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Nos últimos capítulos, procuramos em primeiro lugar conhecer os atributos de Deus, para depois compreender como se operou e no que consistiu a cria- ção. A seguir, examinamos as condições que tornaram possível a revolta e como ela de fato ocorreu, para afinal ver como tudo isso se desenrolou de acordo com a lógica perfeita do Sistema. Assim, vimos que Deus agiu segundo os seus atributos, a criatura respondeu conforme a sua liberdade e o Sistema funcionou com as suas qualidades e forças. Observamos como a ação se de- senvolveu de forma lógica e coordenada até à revolta e a queda.

Reexaminemos, agora, esta última parte do fenômeno, a fim de compreender melhor como ele se verificou, aprofundando cada vez mais a análise e a crítica. Em que consistiu a queda? O que ocorreu exatamente no Sistema, no momento da revolta? Antes de tudo, a palavra “queda” não exprime um conceito exato do fenômeno, e talvez tivesse sido melhor não a ter aceitado das religiões. Nós a usamos nas primeiras fases das nossas pesquisas, quando nos aproximávamos do conceito, achando-nos em fase de amadurecimento, não tendo sido então possível, ainda, precisar tudo com exatidão. E, para não criar palavras novas, aceitamos aquelas já em uso. Mas, tendo amadurecido até aqui, verificamos que não é mais suficiente a forma mental revelada pelas religiões neste campo, pois a argumentação assumiu características de uma teologia científica, con- frontada com a psicologia racional positiva, própria da ciência.

Comecemos, então, a precisar que não se trata de queda no sentido espacial, mas, como já explicamos, de uma queda de dimensões, de um desmoronamen- to de valores. Entretanto isto ainda não é totalmente exato, porque torna a nos levar ao conceito de queda, embora se trate de uma queda no sentido espiritual e moral. Se houve um desmoronamento nesse sentido, foi o efeito de um pro- cesso de afastamento do centro. Eis o que realmente ocorreu. A revolta inver- teu, pelo menos para os elementos rebeldes, a direção dos impulsos que os moviam no Sistema. Começaram, então, a funcionar não mais na direção cen- trípeta, voltados para Deus, centro do Sistema, mas se inverteram, movimen- tando-se na direção centrífuga, para afastar-se do centro, Deus. Assim, ao im- pulso centralizador que regia compactamente o Sistema em torno do único egocentrismo de Deus, substituiu-se um impulso descentralizador para a peri- feria, constituído por uma miríade de egocentrismos separados. Em vista da direção tomada pelos elementos rebeldes, este movimento para a periferia aca-

bou determinando automaticamente, como efeito da causa movida por sua livre vontade, a exclusão deles da esfera do Sistema. Os elementos rebeldes, achando-se desta forma expulsos por si mesmos do Sistema, em posição de excluídos, constituíram em seu redor, mas do lado de fora, um agrupamento próprio, que é o Anti-Sistema.

Foi como a expulsão de um pus venenoso, mas isso salvou o Sistema. Tam- bém isso fora previsto pela sabedoria de Deus. A revolta foi imediatamente isolada e lançada fora, resultando daí a impossibilidade de contaminar os ele- mentos que permaneceram sadios. Foi importantíssimo esse fato de salvaguar- dar a integridade do Sistema, pois da permanência desta parte sã dependia ago- ra todo o trabalho de dirigir a salvação dos loucos excluídos, que, sozinhos, só podiam perder-se. Por aí se vê com quanta sabedoria foi tudo previsto.

Então que configuração assumiu o Todo depois desse processo de separa- ção? O Sistema permaneceu intacto, um organismo perfeito tal como era antes, ou seja, uma esfera em redor do seu centro, Deus. O Anti-Sistema, ao projetar-se fora do Sistema, permaneceu na periferia daquela esfera, como uma emanação da mesma, uma segunda esfera em redor da primeira. Assim, a esfera da desordem permaneceu por fora da esfera da ordem. Podemos, desse modo, formar uma imagem espacial do estado do Todo após sua queda, imagem que, em outro plano, exprime bastante bem as suas condições de existência. Temos, então, duas esferas, tendo ambas o mesmo centro, Deus, em redor do qual tudo gravita, tanto o Sistema como o Anti-Sistema, não obstante este procure afastar-se. Isto significa que Deus continua como Che- fe a dirigir tudo, não só a ordem do Sistema, mas também a desordem do Anti-Sistema. Por isso há salvação para este, de outra forma seria impossível. Assim, o período involutivo da descida pode inverter-se no período evolutivo da ascensão; o impulso de reconstrução e de progresso pode subsistir entre as ruínas do desmoronamento; o caminho da evolução encontra a sua meta em Deus, tornando possível estabelecer o seu telefinalismo. A maravilha do atu- al estado da criação é a desordem ter sido imediatamente contida pela previ- dente sabedoria de Deus, dentro dos limites devidos, e enquadrada em outra ordem maior, que circunscreve, dirige e saneia a desordem. Por aí se vê quanto são infundadas as objeções que acusam Deus de falta de conhecimen- to, por não haver previsto e evitado o desmoronamento. Ao contrário, vemos aqui como, após este, permitido pelas razões já vistas, tudo voltou a ser re- tomado e reorganizado sob a invencível direção de Deus.

Temos então, ao centro, uma esfera de substância de sinal positivo e, na pe- riferia desta, outra esfera de substância que, a partir da revolta, inverteu-se em sinal negativo. Já explicamos as características do Sistema e do Anti-Sistema, quando dissemos que positivo significa felicidade, ordem, inteligência, bem, amor etc., e negativo exprime os valores opostos. Dessa forma, podemos ima- ginar a primeira esfera feita de luz, paz e harmonia e a segunda feita de trevas, dissídios e ódios. A primeira representa o paraíso, a segunda o inferno. En- quanto, nesta, as qualidades paradisíacas crescem com a proximidade do cen- tro, Deus, na outra esfera aumentam as qualidades infernais com a proximida- de da periferia, ou seja, com o afastamento do centro: Deus.

Considerando assim a estrutura do Todo, verificamos que se chama queda a representação do percurso que vai da superfície da primeira esfera à perife- ria da segunda. A inversão dos valores se torna cada vez mais profunda à proporção que se percorre esse trajeto no caminho de descida ou involução. É nesse percurso que todos os elementos saídos da esfera do sistema de sinal positivo adquirem de forma plena o sinal negativo. É esse o processo do desmoronamento. Chegando à periferia do Anti-Sistema, o desmoronamento está completo, a ordem do Sistema naufragou totalmente no caos do Anti- Sistema. Neste ponto, os efeitos da revolta estão terminados e esgotou-se o impulso centrífugo do emborcamento. Anulou-se, então, o impulso, que não funciona mais. Nesse momento, pode tornar a se fazer sentir o impulso de atração centrípeta, emanado de Deus, que continua sempre no centro de tudo. Começa então, por meio da evolução, o processo de reabsorção de todos os valores negativos, saneando-os até se tornarem positivos. É assim que se realiza a chamada redenção. Dessa maneira, volta tudo ao estado de perfei- ção originária e desaparece o tumor do Anti-Sistema.

No Capítulo IV, dissemos que o fenômeno da queda compreende um circuito completo de ida e volta, denominado “ciclo”. Este ciclo se divide em dois perío- dos: involução e evolução. Cada período, por sua vez, divide-se em três fases: espírito, energia e matéria, obedecendo esta ordem no período da descida e, a ordem inversa, no da subida. Ora, de acordo com esta nova concepção esférica do fenômeno, o ponto de partida da queda – ou projeção fora do Sistema – é o espírito, e nem podia deixar de sê-lo. No primeiro momento de sua expulsão do Sistema, a criatura ainda conserva as suas qualidades de espírito. Porém, quanto mais dele se afasta, tanto mais se acentua a transformação em direção involuti- va, até que a substância assume outra forma: a energia. Continuando ainda, nas-

ce dela a matéria. Por isso o fenômeno astronômico da formação da matéria surgindo da energia, na formação das galáxias, pertence à última fase do proces- so involutivo, concluído o qual se inicia o caminho inverso, não mais involutivo, mas evolutivo, e isto ocorre na periferia do Anti-Sistema. Na matéria, temos o ponto mais afastado de Deus, o ponto mais periférico do Todo, constituído pelas duas esferas concêntricas. Assim se explica a instintiva e nítida contraposição em nosso mundo, como dois opostos inconciliáveis: espírito e matéria.

A concepção esférica nos dá a imagem também de outro fato. Em sua fuga da esfera central do Sistema, os elementos rebeldes, que vão constituir a es- fera maior externa, o Anti-Sistema, vão encontrar-se disseminados num es- paço cada vez maior. Há realmente um processo de afastamento entre os elementos, com o aumento da inimizade e da luta. Ao invés de se estreita- rem, compactos, em torno de Deus, como na unidade orgânica do Sistema, cada um deles pretende tornar-se o centro e, para se fazer obedecido, empre- ga a força, causando dano. Efetivamente, tudo tende a se afastar da unidade, a quebrar-se, pulverizando o egocentrismo central e a unidade do Sistema numa infinita multiplicidade de egocentrismos, que se repelem para formar um caos, ao invés de atrair-se para formar um organismo. Assim como no Sistema domina a subordinação, aqui domina a insubordinação.

Mas, em dado ponto, o movimento se inverte, a expansão gangrenosa é pouco a pouco saneada, e, à proporção que é saneada, o Sistema a vai absor- vendo, de forma a abarcar de volta, em seu seio, todos os seus elementos componentes, tal como no estado de criação original. Tudo o que se achava no estado de matéria, cisão, inferno, volta ao estado de espírito, harmonia, paraíso. No fim de todo o processo, desaparece o Anti-Sistema. Os egocen- trismos que se repeliam tornam a fundir-se para colaborar organicamente, e a unidade do Todo se recompõe. Assim como involução havia significado ex- pulsão, evolução significa reabsorção: os dois movimentos compensados, inversos e complementares, equilibram-se. Dessa forma, a energia é prisão do espírito, como a matéria é energia condensada. Se o primeiro movimento vai na direção do aprisionamento, o segundo segue na direção da libertação. Por isso a matéria deve ser reabsorvida pela energia e esta pelo espírito. No fim, tudo termina em Deus, ponto de partida. Deus é sempre o centro de tu- do. E tudo se reduz a um movimento que, partindo de Deus, volta a Deus. O ponto “alfa” coincide com o ponto “ômega”.

O Anti-Sistema é essencialmente centrífugo, periférico, anticentral, negati- vo. Primeiramente é expelido e, depois, é atraído e novamente reabsorvido no Sistema. A iniciativa compete apenas ao Sistema, partindo de seu centro, Deus. Ao Anti-Sistema compete apenas obedecer a essa iniciativa. Assim, à obediência livre de origem se substituiu esta outra obediência forçada, na qual o ser é constrangido a enfrentar a fadiga da evolução.

O Anti-Sistema é apenas um sistema às avessas, onde as criaturas decaídas procuram reconstruir, arremedando o Sistema. Mas, pela posição que assumi- ram, só podem construir de forma inversa, isto é, destruir. Anti-Sistema quer dizer Não-Sistema, negação do Sistema; significa a potência desagregadora do caos, a lógica do absurdo; é uma esfera que tem seu centro de atração na peri- feria e atinge aí o máximo da plenitude, feita de cisão e destruição; quer dizer um organismo desorganizado, que, para recuperar a sua existência, precisa ser rebocado em sentido contrário para o organismo que permaneceu íntegro. Para salvar-se e reconquistar a vida, o Anti-Sistema precisa negar-se a si mesmo, corrigir à própria custa o mal que fez e tornar a subir com o próprio esforço o caminho por onde quis descer.

Assim como Deus está situado no centro do Sistema, Satanás está situado na periferia do Anti-Sistema. Tal como Deus representa o vértice da espiritua- lidade, Satanás representa o fundo do abismo da matéria. Deus é uno, Satanás está dividido na infinita multiplicidade dos elementos atômicos da matéria. O Anti-Sistema é um pseudo-Sistema, que só pode possuir pseudovalores. A força do mal é uma pseudoforça, que se baseia toda em nossa fraqueza, resul- tante da posição de involuídos. As forças do mal não têm poder algum sobre o evoluído espiritualizado. O poder é qualidade do espírito e se conquista subin- do, mediante a evolução, para o Sistema.

Satanás é a antítese da centralidade de Deus e representa a máxima excen- tricidade; está no limite extremo da periferia, no estado de máxima dispersão da centralidade. No Anti-Sistema triunfam os egocentrismos, egoisticamente separados em infinitas individualidades inimigas. No Sistema triunfa o ego- centrismo orgânico unitário, onde os egocentrismos menores se fundem, ao invés de se eliminarem.

A tentativa dos rebeldes de se substituírem a Deus faliu completamente, a ponto de, se quiserem salvar-se, precisarem ser ajudados pelas forças do Sis- tema, contra o qual se haviam rebelado. Querendo emborcar o Sistema, só conseguiram emborcar-se a si mesmos. De sua obra nasceu apenas o mundo

do mal e da matéria, mundo do engano e da ilusão. Tudo corresponde a uma lógica tremenda e fatal. Um Anti-Sistema constituído por excluídos do Siste- ma só podia ser um pseudo-organismo, onde tudo é contrafação, onde tudo é tão absolutamente negativo, que, ao invés de tender à construção, tende sem- pre à destruição, até chegar à própria autodestruição.

Assim, as construções executadas pelas forças do mal são pseudoconstru- ções; as obras em que tenta imitar os modelos do Sistema são abortos; suas unificações, que desejariam reproduzir o modelo do Tudo-Uno-Deus, são pseudounificações e não conseguem manter-se em pé senão pela prepotente imposição da força de um chefe. Vimos que, no Sistema, os seres estavam vinculados apenas por uma disciplina espontânea, de indivíduos livres e con- victos, e não por uma disciplina forçada, pesando duramente sobre escravos. No Anti-Sistema, a unidade que se procura atingir baseia-se no princípio opos- to. Podemos ter uma ideia disso, observando o método usado pelo homem para constituí-la. E é lógico que assim ocorra, pois grande parte de nosso mundo, ainda não emersa pela evolução, pertence ao Anti-Sistema.

Em nosso mundo, as unificações não são feitas por livre convicção, mas pe- la força material ou moral. Os impérios são forjados com a guerra. A discipli- na interna das nações é imposta pela polícia ou pelo exército. Não é o povo que escolhe, elegendo um chefe (os sistemas eletivos não o são em absoluto), mas é o chefe que, por ser o mais poderoso, conseguiu vencer todos os outros pretendentes, fazendo-se livremente escolher pelo povo, em grande parte su- gestionado e inconsciente. O governo não serve o país e, em muitos casos, serve-se do país para manter-se no poder. Eis aparecendo plenamente, no exercício do poder, o egocentrismo separatista do Anti-Sistema. Na prática, o poder não é concebido como função social, em benefício da coletividade, co- mo deveria ocorrer de acordo com os princípios do Sistema, mas, ao contrário, ele é concebido, antes de tudo, como utilidade própria, pessoal, no sentido separatista, e não colaboracionista. Assim, seguindo os princípios do Anti- Sistema, o homem tende, em todas as funções sociais, a fazer prevalecer o próprio interesse egoísta sobre o do próximo. As religiões tendem ao sectaris- mo, formando o próprio grupo para condenar os que estiverem de fora. Na Terra, tudo toma a forma de “partido”; domina a psicologia do Anti-Sistema, pela qual só lutando, excluindo e dominando se atinge a unidade. Como no Anti-Sistema, existe na Terra o motivo da unificação, mas às avessas. Encon- tramos, então, uma unificação para agredir, para dividir, não para unir. Irmana-

se, mas para fazer a guerra; abraça-se, mas para lutar contra os outros. Com o proselitismo, procura-se construir uma unidade cada vez mais forte, pois, quanto mais forte se tornar, tanto mais inimigos podem ser destruídos e tanto mais indivíduos podem ser dominados. Quanto mais bela e maior for esta uni- dade, tanto mais prosélitos fez, mais gente conquistou, mais inimigos venceu e tanto mais consegue dominar sobre todos e tudo. Esse é o método de constru- ção às avessas do Anti-Sistema.

E o resultado é da mesma natureza. Uma unificação que se baseia no cons- trangimento e no esmagamento permanece sempre ameaçada pela revolta de outros egoísmos, que tentam conquistar a primazia, usando o mesmo método e seguindo os mesmos princípios. O fato de se permanecer ainda no terreno do Anti-Sistema, significa que, a todo o momento, está pronto a voltar o motivo da revolta, o egoísmo separatista, próprio da criatura decaída ainda não regenera- da. Assim se explica como, não obstante tantas tentativas de unificação e tanta força e astúcia para mantê-las de pé, elas se encontram sempre prontas a cair, porque, nas organizações desse tipo, a revolta está sempre latente e deve ser contida constantemente por uma força maior. Logo que esta cesse, tudo desmo- rona. Por isso diz o Evangelho: “quem usa da espada perecerá pela espada” e afirma que a violência só pode ser vencida pela não-resistência. A violência atrai violência. Tão logo surge na Terra uma unidade nascida desses princípios, contra ela nasce outra unidade inimiga. Este fato só se explica com estas consi- derações, que explicam também como todas as construções humanas se desmo- ronam, sendo superadas por outras. Assim impérios caem e as revoluções subs- tituem uma ordem social por outra; ruindo um após outro, todos governos e partidos são feitos e refeitos, e os próprios homens se colocam em um ou outro, numa contínua reorganização. Tudo se baseia na força, seja das armas, do di- nheiro ou do número, mas sempre força. Esta é a única defesa no Anti-Sistema, por isso todos se apegam a ela e sabem que, se falharem, estão perdidos.

Quem está assim, imerso no Anti-Sistema, não compreende que o verdadei- ro inimigo não é o outro grupo ou partido e quem dele faça parte, mas é o mé- todo tão invertido com que se pretende construir; não percebe que assim só é possível fazer construções fictícias e temporárias, sempre prontas a desmoro- nar. A tendência lógica e sadia, inerente à evolução, é reconstruir, qual existia na origem, a unidade do Sistema, agora desmoronada. O erro consiste em que- rer atingi-la com a força e o espírito de domínio, próprios do Anti-Sistema. Se o Evangelho aconselha o método oposto, deve haver uma razão profunda, que

é exatamente o que estamos explicando. Não há dúvida que, nos planos inferi- ores, só podem ser usados os métodos do Anti-Sistema, que aí domina. Mas é também certo que não se pode esperar desses métodos nenhum fruto melhor do que os contínuos desastres que ocorrem nas coisas humanas. Sendo cor- rompido pelo separatismo, tudo o que provém do Anti-Sistema só pode produ- zir destruição. Isso tudo constitui o verdadeiro perigo e o inimigo a ser vencido e dominado. Só quando nos libertarmos dele, poderemos chegar a construir. Então replicam: mas se eu não usar tais métodos para me defender, filiando- me a um desses grupos, serei subjugado pelo mais poderoso. E, assim, arrasta- dos pelo mesmo egoísmo, permanecemos todos mergulhados no pântano. O triste fruto por nós colhido sabemos agora de que planta nasce; os males por nós suportados sabemos que são a consequência lógica de nossas premissas, sendo justificados e bem merecidos. Só há um caminho de saída: o homem conseguir superar, com o próprio esforço, o seu atual grau de evolução, isto é, sofrer as duras consequências de seu atual sistema de vida até aprender a lição e se pôr em outro rumo, agindo com mais inteligência. A real utilidade não consiste em vencer um inimigo, pois logo surgem outros, num inferno perma- nente, mas sim em vencer o sistema da força, fugindo do Anti-Sistema.

A psicologia corrente do homem atual só pode ser compreendida se conside- rarmos o Anti-Sistema. As próprias objeções que estamos resolvendo expli- cam-se como um seu produto. O homem ainda se acha imerso nele, até o pes- coço. O resto pertence mais aos ideais, considerados utopia pelos homens práti-