, sa- bedoria, poder, liberdade, amor, vida, alegria etc., em compensação da ca- rência, em nós, dessas qualidades, que desejamos, porque nos fariam felizes. Mas, então, poder-se-ia replicar que a vida não tem finalidade. Por que lutar e sofrer tanto, senão em vista de um amanhã melhor? A natureza humana tem exigências psicológicas, ânsias instintivas, que não se pode obrigar a calar. Não podemos aceitar as sutilezas filosóficas que tudo destroem, sem nada criar. Além disso, como podemos dizer que esse conceito de Deus é uma criação nossa, inconsciente, alcançada para personificar nossas aspirações num Ser Supremo capaz de satisfazê-las todas, endireitando assim a nossa posição de emborcados na tristeza da imperfeição, se, ao contrário, podería- mos também crer que essa criação seja justamente o efeito de um desejo de

compensação e de soerguimento devido à queda? Então, não seria mais o homem que criaria um Deus de acordo com uma imagem tirada do embor- camento da própria imperfeição, mas seria o homem uma corrupção da per- feição de Deus, um ser decaído, que anseia por voltar à perfeição perdida.

São muitas as objeções à teoria e algumas parecem insuperáveis, mas iremos destruí-las uma a uma. Dúvidas foram propostas por outros e criadas por mim mesmo. Observamos melhor a visão, focalizando ainda mais os seus pormeno- res, e vimos que bastava examinar com mais precisão, para responder às nossas perguntas e solucionar as nossas dúvidas. Elas apareceram porque ainda não havia sido visto tudo, e tudo se resume em esclarecer melhor, iluminando os pontos obscuros, que permanecem imprecisos. Mas, em sua primeira visão de conjunto, apresenta-se-nos a teoria com as características de organicidade e unidade, com grande poder de enquadramento de toda a espécie de fenômenos, desde os da matéria inorgânica aos da vida e do espírito; dos fenômenos atômi- cos aos sociais e morais, reduzindo a um só sistema a infinita multiplicidade de nosso relativo. E, sem dúvida, uma das maiores aspirações da alma humana é a grande unificação. Fazer de tudo um só organismo, que não só funciona mas também progride através deste seu funcionamento para um fim único, exato, satisfazendo a lógica, o sentimento e os anseios mais instintivos e profundos da alma humana, tudo isso convence a mente e sacia a alma.

Diante desses resultados, não posso deixar de experimentar a sensação de saciar uma fome, a fome do conhecimento que orienta a própria vida. É a saci- edade do homem que, após haver atravessado as filosofias, as ciências, as reli- giões, pedindo a todos a explicação de tantos mistérios, finalmente a encontrou por outro caminho, persuadindo-se, e agora vê claramente. E a satisfação é tanto maior ainda, porquanto essa clareza é comunicável e pode saciar muitos outros famintos e orientar tantas outras vidas, ainda perdidas nas trevas, por falta de uma visão clara e convincente do porquê das coisas da vida e de seus objetivos. A filosofia caminha por sua estrada, e o mesmo fazem a ciência e também as religiões. Cada um segue seu caminho, ignorando ou até mesmo combatendo o dos outros. Cada religião inimiga da outra, cada filosofia dife- rente da outra, cada cientista aplicado a um setor particular do saber. Todos divididos, restritos a visões parciais, fechados na terminologia e nos conceitos de sua propriedade, de que são vigilantes guardas. O conhecimento humano nos oferece apenas aspectos particulares, incompletos, perspectivas limitadas

diante daquela maravilhosa unidade a que tudo deve reduzir-se, como sente nossa alma, por necessidade lógica e por instintivo desejo do espírito.

Confesso que, para mim, uma das maiores admirações, após nascer na Ter- ra e me sentir vivo nesta veste corpórea, foi verificar quão pouco de positivo o homem sabia em relação aos problemas fundamentais, de que tudo deriva e depende, portanto, em última análise, também sua própria vida e cada ato seu. Não compreendia como se pode agir só com fundamento nos instintos, sem ter conhecimento, sem estar orientado de forma positiva, clara e segura em rela- ção aos efeitos do próprio comportamento. Então, para poder viver, tive de buscar eu mesmo o alimento para mim indispensável. Isto porque não sei con- ceber como se possa viver sem compreender. Assim, conquistar o conheci- mento, coisa para mim indispensável, foi o maior trabalho de toda a minha vida, e este é o melhor fruto que agora, no fim do meu caminho, posso ofere- cer para servir de alimento a todos quantos, como eu, tenham esta fome, que bem sei quão tremenda é para quem a sente.

Ofereçamos, pois, para que os outros se saciem, o fruto maduro de nossas investigações. A ideia é oferecida, não imposta. Ofereço-a como a minha ver- dade, sem pretender que possa ser a verdade de todos. As formas mentais são diferentes, e podem ocorrer para outras formas mentais outras formas de ver- dade, não obstante existirem no mundo formas mentais semelhantes. Pode acontecer, então, que estes encontrem nesta exposição a verdade adaptada a eles, que os convença e satisfaça. Para estes, tal como experimentei, será gran- de satisfação achar o que buscavam. Essa compreensão ocorre espontaneamen- te entre os espíritos do mesmo grau de evolução, sintonizados por afinidade de tipo biológico, ao longo do mesmo canal de especialização de trabalho.