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Orientações Curriculares

As Orientações Curriculares dividem-se em duas partes. A primeira, trata “Princípios Gerais e Objetivos Pedagógicos enunciados na Lei-Quadro”, fazendo referência ao princípio geral já referido, que define a Educação Pré-Escolar como a primeira etapa da educação básica, complementar da ação educativa da família, enuncia os objetivos pedagógicos decorrentes daquele princípio geral. Referem ainda os fundamentos e organização das Orientações Curriculares e apresentam as orientações globais para o educador. A segunda parte denomina-se “Intervenção Educativa”, aborda os temas Organização do ambiente educativo, Áreas de conteúdo, Continuidade educativa e Intencionalidade educativa. Assim, como já verificámos, é do Princípio Geral estabelecido pela Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar que advêm todos os objetivos gerais pedagógicos definidos para a Educação Pré-Escolar. Torna-se, então para nós, fundamental analisar esses objetivos e o modo como eles se traduzem nas Orientações Curriculares:

1) Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança com base em experiências de vida democrática numa perspetiva da educação para a cidadania. Este primeiro objetivo informa o educador do quanto é importante que a aprendizagem parta dos saberes de cada criança. Estimulando a interação com o grupo, ensinando o respeito por si mesmo e pelos outros, promove-se assim uma educação para a vida em sociedade;

2) Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva consciência como membro da sociedade. Este objetivo completa o primeiro, uma vez que a interação com os outros (o grupo), com as suas diferenças culturais e sociais, contribui para formar o indivíduo como cidadão, capaz de participar ativamente na sociedade;

3) Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola e para o sucesso da aprendizagem. Este objetivo aponta para um processo pedagógico tendo em conta o grupo na sua diversidade, com vista ao desenvolvimento da autoestima e da autoconfiança de todas as crianças, transmitindo as condições necessárias para abordar com sucesso a etapa seguinte;

4) Estimular o desenvolvimento global da criança no respeito pelas suas características individuais, incutindo comportamentos que favorecem aprendizagens significativas e diferenciadas. Este objetivo aponta para respeitar e valorizar as características individuais de cada criança, com a sua cultura e os seus saberes próprios, como sujeito do processo educativo. A possibilidade de usufruir de experiências diversificadas, num contexto com outras crianças e adultos, permite que cada criança vá aprendendo e vá contribuindo para o desenvolvimento e aprendizagens dos outros;

5) Desenvolver a expressão e a comunicação através de linguagens múltiplas como meios de relação, de informação, de sensibilização estética e de compreensão do mundo. O enunciado deste objetivo encaminha para o conteúdo das áreas de Expressão e Comunicação e Conhecimento do Mundo. Deste modo a primeira constitui uma área básica que contribui simultaneamente para a Formação Pessoal e Social e para o Conhecimento do Mundo;

6) Despertar a curiosidade e o pensamento crítico. É um dos objetivos que pode ser concretizado nas diferentes áreas de conteúdo que se articulam numa formação global. Devem-se proporcionar atividades e situações que levem a criança à exploração e à descoberta, constituindo-se assim momentos privilegiados para despertar a curiosidade e o gosto por aprender;

7) Proporcionar à criança ocasiões de bem-estar e de segurança, nomeadamente no âmbito da saúde individual e coletiva. O bem-estar e segurança dependem em grande parte do ambiente educativo, em que a criança se sinta acolhida, escutada e valorizada, o que contribui para aumentar a sua autoestima e o seu bem-estar físico e psicológico;

8) Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências ou precocidades e promover a melhor orientação e encaminhamento da criança. A deteção prematura das deficiências ou precocidades, aliada a uma pedagogia diferenciada, promove a inclusão de todas as crianças no grupo, promove a igualdade de oportunidades e a aceitação e o respeito pela diferença. A escola assume um papel de grande responsabilidade que poderá ser determinante para o futuro de uma criança como cidadão;

9) Incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer relações de efetiva colaboração com a comunidade. Partindo do conhecimento do meio familiar e da cultura de cada criança, a Educação Pré-Escolar pode tornar-se mediadora entre as culturas de origem das crianças e a cultura a que terão de se adaptar para terem uma aprendizagem com sucesso.

O documento “Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar” foca outro importante tema, as Orientações Globais para o educador, que orientam a intervenção profissional do educador de infância, que passa por diversas etapas interligadas que vão acontecendo e aprofundando, o que pressupõe: observar cada criança e o grupo, planear todo o processo educativo em função do que sabe sobre o grupo e de cada criança, agir ou concretizar na ação as suas intenções, avaliar todo o processo e os efeitos, comunicar todo o conhecimento que adquire da evolução de cada criança, articular ou promover a continuidade educativa, constituindo todos estes instrumentos etapas interligadas e contínuas do processo educativo.

Observar cada criança e o grupo – “Observar cada criança e o grupo para

conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades, recolher as informações sobre o contexto familiar e o meio em que as crianças vivem (…) o conhecimento da criança e da sua evolução ” (Ministério da Educação, 1997, p.25). Com esta observação o

educador pode adaptar a sua atividade educativa ao grupo e a cada criança, compreender os seus interesses e dificuldades, e planear o desenvolvimento das suas potencialidades.

Planear o processo educativo para concretizar na ação as intenções educativas –

criança e do grupo, bem como do contexto familiar e social, auferido pela observação atenta e continuada, permite criar um ambiente estimulante de desenvolvimento e promover aprendizagens significativas. Cabe, ao educador, planear situações de aprendizagem desafiadoras, para captar e estimular cada criança, ou optar por fazer o planeamento com a participação das crianças. Este processo permite ao educador fazer a previsão e a organização de recursos bem como a articulação entre as diferentes áreas de conteúdo.

Agir – “Concretizar na ação as suas intenções educativas, adaptando-as às

propostas das crianças e tirando partido das situações e oportunidades imprevistas”

(Ministério da Educação, 1997, p.26). Envolver quer o grupo quer a comunidade (pais, famílias, técnicos auxiliares, outros docentes, etc.) é uma forma de alargar as interações das crianças e uma maneira de engrandecer o processo educativo.

Avaliar o processo e os efeitos – “Implica tomar consciência da ação para

adequar o processo educativo às necessidades das crianças e do grupo e à sua evolução” (Ministério da Educação, 1997, p.26). A avaliação efetuada com o grupo de

crianças é uma atividade educativa, constituindo também uma base de avaliação para o educador.

Comunicar – “O conhecimento que o educador adquire da criança e do modo

como esta evolui é enriquecido pela partilha com outros adultos (…)” (Ministério da

Educação, 1997, p.26). A troca de opiniões com os pais permite um melhor conhecimento da criança e de outros conceitos que influenciam a sua educação.

Articular – “Cabe ao educador promover a continuidade educativa….em

colaboração com os pais e em articulação com os colegas do 1º ciclo (…)” (Ministério

da Educação, 1997, p.27). É fundamental que o educador assegure e fomente a continuidade educativa e o percurso para a escolaridade obrigatória. É também função do educador proporcionar condições para aprendizagens com sucesso na etapa seguinte, nomeadamente através da colaboração com as famílias e com os docentes.

Planificação

Planificar significa para nós transformar uma ideia numa ação. Para Vasconcelos (1991), planear é coordenar um conjunto de ações entre si, em ordem a obter um determinado resultado. Para alcançarmos as metas a que nos propomos, devemos

delinear e fazer uma previsão da ação, isto é, devemos projetar.

Segundo Escudero, citado por Zabalza (1997), planificar é prever possíveis cursos de ação de um fenómeno e plasmar de algum modo as nossas previsões, desejos, aspirações e metas num Projeto que seja capaz de representar, dentro do possível, as nossas ideias acerca das razões pelas quais desejaríamos conseguir, e como poderíamos levar a cabo, um plano para as concretizar.

A partir do conhecimento do grupo, o educador parte para a planificação do processo educativo. Assim promoverá um ambiente estimulante de desenvolvimento que origine aprendizagens significativas e diversificadas.

Planificar implica a reflexão sobre intenções educativas e as formas de as adequar ao nosso grupo; Facilita a previsão e a organização dos recursos; Possibilita a articulação entre todas as áreas de conteúdo e; Promove a partilha e interação do grupo o que origina a aprendizagem e o desenvolvimento. Planificar torna-se uma necessidade, é um apoio indispensável para o educador desenvolver o seu trabalho auxiliando-o, levando-o a refletir e avaliar em tudo o que faz de forma a progredir ou reajustar o processo ou a sua prática educativa. O educador deve encontrar o seu modelo de planificação, pois existem diferentes maneiras de planificar. Para Vasconcelos (1991) compete a cada educador encontrar o seu modelo, procurando tornar coerente o seu modo de pensar e de agir, os seus valores em articulação com aquilo que o conhecimento nos diz sobre as crianças.

Avaliação

A avaliação na Educação Pré-escolar tem o papel importante na verificação e eficácia da ação educativa, contribuindo para a sua inovação com o objetivo de aperfeiçoar, cada vez mais e melhor, os processos de desenvolvimento das crianças. Para Ferreira (2007) ter diferentes sentidos e ser aplicada em várias situações e contextos de vida quotidiana, também na educação pode ter finalidades e funções distintas que vão desde o currículo ao processo de ensino-aprendizagem, aos Projetos desenvolvidos na escola. Desta forma consideramos que a avaliação é complexa, porque avaliar abarca diferentes domínios.

Avaliar é um método que pressupõe a capacidade de questionar o nosso modo de trabalhar e de agir, os nossos comportamentos e as nossas propostas. Ao avaliarmos não

o devemos fazer apenas em relação à evolução do grupo mas também ao programa, à prática pedagógica, ao Projeto e à sua intervenção educativa. Para Bassedas, Huguet e Solé (1999), a avaliação serve para valorizar o que acontece quando colocamos em prática o programa que planejamos previamente e para verificar se é preciso modificar ou não determinadas atuações.

Ao planearmos temos o propósito de alcançar objetivos. Depois são realizadas as atividades para as crianças atingirem os objetivos, quer gerais quer específicos. Por essa razão temos de observar se as crianças atingem ou não esses objetivos. Avaliar significa analisar se os objetivos foram alcançados pela criança e intervir para modificar e melhorar a prática. Segundo Bassedas, Huguet e Solé (1999), a avaliação é importante para valorizar quando se realiza uma atenção adequada à diversidade das crianças que formam o grupo e se estamos a proporcionar experiências pertinentes que as ajudam a avançar e a desenvolver-se.

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